Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Prontos para o novo Magdalena Bay?

A dupla norte-americana Magdalena Bay, autora de um dos melhores discos do ano passado – e possivelmente da década! -, volta a lançar músicas novas, só que agora sem os poucos recursos que tinham quando lançaram o soberbo Imaginal Disk (cuja capa, por exemplo, foi feita com um efeito especial literalmente artesanal). Felizmente a estabilidade comercial não afetou a criatividade dos dois, que lançaram músicas excelentes e complementares ao mesmo tempo em que o clipe que fizeram para uma delas, a ótima “Second Sleep”, dá uma amostra do que pode ser sua prometida versão visual do disco de 2024 e deixa a vocalista Mica Tennebaum à vontade para soltar toda sua performance dramática, tão boa quanto sua presença vocal. O lado B deste single, a jazzy e melancólica “Star Eyes”, não vem com clipe, mas juntas duas canções dão uma bela amostra do caminho que eles podem percorrer já que têm reconhecimento e a atenção do público. E se esse novo single é o aperitivo de um novo álbum (eles não falaram nada sobre isso, mas já disseram que não haverá edição deluxe de Imaginal Disk e tratam as novas músicas como uma nova fase), tudo indica que teremos um disco ainda melhor em breve… Tomara!

Confira abaixo:  

Saiu a programação do Sesc Jazz 2025!

Um dos eventos do Sesc mais esperados do ano, o Sesc Jazz acaba de revelar sua impressionante escalação de sua sexta edição, que acontece entre os dias 14 de outubro e 2 de novembro e traz uma seleção absurda de shows e atividades formativas em quatro unidades em São Paulo (Sesc 14 Bis e Pompeia com os principais shows, além de ter outras atividades no Sesc Vila Mariana e no Consolação) e outras cidades do estado, como Franca, São José do Rio Preto, Guarulhos e São José dos Campos. As atrações são amplas e louváveis, como o encontro de Dom Salvador com Amaro Freitas, duas celebrações à Lenny Andrade, o encontro de Evinha com Marcos Valle e o de Luedji Luna com Alaíde Costa, Allan Abbadia misturando Moacir Santos com John Coltrane, o Aláfia revisitando o clássico Mothership Connection, do grupo Parliament-Funkadelic, o Trio Mocotó voltando ao clássico Força Bruta, que gravou com Jorge Ben, Virgínia Rodrigues voltando ao seu disco de estreia, Sol Negro, com Tinganá Santana, além de apresentações do grupo Aguidavi do Jêje, do ganês Alogte Oho, do grupo colombiano De Mar y Río, o percussionista uruguaio Hugo Fattoruso e seu grupo Barrio Sur, a colombiana Lido Pimienta, o colombiano Fruko e a haitiana Moonlight Benjamin, entre muitos outros (mais informações neste link). Confira a programação completa abaixo:  

Finalmente, Vovô Bebê!

Finalmente Vovô Bebê trouxe seu ótimo Bad English, disco com músicas em inglês que compôs durante a pandemia e que lançou no semestre passado, para uma apresentação ao vivo, que aconteceu dentro da bissexta mas resistente programação do Prata da Casa do Sesc Pompeia. Veio acompanhado de uma banda de ouro, reunindo velhos e novos camaradas, cada um com suas próprias carreiras em segundo plano para celebrar o trabaho do compadre: Gabriel Ventura na guitarra, Carol Mathias nos teclados, Guilherme Lírio no baixo e Uirá Bueno na bateria. E para não perder a oportunidade – afinal shows dele em São Paulo são menos frequentes do que gostaríamos – ele não só passou por boa parte do repertório do disco novo como visitou músicas de seus outros discos. E no meio de “Briga de Família”, música que batiza seu disco de 2020, recebeu a participação não anunciada de Ana Frango Elétrico, que subiu no palco quando a música se metamorfoseou num improvável mashup com a pedrada “Cross the Tracks (We Better Go Back)”, de Maceo & The Macks. Ana seguiu no palco por mais duas canções, quando primeiro dividiu os vocais de sua “Coisa Maluca” como Vovô, que é coautor da canção, para depois descambar na espetacular “Insista em Mim”, uma das melhores músicas brasileiras dessa década. Showzaço, cheio de gente artistas na plateia, todos esperando há um tempão por esse show.

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Nilufer Yanya no Brasil!

Cataploft! Nilufer Yanya no Brasil sem aviso assim mata o coração de qualquer vivente! Dona de um dos melhores discos do ano passado, ela toca no Cine Joia dia 12 de novembro — e os ingressos começam a ser vendidos nessa sexta. E tenho a sensação que uma sessão vai ser pouco…

Eis o elenco do Primavera Sound 2026 em Barcelona

Eis a escalação do Primavera Sound de Barcelona do ano que vem. Como aconteceu no Coachella de 2026, preferiram apostar no certo, embora flertando bem menos com o pop comercial (Doja Cat, Addison Rae e Pink Pantheress são nomes que conversam com as principais artistas deste ano – Charli XCX, Sabrina Carpenter e Chappell Roan, mas numa escala bem menor). A ênfase fica na nostalgia indie quando escalam Cure, My Bloody Valentine e Xx entre as grandes atrações e nomes como Mac DeMarco, Marina, Einstürzende Neubauten, Slowdive e Panda Bear correndo na paralela, mas eles também não se esquecem da contemporaneidade e chamam Big Thief, Ethel Cain, Wet Leg, Oklou, Men I Trust, Alex G e Water From Your Eyes para compor o elenco, que ainda conta com uma boa dose de pop alternativo com Gorillaz, Little Simz e Blood Orange e mais um monte de DJs e bandas minúscula, além de ter bancado a vinda do Kneecap, quando a maioria dos grandes festivais fogem deles como o diabo foge da cruz (e essa metáfora nesse contexto, hein…), e o show pesado do Massive Attack. Menos que ousado que outras edições, o festival catalão está longe de fazer feio – fora que tem a melhor estrutura para esse tipo de evento…Já a versão brasileira, ninguém sabe de nada.

Mogwai no Circo Voador!

Vocês viram que vai ter show do Mogwai no Circo Voador? Só quem já viu um show do Mogwai e que já assistiu a um show no Circo Voador pode vislumbrar o ataque aos sentidos que pode ser essa apresentação. Acontece em plena quarta-feira, 5 de novembro, e os ingressos já estão à venda… Tô cogitando seriamente…

Mais Yo La Tengo no Brasil!

A Balaclava acaba de confirmar que o clássico grupo Yo La Tengo, que virá ao Brasil este ano como parte de seu festival anual (que acontece no dia 9 de novembro e ainda conta com Stereolab, Geordie Greep, Fcukers, Gab Ferreira, Jovens Ateus e Walfredo em Busca da Simbiose), fará mais um show em São Paulo quando apresenta–se em versão acústica e intimista no dia seguinte, dia 10, no Cine Joia. Quem comprou ingresso para o festival tem desconto para ir no show do Yola no dia seguinte – e os ingressos já estão à venda. Que notícia foda!

Butthole Surfers de volta aos palcos!

Uma das bandas mais importantes da cena independente dos anos 80 nos Estados Unidos também era uma de suas bandas mais perigosas. O grupo foi alvo de um dos melhores documentários sobre bandas de rock já feitos, o inacreditável The Hole Truth And Nothing Butt, lançado este ano, em que as histórias escabrosas do grupo são contadas por eles mesmos com sordidez e dor ao mesmo tempo em que o diretor Tom Stern faz o próprio grupo olhar para o abismo que os transformou naquele caos agressivo em movimento em um filme doloroso e apaixonado. Os remanescentes do grupo – o vocalista Gibby Haynes, o guitarrista Paul Leary, o baixista Jeff Pinkus e o baterista King Coffey – não se reencontravam desde o último show em 2016, quando desistiram de apresentar-se ao vivo por cansaço, cogitando a possibilidade de fazer um último disco no ano seguinte, sem sucesso. A banda se dissolveu sem anunciar um fim e voltou a se rever justamente por conta do documentário de Stern, que entrevistou todos eles e contou com a participação de todos na divulgação do filme. O que culminou com a estreia comercial do documentário – que até então só estava sendo exibido no circuito de festivais, inclusive no brasileiro In Edit deste ano -, que aconteceu nesta terça-feira quando, após a exibição no Egyptian Theatre, em Hollywood, na Califórnia, o grupo voltaria a se encontrar para um bate-papo com o diretor, mas que acabou culminando na primeira apresentação ao vivo do grupo em oito anos, quando tocaram “Cherub”, “The Colored FBI Guy” e “The Shah Sleeps in Lee Harvey’s Grave” para deleite e incredulidade dos presentes – ainda mais que o grupo esteve recusando ofertas de centenas de milhares de dólares para voltar aos palcos. Tomara que eles voltem de vez, mesmo sabendo que, como sempre, será outra dose de mais pesadelos na estrada.

Assista abaixo:  

Claudia Cardinale (1938-2025)

Claudia Cardinale, sinônimo de musa, de mulher independente e do cinema italiano, nos deixou nesta terça-feira, aos 87 anos. Joia da cultura da Itália apesar de nascida na Tunísia, La Cardinale surgiu como deusa idealizada pela sétima arte nos anos 70, foi a partir de 1963 que atingiu um novo patamar, ao estrelar, quase que simultaneamente, dois monumentos do cinema da península mediterrânea erigidos por dois de seus maiores nomes: o épico O Leopardo de Luchino Visconti e o pós-moderno 8 e 1/2, obra-prima de Federico Fellini. Estrelar estes dos dois filmes a elevou a um patamar que apenas Sophia Loren, entre suas conterrâneas contemporâneas, teve neste mesmo período. Foi a partir destes dois filmes que parou de ser dublada (os diretores anteriores tinham vergonha de seu sotaque, abraçado pelos autores dos dois filmes citados) e começou a usar seu estrelato como uma forma de mostrar como uma nova mulher estava pronta para surgir e dominar o mundo, longe da família, maternidade e afazeres domésticos. Esta fama a leva para os EUA naquele mesmo ano, quando realiza o primeiro filme da série A Pantera Cor de Rosa (de Blake Edwards, com Robert Wagner, Peter Sellers e David Niven) e torna-se um nome recorrente em filmes do período. Sua fase áurea terminou com Era uma Vez no Oeste, de 1968, Sergio Leone, mas ela seguiu fazendo filmes e recusando-se a fazer cirurgias plásticas ou intervenções cosméticas para disfarçar a idade, atuando ao lado de Brigitte Bardot, outro ícone do período, no faroeste As Petroleiras (1971), e sob a batuta insana de Werner Herzog em seu épico amazônico Fitzcarraldo (1982). Defensora dos direitos das mulheres desde cedo, ela foi mãe após ser vítima de um estupro ainda adolescente e teve de fingir nos primeiros anos de sua carreira que seu filho era seu irmão mais novo – e sustentá-lo foi o motivo de aceitar trabalhar no cinema. Ao assumir a maternidade após ter se tornado um nome de peso na indústria de seu país, ela passou a vocalizar necessidades e exigências femininas na década em que transformações sociais eram impostas pela base da sociedade. Ela trouxe essas discussões para o cinema, principalmente nos bastidores. E morreu cercada pelos dois filhos, Patrick e Claudia, que nasceu após o casamento com o diretor Pasquale Squitieri, falecido em 2017, que considerava seu único amor.

Entre a luz e a sombra

Linda a apresentação que Lea Taragona fez nesta terça-feira no Centro da Terra, quando trouxe o novo repertório de seu projeto solo Dibuk ancorado por uma banda azeitadíssima formada por Elke Lamers no baixo, Vitor Wutzki tocando violoncelo e Guilherme Paz na bateria. No espetáculo Uivo, ela pode reger seu pequeno e forte conjunto a partir de seu violão minimalista e sua bela voz, puxando melodias que podiam ser mínimas e delicadas ou intensas e expansivas, contando com o silêncio tácito do público cúmplice, que deixava canções escorrerem de uma para outra sem a interrupção das palmas, mantendo o clima reverente e apreensivo por toda a apresentação, que ainda contou com o belo desenho de luz – por vezes noturno, outras solar – de Cyntia Monteiro.

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