Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

As 50 melhores músicas de 2007: 34) “Nascedouro” – Nação Zumbi

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34) “Nascedouro” – Nação Zumbi

Único momento brilhante em um disco opaco (talvez por ter sido feito às pressas), a faixa aponta um rumo inesperado para a procura da batida perfeita em que parece patinar Fome de Tude. Pela primeira vez, tanto hip hop quanto dub saem do primeiro plano e, o que na maior parte do disco parece apenas ecoar idéias esparsas (como as letras de primeira hora de Jorge, as tonalidades mais Maquinado de Lucio ou alguma levada imperativa de Pupilo), encontra um contrapeso perfeito com o arranjo de metais escrito pelo maestro de frevo Ademir Martins e tocado pela Orquestra Popular do Recife. Assim que o sopro surge, a música ganha vida e ecoa a tristeza do canto negro do nosso país com o blues do afro-funk. Quem sabe o “it” pro disco perfeito da Nação seja justamente – e essencialmente – brasileiro.

“I went down to the crossroads…”

E o próximo do Terry Gilliam? Se liga na sinopse.

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The Imaginarium of Doctor Parnassus is a fantastical morality tale, set in the present day.
It tells the story of Dr Parnassus and his extraordinary ‘Imaginarium’, a travelling show where members of the audience get an irresistible opportunity to choose between light and joy or darkness and gloom. Blessed with the extraordinary gift of guiding the imaginations of others, Dr Parnassus is cursed with a dark secret. Long ago he made a bet with the devil, Mr Nick, in which he won immortality. Many centuries later, on meeting his one true love, Dr Parnassus made another deal with the devil, trading his immortality for youth, on condition that when his first-born reached its 16th birthday he or she would become the property of Mr Nick. Valentina is now rapidly approaching this ‘coming of age’ milestone and Dr Parnassus is desperate to protect her from her impending fate. Mr Nick arrives to collect but, always keen to make a bet, renegotiates the wager. Now the winner of Valentina will be determined by whoever seduces the first five souls. Enlisting a series of wild, comical and compelling characters in his journey, Dr Parnassus promises his daughter’s hand in marriage to the man that helps him win. In this captivating, explosive and wonderfully imaginative race against time, Dr Parnassus must fight to save his daughter in a never-ending landscape of surreal obstacles – and undo the mistakes of his past once and for all…

No elenco, além do Heather Ledger, do Christopher Plummer e da Lily Cole (se eu fosse você, clicava no link), ainda conta com o nosso amigo aí embaixo fazendo as vezes do Coisa Ruim.

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As 50 melhores músicas de 2007: 35) “My Moon My Man” – Feist

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35) “My Moon, My Man” – Feist

Garota propaganda do iPod (“1, 2, 3, 4” ajudou Steve Jobs a vender seus aparelhos), Feist é uma jovem Patti Smith que ouviu mais PJ Harvey (“fase Is This Desire?”, ela sublinha) do que Bob Dylan. Assim, a doçura vem em primeiro plano – Seus sussurros roucos e o piano soturno não dão na cara, mas “My Moon My Man”, canção sobre amor inconstante, é rara jóia que coloca Nina Simone e Cat Power reunidas num mesmo fôlego.

Mal meu

Meu não, do Gardenal. Deu pau (de novo!) no publicador e fiquei um tempo postando no escuro, mas pelo jeito a situação se normalizou…

“You don’t know how sick you make me”

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Falando em Eminem, vocês viram que ele deu entrada no hospital? Zica braba

The Overdub Tampering Committee

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Na virada do século, Eminem resolveu pregar uma peça nos fãs que estavam esperando o seu disco mais recente (The Eminem Show) vazar na internet. Disponibilizou o disco inteiro para download mas deixou vazá-lo por meios não-oficiais. As pessoas viam o nome das músicas, o tamanho dos arquivos e tudo indicava que era o disco novo do sujeito. Qual era a surpresa quando, uma vez baixado, os MP3s resumiam-se a tocar, repetidas vezes, o refrão de cada uma das músicas repetidas vezes. Sem assumir o feito, Eminem brincou com a expectativa sobre um lançamento na agulha aumentando ainda mais a apreensão do público – e seu disco “vazado” era apenas um aperitivo do disco de verdade que, inevitavelmente, acabou aparecendo na rede antes do lançamento.

Essa é só uma pequena anedota de uma prática muito comum. A era do MP3 fez com que a espera pelo próximo disco de seu artista favorito deixasse de ser uma ansiedade isolada para se tornar uma procura pelo pote de ouro no começo do arco-íris (sem trocadilho com o In Rainbows aqui). Então bastava a gravadora anunciar o título ou a seqüência de faixas do próximo disco de qualquer um e a fauna de fãs saía correndo atrás de incidências do mesmo em sites (lembra do AudioGalaxy?) e programas de compartilhamento de arquivo. Nisso, uns espíritos de porco aproveitavam para brincar com o desespero pelo novo e renomeavam arquivos e discos inteiros para, depois de baixados, frustrar o fã.

Isso foi transformado em manifesto pelo The Overdub Tampering Committee. Mas em vez de colocar arquivos falsos ou discos com nomes trocados, eles (uma banda) baixam o disco que acabou de sair e incluem mais instrumentos sobre as músicas originais. Assim, querem criar versões diferentes para um mesmo disco para fazerem os fãs estranharem as versões entre si. Assim, eles acreditam que encontraram uma boa forma de “regular” a música online: esqueça ordens de prisão, multas ou outras formas de tratar o ouvinte que baixa música em casa como criminoso. Ao provocar as pessoas com essas versões 2.0 de discos inteiros numa espécie de terrorismo artístico, eles deixam no ar a pergunta: que versão você está ouvindo? É a mesma que o artista quis que você ouvisse?

O detalhe é que eles dizem que estão na ativa há quatro anos. Ou seja, se não for bravata, capaz de você já ter ouvido um disco “pichado” por eles.

Se a moda pega…

As 50 melhores músicas de 2007: 36) “Club Action” – Yo Majesty

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36) “Club Action” – Yo Majesty

Três negonas lésbicas da Flórida fingem que são a Sugar Hill Gang gravando o primeiro rap da história em 1979 – e por alguns minutos é possível imaginar que o hip hop é uma cultura feminista. Um hit irrepreensível e irresponsável, que intercala momentos de classicismo old-skool (a letra abre com um verso vintage (“Bounce back before we hear this”) justapõe duas eras distintas do rap em outro (“Throw your hands up if you wanna get rich”) para descambar na convocação para a pista (“Get yo’ ass on the floo'”) e no niilismo feliz (“Fuck that shit/ Fuck that shit/ Fuck that shit”). Incrível.

As 50 melhores músicas de 2007: 37) “Beggin’ (Pilooski Edit)” – Frankie Valli

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37) “Beggin’ (Pilooski Edit)” – Frankie Valli

Você conhece o gogó macio do velho Frankie… É dele a voz que soa na sua cabeça quando você lembra que o refrão de “Can’t Take My Eyes Off You” é o mais emblemático “I love you baby” da história da música pop. O francês Pilooski, que se especializou numa modalidade de remix que, em vez de vez de virar a música do avesso, apenas a retoca (o “edit”), desenterra um número mais dark de Valli (sem os Four Seasons) e lhe recontextualiza em 2007, tenso e feliz ao mesmo tempo.

“Meu Deus, o que estão fazendo com as nossas crianças?”

Fritopassamal mirim. Por quê? Por quê?

Adeus MP3?

O mesmo instituto Fraunhofer que conseguiu compactar músicas online no formato que virou sinônimo de música online (o MP3) apareceu hoje com um novo formato de compactação de áudio, o HD-AAC, que, segundo eles mesmo dizem, “tornará o CD obsoleto” (afinal, há uma perda de qualidade considerável quando você digitaliza a música neste formato). Veremos…

Falando em qualidade de som, vale a pena dar uma sacada nessa matéria da Rolling Stone gringa sobre a qualidade sonora dos discos lançados hoje em dia.