Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Um belo segundo semestre

Beastie Boys, New Order, Franz Ferdinand, Daft Punk… Agora sim.

Cinco Perguntas Simples: Guilherme Werneck

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Não acredito que o disco tenha acabado, mas a ganância está com os dias contados. Para muitos, eu inclusive, o fetiche pelo objeto disco permanece. Ainda é bom poder ler encartes, letras, ver a ficha técnica, pirar na arte etc. Mas as gravadoras precisam entender melhor o que fazer com o disco, como pensar o seu marketing, e entender que nem toda cópia é pirataria. Hoje, todos os meios digitais têm um grau de confiabilidade bem discutível, e o CD não é exceção. Tenho discos comprados no primeiro momento dos CDs que já estão com mais de 20 anos e praticamente desintegrando. Imagine se eu não tivesse guardado uma cópia digital? Teria de comprá-los de novo, pelos preços extorsivos praticados pela grande indústria. Pensando no Brasil, onde ainda não houve o boom dos tocadores digitais de música e onde a oferta de música digital ainda é ridícula, com poucos títulos e quase todos protegidos de uma maneira bisonha, como o DRM (Digital Rights Management) da Microsoft usado pelo iMúsica (nossa única loja virtual). Para mim, o disco vai durar um tempo mais longo por aqui do que nos países asiáticos (Coréia do Sule Japão), na Europa e nos EUA, onde o mercado digital já começa a amadurecer a fezaer frente ao CD. Todas as pesquisas de vendas do disco físico apontam essa queda. Mas, no Brasil e em outros países pobres, o CD vai existir em profusão, se não para a venda nas lojas e supermercados, na rua, nas banquinhas dos piratas.

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
É difícil prever o futuro porque, para além da tendência de mercado, que é mesmo a de a música migrar para um formato digital tipo o MP3, existem também questões jurídicas que podem acelerar ou retardar essa inclinação do mercado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o mercado de música digital vendida legalmente online cresceu bastante nos últimos dois anos não porque as pessoas se conscientizaram de que devem pagar os artistas e sim porque houve um cerco de leis. Hoje, copiar uma música protegida por DRM dá cadeia, a RIAA tem ganhado nos tribunais ações contra pessoas físicas que trocam músicas. Isso tem o seu peso. Por outro lado,a reação a esse cerco é bem inteligente. Um caso clássico é a idéia dos Creative Commons, contrato que sobrepõe o padrão do todos os direitos reservados e dá ao artista o poder de decidir como proteger os direitos de sua obra. Nesse caso, se o artista libera a cópia, deixa de ganhar dinheiro por uma lado, mas coloca para fora a sua música e pode ganhar bem com shows e com licenciamento de suas composições para cinema e publicidade, por exemplo. Outro modelo que, na minha opinião, tem mais chance de vingar é o da venda mais aberta de música, sem restrições de uso e de cópia. Vários selos e gravadoras pequenas já estão optando por essa forma de venda, que também tem como um dos principais atrativos os baixos preços. Cito dois exemplos interessantes nesse sentido. Um é o da gravadora virtual Magnatune, que permite que você ouça o disco todo antes de comprar – não só os 30 segundos do chamado “fair use” – e deixa você escolher o quanto pagar pela música. Lembrando que o artista fica com 50% do total pago pelo consumidor. Numa escala maior, o site de venda de músicas eMusic.com, que oferece mais de um milhão de canções de independentes, de gente desconhecida mas também de artistas muito populares, como Miles Davis. Todos os discos que tive vontade mesmo de comprar, encontrei por lá. E o preço é ótimo. Tenho uma assinatura anual, que me dá direito a 90 downloads por mês a um preço de US$ 0,17 por canção. Bem melhor do que comprar música por US$ 0,99, com DRM, no iTunes.
Fora esses dois casos, acredito também que iniciativas como as do TramaVirtual e do MySpace, que dão a possibilidade de o músico colocar canções para serem baixadas de graça da internet vão vingar. Já do ponto de vista de negócios, não dá para ignorar o crescimento absurdo dos ringtones e truetones, coisa que acho que só vai aumentar no futuro, a despeito dos preços. Afinal, hoje pode-se pagar quase R$ 5 por um trecho de uma música, o que é absurdo.
É importante notar que a indústria do disco está em crise – muito por conta de ser uma indústria bastante reacionária e com dificuldades de inovar – mas a indústria da música como um todo, não vê crise. Mesmo nos tempos do walkman, não lembro de ver tanta gente nas ruas com fones de ouvido. Em São Paulo, se compararmos os espaços de show de hoje com os de há 20 anos, o crescimento é brutal. Acho que esses fatores vão fortalecer um futuro em que o ouvinte médio de música vai migrar do gosto massificado promovido pelo esquema de “plantation” das grandes gravadoras, que ainda insistem em colar todos os seus ovos numa mesma cesta, para uma segmentação maior.
Coisas que só rolavam no underground, para iniciados, estão muito mais acessíveis a quem tem um pouco de curiosidade e um computador plugado na web. Antes, era só a TV e o rádio a ditar o que se devia ouvir, hoje, é fácil driblar essa ditadura do gosto e desenvolver um gosto pessoal, com menos imposições externas.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
Acredito que seja essa segmentação que eu citei no fim da última questão, essa oportunidade de ouvir o que quiser. Gosto especialmente de iniciativas como a dos sites Pandora e Last.fm, que ajudam as pessoas a encontrar o que não sabem que existe. Acho que a distância entre artista e seu público também tende a diminuir. É só pensar no MySpace e em blogs de bandas. Acho que hoje nós vivemos um momento propício para que os artistas façam menos pose e mais música interessante.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
Um monte de gente. Semana passada mesmo eu conheci uma banda muito legal de funk-reggae dos anos 70 chamada Cymande, que ouvi num podcast brasileiro chamado Octopus Mono Sound. Das coisas novas, Arctic Monkeys, Clap Your Hands Say Yeah, Cee-Lo, Gnarls Barkley, Chihei Hatakeyama, David Thomas Broughton.

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?
É só abrir o SoulSeek ou o baixar alguma coisa usando Bittorrent que muitos sonhos meus, impossíveis de imaginar em outras épocas, se realizam em pouquíssimos minutos.

Guilherme Werneck é editor-assistente do caderno Link e editor do podcast Discofonia.

Cinco Perguntas Simples

Outra materinha que saiu na Simples, dessa vez com vários depoimentos de diferentes agentes da indústria da música aqui do Brasil. Fiz cinco perguntas pra cada um deles e, na revista (não cabe tudo né?), pincei apenas alguns pra dar uma ilustrada. Aqui, cabe todo mundo, então começo a partir do próximo post e vou alternando até a semana que vem…

O Futuro da Indústria

Livre do CD, a música destrói a indústria do disco para criar uma nova forma de se relacionar com o consumidor – cada vez menos passivo e mais exigente. A pergunta proposta: qual? A resposta coletiva: todas

Você certamente tem o disco mais vendido dos últimos dois anos em casa – se não tem, é porque acabou e daqui a pouco você vai comprá-lo de novo. Ele não é comercializado por gravadoras, não tem capa, nem artista, nem canções: o CD virgem, à espera de arquivos em áudio que podem vir de graça pela internet, de um player portátil de música digital de um amigo, de um serviço de compra de música online, de outro CD ou até de outros suportes de áudio de outras eras, como a fita cassete ou o disco de vinil.

Essa é basicamente a pequena e crucial mudança da época em que vivemos. A música já não pertence ao suporte armazenador (que conhecemos por disco) e circula por aí, de computador em computador, de iPod para iPod, de CD em CD, e aos poucos vai desmantelando boa parte daquilo que entendemos como indústria fonográfica. Termos como “disco”, “rádio” e “mais vendido” vão caindo em desuso à medida em que outros, como “MP3”, “P2P” e “podcast” vão entrando em nosso vocabulário. E como a rapidez das mudanças desafia a velocidade das formulações de previsão, melhor juntar um grupo de entusiastas das novas tecnologias para tentar responder cinco questões que dão uma pequena geral no estado das coisas. Mais do que músicos, empresários, intelectuais ou executivos, são pessoas fissuradas por música que fazem as mesmas perguntas à medida em que se maravilham com o novo cenário. Alguém tem que puxar o bonde…

Vida Fodona #040: Quarentinha

Curumin remixado, groovy polonês, Greg Dulli no R&B, big beat temporão, N Sync nos vocais, Bob Smith sem eletricidade, tempestade vindo, o lado B do Abbey Road dos Beastie Boys, Curtis vintage, velha guarda do hip hop brasileiro, Eminem com Depeche Mode, Bonde do Morrissey e Nuts instrumental, em pouco mais de uma horinha.

– “Dancing Nuts” – Novy Singers
– “Creep” – Afghan Whigs
– “Do Do Wap Is Strong in Here” – Curtis Mayfield
– “Ambros Seelos” – Mabusso
– “BeatNuts 02” – DJ Nuts
– “Mas Que Linda Estás” – Xis & Kamau + Instituto
– “Guerreiro (Remix)” – Curumin
– “A Forest (Acoustic)” – Cure
– “Storm Coming” – Gnarls Barkley
– “Plug It In (featuring JC Chasez)” – Basement Jaxx
– “We Don’t Care” – Audio Bullys
– “Can’t Get Enough Pills” – Freelance Hellraiser
– “Montagem Dermite” – MC Saquinho
– “B-Boy Bouillabaisse” – Beastie Boys

Pegaqui.

Uma centena

Um ótimo exemplo da arte quase perdida da edição: pegar algo que está aí e transformar em algo novo. A Stylus rankeou os cem melhores videoclipes de todos os tempos e os procurou no YouTube. Não só os achou (lógico) como os linkou. Ou será que foi ao contrário? E como a gente quase não gosta de lista…

Germanimation


“First Flight”, da DreamWorks

Animações alemãs têm humor e leveza

Um grupo de bichos reúne-se na mesa da cozinha para decidir qual deles deve deixar o apartamento. Um senhor tem sua rotina de varrer folhas caídas quando pessoas começam a cair do céu. Um vizinho incomodado chama a polícia e engata uma série de acontecimentos em cadeia que viram o triunvirato sexo, drogas e dance music do avesso.

“Kein Platz Fur Gerold”, “Fallen” e “Mr. Schwartz. Mr. Hazen & Mr. Horlocker” são amostras diferentes da nova animação alemã, uma mais cética do que a outra, outra mais lírica e a terceira mais escrachada, mas todas as três – além de outras em exibição na 14ª edição do Anima Mundi, que abre hoje suas portas para o público paulistano – mostram que o humor voltou ao país.

“É uma espécie de luz no fim do túnel”, explica uma das organizadoras do evento, Aída Queiroz, “antes a animação deles era mais existencialista, niilista. Os temas continuam densos, eles não perderam essa característica alemã, mas a forma de contar ficou mais leve”.

Tanto que dois destes curtas, “Mr. Schwartz…” e “Bow Tie Duty for Squareheads”, receberam respectivamente, os prêmios de Melhor Primeira Obra segundo o Juri Popular da etapa carioca, ficando em primeiro e terceiro lugar na categoria, respectivamente.

A premiação, que foi revelada ontem, ainda valeu o título de Melhor Curta Metragem para “First Flight” da DreamWorks (que passa na sessão Curtas 12 nesta quinta e sábado), e o de Melhor Animação Brasileira para “Pax” de Paulo Munhoz (que passa na sessão Curtas 4 hoje, às 18h, e sexta, às 15h)

Bow Tie Duty for Squareheads, de Stephan-Flint Müller
Curtas 1: Quinta às 17h (Sala II) e sábado às 12h (Sala I)

My Date from Hell, de Tim Weimann e Tom Bracht
Curtas 2: Hoje às 14h (Sala I) e quinta às 19h (Sala II)

Apple on a Tree, de Astrid Rieger e Zeljko Vidovic
Curtas 3: Hoje às 16h (Sala I) e quinta às 21h (Sala II)

Kein Platz Fur Gerold, de Daniel Nocke
Curtas 15: Quinta às 14h (Sala I) e sexta às 19h (Sala II)

Fallen, de Peter Kaboth
Curtas 11: Quinta às 13h (Sala II) e sábado às 18h (Sala I)

Mr. Schwartz. Mr. Hazen e Mr. Horlocker, de Stefan Mueller
Curtas 17: Quinta às 22h (Sala I) ee sexta às 21h (Sala II)

Anima Mundi 2006 – Abertura para o público hoje, a partir do meio-dia com sessões de hora em hora até as 22h, no Memorial da América Latina (Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664. (11) 3823-4600. Barra Funda). Ingressos a R$ 6,00 (Salas I e II) e R$ 3,00 (Sala III – vídeo). O festival acontece até domingo. Maiores informações no www.animamundi.com.br

Esse saiu na Folha de hoje.

YouTubeTwo

Ctrl+H pra ver o History, Search no YouTube e depois é só linkar.

Arqueologia indie-brasil;
Meia hora de Zappa;
“A social movement called the Beat Generation (deixa eu florear no piano aqui um pouco);
Jack White fazendo jingle pra Coca-Cola (coisa fina);
Don’t Stop Til You Get Hindu Enough (e legendado em português!);
Que Deus tenha pena dessa creança;
Isso é o que eu chamo de old-skool!;
PELVs tocando Radiohead;
A melhor banda nova de Brasília?;
Sílvio Santos vinha aí (imagina!);
Um clássico do Monty Python;
O pior clipe de todos os tempos?;
Chapado de Chavez;
Sai dessa…;
Videogames fazem mal à saúde mental alemã.

Valeu pelos links os suspeitos de sempre: Mateus, Tchuna, Fab, Mabuse, Dan, Rabu, Bruno… Devo ter esquecido alguém, mas enfim…

Conversinha de menina

Baixa “Bounce That” (esse é o site do cara), aumenta o volume e se joga!

Master of Puppets

Na Ilustrada de hoje.

Anima Mundi traz mestre de marionetes a São Paulo

A calma e o bom humor de um homem simples escondem e revelam, sutilmente, a presença de um mestre. Mas o epíteto que pode ser usado de forma banal, apenas para sublinhar a grandeza de um convidado internacional, vem em sua forma original. Paciente e didático, Kihachiro Kawamoto, 85, tem a franqueza rude, o ar tranqüilo e o dom de contar histórias que caracterizam um bom professor.

Ele é um dos nomes que a edição 2006 do festival Anima Mundi traz ao Brasil. O evento, que começou no último dia 14 no Rio, chega hoje a São Paulo, em festa para convidados, e abre ao público amanhã. Nesta quarta, também serão exibidos dois longas do japonês: “The Book of the Dead”/”Shisha No Sho” (na sala 2 do Memorial da América Latina, às 15h) e “Winter Days”/”Fuyu No Hi” (na sala 1, às 22h), além do “Papo Animado” com o diretor (na sala 3, às 19h30), quando serão exibidos os curtas “Oni”, “Fusha No Sha” e “Kataku”.

Kawamoto pode ser encarado como mestre por diferentes pontos de vista. Foi um dos primeiros artistas japoneses a desenvolver um trabalho autoral em animação quadro a quadro e seu trabalho com marionetes é responsável por algumas das melhores representações da essência do ser japonês, resgatando tradições como o teatro nô, bunraku (de bonecos) e kabuki.

No filme “Winter Days”, por exemplo, Kawamoto reúne animadores do mundo inteiro para recriar, com imagens, 36 hai-cais do poeta Matsuo Bashô. “Eu comecei trabalhando com bonecos para ilustrar livros escolares e, posteriormente, fazendo animações para comerciais de TV nos anos 50”, conta o diretor, “mas, ao conhecer o trabalho do [animador tcheco Jiri] Trnka, um dos pioneiros na animação de bonecos do mundo, parti para fazer este tipo de filme. Como não tinha técnica, escrevi para ele pedindo que me desse aulas”.

A resposta do futuro professor levou seis meses, mas chegou. “Ele me escreveu uma carta amável e me convidou para ir para a então Tchecoslováquia”.

“Aproveitei que as Olimpíadas no Japão [1964] tinham tornado as viagens de japoneses para o exterior mais fáceis e passei um ano no estúdio de Trnka. Foi ele quem sugeriu que eu tratasse de temas tradicionais japoneses, já que era um grande admirador desses temas.”

Dono de um trabalho essencialmente pessoal, Kawamoto acredita firmemente nas características espirituais de seu trabalho, embora não queira pregar nem convencer os outros de sua fonte de fé, o budismo.

A rigidez espartana e o ritmo lento de sua direção contrastam com a forte expressividade de seus bonecos, fabricados por ele. Juntos, contam histórias densas e quase sempre de caráter sobrenatural, que chamam a atenção para a simplicidade do dia-a-dia.

“No Japão antigo, os bonecos eram uma forma de invocar os deuses, pois se acreditava que, como os homens tinham pecado e os bonecos não, eles não teriam tantam dificuldades para esses chamados”, explica. Partindo desse princípio, Kawamoto busca o assunto de seus filmes no momento em que esculpe e molda os bonecos. “Ao fazê-los, busco minhas angústias sem que tenha de pensar nelas. E acredito que, ao fazer isso, estou em contato com as angústias de mais pessoas, mas, a princípio, penso apenas em mim. Assim, chego aos personagens, à época, às histórias.”

Anima Mundi 2006
Quando: abertura para convidados hoje, às 20h; amanhã, a partir das 12h, para o público
Onde: Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, SP, tel. 0/xx/11 3823-4600)
Quanto: R$ 6 (salas 1 e 2) e R$ 3 (sala 3 – vídeo)
Site: www.animamundi.com.br

Ô Dá ô Déce

“Jump in My Car”, David Hasselhoff.