Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Tempos Modernos

Depois de lançar livro, documentário e programa de rádio, o velho Bob agora é garoto-propaganda do iPod.

Rebatido

Esse saiu nessa Ilustrada de domingo:

Filmes revivem geração beat entre o culto e a redundância

Houve um tempo em que qualquer informação adicional sobre qualquer ícone da cultura alternativa (de onde fosse: da contracultura clássica, do indie rock ou dos quadrinhos para adultos) era tratada como ouro puro, principalmente aqui no Brasil, quando quase sempre consumimos estes nomes em segunda mão. Antes da vinda da internet, imagens em movimento ou trechos de entrevistas de quem fosse já era suficiente para reunir fãs em audiências ritualescas.

Passado recente, este tempo já era. Hoje, arquivos digitalizados e conexões de banda larga garantem o rápido acesso a imagens corriqueiras de nomes consagrados – aparições na TV se espalham pelo YouTube, biografias entopem as bancas de revista, sites despecam aos milhões ao simples clique no Google. Por isso, o lançamento de dois DVDs perdem o seu impacto justamente por seu maior mérito ser a presença eletrônica da santíssima trindade da geração beat: Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William S. Burroughs.

O pacote conta com a primeira aparição em DVD do filme “Chappaqua”, de Conrad Rooks (vencedor do Leão de Prata no Festival de Veneza de 1966), e com a dupla de documentários “Kerouac: O Rei dos Beats”, de John Antonelli, e “Burroughs: Poeta do Submundo”, de Klaus Maeck.

“Chappaqua” é um dos inúmeros exemplos do cinema experimental dos anos 60 que ficaram redundantes e presos ao passado com o advento do vídeo digital – literalmente, qualquer criança de hoje realiza filmes como os daquele período (ao menos, em termos técnicos). Por trás da obra, temos o empolgado Conrad Rooks que, filho de um alto executivo da Avon nos EUA, resolve usar o cinema como terapia e contar sua história para o mundo.

Sai-se exatamente na média, colidindo todos os clichês do cinema alternativo da época com delírios enfadonhos e “mutcholocos”. O perfil autobiográfico fala de seu próprio processo de desintoxicação de drogas numa clínica européia e mostra que Rooks estava em dia com a modernidade da época – daí a presença não apenas de Ginsberg (chato, como sempre) e Burroughs (genial, como sempre), como de Ornette Coleman, de Ravi Shankare do grupo Fugs.

Como cinema, “Chappaqua” é quase uma bad trip, fundindo experimentalismo barato com idéias pueris quase à maneira dos Beatles em seu “Magical Mystery Tour”. Mas, como o filme psicodélico dos Fab Four, o de Rooks funciona quase como um documentário de uma época em que não era preciso fazer muito sentido para ser aceito. Bons tempos, de fato.

Já os documentários martelam no prego e no dedo, cada um deles. O de Kerouac é correto e bem realizado, e começa e termina com sua clássica entrevista ao apresentador Steve Allen, quando foi apresentado ao público médio americano. Cuidadoso, John Antonelli entrevista pessoas diretamente envolvidas com o autor e traça um retrato didático do papel de Kerouac na literatura americana e no pop mundial.

Mas o de William Burroughs, por mais triste que possa parecer, é pífio. Gira em torno de uma leitura feita pelo autor em 1991 (acompanhada por urros constrangedores da platéia) e uma entrevista transbordando obviedade por parte do entrevistador, com clipes de “cut-ups” inspirados na técnica inventada por Burroughs.

Opta por ser não-linear e se perde no meio do caminho, com o entrevistador Jürgen Ploog mais interessado em ver o autor repetir suas máximas (“a linguagem é um vírus”, seus conselhos a jovens autores, sua fascinação com armas, seu exílio em Tânger) do que travar alguma tentativa de diálogo com o autor. Uma pena: mesmo com momentos de brilho proporcionado pelas leituras entusiasmadas feitas pelo velho Bill, o documentário não chega nem a cutucar a curiosidade dos leigos ou a fazer os iniciados suspirarem – no máximo, de tédio.

Engraçado é que, entre os extras do filme sobre Kerouac, há um trailer de um documentário sobre Burroughs que não é o filme dirigido por Klaus Maeck. Com abordagem similar ao de Antonelli, parece mais palatável e respeitoso. Afinal, um documentário não precisa ser genial – basta ser correto para já estar no lucro.

CHAPPAQUA: ALMAS ENTORPECIDAS
Distribuição: Magnus Opus (R$ 39)

KEROUAC: O REI DOS BEATS e BURROUGHS: POETA DO SUBMUNDO
Distribuição: Magnus Opus (R$ 78,50)

Parque Sul

Senso de estética deixa qualquer coisa apresentável. Veja só esse link e tente conter a vontade de forwardeá-lo pra sua namorada ou pra mina que tu tá xavecando em vão. How cute…

Vida Fodona #048: O próprio rock’n’roll é um mashup

Hoje é só mashup, nem vou falar muito que é pra não dar tempo pra você ficar babando…

– “Slow Angel” – Kylie Minogue vs. Massive Attack
– “Rapture Riders” – Doors vs. Blondie
– “No One Takes Your Freedom” – DJ Earworm
– “Cold Sweat” – Paiting by Numbers
– “Ain’t No Other Pusherman” – Arty Fufkin
– “Frontin’ On Debra” – DJ Reset
– “I Love Bob” – C.H.A.O.S. Productions
– “Hung Up Night” – A+D
– “Damaged Miracle” – Doppleganger
– “Woman in a Land of Confusion” – RObbie Revenge
– “For Those About to Clown” – DJ Riko
– “Can’t Explain, OK?” – Whitney vs. Who
– “Girl Wants to Say Goodbye to Rock and Roll” – Christina vs. Velvet
– “Me Against the Monkey” – Team9
– “Summer Stroke” – Girl Talk
– “Tira a Camizero” – DJ Gorky
– “Led Snoppelin” – Party Ben
– “Close to No One” – ccc
– “God Only Knows Through Chemistry” – Bastard Pet Sounds

Chega junto.

Boa notícia

A coluna Toda Mídia (uma das melhores coisas da Folha, de longe – junto com o Inácio, o Angeli e o Laerte [aliás, essa trip que o Laerte entrou depois que o filho dele morreu talvez seja a maior transformação da história do quadrinho brasileiro e talvez uma das maiores mutações do pop nacional {depois eu escrevo mais sobre isso}, do mesmo naipe da clássica viagem de LSD em que Crumb criou todos seus personagens…]), do Nelson Sá, virou um blog. Aliás, demorou.

Cinco Perguntas Simples: Eduardo Ramos

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Não acabou e não vai acabar. Frescura quem fala que vai acabar. Sempre vai ter gente comprando disco, não importa o formato. O mercado vai ficar menor para o suporte físico, mas nunca vai acabar.

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
Alguém com certeza, porque mesmo com todas as evoluções das técnicas de gravação caseira – hoje dá para fazer um disco muito bom em casa –, ainda existem custos. Afinal o computador que o cara gravou o disco em casa, ele comprou, certo? Para conseguir um som excelente, você geralmente precisa equipamento físico, não apenas plugins e isso custa muito caro… Ou seja, esta pessoa tem que vender sua musica de alguma maneira.
O ponto é que hoje em dia o que realmente dá dinheiro e realmente tem uma otima performance em termos de ganhos são os shows. Então imagino todo mundo voltando aos anos 40/50, quando um disco era uma grande desculpa para colocar a banda na estrada. Artista que não tem um show fácil de levar para a estrada ou não está na estrada é um artista limitado. Já que o circuito de música ao vivo esta muito forte, as empresas estao de olho nisso. Para quem paga um milhão de reais por um festival, em algum momento eles vao pagar – já pagam fora do Brasil – 1 milhão para ter um certo numero de downloads, ou, vamos dizer, gastar 500 mil em um festival e 500 em downloads.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
Fluxo de informação. Qualquer um acessa qualquer informação. Antes era muito complicado. Tinha que ter grana para ler revistas ou livros de fora do Brasil. Hoje tudo está linear.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
Putz…. qualquer artista pós-97 eu conheci por causa da internet. Quem escuta rádio? Ainda leio revistas, mas internet é o lance.

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?
Com certeza. Por exemplo poder falar com artistas diretamente. Ou conseguir gravar um disco e distribuir o mesmo sem sair de casa.

Eduardo Ramos é dono da gravadora Slag.

Deixe-se Acreditar

Re:transforme

Domingo é a vez da música de graça (vocês já tão pegando o ritmo?) e hoje eu vou convidar o meu amigo Bruno Pedrosa, DJ e jornalista pernambucano que eu conheci em plena balada olindense, num pique de lenta retransformação inconsciente à base do remix, uma semana antes do carnaval desse ano. Depois fui saber de seu próprio disco, Transformer, em que ele convidava produtores de eletrônica locais pra remixar outros artistas também locais. Um pequeno manifesto da atual música pernambucana, sem o aspecto enfadonho de uma coletânea ou o cabecismo pop de algum pseudo-intelectual (nada contra os pseudo-intelectuais – eu mesmo sou um deles).

Bruno botou algumas faixas do disco no MySpace dele e a minha dica de hoje é o brilhante “Meu Esquema” retrabalhado pelo próprio Pedrosa. Coisa fina, daquelas pra você deixar no ponto no CD player pra hora H com aquela gatinha. Mas não acredite em mim – vai lá e escuta.

Gustavo Abreu x Alexandre Matias

Duelo 3

Hoje tem o terceiro confronto pessoal com o compadre Guab – aproveito aqui pra agradecer o cara pra abrir a pista em menos de 15 dias depois de eu ter porrado aquele poste e fodido com a minha mão quase de vez. Já vão quase nove meses e a recuperação tá no 90% and counting, então é um bom método de fechar um ciclo (afinal, naquela discotecagem eu tava entrando nos 10%…).

Outro bom motivo pra ir é que meu set da minha atual mania (e talvez a sua próxima): mashups. Esqueça aquele 2002 do bastard pop, que trouxe “Stroke of Genius” e “Smells Like Booty”. Há uma subcultura gigantesca de mashupeiros colidindo músicas completamente diferentes entre si (hits da hora, clássicos pessoais, músicas de segundo escalão de ontem e de hoje), dando continuidade à convergência total (a mesma que uma hora vai linkar iPod, celular, GBA, GPS, DV, foto digital, PDA e browser num mesmo aparelhinho minúsculo – no pulso) de nossa época. É muito grande, muito nova, só podia acontecer por causa da internet e do computador, passou daquela fase de só usar vocal de R&B ou hip hop e que, depois que você pega o vírus, dá uma coceira de procurar música nova daquelas que você não tinha desde os… hmmm… doze anos. Na real, vale um texto maior sobre isso – que, uma hora, vai rolar.

Por hora é isso: vão que vai ser foda, eu garanto. No começo da noite ainda tem outro broder, Bruno Pedrosa – o do Transformer – e depois nós três de repente tocamos no esquema truco – cada música, um blefe pra provocar o outro pra soltar o zap. Ou seja: vááários zaps (ah, e a dica é chegar tardão. Começa a noite em outro lugar, e de lá, pro Milo).

E pra quem não tá em São Paulo, o próximo VF é sobre o assunto e provavelmente domingueiro. Ch-ch-check it out.

.mixtape. @ Milo Garage
Rua Minas Gerais 203a. Higienopolis
a partir das 23h
R$ 10 de entrada
sábados.agosto.2006
tel:3129-8027

05 – milo + guab
12 – bia bonduki + guab
19 – bruno pedrosa (PE) + alexandre matias vs guab
24 (quinta-feira) – guab @ clube informal (CAMPINAS)
26 – guab (long set)

poster : mario cappi

Seja mais certo

O Mini agora é colunista do site da Ipanema. Boa.

Tipo um mashup…

Vídeo online não é só nostalgia, na real é tipo um MIS do mundo: “Bring Me the Head of Charlie Brown” é um desenho caseiro dirigido pelo Jim Reardon, quando ele ainda era estudante de animação, em 1986. O vídeo pegou bem e foi uma porta de entrada do sujeito pro mundo dos cartoons – primeiro fez Super Mouse, depois tá no Tiny Toons e hoje o cara tira onda de um dos diretores dos Simpsons. Fundindo Alfredo Garcia do Peckinpah com o Travis Bickle do Scorsese, o filme é uma senhora homenagem aos personagens de Charles Schulz.