Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Musicovery

Vai clicando e vê se não é sinistro.

Vida Fodona #070: Como se isso fosse algum problema

Delírio praiano, aquecimento global dá bossa, hip hop Rio, britpop clássico, trinca de mashups, resquícios noventistas, groove motorik, funk italiano e a nova do Ronei Jorge.

– “Don’t Look Back” – The Remains
– “Futurismo” – Kassin + 2
– “Desculpa Aí” – Chambaril
– “Seja o Líder” – Inumanos
– “Sorted for E’s and Wizz” – Pulp
– “Keep Your Dreams” – Suicide
– “Let’s Go Away for a While” – Beach Boys
– “Ten Little Twelvetoes” – Chavez
– “Disco Six Six Six” – Girls Agains Boys
– “Snip Snap” – Goblin
– “I Wanna Be Christina’s Dog” – Divide & Kreate
– “Sweet Sovereign” – C.H.A.O.S. Productions
– “Feel Wall Inc.” – Ben Double M
– “Aquela Dança” – Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta

Come together.

“Young Folks” – Peter Bjorn & John

Assobio: F Dm Am

F Dm
if i told you things i did before,
Am
told you how i used to be.
F Dm Am
would you go along with someone like me?
F Dm
if you knew my story word for word,
Am
had all of my history,
F Dm Am
would you go along with someone like me?

F Dm
i did before and had my share,
Am
it didn’t lead nowhere…
F Dm Am
i would go along with someone like you.
F Dm
it doesn’t matter what you did,
Am
who you were hanging with,
F Dm Am
we could stick around and see this night through.

F C
and we don’t care about the young folks,
Am C
talkin’ bout the young style.
F C
and we don’t care about the old folks,
Am C
talkin’ ‘bout the old style too.
F C
and we don’t care about their own faults,
Am C
talkin’ ‘bout our own style.
F C
all we care ‘bout is talking,
Am C
talking only me and you.

Repete a parte do verso (F Dm Am) e depois a do refrão (F C Am C) infinitas vezes

Kdickeano

Mais uma sobre o Scanner Darkly, desta vez sobre o livro, que saiu na Folha hoje…

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Lançamentos agitam o legado do escritor

A lenta consolidação do nome de Philip K. Dick no imaginário popular chega aos 25 anos neste 2007, quando aniversariam tanto a morte do escritor norte-americano (que morreu dia 2 de março de 1982) quanto a estréia de “Blade Runner” (25 de junho daquele ano), o primeiro de seus livros a virar filme. Desde então, o escritor de ficção científica – contemporâneo de bastiões do gênero como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke, que tiveram seus dias de glória ainda em vida – passou não só apenas a ser mais conhecido e reconhecido, como lentamente o material de seus romances diz muito mais a respeito dos nossos dias do que as colônias interplanetárias e os robôs de Asimov e Clarke.

Veja este “O Homem Duplo”, que acaba de ser lançado pela primeira vez no Brasil (só existia uma edição em português, na clássica coleção lusa Argonauta – o título da versão 2006/07 segue o desta primeira edição; o original “A Scanner Darkly” contém referências à Bíblia – em especial ao capítulo 13 da Primeira Epístola aos Coríntios e o amplo significado da palavra “scanner” nos anos 70). Sem nos atermos aos maneirismos futuristas do livro, a saga do policial que tem de se infiltrar no submundo das drogas e torna-se um viciado, confundindo sua obsessão por manter-se chapado com a de descobrir as subdivisões do narcotráfico foi escrita em 1977 mas é rotina trinta anos depois – ainda mais se trocarmos “droga” por qualquer outra atividade que venha ser considerada ilegal para o estado. A esquizofrenia de uma sociedade fragmentada é uma das principais profecias concretizadas por K. Dick, que inverte o totalitarismo de George Orwell em uma visão mais multifacetada (nem por isso menos agressiva) de possíveis ditaduras do futuro

Como em seus grandes livros, o escritor usa o futuro como metáfora para explorar a natureza do ser humano e a narrativa ficcional serve como veículo para a filosofia. Escrito em duas semanas mas reescrito por seis anos, “O Homem Duplo” mistura referências autobiográficas na história, principalmente no que diz respeito ao uso de drogas – Philip é famoso por ter frito o próprio cérebro com anfentamina durante os anos 60, quando escrevia livros às dúzias.

A mesma Rocco que lança “O Homem Duplo” promete uma nova edição o livro para “Blade Runner – O Caçador de Andróides” (lançado como “Do Androids Dream of Electric Sheep?”, em 1968) para o próximo mês de abril, quando a editora Aleph, que lançou no ano passado a obra-prima “O Homem do Castelo Alto” (de 1964), publica a primeira edição em português para o livro-enigma “Valis” (de 1981). A Aleph ainda promete para o segundo semestre “Ubik” (de 1969) e “Os Três Estigmas de Palmer Eldritch” (de 1965).

Nos EUA, acaba de sair o livro póstumo “Voices from the Street”, há dois filmes em produção sobre sua biografia (um com Bill Pullman vivendo o escritor e a outra com Paul Giamatti no papel) e o reconhecimento oficial do governo finalmente aconteceu quando a Library of America (a Biblioteca Nacional deles) anunciou que irá publicar “Blade Runner”, “Castelo Alto” e “Ubik” em sua coleção. Fora a edição definitiva do filme de Ridley Scott, que chega às telas no meio do ano. Nada mal para um escritor frila obcecado, paranóico e chapado que, alucinando, viu o nosso futuro.

O HOMEM DUPLO
Cotação: ****
Editora: Rocco (308 páginas)
Preço: R$ 38,50

Vida Fodona #069: Não sei porque eu tava falando disso

Três faixas de abertura, quatro covers, um mashup, três músicas escolhidas a dedo e três músicas pinçadas aleatoriamente, além de qualquer parada dita aqui e ali.

– “For What’s Worth” – Sergio Mendes & Brasil 66
– “Brasil Pandeiro” – Novos Baianos
– “Concrete Jungle” – Bob Marley
– “From Out of Nowhere” – Faith No More
– “Heroes and Villains” – Apples in Stereo
– “Dancing Days” – Stone Temple Pilots
– “Mama Told Me (Not to Come)” – Yo La Tengo
– “Bus Stop Bitties” – RJD2
– “Go” – Common
– “Tilt” – Plump DJs
– “Same Jeans” – The View
– “Must Be the Moon” – !!!
– “Girl’s Night Out” – The Knife
– “Bad Ghostbusters” – Michael Jackson vs. Ray Parker Jr.

Colaë

Cinco Perguntas Simples: Felippe Llerena

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Na verdade, a partir do momento que a música se tornou um bem intangível ela já perdeu o suporte, pois o CD era o “armazenador” de música oficial, e os walkmans da vida, e o CD player era o “reprodutor” de áudio. Na medida que os “reprodutores” e os “armazenadores” se tornaram o mesmo, o suporte físico, tal qual conhecemos, deixar de existir. De certa maneira, música sempre vai precisar de algum hardware para ser reproduzido, ainda que a música em si possa ser transportada por vias eletrônicas, portanto de certa maneira o suporte físico continua existindo na media que necessitamos de um local para armazenar a musica, o que se traduz no HD do computador que tem um player virtual ou o MP3 Player – pois jamais teremos como fugir da armazenagem – portanto o CD ainda será um otimo armazenador de música e ainda deverá ser por muitos anos, mesmo que seja para fazer backup – mas o modelo CD ->fabrica -> loja -> consumidor -este está com os dias contados sim…

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
A música já é consumida hoje atraves de outros meios que não são levados ao consumidor através do CD e sim através do cinema, do videogame, da televisão, pela internet por meios digitais atraves de serviços de venda a la carte – como o iMusica e o iTunes – ou por assinatura via “all you can eat” – este modelo já existe – se deixar de pagar o mês seguinte, as músicas caducam e deixam de ser reproduzidas – mas temos é que fazer os jurídicos, autores, artistas e tecnologistas se falarem mais pragmaticamente para encontrarem um modelo comercial que agrade a todos, pois acredito que música deveria passar a ser considerado que nem sistema de encanamento de água de casa – você paga uma conta mensal e tem água à vontade, quase de graça. Mas se quiser uma Evian, vais pagar mais por isto.
Existem outras suposições e possibilidades, que a música poderá ser paga por algum patrocinador, mas no fim das contas o que vale é a música sob demanda. O perigo é que se a conta não for paga, o artista vai deixar de ter alguém para pagar a inspiração, uma vez que para gerar demanda, ainda necessitamos da oferta e isto é gerado a partir do marketing e nisto as gravadoras ainda detém este know how melhor que ninguém. Direção artística, por mais que artistas dizem que gravadora não serve mais para nada, quem melhor sabe adequar um artista a repertório é quem sempre fez isto no dia-a dia – e se matarmos este modelos, tal qual se desenha hoje, vamos ter que pensar em novas fórmulas de criar demanda de novas obras.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
De passar por todos os barracos e saber o que não queremos e escolher o que queremos a partir do esvaziamento da mídia de massa para mídia individual. O acesso à informação e tecnologia mudou o modelo econômico. O ser humano mudou seu comportamento de acordo com as evoluções tecnológicas, nada do que está acontecendo é novidade, mas o difícil esta sendo assimilar.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
Praticamente todos desconhecidos maravilhosos. Não recebemos mais demo tapes pelo correio e sim um link. Também ao mesmo tempo passamos a conhecer um universo de musicas muito ruins devido a facilidade de acesso a gravação e não-dicernimento artístico. A incógnita: como fazer isto gerar receitas?
Outro fator muito interessante é que passei a conhecer melhor artistas de antigamente através destas tecnologias novas também. Acho mais fácil eu vir a me interessar por projetos gravados em outrora do que assimilar as novidades atuais, pois hoje para se criar referência é muito complicado e quando ela se realiza a gente passa batido, sabendo que foi gerada a partir de sonoridades e musicas de outros tempos, porque são referências de vida. Hoje fazer estourar um artista parecer ser muito mais fácil, mas já que a massificação na rádio não fortalece mais do jeito que era antes. Ou seja, antigamente mesmo que a música nao fosse tão boa ela era assimilada e consumida pela carência de vários canais de divulgação e pela maciça quantidade de inserções, mas hoje o que é bom, é bom na hora e isto se propaga rápid. Novamente, mudança de comportamento.

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?
Sim, com a facilidade de acesso a tecnologia e gravação, podemos focar em música ao mesmo tempo em que você vira parceiro do artista. Antigamente isto não existiria, pois todo o custo era somente da gravadora. Sonho mesmo será conseguir usufruir destas tecnologias e fazer a música brasileira bombar no resto do mundo.

Felippe Llerena é fundador do iMúsica.

Bounce that

Entrevistinha que eu fiz com o Gregg “Girl Talk” que saiu na Folha de hoje…

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Girl Talk redefine idéia de “mashup”

Produtor funde mais de 200 samples em seu álbum “Night Ripper” e deve se apresentar no Brasil ainda neste semestre

A guitarra e o vocal açucarado de “Where’s My Mind” dos Pixies, baixos de Dr. Dre, as cordas de “Bittersweet Symphony” do Verve, a base lenta de “Only” do Nine Inch Nails, o violão de Noel Gallagher em “Wonderwall”, Jeff Mangun do Neutral Milk Hotel contando “2, 1, 2, 3, 4” e toneladas de vocais de rap, de diferentes origens. Assim é “Night Ripper”, um dos melhores discos do ano passado, lançado pelo produtor Gregg Gillis sob o pseudônimo Girl Talk. Sem pedir autorização para usar nenhum dos mais de 200 samples utilizados (e não por acaso
lançado pela gravadora americana Illegal Art), ele leva o conceito de mashup para um novo patamar e está quase confirmado como uma das atrações musicais para a próxima edição do festival Resfest, que acontece em abril. Ele conversou com a Folha por email, na entrevista
abaixo.

Conte a história de “Night Ripper”.
Eu amo música pop e eu faço colagens com músicas há uns sete, oito anos. Gosto de recontextualizar elementos familiares em músicas novas e estava querendo fazer um disco divertido, apenas com samples. O som do disco é baseado nas minhas apresentações ao vivo, quando eu misturo na hora um monte de loops e samples tirados de um set pré-determinado.

A atenção que você recebeu após o lançamento do seu trabalho diz mais respeito ao fato de o disco ter sido lançado sem autorizações ou pelas quantidade de músicas conhecidas se encontrarem de forma tão distinta?
Acho que um pouco dos dois. As pessoas sempre gostam da controvérsia, daí a questão do direito autoral. No lado musical, queria fazer um disco que fosse ao mesmo tempo experimental na estrutura e divertido. Acho que as pessoas estão acostumadas a ouvir música remixada como se fosse ou inteiramente experimental ou apenas feita para a pista de dança. O meu disco é acessível o suficiente para que pessoas que não são interessadas em música feita a partir de colagens ou outro padrão de música eletrônica possam simplesmente curtir, mas ao mesmo tempo ainda é estranho e chama atenção por ter a quantidade de samples que tem espremida em um só disco. De qualquer forma, eu gosto de pensar que as pessoas estão interessadas mais na música do que no aspecto conceitual.

O que você acha dos direitos autorais atualmente?
Acho que podemos usar as leis de direito autoral para beneficiar a todos. A cultura do remix está ajudando a música como um todo, mostrando novos artistas para pessoas que nunca os ouviriam de outra forma e deixando-as mais animadas com a música. Muitos usam programas de edição visual, como o Photoshop, para manipular e reciclar a cultura todo dia, apenas como um hobby. Acredito que isso está acontecendo com a música também, com um monte de moleques fazendo seus próprios remixes e os espalhando pelo mundo. À medida em que nós nos movemos nesta direção, acho que as leis devem assumir uma postura que ajude o desenvolvimento artístico tanto quanto proteja a música destes artistas de uma perspectiva financeira.

Você certamente conhece o trabalho de outros famosos editores de som, como Double Dee & Steinski, a dupla KLF, John Oswald e Dangermouse. Você acha que você pertence a uma nova tradição?
O ato de samplear está por aí desde que havia tecnologia para fazer isso, e você pode voltar isso para as primeiríssemas colagens em fita. À medida em que a tecnologia tornou-se mais acessível com os samplers e softwares de edição de som, samplear se tornou uma ferramenta mais usada. Eu gostaria de me encaixar entre os artistas que você citou, mas samplear vai muito além do underground. É uma ferramenta padrão para fazer música pop atualmente. Eu não acho que meu trabalho seja parte de uma nova tradição, apenas que estou usando um instrumento relativamente novo que muitos produtores usam hoje.

***

Cultura do “corta e cola” se multiplica na internet

“Se fosse legal, seria divertido?”. Assim Adrian Roberts, uma das metades da dupla A plus D (a outra é sua irmã, Deidre), resume a questão dos direitos autorais em relação ao tema mashup. Subcultura que nasceu do hype ao redor da colagem de duas músicas distintas e que ganhou fama em sua incipiência em 2001 (quando os 2ManyDJs popularizaram-no com o nome de “bastard pop” ou “bootleg”), a cena mashup cresce a cada dia que passa atraindo DJs de diferentes países e movimentando online (e gratuitamente) centenas de músicas criadas a partir de outras.

Um exemplo é o recém-lançado CD “The Best of Bootie 2006”, que não existe fisicamente (por motivos legais) e está disponível para download no site da festa Bootie (http://www.bootieusa.com/bestofbootie2006/), organizada por Adrian e Deidre em San Francisco, mas que aos poucos ultrapassa as fronteiras do próprio país.

O CD virtual conta com colisões agressivas (Led Zeppelin e Beastie Boys, Chemical Brothers e Velvet Underground), sacadas de pista (Kanye West com a versão discoteca para a quinta sinfonia de Beethoven, Gnarls Barkley com Supertramp) e apelo retrô (Eurhythmics com Lady Sovereign, She Wants Revenge com Joy Division). Entre seus autores estão alguns dos protagonistas desta cena internacional mashup, como os franceses DJ Zebra e DJ Moule, os suecos Divide & Kreate, os ingleses Kleptones e Go Home Productions, os australianos Arty Fufkin e Team9, o dinamarquês DJ M.I.F. e os americanos Party Ben, Earworm e os próprios A plus D. Tudo de graça, pronto pra baixar no site.

“Começamos a Bootie em agosto de 2003 e tínhamos que explicar pra todo mundo que conhecíamos o que era mashup”, lembra Adrian. “Hoje, a festa cresceu consideravelmente e é a maior noite de mashup do mundo. Nós temos uma outra casa noturna em Los Angeles, chamada Bootie LA e estamos nos preparando para lançar festas Bootie em Paris, Nova York e Chicago”; comemora.

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Dissecando “Night Ripper”
Três faixas do disco do produtor Gregg Gills

“Bounce That” – O vocal rap de “Kryptonite” (dos Purple Ribbon All-Stars) atravessa toda faixa, que alterna bases do hit disco “Best of My Love” (dos Emotions), de “Daft Punk is Playing in My House” (do LCD Soundsystem), “Cannonball” (das Breeders) e “Connection” (do Elastica), entre outros.

“Overtime” – “1979” dos Smashing Pumpkins funde-se com o electro “Whitehorse” do Laidback sob outro vocal os Three 6 Mafia, até encontrar a base de “Pump Up the Jam” no final.

“Summer Smoke” – A base de “1 Thing” (Amerie) encontra os vocais de”Galang” (M.I.A.) antes de Kanye West (com o hit “Gold Digger”) colidir-se com a setentona “Magic” do grupo Pilot.

Links dos outros

Materinha da Ilustrada de hoje fala de filmes feitos por fãs de grifes famosas e tem ótimos exemplos, num box que, por algum motivo, não está na edição eletrônica da matéria. A saber:

– Reaction, do Hulk, feito pela Nick Films

– Last Call, do Wolverine, feito pela Alpha Dog Productions

– Watchmen Page 5, feito por Bryant Hodson

– Chad Vader – Day Shift Manager, feito pela Blame Society Productions

– Grayson, de John Fiorella

– Lobo Paramilitary, feito por Scott Leberech

– Batman: Dead End, da Corolla Studios

– Ryan vs. Dorkman, de Ryan Wieber e Michael Scott

– O já-clássico George Lucas in Love, de Joe Nussbaum

– E o também já-clássico Troops, de Kevin Rubio

Eu sei, um monte é velhão, tem uns fodas que não entraram na lista (só o Mateus me listaria uns vinte, sem pestanejar) e faltam uns brazucas, mas a seleção ficou boa e eu resolvi agilizar esse lado. Se alguém quiser mandar mais link, eu posto aí embaixo.

Goo-goo-g’joob!

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Dica do Bruno.

O que você está ouvindo

Materinha pra Simples que tá na banca, sobre os sites Pandora e Last.fm

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Qual é a música?

Last.fm e Pandora são sites, rádios online, agregadores de conteúdo, comunidades online ou sistemas de recomendação de música? Conheça a nova geração de players da indústria musical

A crise na indústria da música, já deu pra perceber, não é tão generalizada quanto parece. Na verdade, um segmento sofre mais do que outros. São as gravadoras de disco que, depois da digitalização da música nos anos 80, lentamente vem perdendo poder, uma vez que seu principal bem – a capacidade de levar música em discos (seja de vinil ou de plástico) por todo o planeta – tornou-se irrelevante quando a equação “música digital + banda larga” começou a atingir níveis mais populares – e incluir mais gente neste processo.

A derrocada das grandes gravadoras multinacionais tem a ver com a má administração destas empresas nas últimas décadas (quando, em vez de investir em catálogos para o futuro, diretores regionais apostaram em sucessos instantâneos que ninguém quer ouvir dez anos depois), mas está mais ligada à mudança de paradigma básica que veio em decorrência à popularização da web, no começo dos anos 90: de que ninguém mais vai determinar, de forma tão vertical e autoritária quanto antes, o gosto do mercado. Cada vez mais as pessoas se tornam conscientes de seu papel não apenas como consumidor final (o sujeito que fica no fim do funil da indústria, esperando receber coisas) mas também como agente desta mesma indústria da música. E, assim, o papel das gravadoras, de “atravessador musical” – aquele sujeito que diz que música ou artista você deve consumir agora – vem se tornando literalmente irrelevante.

Mas crise na indústria do disco não quer dizer crise na indústria da música – são duas coisas distintas, é bom separar. De um lado, você tem cada vez menos gente disposta a entrar em uma loja e comprar produtos que só podem ser experimentados naquele ambiente (seja no fone de ouvido pendurado na gôndola da megastore ou os 30 segundos na playlist em streaming da loja virtual); do outro, você tem diversos artistas e produtores musicais indo conversar diretamente com seu público, sem esperar que alguém lhes diga como se portar ou o que vestir. Separada da indústria fonográfica, a carreira de um artista ganha uma profundidade inédita e cada fã pode se tornar tão importante quanto um radialista, um crítico musical em um jornal ou um diretor artístico um dia foram.

Logo, estamos dentro de uma outra situação nova – uma vez que o artista não precisa de uma grande gravadora para atingir seu público, as multinacionais deixam de ser os alvos de ataque destes artistas, que preferem atirar para todos os lados – dando MP3s, fazendo shows, colocando clipes no YouTube, criando produtos de merchandising (de camisetas a wallpapers para celular), abrindo faixas para remixarem, vertendo músicas em ringtones ou truetones… Existem um milhão e uma maneiras de se conversar com seu público hoje – e as novas bandas, artistas e DJs estão experimentando todas.

Dentro desta maré alta de nova música, como descobrir algo novo? Entre rankeadores automáticos, novas bíblias do bom gosto e personal ipodders, duas iniciativas – uma inglesa e outra norte-americana – mostram como é possível se entender neste novo cenário musical ao mesmo tempo em que ajudam a explicar que este mais tem a ver com o ouvinte do que com o artista. Ambos são, ao mesmo tempo, rádios online, sites de comunidade e agregadores de conteúdo – e não são nada disso, ao mesmo tempo. Pandora e Last.fm começaram de formas bem diferentes e disputam um lugar neste mercado rankeando gente a partir de artistas e gostos musicais.

Ambos partem do mesmo pressuposto: que, ao mostrar suas preferências musicais online, você abre a possibilidade para encontrar músicas e artistas que nunca havia pensado em conhecer. Num mundo em que cada vez mais gente produz música e mais música do passado sendo disponibilizada o tempo todo, este tipo de guia parece ser a melhor solução pra qualquer um que compre um MP3-player e pergunte-se por onde começar.

“Passei dez anos anteriores tocando em bandas de rock e escrevendo música pra filmes”, explica Tim Westergren, que fundou o Pandora ao lado de Jon Kraft e Will Glaser em janeiro do ano 2000. “Durante essa época passei a me dedicar a descobrir uma forma de ajudar músicos independentes a encontrar sua audiência mais facilmente. Eu tinha a idéia para o genoma baseado em minha própria experiência em tentar entender o gosto das pessoas e recomendar-lhes músicas”.

O genoma a que Westergren se refere é o projeto inicial do Pandora, que, como o próprio Projeto Genoma Humano, tentava rastrear semelhanças e diferenças entre artistas e estilos musicais para facilitar a vida de quem quer se aprofundar em certos nichos – a diferença é que, ao contrário dos engenheiros genéticos, a idéia não era corrigir ou solucionar problemas, mas agilizar o trabalho para fãs de música em geral. “Achei que tava dando certo ha alguns anos, quando finalizamos a primeira versão do genoma e criamos um sistema de recomendações”, continua Tim. “Isso foi muito antes do Pandora ser lançado. Contudo, após alguns meses após o serviço começar a funcionar que eu percebi que poderia se tornar algo realmente importante, que poderia potencialmente mudar o curso da indústria da música”.

O Pandora funciona da seguinte forma: escolha uma música ou artista de sua preferência que, em seguida e como numa rádio, o próprio site toca outras músicas que tenham a ver com a sua primeira escolha. A partir destas músicas, o site vai traçando seu perfil musical, já que você vai dando “sim” ou “não” para cada uma das músicas escolhidas.

Já o Last.fm funciona de outra forma: você instala um plug-in em seu player de MP3s (portátil ou não) e o programa cria um ranking das músicas mais ouvidas por você. Um não, vários: músicas mais tocadas, artistas mais tocados, artistas mais tocados na semana, no mês, no ano, e por aí vai. E, diferente do Pandora, você tem a opção de adicionar “amigos” e pessoas com afinidade musical próxima da sua. Os primeiros você acresce como em programas de rede social, como Orkut ou MySpace; os segundos são indicados pela própria Last.fm a partir dos seus rankings – comparando com o de pessoas que têm gostos parecidos com o seu. A partir deste, o próprio site indica que outras músicas você pode gostar – em alguns casos, até mesmo dando o MP3 para download.

“Fundei a Last.fm em 2002, com Felix Miller e Richard Jones”, conta Martin Stiksel, um dos CEOs do serviço. “Tínhamos uma gravadora onde bandas e artistas sem contrato podiam hospedar sua música e fomos soterrados por música boa, mas tínhamos um problema: ninguém conhecia nenhum daqueles artistas. Por isso, tivemos que desenvolver um sistema que conecta música desconhecida com os ouvidos certos, para promover a música certa para as pessoas certas”.

“Nosso objetivo é te ajudar em sua vida musical”, continua Martin, dando uma piscadela num emoticon, “nós podemos te ajudar a encontrar música nova e interessante, a redescobrir velhos favoritos, entrar em contato com outras pessoas que gostam das mesmas músicas que você, recomendar shows que você deve gostar de ir. Há tanta música e tanta oferta, por isso é importante achar boas recomendações sobre o que é interessante para você”.

O site começou a mostrar-se eficaz no meio de 2003. “Finalmente vimos que nossa forma de recomendar música para as pessoas estava funcionando de fato, era nossa ‘prova de conceito’. Até então, só achávamos que ele ‘poderia’ funcionar”, continua Martin. “O site acertou na veia desde esse início, muitas pessoas perceberam que poderiam mostrar como seu gosto musical era cool e ver o que os seus amigos estão ouvindo”.

Ambos concordam que um dos principais pontos desta decadência da indústria do disco é a falta de contato com o público. “O marketing de música definitivamente deve olhar mais o que as pessoas estão ouvindo de verdade em vez de fazer pesquisas de mercado com pessoas e pranchetas”, explica Martin.

“A melhor música dos últimos anos realmente saiu do underground da música independente e não foi inventado pelas gravadoras num laboratório”, ele continua. “Por isso, sim, o marketing de música deveria ouvir mais os ouvintes e fãs de música”. “Eu concordo com isso”, emenda Tim. “E acho que o interesse também é cada vez maior nas canções, à medida em que ela vêm se tornando cada vez mais a unidade de música através da qual a maior parte das pessoas interage”.

“Acho que na década passada assistimos a um declínio – não do fato de as pessoas gostarem menos de música, mas em como elas se sentem conectadas à atual cena musical”, continua Tim. “Acho que isso já começou a mudar e que a música digital está guiando está revigoração”.

“Um dos principais fatores era que a produção musical estava se tornando muito barato e acessível para qualquer um”, Martin segue. “Hoje você pode fazer em seu laptop o que, no passado, só era possível ser feito se você se chamasse ‘Pink Floyd’ ou algo do tipo. Isso propulsionou uma explosão de produção musical caseira e interesse por esta nova música”.

“Além disso, temos o fato que as gravadoras não estão gastando tanto dinheiro em criar novos superastros quanto o que elas gastam em relançar seus catálogos”, continua o CEO da Last.fm. “As gravadoras não estão nem aí para seu público e essa tendência sempre se manteve. Só agora ela está lentamente mudando. As pessoas estão escutando mais música do que nunca e mais música diferente do que nunca. A música nunca foi tão facilmente portátil do que hoje e você pode conseguir música a qualquer hora do dia. Por isso, estamos vivendo na melhor época para fãs de música”.