Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

31 no 13

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E o que você vai fazer nesta sexta? Cola lá no Afrospot, onde eu e o Ramiro (do Radiola Urbana) vamos estar entrando no segundo ano da década dos 30 simultaneamente. Manda sua listinha de compadres e chicas pra mim até sexta às 16h, que dá pra por entre os chamados VIP. Aparece lá!

“E agora o amanhã, cadê?”

Istaile. Os Hermanos podem ter renunciado ao indiesmo em seu último disco, o interminável 4, optando por criar um gênero mutante e duvidoso – uma espécie de MPB rock já arranhado por figurões como Lulu Santos, Paralamas do Sucesso e Skank, nenhum com sucesso. Mas foi uma decisão sonora – apesar dos barcos, dos ventos e das praias bossanovistas de respeito quase barroco (quase mineiro de tão barroco, criando mais uma contradição, a bossa mineira), eles continuam lembrando de onde vieram.

E num heroísmo tão louvável quanto gravar o DVD no Cine Íris, eles se voltam à cena indie Brasil. Primeiro, colocando bandas independentes (quatro por mês em uma rádio online em seu site oficial – tem Marcelo Birck, de cara, o que já marca dez pontos). Depois, convidando três bastiões da cena pra abrir cada um de seus três shows no próximo fim de semana (Nervoso na sexta 13, Hurtmold no sábado 14 e Cidadão Instigado no domingo 15). E, finalmente, deixando gravadoras indies venderem seus discos nos seus shows – e a famosa “banquinha”, que há dez anos vendia fita demo a dez reais, entra de vez no mainstream brasileiro. O fato é tão legal que fez o Lariú se empolgar a fazer uma edição nova do Midsummer Madness – é, o zine que deu origem a tudo, em papel.

Então é isso. 4 é chatão, mas é só a minha opinião. Mas se for pra continuar fazendo discos chatos, do jeito que eles quiserem (esse sim, o grande trunfo do disco), mas se tiverem a manha de continuar com atitudes dessas, maravilha! Porque se você não quiser ouvir, é só não ouvir – eles não precisam ficar empurrando o disco novo na marra pra qualquer um que passa. Massa.

“ó que massa”

Assim, a Dani do Recife me linkou esses sets. Faço minhas as palavras dela 🙂

#25

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Disco 25) Zenmakumba – Os Skywalkers
O garage rock da Zona Leste pega um atalho pro 1968 brasileiro com o manif(prot)esto TropiTralha e dá saltos de felicidade mutante ao conseguir sair do retrô-brechó rock que pouco a pouco transforma São Paulo em Porto Alegre.

Música 25) “Capitão Presença” – Instituto
Teenage angst (essa guitarra não me engana) disfarçada de groovezeira 70. Só falta o seriado.

Show 25) Moby no Espaço das Américas em São Paulo
Quem esperava celebração techno foi surpreendido com precisão robótica fantasiada de classic rock, como se, na fantasia nerd de um ex-roqueiro, o pop Britney Spears inaugurasse uma nova versão da Broadway, num estranho formato “DJ de arena”. O Nine Inch Nails apertou exatamente a mesma tecla (troque Britney por Depeche Mode, se lhe fizer melhor), mas o Moby é muito melhor.

Começou a retrospectiva: 25 pra 2005.

Serviço de inutilidade pública

Eu tou só forwardeando…

2005 passou voando, não é?

Mas 2006 vai passar muito mais: Copa do Mundo, eleições… Quando abrirmos os olhos já estaremos em Novembro, fazendo planos para o réveillon de 2007.

Carnaval – 25, 26, 27 e 28 de FEVEREIRO (ôpa, cabe uma viagenzinha aqui!)
Páscoa – 14, 15 e 16 de ABRIL (aqui também!)
Tiradentes (21.04) – cai numa SEXTA (YES!)
1º de Maio – cai numa SEGUNDA (até agora tá maravilhoso!!! E nem chegou a Copa)
Corpus Christi – 15, 16, 17 e 18 de JUNHO (para onde vamos mesmo?!)
7 de setembro – QUINTA (emenda?!)
12 de outubro – QUINTA (emenda?!)
Finados (02.11) – QUINTA (emenda?!)
15 de novembro – QUARTA (descansos)
Consciência Negra (20.11) – SEGUNDA (perfeito, dá pra escutar a música do Fantástico sem dor!)
Natal – de domingo pra segunda – vixe
Ano Novo – de domingo pra segunda – vixe

Tá bom ou mais ou menos ? Então tem mais!!!

13.06 (terça) – Brasil x Croácia, às 16h00 – ops o chefe vai me dispensar, né? ou vamos assistir o jogo no auditório…
18.06 (dom) – Brasil x Austrália, às 13h00 – ops tb?
22.06 (quinta) – Japão x Brasil, às 16h00 – ops tb tb
Agora é torcer:
Oitavas de final – 27.06 (terça), às 12h00 – ih!
Quartas de final – 01.07 (sáb), às 16h00 – eba!
SEMIFINAL – 05.07 (qua), às 16h00 – eba 2 vezes!
FINAL – 09.07 (dom), às 15h00 – ah, tudo bem…

Depois dessa….até 2007!!!!!!!!!
Feliz Ano Novo a todos!

And if there is no room upon the hill

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Ascende Capricórnio! Ave Lúcifer, senhor Syd, guardião da lisergia, onde quer que estejas perdido na imaginação já não mais fértil deste ou de outros cérebros fritos pelo ácido. Dia de reis passado fizeste 61 anos e abençoará a última megalomania da História do Rock, a esperada turnê mundial de volta do Pink Floyd. E lembrem-se das palavras sábias que o Mercury Rev projetou no telão: “Isso não é a sua mente”, ao mostrar a imagem de um cérebro, e “sua mente não pertence a você”.

Alceu Dispor

It’s we on the tape. Pouco antes do carnaval eu e o Pachá do Leme daremos o ar de nossa graça no velho Recife, chequiráu e, se puder, cola lá.

Aquaplay

Resenhinha pro livro The Future of Music que saiu na Bizz 195, a com os Strokes na capa e, pra deixar registrado, uma senhora matéria do Lucio.

“A água tem um papel essencial em nossas vidas – nada acontece sem água. Centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo trabalham no mercado de prover água para outras pessoas, bilhões são gastos para garantir o suprimento regular de água e exércitos de pesquisadores e trabalhadores lidam com projetos relacionados à água. Ao lado do ar, a água é absolutamente essencial à vida. Não pagamos pelo ar – ainda – mas pagamos por água e, por conseqüência, algumas das companhias de lidam com água estão entre as empresas mais ricas do planeta”.

E o que o futuro da música tem a ver com a água? Na verdade, a água é apenas uma metáfora que David Kusek e Gerd Leonhard usam para explicar como a música será consumida no futuro. “The Future of Music” é, sim, um exercício de futurologia, mas baseado em números e situações atuais de empresas e pessoas que já encontraram soluções para a chama “crise na indústria na música”. Que, salientam os autores, não existe. A crise é da indústria do disco: “Muitos de nós estamos acostumados a pensar que toda a indústria é fundada em uma fórmula simples: volume de venda de discos = valor da indústria”, escrevem, “isso é um mito porque, na verdade, a indústria do disco é só uma fatia da indústria de música como um todo – e muitas das outras fatias são sequer conhecidas pelo consumidor médio de música”.

Os autores traçam um panorama sobre a indústria da gravação de discos e sobre a digitalização da música que, a partir dos anos 80, liberou-a do formato disco para qualquer outro suporte de natureza digital. Ao cogitar que os consumidores pagassem mais caro por um produto mais barato (o CD) e forçando o público a comprar novamente os mesmos discos, a indústria fonográfica criou um formato fácil de gravar, copiar, distribuir, dar. Achou que estava vacinando-se, quando provava um veneno cujo gosto está sendo sentido hoje em dia.

Mas “música de graça” não é equivalente à artistas sem dinheiro, como as grandes gravadoras fazem supor. Mesmo porque “música de graça” nunca é de propriamente gratuita – ninguém baixa MP3s e queima CD-Rs sem ter uma boa conexão online ou um computador decente, que foram pagos por alguém.

Voltamos então ao paralelo com a água, que está sempre ao nosso redor e, aparentemente, é de graça. Mas quando lavamos a mão no restaurante, abrimos a torneira num parque público ou tomamos banho num hotel estamos, mesmo que indiretamente, pagando a conta. E a troca de parâmetro básico – música como um serviço, não como um produto – faz com que o pagamento pela música aconteça mais pela comodidade do acesso do que pelo valor agregado ao disco propriamente dito. Ou alguém consegue explicar outro motivo para o fato de um trecho tocado em MIDI de uma determinada música (o famigerado ringtone) custar mais caro que a música inteira, na versão original, nas lojas de MP3s online?

Réquiem para Peter Pan (1996-2005)

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Taí o cadáver do meu fiel comparsa, rocinante mecânico dos cerrados de minh’alma. Você com certeza lembra dele, cheirando à cinza, cheio de jornal, quase sempre na reserva, antes de ele passar dessa pra melhor, no último primeiro de dezembro, menos de uma semana depois do Trabalho Sujo ter feito dez anos. Valeu, bróder, tou te esperando reencarnado no meu próximo coche.

Literatura: Humor de “Mochileiro” decai no 4º volume

Na Folha de hoje, o SLATFATF:

“Eu amo prazos”, disse certa vez o escritor inglês Douglas Adams (1952-2001), “adoro o som apressado que eles fazem quando voam”. O barulho deve ter ficado insuportável quando ele escrevia o material do quarto volume da série “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, “Até Mais, e Obrigado Pelos Peixes”, que chega pela segunda vez às prateleiras do Brasil. Afinal, foi preciso que o editor original de Adams, Sonny Mehta, se trancasse em uma suíte de hotel com o autor para garantir que o livro saísse dentro de seu cronograma em 1984.

“Até Mais…” já havia sido publicado no Brasil com o título de “Até Mais, Valeu o Peixe” em 1988 pela editora Brasiliense, na primeira vez que o clássico de Adams foi vertido para cá – e foi justamente o livro em que a editora original parou de publicar a “trilogia em cinco volumes” idealizada inicialmente como uma série de rádio transmitida pela BBC 4, em Londres.

Com a nova edição, a atual detentora dos direitos da obra, a Sextante, equipara-se à primeira aparição do “Guia do Mochileiro” por aqui, além de prometer a publicação do ainda inédito volume de conclusão da saga de Harvey Dent e Ford Prefect pelos confins do espaço, “Mostly Harmless”, para maio de 2006. A editora trabalha com o título provisório de “Praticamente Inofensiva”, que é a sucinta descrição do planeta Terra no próprio “Guia do Mochileiro das Galáxias” que acompanha os dois protagonistas da série.

Com um ótimo equilíbrio entre comédia de costumes, surrealismo sci-fi, ácida crítica ao comportamento humano e a todos os níveis de burocracia, “O Guia do Mochileiro das Galáxias” não pode ser resumido em uma frase para ser colocada na contracapa de um livro. Com passagens pela equipe de redatores da série cult inglesa “Doctor Who” e do “Flying Circus” do grupo Monty Python (em que chegou a atuar, em pontas-relâmpago), Adams bolou uma viagem interplanetária em que um típico inglês, Arthur Dent, é salvo da destruição da Terra por um de seus melhores amigos, Ford Prefect, que se revela um alienígena pesquisando sobre o nosso planeta para a publicação mais popular do universo: o “Guia do Mochileiro das Galáxias”, um livro eletrônico interativo com a frase “Não Entre em Pânico” escrita em suas costas e que traz respostas para todas as perguntas sobre culturas, costumes e hábitos dos povos siderais.

Viajando pelo espaço e pelas páginas de livros como “O Restaurante no Fim do Universo” e “Vida, Universo e Tudo Mais”, os protagonistas encontram máquinas deprimidas, naves inusitadas, raças bizarras e alienígenas egocêntricos que apenas servem de veículo para o humor cáustico e elegante de Adams. Como Philip K. Dick, o autor inglês não quer fazer previsões sobre o futuro ou elocubrar sobre universos alien; ele usa a ficção científica como um gancho para filosofar sobre a natureza humana e divagar sobre a existência. No caso de Douglas, saem a pressa e a paranóia para entrarem jogos de linguagem e sutis ironias, sempre temperados com a característica fleuma do humor inglês – ela mesma ridicularizada diversas vezes no decorrer da série.

Devido justamente à questão dos prazos (e por sua história central ser um romance entre Dent e a paranóica Fenchurch, única terráquea a lembrar-se da destruição original do planeta), “Até Mais…” é o livro mais fraco dos cinco – o que não deixa de lhe dar léguas de vantagens sobre grande parte da atual literatura de humor. A frase que batiza o livro é uma estranha mensagem recebida por algumas pessoas na Terra, para onde Arthur volta, mesmo achando que ela tivesse sido destruída – a pequena diferença diz respeito ao completo desaparecimento dos golfinhos do mar, ligado diretamente à frase do título. Ela também é o tema para a fantástica abertura do filme hollywoodiano baseado na série, lançado este ano, com Martin Freeman (da série “The Office”) e o rapper Mos Def nos papéis principais. O filme não foi absorvido pelo público de cinema atual e fracassou nas bilheterias, não havendo projetos para possíveis continuações.

Mas, ao ser publicado no ano que vem, “Mostly Harmless” não esgota o “Guia do Mochileiro das Galáxias” por aqui – ao menos na galáxia de Gutenberg. Ainda há o póstumo “The Salmon of Doubt” (“O Salmão da Dúvida”) com contos aleatórios e um começo de livro, inicialmente bolado para outra série de Adams, a do “detetive holístico” Dirk Gently, mas que foi redirecionado para os universos do “Mochileiro”. Além do ótimo guia sobre a saga (“Don’t Panic: The Official Hitchhikers Guide to the Galaxy Companion”), escrito por Neil Gaiman, autor da série de quadrinhos “Sandman”, que esmiuça a saga no mesmo tom ácido e elegante do texto de Adams.

“Até Mais, e Obrigado Pelos Peixes”
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Sextante
224 páginas
R$ 19,90