Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
A maior edição do Inferninho Trabalho Sujo, que aconteceu nesta quinta-feira, também foi uma experiência auditiva. Se nas outras edições privilegiávamos o calor humano de um espaço pequeno em que bandas poderiam aquecer ainda mais a noite com o volume de seu som, desta vez trazendo para o palco de pé direito alto da Casa Rockambole optamos por uma edição celestial em que a sensibilidade e a delicadeza estivessem em primeiro plano, sem que isso diminuísse a temperatura da noite. E o crescendo musical e energético que começou com voz e violão e acabou com uma banda de rock fez o público subir a expectativa cada vez a cada nova apresentação, devidamente saciada após cada um dos shows.
A primeira edição do Inferninho Trabalho Sujo de setembro é das grandes! Vamos reunir cinco shows na próxima quinta-feira, dia 5, na Casa Rockambole. Quem abre a noite é a novata paulistana Luiza Villa, mostrando suas primeiras composições solo, seguida do encontro das cantoras sergipana e mineira Tori e Júlia Guedes, misturando os próprios repertórios. Depois é a vez de Marina Nemesio mostrar as músicas que farão parte de seu primeiro disco solo. E ainda temos a banda baiana Tangolo Mangos encerrando uma extensa turnê que fizeram pelo Brasil no útlimo mês, antes da atração que fecha a noite, quando Sessa sobe ao palco para mostrar as músicas de seu disco mais recente, depois de fazer uma turnê pela Europa. Entre os shows, duas duplas discotecam: primeiro Lina Andreosi e Clara Bright e depois eu e a Francesca Ribeiro, deixando a noite ainda mais quente e fluida. A Casa Rockambole fica na Rua Belmiro Braga, 119, em Pinheiros, os shows começam a partir das 19h e os ingressos podem ser comprados neste link.
Ao lançar um dos melhores discos de 2024 num espaço pequeno como o Auditório do Sesc Pinheiros, nesta quarta-feira, Thiago França sublinhou que seu novo disco (trinta e quantos?) é reservado para audições menores e mais intimistas, mas sem isso se confunda com mais leve ou mais delicado. Logicamente que há momentos de sutileza e sentimento, mas o forte da apresentação tinha peso, força e intensidade, especificamente por Thiago ter escolhido o formato de trio de jazz para conduzir o repertório da vez. E ao lado dos velhos comparsas Welington “Pimpa” Moreira e Marcelo Cabral, ele aproveitou para explorar todos o espectro possível daquela formação em cima dos temas registrados no novo disco. Uns deles (como “Luango” ou a faixa-título do disco, “Canhoto de Pé”) são velhos conhecidos de quem acompanha o trabalho do saxofonista e pontos de partidas para verdadeiras tours-de-force instrumentais, seja coletivamente ou em hipnóticos momentos solo. Mas no terço final do show, Thiago expandiu ainda mais sua paleta sonora, ao começar pelo “Bolero do Desterro”, faixa do segundo disco de seu projeto Sambanzo, que transformou-se num momento solo em que Pimpa e Cabral o deixaram só no palco, quando mostrou o motocontínuo de sua respiração circular, antes de receber Juçara Marçal para a versão dilaceradora que os dois registraram no novo disco de Thiago, quando visitaram, sax e voz, a preciosa “Dor Elegante”, de Itamar Assumpção. Aproveitando a presença de Juçara, encerrou o show com uma mistura (ou “um remix analógico e orgânico”, como ele mesmo brincou) de “Fear of the Bate Bola” do disco da vez com “Bará” que Juçara compôs quando o grupo Metá Metá foi convidado para fazer a trilha sonora de um espetáculo do grupo Corpo. O público pediu bis e Thiago encerrou a noite com a imortal “Cabecinha no Ombro”, de Paulo Borges, tocando sozinho e pedindo pro público cantar o eterno acalanto junto com seu sax. Que noite!
Olha ela aí! Erykah Badu vem mais uma vez ao Brasil no início de novembro, quando fará quatro apresentações por aqui, uma em São Paulo (dia 6, no Espaço Unimed, com abertura da Luedji Luna), outra no Rio de Janeiro (dia 8, dentro do festival Rock The Mountain, que abriu data extra para receber a diva) e duas vezes em Salvador (dias 9 e 10, dentro do festival Afropunk). Os ingressos para o show de São Paulo começam a ser vendidos nessa sexta-feira, os de Salvador já estão à venda pelo Sympla e os do Rio começam a ser vendidos em breve.
Aproveitando o auê ao redor da segunda volta do Pavement, a clássica gravadora indie norte-americana Matador, que acompanhou toda a fase adulta do grupo liderado por Stephen Malkmus nos anos 90, encomendou um filme sobre a banda ao diretor Alex Ross Perry. Pavements estreou pela primeira nesta semana durante o festival de Veneza, trazendo Joe Keery, que interpreta o valentão Steve Harrington no seriado Stranger Things, como o vocalista e guitarrista da banda californiana. Um pastiche irônico de biografia romantizada com documentário feito para a TV (como deveria ser, afinal, eram os anos 90), o filme teve sua primeira cena mostrada em público nessa semana, quando a revista Vanity Fair antecipou um trecho do filme em que um Malkmus fictício faz pouco da excitação dos dois donos da gravadora (Chris Lombardi e Gerard Cosloy, vividos pelo ator Jason Schwartzman e pelo comediante e músico Tim Heidecker) quando estes anunciam que sua banda será o número musical do programa humorístico Saturday Night Live. E a reação foda-se de Keery como Malkmus consegue ser mais convincente em poucos segundos do que o Dylan de Timothée Chalamet no trailer do próximo filme sobre Dylan, A Complete Unknown (e olha que eu gostei desse último!).
Cuca Ferreira pisou firme em sua estreia como artista solo em sua apresentação no Centro da Terra nesta terça-feira. Embora ainda se escondendo sob o pseudônimo de Cuca Sounds, ele deixou sua marca explícita em toda a apresentação, desde o desenho da formação musical que reuniu à escolha do repertório até a forma como ele foi apresentado. A deixa inicial foi a primeira apresentação ao vivo do EP que lançou no primeiro semestre que batizava o espetáculo, Música em Busca de um Filme, mas esse foi só o mote inicial da noite, resolvido na primeira faixa. Dali em diante, Cuca e o exército de sopro e ritmo que organizou mergulharam no mar das memórias do saxofonista, passando por músicas que foram importante em sua carreira, como “Algo Maior” da Tulipa Ruiz, “Pomba de Gira do Luar” de Luiza Lian e “Saudade de Casa” e “Ngm + Vai Tevertrist” de Giovani Cidreita, um dos convidados da noite, com quem Cuca vem trabalhando ao vivo; e faixas autorais, como as do disco que lançou há pouco tempo, uma da segunda parte deste projeto, ainda inédita, e uma música em homenagem ao compositor Philip Glass, chamada “Glass Key”, esta última coreografada por sua filha, a dançãarina Beatriz Galli que, como o próprio pai disse antes da apresentação, mostrou que não estava ali por nepotismo. A banda, sem instrumentos harmônicos ou bateria, contava com velhos e novos cúmplices de Cuca, como o baixista Fábio Sá (com quem sempre tocou em projetos temporários), a flautista Marina Bastos (com quem ele tocava pela primeira vez), a percussionista Valentina Facury e o trombinista Doug Bone (ambos integrantes de uma de suas bandas, o decano Bixiga 70). Longe do palco, Bernardo Pacheco e Paulinho Fluxus, outros velhos camaradas de Cuca, cuidavam respectivamente do som e da luz, provocando intervenções cirúrgicas. E escondido atrás das cortinas estava o agente oculto Marcos Vilas Boas, que projetava imagens durante toda a apresentação – até chegar ao ápice da noite, quando a banda – e a dançarina – improvisou a partir de imagens que Vilas Boas projetava sem ter combinado nada previamente, invertendo o título da noite e mostrando o quanto essa formação é orgânica e próxima, num delírio em preto e branco. Agora é colocar essa turma na estrada, seu Cuca!
Satisfação receber nesta terça-feira, no Centro da Terra, a primeira apresentação solo do saxofonista Cuca Ferreira, que traz o espetáculo Música em Busca de um Filme usando o nome de CucaSounds. Integrante fundador do Bixiga 70, Cuca também faz parte do trio Atønito e da banda Corte, ao lado de Alzira E, e já tocou e arranjou para artistas como Elza Soares, João Donato, Tulipa Ruiz e Giovani Cidreira. Este último, inclusive, participa desta primeira apresentação solo, que também terá a participação da dançarina Bia Galli, da flautista Marina Bastos, da percussionista Valentina Facury, do baixista Fábio Sá, do trombinista Doug Bone, além de projções feitas por Marcos Vilas Boas. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos já estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.
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Saiu a escalação do Lollapalooza do ano que vem e o festival, que nos últimos anos tornou-se uma salada desagradável de artistas pequenos que ninguém conhece com artistas gigantes que não conversam entre si, apresentou uma seleção de nomes que parece ter aproveitado a lacuna da ausência do Primavera deste ano. Muito bom saber que vamos ver, num mesmo evento, Olivia Rodrigo, Justin Timberlake, Alanis Morrissette, Michael Kiwanuka, Caribou, Parcels, Girl in Red, Fountains D.C., Foster the People, além dos brasileiros Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, Drik Barbosa, Zudizilla, Kamau, L_cio, Sofia Freire, Dead Fish, Marina Lima, entre outros. Ainda tá longe de ser um festival foda, mas conseguiu subir um degrau acima em relação às edições recentes. Mas precisa mesmo ter quase 70 artistas em três dias de evento? O festival acontece nos dias 28, 29 e 30 de março do ano que vem e os ingressos já estão à venda.
A primeira apresentação da temporada do grupo vocal Gole Seco no Centro da Terra subiu a régua lá no alto quando a cantora Niwa voltou para seus tempos de intérprete celebrando cantoras e compositoras num espetáculo que chamou de Disruptivas. E já começou a noite com a fabulosa “Feminina” de Joyce, passando por canções de Dona Onette (“No Meio do Pitiú”, quando reforçou sua ascendência paraense), Fátima Guedes (a deslumbrante “Cheiro de Mato”), Tetê Espíndola (“Cunhataiporã”), Lila Downs (“Yunu Yucu Ninu”, poema mixteca musicado pela cantora mexicana), Urias (a excelente “Foi Mal”) e Ná Ozzeti (“Ultrapássaro”, canção composta por seu irmão Dante e José Miguel Wisnik), cercada pela banda que a acompanhava no início de sua carreira (formada por Ivan Liberato na guitarra, Pedro Canales no baixo e Felipe Rezende na bateria) e de João Antunes (produtor de seu primeiro disco, tocando violão e guitarra). No meio da apresentação ela chamou suas amigas de Gole Seco (Giu de Castro, Loreta Colucci e Nathalie Alvim) para duas músicas, uma versão linda para “Jóga” da Björk e “Me Chamou de Feia”, canção da própria Niwa que o grupo gravou em seu primeiro álbum. A banda voltou para acompanhá-la por duas músicas próprias (“Mulessa” e “A Justiça de Tupã / Yo’i Tüna Pogü”) antes que ela chamasse o último convidado da noite, o paraibano Pedro Índio Negro, que dividiu os vocais com a dona da noite em duas das maiores tour de force vocais da história do rock: “Barracuda” do Heart e “Wuthering Heights” da Kate Bush, essa última com direito à citações da coreografia do clipe. Foi de tirar o fôlego!
E quem toma conta das (cinco!) segundas-feiras de setembro no Centro da Terra é o grupo vocal Gole Seco, que aceitou minha proposta de uma temporada em que suas quatro integrantes pudessem mostrar suas carreiras solo também e me provocou para fazer a temporada em um mês com cinco segundas – para que a quinta data fosse dedicada apenas ao grupo. E assim começamos a temporada Gole a Gole quando, nesta primeira segunda, dia 2, a cantora Niwa apresenta-se ao lado de de Ivan Liberato, João Antunes, Pedro Canales e Felipe Rezende numa noite chamada Disruptivas, em que celebra a força feminina de autoras como Tetê Espíndola, Fátima Guedes, Kate Bush e Björk. Na outra segunda, dia 9, é a vez de Loreta Colucci mostrar seu show Voz e Violão ao lado do parceiro Luca Frazão. Giu de Castro toma conta da terceira segunda-feira, dia 16, quando apresenta o espetáculo Manual do Tempo de um Dia, inspirado na obra do escritor e ator Gabriel Góes, que também estará no palco, ao lado da artista visual e musicista Antônia Perrone. No dia 23, Nathalie Alvim vem com uma noite chamada Outro + Um Tanto Daquilo Que Me Constitui em que mostra diferentes facetas de seu trabalho autoral, acompanhada por Wagner Barbosa, Ivan Liberato e Marco Trintinalha. Na última segunda-feira do mês, dia 30, o quarteto encerra a temporada em uma apresentação inédita. Os espetáculos começam sempre pontualmente às 20h e os ingressos já estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.
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