Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Ruído e melodia

Foi bonito o show que Vitor Wutzki fez nesta terça-feira no Centro da Terra, quando tirou canções de sua gaveta virtual – a pasta Meus Documentos, que batizava o espetáculo – e as apresentou antes de começar a pensar no seu próximo disco. Acompanhado de Bruno Iasi (bateria e eletrônicos), Gabriel Edé (baixo) e Tomás Gleiser (teclados), ele visitou poemas de Adélia Prado, Rilke e Angélica Freitas, trabalhando a estrutura rock que compõe a maioria de suas canções de forma menos óbvia, a partir de sua guitarra, barulhenta e melódica ao mesmo tempo, mas sem deixar essas características determinar o teor da apresentação. Ele ainda convidou as cantoras Yma e Dibuk para dividir diferentes canções com ele no show, tocou músicas de seu primeiro álbum (Espaço em Branco) e encerrou a apresentação visitando “Nothing”, de Walter Franco, como se esta fosse visitada pelo Velvet Underground da fase Doug Yule. Direto no ponto.

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Vitor Wutzki: Meus Documentos

Seguindo com a programação de julho no Centro da Terra temos o prazer de receber nesta terça-feira o espetáculo Meus Documentos, que o guitarrista e compositor Vitor Wutzki batizou com o nome da pasta em que guarda seus rascunhos de música no computador, trabalhando com poemas de diferentes autores (Adélia Prado, Angélica Freitas, Rilke) que foram musicados pelo autor paranaense, que ainda terá a participações das cantoras Yma e Dibuk. Acompanhado por Bruno Iasi (bateria e eletrônicos), Gabriel Edé (baixo) e Tomás Gleiser (teclados) , ele também visita músicas de seu álbum de estreia, Espaço em Branco. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda no site do Centro da Terra.

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Teremos um novo disco do Tame Impala em instantes

Lembra que o Kevin Parker tocou uma música inédita do Tame Impala quando discotecou em Barcelona na época do festival Primavera Sounds? Pois ele abriu a semana postando uma galeria de fotos em seu Instagram que, ao que tudo indica, acompanha o processo de produção do novo álbum – de cenas no estúdio a fotos de divulgação, passando por encontro com amigos e listas do que deveria ser feito, além do barrigão de sua companheira Sophie Lawrence, que espera o segundo filho do casal – escrevendo “estive ocupado” na legenda. Nesta terça ele atualizou seu site com uma paisagem estéril com um link para quem quiser deixar seus contatos para saber das novidades em cima da hora. Por isso prepare-se que o quinto disco do Tame Impala vai vir de uma hora pra outra.

Veja abaixo:  

A exuberância natural de Inhotim como palco do Jardim Sonoro

Aproveitei a ida para o festival Jardim Sonoro em Inhotim para fazer um relato ao Toca UOL, em mais uma colaboração que faço para o site, falando um pouco mais das apresentações de Luiza Brina, Ilê Aiyè, Dijuena Tikuna, Mônica Salmaso, Cécile McLorin Salvant, Tetê Espíndola, e Josyara neste que, apesar de recente, é um dos melhores festivais do Brasil atualmente.  

Três vezes Jeff Tweedy

O líder do Wilco, Jeff Tweedy, acaba de anunciar seu quinto disco solo, que não é apenas um, mas três discos! Twilight Override será lançado no dia 26 de setembro (e já está em pré-venda) e para adiantar serviço Tweedy mostrou quatro das trinta faixas do álbum, que, como ele mesmo explicou em uma live que fez para anunciar o disco nessa terça de manhã, pode ser ouvido tanto como uma obra única ou como três discos em separado. A boa notícia é que todas as quatro primeiras faixas – “One Tiny Flower”, “Out in the Dark”, “Stray Cats in Spain” e “Enough” – poderiam tranquilamente estar em discos da fase clássica do seu grupo original. Não são faixas extraordinárias, mas reúnem tanto suas melodias solares – que brilham mesmo nas duas mais melancólicas, ambas no terceiro disco -, quanto aquele carisma que transforma o show do Wilco em um reencontro de amigos, mesmo que você não conheça ninguém. Ouça as novas músicas, veja as capas dos discos e o nome das faixas (há uma chamada “Lou Reed Was My Babysitter”!) abaixo:

Ouça abaixo:  

“Indomesticáveis!”

Outra segunda-feira com os Kartas no Centro da Terra e de novo entramos num território desconhecido, desta vez selvático e silvestre, com o grupo invocando características caóticas da natureza entre chocalhos, tambores, apitos e corpos em movimento, que começaram a noite com entrada de Herika Reis Kohl e Nova Buttler em tríade com a vocalista Marcela Mara. À medida em que adentrávamos no abismo percussivo, aos poucos revelava-se a voz e o berimbau de Paola Ribeiro, o pulso e timbres de Cacá Amaral e Paula Rebellato e o sopro de Eldra, acompanhando o quarteto central – Mara, Zozio, Guilherme Paz e Karin Santa Rosa (além da pequena Cora, sempre à espreita) – que dividiram-se entre batuques e guizos, baixo e rabeca, tambores e pratos, sempre abrindo clareiras mentais no breu cênico lindamente iluminado por Mau Schramm e interrompido uma única vez, com a entrada autoritária do drone ambient ativado pela instalação sonora de Gustavo Torres, num ótimo contraponto às fronteiras “indomesticáveis”, como repetia Mara na parte final, que tomaram conta da noite.

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Jardim Sonoro: um festival de música com outra concepção de mundo

Fui mais uma vez convidado para assistir ao Jardim Sonoro, festival de música que o Instituto Inhotim realiza em meio às suas obras artísticas e naturais nesse cenário que é único ao equilibrar majestosamente a exuberância da natureza tropical e os questionamentos da arte contemporânea a céu aberto. Como na primeira edição realizada no ano passado, o festival durou apenas um fim de semana e manter o número mínimo de atrações por dia atrelado à experiência sensorial de sua realização foi uma das decisões que o tornam tão único – tanto em termos artísticos quanto de conforto – no cenário de eventos de escala gigantesca, dezenas de shows em palcos simultâneos, causando filas e outros tipos de perregue que podem comprometer toda a disposição para assistir a qualquer tipo de show. A curadoria de Júlia Rebouças e Marília Loureiro desta vez centrou-se na voz, tirando de cena artistas instrumentais (que eram parte considerável da edição do ano passado), e chegou a um número de artistas quase 100% feminino, única exceção foi o coletivo baiano Ilê Aiyê, que tocou quase final do domingo, antes do DJ set da mineira Brisa Flow. O festival começou bem com a amazonense Dijuena Tikuna, artista indígena que cantou na língua de seu povo e abriu o sol que manteve-se por todo o evento, ao contrário do que a previsão do tempo indicava. Shows equivalentes da mineira Luiza Brina e da baiana Josyara abriram as manhãs do sábado e do domingo, mostrando a força e a sensibilidade das autoras da nova geração da música brasileira – cantoras, compositoras e musicistas que dominam seus três instrumentos (voz, caneta e violão), criando atmosferas únicas que, apesar das referências, não soam como ninguém. O sábado contou com um dos grandes momentos do evento quando Mônica Salmaso brilhou ao lado de João Camareiro e Teco Cardoso ao passear pelo repertório de Tom Jobim, numa apresentação deslumbrante que preparou para o festival. A estadunidense Cécile McLorin Salvant entrou logo em seguida passeando por standards de jazz, números latinos e até uma versão em português para “Retrato em Branco e Preto”. No domingo, o brilho ficou em Tetê Espíndola, que passeou pelo repertório da música pantaneira e por um sertanejo que não está mais no mapa, além de citar seus principais hits. O festival encerrou com a celebração do bloco baiano Ilê Aiyê, coroando essa edição do Jardim Sonoro como um exemplo de como podem evoluir os festivais de música. Que venham as próximas edições!

Atualização: Escrevi sobre o festival para o UOL.

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Um documentário sobre Jeff Buckley

Ficou marcado para o dia 8 de agosto a estreia, nos Estados Unidos, do documentário It’s Never Over, Jeff Buckley, que a diretora norte-americana Amy Berg estreou no circuito de festivais no começo do ano causando comoção durante as sessões. Sua autora especializou-se em documentários sobre temas sensíveis (como Deliver Us from Evil, de 2006, sobre abusos sexuais na igreja católica; Janis: Little Girl Blue, de 2015, sobre a curta vida de Janis Joplin, narrado pela Cat Power; e Phoenix Rising, de 2022, sobre os abusos que Evan Rachel Wood sofreu nas mãos de Marilyn Manson) e ao arriscar-se a contar a história de um dos nomes mais delicados da canção norte-americana do fim do século passado. Jeff, filho do trovador folk Tim Buckley que morreu quando ele tinha apenas 8 anos, também teve uma breve carreira ao morrer afogado poucos anos após ter gravado seu único disco, Grace (1994), obra-prima que a cada novo ano cresce ainda mais em importância e beleza. Berg ganhou a confiança da mãe de Jeff, Mary Guibert, que abriu todo seu acervo do filho para a cineasta, além de ter conversado com suas ex-companheiras Rebecca Moore e Joan Wasser, em entrevistas emocionadas. Ainda sem trailer, a produtora Magnolia Pictures revelou o pôster do filme, para começar a divulgação do filme, que ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.

Jean Claude Bernardet (1936-2025)

Triste a notícia da morte do crítico e polímata do cinema brasileiro, Jean Claude Bernardet, neste sábado. Revelado pelo jornalista Paulo Emílio Salles Gomes no Suplemento Literário do Estadão ainda nos anos 50, o belga, que morou a infância e o início da adolescência na França, e mudou-se para o Brasil aos 13 anos, cresceu e amadureceu junto ao cinema brasileiro, área que ajudou a erguer seja em livros históricos como Brasil em Tempo de Cinema (1967, em que ajudou a consolidar a trajetória artística do Cinema Novo), Cineastas e Imagens do Povo (1985, sobre a opção artística do nosso cinema retratar a base da pirâmide social brasileira), o enciclopédico Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro (1995) e o clássico volume da coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense que trouxe gerações para a fruição crítica da sétima arte em tempos de ditadura militar, O Que É Cinema? (1980). Também trabalhou diretamente – e em várias posições – em diferentes produções brasileiras: em O Caso dos Irmãos Naves (1967, com Luis Sérgio Person) e Brasília: Contradições de uma Cidade Nova (1968, com Joaquim Pedro de Andrade) foi roteirista, em Paulicéia Fantástica (1970), Eterna Esperança (1971) e A Cia. Cinematográfica Vera Cruz (1972) foi codiretor ao lado de João Batista de Andrade e em Ladrões de Cinema (1977, de Fernando Cony Campos), P.S., Post Scriptum (1981 de Romain Lesage) e Filmefobia (2009; de Kiko Goifman) foi ator. Foi professor da USP no curso de cinema e fundou o mesmo curso na Universidade de Brasília, antes de ser perseguido pela ditadura militar, que o transformou num dos principais críticos do regime. Viveu intensamente o cinema e ajudou-o a evoluir e amadurecer com suas observações e provocações,s por vezes teóricas, outras práticas. Naturalizado brasileiro no mesmo ano do golpe militar, ele foi um dos grandes nomes da cultura de São Paulo, espalhando-se pela cidade, desde eterno morador do edifício Copan, no centro de São Paulo, à imortalidade na Cinemateca Brasileira, instituição que abriga seu acervo e palco em seu velório, neste domingo. Um ícone da cultura brasileira.

Que absurdo! Censuraram a Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo!

Não é novidade que os gerentes do poder público paulista sempre se posicionam de forma agressiva quando artistas que se colocam politicamente contra o posicionamento ideológico do governador ou do prefeito da vez e desta vez a vítima foi a banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, que fazia um show de graça na Praça do Patriarca dentro da programação do dia do rock promovida pela prefeitura de São Paulo, na sexta-feira, e foi vítima de censura. Primeiro desligaram o telão da banda que mostrava números sobre a situação dos moradores de rua na cidade e a bandeira do estado palestino, entre outras mensagens, e depois o próprio microfone da Sophia, que, como é de costume, não deixou barato e partiu pra cima, mesmo sem som.

Também não é novidade que a banda está apertando cada vez mais a questão política em seus shows, desde o uso constante que a vocalista faz de um keffiyeh enrolado no pescoço ao próprio uso do telão – como fizeram em sua apresentação no Lollapalooza deste ano, exigindo a prisão de Bolsonaro – como ferramenta de protesto, compondo inclusive músicas que tocam especificamente nesta questão, como as inéditas que apresentaram pela primeira vez neste primeiro grande festival, transmitido pela TV. E que bom que eles estão dando a cara – todo artista tem que se posicionar politicamente! Logo depois da censura, Sophia soltou um vídeo deixando bem clara sua posição política e botando o dedo na cara do prefeito Ricardo Nunes. “A gente não foi contratado pelo prefeito, a gente foi contratado pela prefeitura, a prefeitura é dinheiro de todos nós, povo de São Paulo”, reclamou em vídeo divulgado em contas de Instagram, antes de ameaçar de volta: “Eles acharam que iam calar a gente agora fazendo esse tipo de coisa, mas eles criaram um monstro que vai ser a nossa resposta”, continuou Sophia, que arrematou, que “não vão silenciar o rock, porque o rock é transgressor e propõe mudanças. Sejamos radicais”

Assista abaixo: