Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Rock e letras

Retomei minhas colaborações com o jornal Valor Econômico batendo um papo com o compadre Rodrigo Carneiro, a voz e a presença dos Mickey Junkies, que está lançando seu terceiro livro, Jardim Quitaúna – Crônicas de paixão, política e cultura pop, pela Terreno Estranho.  

Dua Lipa ♥ Lionel Richie e Gwen Stefani

Se Dua Lipa já tinha subido bem o sarrafo ao puxar uma música do Mamas & The Papas e outra do Fleetwood Mac como suas primeiras celebrações californianas, durante sua turnê pelos EUA, nas duas outras noites que tocou em Los Angeles, ela trouxe talvez duas de suas melhores participações locais dessa turnê. Na primeira noite, na terça-feira, ela trouxe para o palco ninguém menos que o senhor Lionel Richie, irretocável, para celebrar sua essencial “All Night Long”. No dia seguinte, ela foi ainda mais fundo e trouxe a própria Gwen Stefani para dividir os vocais do maior hit de seu grupo No Doubt, a baladaça “Don’t Speak”. É tão bom vê-la não apenas mapeando os hits da cidade em que passa, mas colocando-os em uma genealogia própria, que parece seguir a cronologia do rock clássico, mas que também apóia-se em grandes hits pop (e não importa se é um rap, uma música latina ou um rock farofa) e baladaças arrasa-quarteirão, mostrando de onde ela veio. A próxima parada ainda é na Califórnia, mas dessa vez em São Francisco.

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Abrindo os trabalhos

Fui na abertura do novo espaço da Casa de Francisca nesta quinta-feira, desbravado naturalmente por dois veteranos do lugar que conheciam tão bem a primeira versão da Casa, ainda nos Jardins, quanto já frequentaram em inúmeras formações os atuais dois palcos do Palacete Tereza, no Centro. Como de praxe, o próprio Rubens Amatto, que idealizou e realizou esse sonho forte, foi quem abriu os trabalhos recepcionando os 44 presentes (mesmo número de lugares do velho endereço) no novíssimo terceiro palco do lugar, orgulhoso não apenas de estar ampliando sua visão como de ter dois camaradas pra começar essa nova fase. E por mais que Juçara Marçal e Kiko Dinucci sejam familiares do lugar e tenham optado por seu tradicional show de vozes e violão baseado no histórico álbum-encontro Padê de 2008, os dois passearam por outras canções de seu repertório comum até incluir novas versões, como o samba-enredo “Paulistano da Glória” de Geraldo Filme e a pesada “Batuque” de Itamar Assumpção. E por mais que o novo espaço seja intimista e acolhedor, os dois não tiveram problema em ultrapassar os decibéis possíveis, seja com a bateria embutida no violão de Kiko ou nos limites inalcançáveis da voz de Juçara. A Sala B é outra experiência da Casa e mesmo com outro show bombando no salão principal, ela manteve-se inabalável em seu intimismo.

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Olha a PinkPantheress aí de novo

PinkPantheress vem comendo pelas beiradas e pode devagarinho puxar 2025 pra si mesma. Ela lançou um dos discos mais divertidos do ano – Fancy That, que ela mesma chama de mixtape, com suas 9 canções em parcos 20 minutos – e aos poucos vem dando passos consideráveis para mostrar que pode mais do que fazer a gente rir e dançar. Primeiro ao lançar seu próprio Tiny Desk com músicos de verdade, cantando sem autotune pela primeira e fazendo bonito e depois ao vocalizar seu apoio à causa palestina no grande evento produzido por Brian Eno. O próximo estágio é um disco de remixes, batizado de Fancy Some More?, que ela revelou essa semana e deverá ser lançado já nessa sexta. Mas o que poderia ser só uma releitura do disco do começo do ano tornou-se um evento épico com a participação de mais de duas dezenas de artistas, incluindo nomes como Kylie Minogue, Oklou, Kaytranada, Basement Jaxx, Joe Goddard do Hot Chip, Groove Armada, Bladee, os brasileiros Caio Prince, Adame, Mochakk, Anitta e vários outros. E você achava que o ano já estava chegando no fim…

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Distopia rural

Nesta terça-feira, o mineiro Clóvis Cosmo nos conduziu rumo a um futuro brasileiro decadente que pouco lembra as distopias recentes que nos atormentam pois não se passa na periferia ou em bairros de alto padrão de megalópoles e sim no campo. O Vastopasto conjurado por suas canções é o cerrado do planalto central completamente acinzentado pela monocultura agrícola ao redor das ruínas de uma nova capital de um império próximo, chamada de Uberaba 2. Reunindo um pequeno supergrupo indie para desbravar o realismo deprimente de seu universo ficcional, ele buscava a complexidade da música caipira tradicional, dissecando-a em canções ao mesmo tempo simples e rebuscadas no gênero que cunhou como prognejo, ao adotar características do rock progressivo e da música sertaneja. Além de receber o público com um aviso sonoro totalitário ainda nas escadas do teatro, Cosmo ainda empilhou os dejetos digitais num canto do palco, ao lado de uma bucólica chaleira numa fogueira, e entre o canto, as falas, a guitarra e a flauta, vinha seguido por metade da dupla Antiprisma Victor José na viola, da cozinha do grupo Oblomov (o baixista José Eduardo e o baterista João Queiroz), das teclas e efeitos de John Di Lallo e do próprio dono do projeto Irmão Victor, o gaúcho Marco Benvegnú, tocando sopros e percussão. Uma formação de peso para uma apresentação épica, que além de trazer momentos quase individuais – quando dividiu uma música apenas com Victor José ou quando trouxe os Oblomov para cantar uma moda acompanhados apenas de sua flauta -, terminou com todos ao redor da fogueira cênica, ouvindo Pena Branca e Xavantinho, um dos maiores nomes da história da música sertaneja, conterrâneos de Uberlândia do dono da noite. Loucura.

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Clóvis Cosmo: Do Prognejo ao Vastopasto

Nessa terça-feira, o Centro da Terra torna-se uma espaçonave para uma viagem lisérgica e rural ao mesmo tempo, quando o mineiro de Uberlândia Clóvis Cosmo apresenta seu espetáculo Do Prognejo ao Vastopasto em que antecipa seu disco de estreia, Vastopasto: …e os Cerradofuturistas Sequestraram a Relógiocomotiva. Multiinstrumentista, ele criou um universo fantástico em que o Triângulo Mineiro é devastado pelo agronegócio, que ele batizou de AgroApocalipse, transmutando a paisagem do cerrado num pasto cinzento marcado pelas ruínas high tech da sede do agroimpério, Uberaba 2. Essa saga é contada a partir da narrativa do prognejo, que funde arranjos do rock progressivos às múltiplas linguagens da música sertaneja. No palco, Clóvis vem acompanhado de Victor José. do grupo Antiprisma, Marco Benvegnú, o Irmão Victor, John Di Lallo do projeto Gengibre, José Eduardo e João Queiroz (estes dois da banda Oblomov). O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda no site do Centro da Terra.

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Dua Lipa ♥ Kelly Clarkson, Leon Bridges, Fleetwood Mac e The Mamas & The Papas

Ainda em sua extensa turnê pelos Estados Unidos, Dua Lipa continua sua longa visita ao cancioneiro estadunidense agora fazer versões para músicas do Texas e da Califórnia. Na terça passada ela tocou a primeira data em Dallas, quando puxou o maior hit de Kelly Clarkson, “Since U Been Gone”, para emendar, no dia seguinte, com “Beyond”, do cantor e compositor Leon Bridges (que, nascido em Atlanta, foi criado em Forth Worth, no Texas – a mesma cidade em Clarkson nasceu), que subiu ao palco para dividir os vocais com a cantora. Já nos dois dos quatro shows que agendou em Inglewood, na região de Los Angeles, ela não mediu esforços e foi em dois clássicos, primeiro, no sábado, uma versão arrasadora para “The Chain” do grupo Fleetwood Mac (que apesar de inglês tornou-se outra banda com a entrada dos californianos Lindsey Buckingham e Stevie Nicks) e depois, no domingo, visitando o hino hippie “California Dreaming”, do grupo The Mamas & The Papas. Ela ainda faz mais duas datas na mesma cidade – terça e quarta – e o repertório que pode ser visitado é muito extenso. Alguma aposta?

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Dois instantâneos do Brasil de 2025

Duas polaróides divulgadas nesta terça-feira mostram um retrato bem diferente do Brasil – não apenas para si mesmo como para o resto do planeta. A primeira delas revela que o pernambucano João Gomes é o primeiro artista a figurar no primeiro show do Tiny Desk Brasil, num golaço da produção do novo programa. Num show de vinte minutos, ele enfileira vários de seus novos clássicos (“Dengo”, “Meu Cafofo”, “Reencontro”, “Aquelas Coisas” e “Eu Tenho a Senha”, entre outras, assista abaixo) e aumenta ainda mais o sarrafo e a expectativa para os próximos programas – você chuta quem pode ser o próximo? A outra traz o baiano Wagner Moura, fazendo o tour de promoção de O Agente Secreto, dentro do armário da Criterion, escolhendo filmes clássicos como o canal de streaming e selo de DVDs faz ao convidar grandes nomes do cinema. O vídeo com a íntegra de sua participação ainda não foi divulgado, mas entre os títulos escolhidos estão o cubano Memórias do Subdesenvolvimento (1968), o franco-belga Rosetta (1999), o italiano Ladrões de Bicicletas (1948) e o brasileiro Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964). E pensar que dois anos e meio atrás estávamos saindo de um abismo tão profundo (ainda estamos, é verdade) que a possibilidade de um futuro parecido com este 2025 era ínfima. E tem muito mais pra vir por aí…

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Muito além da percussão

O baterista e percussionista Mariano de Melo, que segura o pulso dos Deaf Kids e conta com sua carreira solo com o codinome Sarine, deu início à temporada Desmonta 18 Anos que a produtora de Guarulhos celebra às segundas deste mês no Centro da Terra fazendo a apresentação mais ousada de sua carreira. Em dupla com a iluminadora Giorgia Tolani – que optou por transições lentas e fachos de luz brancas que por vezes refletiam-se num espelho atrás do músico -, ele embrenhou–se num set com vários sintetizadores, um atabaque, piano e baixo elétrico, indo de trechos puramente jazzístico a beats eletrônicos contínuos, grooves acentuados, solos de teclas ou paisagens monocromáticas, encadeando som, ruído, pulso e melodias em transições que preencheram uma hora de show que voou como se pudesse durar poucos minutos ou para sempre. Um transe em movimento, uma boa forma de abrir os caminhos.

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Desmonta: 18 Anos

Satisfação começar o mês de outubro no Centro da Terra com a temporada que celebra a maioridade da produtora e selo Desmonta, comandada pelo herói de Guarulhos Luciano Valério, que lança discos e realiza shows de artistas e estrangeiros que exploram as fronteiras sônicas possíveis e que povoa as segundas deste mês com parte de seu elenco. Nesta primeira segunda, ele reúne o percussionista e baterista dos Deaf Kids, Sarine, em um transe experimental com as luzes de Giorgia Tollani. Na outra segunda, dia 13, o anfitrião é Kiko Dinucci, que explora novas texturas em seu violão – e outros instrumentos que podem vir no percurso – em busca de novas sonoridades para seus próximos trabalhos. Na terceira semana assistiremos ao encontro do próprio autor da temporada em seu projeto MNTH ao lado de Juçara Marçal e Douglas Leal, dos Deaf Kids (que apresenta-se como Yantra) e as luzes de Mau Schramm. O final da temporada vem com a presença massiva do grupo fluminense Crizin da Z.O., mais uma vez testando os limites do ruído. Os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos já estão à venda no site do Centro da Terra.

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