Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

DM: Frio no Rio, Cannes e os melhores piores shows

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Dodô puxou um programa sobre memórias, mas antes falamos sobre frio no Rio (20 graus é frio!), a surpresa que ele está armando pro domingo e depois lembramos de momentos em salas de cinema, shows antológicos pro bem ou pro mal, além de outros assuntos que inevitavelmente vêm à tona no meio dessa maravilhosa conversa fiada.

Aquele gostinho de anos 90

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A sensação indie inglesa Beabadoobee, que surgiu no ano passado reverenciando o papa Stephen Malkmus, anuncia seu próximo álbum, Fake It Flowers, com “Care”, um doce single, barulhento e irresistível, que nos lembra quando Kurt Cobain ensinou uma década inteira a fórmula Pixies com seus acordes pesados, paradas dramáticas e vocal açucarado.

O disco deve sair ainda este ano, mas não tem data definida de lançamento.

Nocauteado pela pandemia

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O inquieto Rafael Castro não conseguiu se conter e lança “Adrian”, música inspirada na namorada do protagonista do filme Rocky – Um Lutador, que consagrou Sylvester Stallone, canção inspirada pelo nocaute que a pandemia nos deu: “No meio da pandemia tudo quanto é artista tá sobrevivendo no vermelho, se ferrando legal e cortando um dobrado pra se manter com o auxílio mixaria do Paulo Guedes”, ele explica no texto que acompanha o novo clipe, em que sai de skate e máscara pela noite nas ruas de São Paulo.

“Nessa situaçãozinha é inevitável não lembrar do Rocky Balboa: o lutador fracassado que acaba lutando contra o campeão e tem como único objetivo ficar em pé até o final da luta, e quando consegue, completamente arrebentado, tudo que ele precisa é de um carinho da sua mina. Assim, ele grita ‘Adriaaaan’ e a audiência vai às lágrimas com essa ressignificação doída e doida do paradigma de vitória”, ele continua. “A música lembra desse Rocky e assunta com as vitórias, derrotas, apostas e lutas da nossa vida, da infância de maloqueiragem até hoje, de pobre contra pobre, desde quando cheirávamos cola e tentávamos tirar manobras no skate. Em 2020, todo dia é uma luta contra o Apollo Creed, mas a Adrian vai cuidar de tudo. Ela dá o backflip.”

“I Could Never Take the Place of Your Man” em 1979

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Mais uma joia da versão deluxe do clássico do Prince Sign O’ The Times, “I Could Never Take the Place of Your Man”, um dos carros-chefes do álbum, ressurge uma versão da década anterior.

Compare com a versão que ficou conhecida.

A caixa, que em sua versão mais completa vem com treze (!) vinis, já está em pré-venda e chega no mês que vem.

Vida Fodona #657: Prenunciando essa nova era

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Cogitando seriamente mudar o dia do Festa-Solo pra sexta-feira…

Dua Lipa – “Pretty Please”
Chromatics – “Lady”
Cindy Lauper – “Girls Just Want To Have Fun”
Gilberto Gil – “Toda Menina Baiana (Tahira Re-Edit)”
Criolo – “Sucrilhos”
Caetano Veloso – “Rapte-Me, Camaleoa”
Tame Impala – “Let It Happen”
Girls – “Alex”
Glue Trip – “La Edad Del Futuro”
Memory Tapes – “Green Knight”
Warpaint – “Above Control”
Wilco – “Theologians”
Letrux – “Salve Poseidon”

Matt Berninger sem gravidade

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O vocalista do National Matt Beringer lança “Distant Axis”, composta ao lado do vocalista do grupo Walkmen, Walter Martin. A faixa, cujo clipe brinca com um truque simples para emular a falta de gravidade numa tela, é mais um single de seu primeiro disco solo, Serpentine Prison, produzido por ninguém menos que Booker T. Jones.

Serpentine Prison será lançado em outubro.

Vasculhando o baú do Gang of Four

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Remanescentes da imortal banda inglesa pós-punk Gang of Four se juntam à gravadora nova-iorquina Matador para colocar seu acervo online – incluindo 14 (!) discos ao vivo. Os três primeiros discos da banda, os clássicos Entertainment! (1979), Solid Gold (1981) e Songs of the Free (1982), além de registros como Live at the Edge, Toronto (1979), Live at Nashville Ballroom, London (1979), Live at The Long Horn, Minneapolis (1979), Live at Ole Man Rivers, New Orleans (1980), Live at Roseland Ballroom, New York City (1981) e Live at Hofstra University, Hempstead (1983), entre outros. Os relançamentos foram motivados pela passagem do guitarrista Andy Gill, que morreu no início do ano e era uma das forças propulsoras do grupo. Aumenta o volume!

Angel Olsen ♥ Tom Petty

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Na segunda edição de seu Cosmic Streams, série de shows que está fazendo ao vivo na internet, Angel Olsen celebrou Tom Petty tocando uma deslumbrante versão para “Walls” ao lado da cantora Meg Duffy, que assina como Hand Habits.

Negro Leo e o Desejo de Lacrar

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Depois de mais de três anos maturando um disco que começou a surgir em 2013, Negro Leo finalmente dá a luz a seu Desejo de Lacrar, uma tese musical em movimento sobre a necessidade de se afirmar online e como isso se reflete na noção de identidade nos dias de hoje. O disco foi produzido pelo baterista Serginho Machado, que também toca na banda e que ainda conta com Chicão Montorfano nos teclados, Fábio Sá no baixo e o próprio Leo no violão, voz e assovios. O disco chega às plataformas digitais na virada da quinta para a sexta e Leo vai puxar uma sessão coletiva de Zoom para apresentar o disco em primeira mão a partir das 22h da quinta (o link para a audição é esse). Ele também antecipou o faixa a faixa do disco em primeira mão para o Trabalho Sujo.

“The Big One”
“Lacrar é agir de forma insolente e revoltada. Lacrar é não obstar limite entre si e o direito. É direito q se adquire no ato. Lacrar é encerrar assunto. Vencer, se não de fato, virtualmente de direito. Lacrar, na verdade, é o q nos resta. O lacre, no limite, como resultado do choque entre a comunicação em rede e o reconhecimento da impossibilidade de justiça. Época de parricídio. Inevitável q essa transformação sangre e exiba vitalidade. ‘Nem um terráqueo q trepa fode surdo à vontade de deus’? Será o nascimento de uma nova política?”

“Tudo Foi Feito Pra Gnt Lacrar”
“Foi a primeira música do disco a surgir. Eu tava pensando numa maneira de unir a instrumentalização de 2013 pela direita com o logos lacrador. Já havia ali um investimento na captura do discurso e da representação do lacre q acabou resultando numa mudança de mentalidade mais abrangente, q veio a dar no golpe e na ascensão do ultraliberalismo-escravocrata, q basicamente se comunica através do logos lacrador.

“Absolutíssimo Lacrador”
“É uma chave cósmica: cristo como unicórnio colorido, quimera: ‘não penses q vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua propria casa’ (Mt, 10, 34). O titulo da canção poderia ser #aceitaqdóimenos #aturaousurta, duas hashtags q dizem: a guerra é inevitável. Essa polarização, da capa ao título, organiza a economia verbal do lance.”

“Desejo de Lacrar”
“Voz sufocada pra enfatizar a atmosfera política, falsetes sedutores pra suportar o grave medonho desses tempos. A engasgada no verso ‘fluindo em volumes estacionários’ não foi proposital. A melodia em ‘#somostodos’ tem o sentimento certo de desolação e cerimônia pra carregar a confusão mental da hashtag.”

“Eu Lacrei”
“Quando a canção se transforma no açúcar das pequenas tragédias sentimentais do cotidiano, uma historia inspirada no noticiário policial de todos os tempos, com a nobreza envolvida, canavial das desumanidades humanas, várias camadas de sensibilidade sedimentadas.”

“Makes e Fakes”
“Tazio Zambi é o maior poeta da minha geração. Amigo de quase uma década. O cara q abriu caminho pra Gilgamesh e Jacinto Silva. Um mês depois de enviar o poema, num particular comigo, mudou ‘mimimi’, uma decisão q aproximou o poema da abordagem geral de lacre no disco.”

“Dança Erradassa”
“Eu tava fazendo uma canção. Quarto de hotel, Xangai, Peter Ivers, ‘terminal love’, Starbucks, Dirty Fingers, All Club, Brasil. Eu improvisei a imagem candente das ‘planícies do fim’, numa alusão à terra plana, saltando da melodia num vórtice. Tava pronta.

“Desvio pro Vermelho”, “Esplanada”, “Outra Cidade”
“Nova infância do mundo.”

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Betina contra essa “Onda Errada”

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“Não adianta negar as esferas do sistema solar”, canta Betina no refrão de ótima “Onda Errada”, canção psicodélica de protesto que lança nesta sexta-feira nas plataformas digitais e que antecipa aqui no Trabalho Sujo. Gravada antes da quarentena, a canção reúne o boogarin Dinho Almeida, que gravou guitarras e beats, além de assinar a canção com a cantora curitibana, o ex-supercordas Diogo Valentino no baixo e o trumpete do applegate Rafael Penna (o único a gravar depois da quarentena, à distância). O clipe foi feito por Betina, que aprendeu técnicas de animação 3D durante a quarentena.

“A idéia de escrever algo sobre o negacionismo usando o terraplanismo pra ilustrar o conceito começou quando essas posturas chegaram como pauta no governo”, ela me explica por email. “Mas principalmente frente à pandemia ela ganha muita força, se percebe claramente como esse pensamento acaba sendo nocivo para o coletivo e tendo resultados desastrosos. Quis fazer essa música justamente para compor essa memória social e registrar ‘o que pensamos’ para a história que vai ser contada no futuro.”

O novo single faz parte do sucessor de Hotel Vülcânia, que ela lançou em 2018, embora ela ainda não entenda como acontecerá este novo lançamento. “Eu tinha planos para um novo disco esse ano ainda, mas frente a tudo que vivemos, tenho levado mais tranquilamente esse processo. Vou lançar várias músicas esse ano, mas como elas vão se apresentar, se vão vir em formato de disco ou EP ou só como single eu ainda não sei, tô deixando fluir, sem muita pressão”, ela explica. “Encontrei um canal de expressão entre a criação do material visual que tem me encantado muito. O lyric video de ‘Onda Errada’ foi um dos resultados desse canal criativo”, explica, antecipando que não será o último destes experimentos.