Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
O fim de Battlestar Galactica começa na próxima sexta. Tá preparado? Ontem o Sci-Fi Channel exibiu um especial em que os criadores da série Ronald Moore e David Eick recapitulam as 10 coisas que você precisa saber para entrar com tudo na última temporada da série.
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Num tempo em que a própria existência do conceito de disco é posta em xeque, será que dá pra questionar o papel do terceiro disco? Se o peso sobre a segunda obra de uma banda já até deu origem à expressão “síndrome do segundo disco”, hoje ela já se estica para o álbum seguinte, como se viver de música voltasse a ser uma profissão de risco (longe dos riscos do faroeste do passado, hoje o ambiente é clean e burocrático). Num tempo em que a sobrevivência das bandas vem de um misto de relação intensa entre os fãs e hits emblemáticos para o resto das pessoas, gravar um terceiro disco pode ser um certo exagero. Afinal, o que é que a banda quer com isso? Fazer uma turnê? Apresentar faixas novas? Bater cartão? 2008 ouviu a alguns destes exemplos de discos lançados pela simples obrigação de lançar disco – e vários grupos que já estão cravados em nosso imaginário tiveram canções perfeitas encobertas por discos irregulares – “Everyone Nose” do N*E*R*D e “The Rip” do Portishead são os exemplos mais evidentes.
O Franz Ferdinand driblou a tal síndrome do segundo disco fazendo um disco idêntico ao primeiro, uma estratégia que tem embasamento histórico – do Blondie aos Buzzcocks, passando pelos Ramones, Pere Ubu, Talking Heads, Devo e os próprios Beatles – e que era repetida, sem sucesso, por diferentes colegas de geração do Franz, como Strokes, White Stripes, Killers e Interpol, sem sucesso. Mas o punk pra dançar proposto pelo quarteto escocês destoava da geração do novo rock dos anos 00 tanto pela euforia exagerada dos hits como pela estrutura populista das canções – que soavam mais como coleções de refrões e riffs do que canções propriamente ditas. Com uma música do Franz Ferdinand dá pra fazer umas três ou quatro destas outras bandas.
Mas se deu pra disfarçar no segundo, as coisas no terceiro não iriam ser tão fáceis. E depois de enrolar por todo 2008, o Franz começou a estruturar seu disco em público, batizando músicas novas nos shows, deixando escapar um ou outro MP3 e assim medindo a recepção e impacto em relação às faixas antigas. E mesmo que o grosso das faixas de Tonight: Franz Ferdinand, o disco que vazou durante o fim de semana, seja conhecido do fã mais completista, elas vêm com nova roupagem – e é justamente isso que justifica a existência do disco.
Grande parte das canções poderiam estar em ambos discos anteriores, mas não como elas se apresentam em Tonight. O clima do novo álbum é, óbvio, noturno, mas o Franz aproveita as sombras da noite para dar um grau de seriedade e tensão inexistente na banda até então. Desde a capa (que retrata uma cena do crime em algum dia do meio do século 20) aos títulos da música, passando pelo pulsar disco music que permeia todo o disco e pelo ar sempre sério e tenso de todas as faixas – não estamos ouvindo um Franz Ferdinand amadurecido, mas apenas uma banda fazendo pose, como se estivesse vestindo uma roupa mais arrumada que o habitual e fizesse caretas no espelho para justificar os novos trajes.
Assim, se antes as músicas da banda tinham uma certa informalidade dance ou ironia artsy que inevitavelmente guardava um sorriso, em Tonight o ar é mau. Eles resolvem a equação que fazia Michael Jackson não soar tão malvado quanto queria em “Bad”, mesmo com Martin Scorsese na direção do clipe: em vez de uma música animada, o lance era diminuir o BPM pro ritmo de “Billie Jean”. Ali, no compasso do metrônomo, tic-tac, que o Franz caminha pela noite, seja por uma rua mal iluminada ou atravessando a massa da pista de dança. E o fato de ter feito isso num terceiro disco faz com que a banda não pareça estar assumindo a eletrônica, mas apenas usando-a como um acessório específico para criar os climas deste disco, mais próximo da nu-disco e desta house à Hercules & the Love Affair do que da new rave (como fez o Rapture em seu disco passado – “more cowbell”).
Assim, Tonight funciona como mais um pilar na história do rock para dançar deste começo de século, que começa com os Strokes passa pelos mashups do 2ManyDJs, “House of Jealous Lovers”, LCD Soundsystem, White Stripes, Arctic Monkeys, Justice e umas cinco ou seis músicas do próprio Franz. Mas o novo disco não é só uma coleção de hits: é uma obra com começo, meio e fim, sendo seu momento central a nova versão para “Lucid Dreams”, que originalmente era uma new wave grudenta e em sua atual versão ganha ares de épico techno.
Discaço: agora sim temos um primeiro grande disco de 2009.
Levante-se daí!
Rita Lee & Tutti Frutti – “O Toque”
Vampire Weekend – “Cape Cod Kwassa Kwassa (Radioclit Mix)”
Presets – “My People”
Metronomy – “On Dancefloors”
MGMT – “Time to Pretend (Diplo Mix)”
Department of Eagles – “Classical Records”
Of Montreal – “An Eluardian Stance”
3 na Massa e Nina Becker – “O Objeto”
Rafael Castro – “Me Chama pra Dançar”
Kosmos – “Vegetable Man”
Pavement – “We Are Underused”
Blur – “End of the Century”
Supercordas – “Fotossíntese”
Late of the Pier – “Random Firl”
Franz Ferdinand – “Lucid Dreams”
Acho humor português fodaço.
Li esse texto no fim de semana, mas já que a Folha o publicou em português, olha ele aí…
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Israel deve ser alvo de boicote e sanções
Naomi Klein
É mais que hora. A melhor estratégia para pôr fim à sangrenta ocupação é que Israel se torne alvo do tipo de movimento mundial que pôs fim ao apartheid na África do Sul. Em julho de 2005, uma grande coalizão de grupos palestinos apresentou planos para isso. Eles apelavam às “pessoas de consciência em todo o mundo que impusessem amplos boicotes e iniciativas para retirar investimentos contra Israel semelhantes às aplicadas contra a África do Sul na era do apartheid”. Assim nasceu a campanha BDS (boicote, desinvista e sancione).
Cada dia de ataque de Israel contra Gaza atrai mais adeptos à causa. Há apoio até mesmo entre judeus israelenses. Em meio aos ataques, cerca de 500 israelenses, dezenas dos quais artistas e acadêmicos conhecidos, enviaram uma carta aos embaixadores estrangeiros que servem em Israel na qual pediam pela “adoção de medidas restritivas e sanções imediatas” e estabeleciam um claro paralelo com a luta contra o apartheid. “O boicote contra a África do Sul foi efetivo, mas Israel é tratado com luvas de pelica…
O apoio internacional ao país precisa ser retirado.” Sanções econômicas são a ferramenta mais eficiente no arsenal das medidas não violentas. Eis as quatro principais objeções à estratégia BDS, respondidas com argumentação em contrário: 1. Medidas punitivas alienarão os israelenses. O mundo já tentou aquilo que costumava ser descrito como “envolvimento construtivo”. Falhou. Desde 2006, Israel vem ampliando cada vez mais seu comportamento criminoso; expandindo colônias, lançando uma guerra absurda contra o Líbano e impondo punição coletiva aos habitantes de Gaza por meio de um bloqueio brutal. A despeito da escalada, Israel não enfrentou medidas punitivas. As armas e a assistência anual de US$ 3 bilhões que os EUA oferecem ao governo israelense são só o começo.
Ao longo desse período crucial, Israel desfrutou de um drástico avanço em seu relacionamento diplomático, cultural e comercial com diversos aliados. Por exemplo, em 2007, Israel se tornou o primeiro país de fora da América Latina a assinar um tratado de livre comércio com o Mercosul. Nos primeiros nove meses de 2008, as exportações israelenses ao Canadá subiram em 45%. Um novo acordo comercial com a União Europeia deve dobrar as exportações israelenses de alimentos processados. E em dezembro, os europeus “atualizaram” o Acordo de Associação entre Israel e a União Europeia.
É nesse contexto que os líderes israelenses deram início à sua mais recente guerra: confiantes em que não enfrentarão custos significativos. É notável que, nos sete dias úteis de guerra, o principal índice da bolsa de valores de Tel Aviv tenha na verdade subido em 10,7%. Quando o estímulo não funciona, a punição é necessária. 2. Israel não é a África do Sul. Claro que não. A relevância do modelo sul-africano é que ele prova que uma tática BDS pode ser efetiva quando medidas menos vigorosas fracassaram. E, na verdade, há ecos profundamente perturbadores do apartheid sul-africano nos territórios ocupados. Ronnie Kasrils, um conhecido político sul-africano, disse que a arquitetura da segregação que ele viu na Cisjordânia e na faixa de Gaza era “infinitamente pior que o apartheid”. Isso em 2007.
3. Por que tomar Israel como único alvo quando EUA, Reino Unido e outros países ocidentais fazem as mesmas coisas no Iraque e no Afeganistão? O boicote não é um dogma; é uma tática. O motivo para que uma estratégia BDS possa ser experimentada contra Israel é de ordem prática: em um país tão pequeno e que depende tanto do comércio externo, a ideia pode funcionar de fato.
4. Boicotes interrompem comunicações; precisamos de mais, e não de menos, diálogo. Conto uma história pessoal. Quando escrevi “A Doutrina do Choque”, queria respeitar o boicote. Aconselhada por ativistas, entrei em contato com uma pequena editora ativista, profundamente envolvida com o movimento de resistência à ocupação. Redigimos um contrato que garante que todos os proventos das vendas sejam destinados ao trabalho da editora, sem que eu receba nada. Em outras palavras, estou boicotando a economia de Israel, mas não os israelenses.
Desenvolver nosso modesto plano editorial requereu dezenas de telefonemas, e-mails e mensagens instantâneas. Meu argumento é o seguinte: quando você começa a implementar uma estratégia de boicote, o diálogo se intensifica dramaticamente. E por que não o faria? Construir um movimento requer comunicação incessante. O argumento de que apoiar boicotes nos isolará mais é ilusório, dadas as tecnologias que nos oferecem informação barata e imediata. Não há boicote que nos detenha. A essa altura, muitos sionistas orgulhosos estão se preparando para rebater perguntando se eu não sei que muitos desses brinquedos de alta tecnologia foram criados nos centros de pesquisa israelenses, destacados no setor. Verdade, mas nem todos eles.
Alguns dias depois de iniciado o ataque israelense contra Gaza, Richard Ramsey, diretor executivo de uma empresa britânica de telecomunicações, enviou um e-mail ao grupo tecnológico israelense MobileMax, afirmando que “como resultado das ações do governo israelense nos últimos dias, não mais poderemos fazer negócios com vocês nem com outra companhia de Israel”. Ramsey diz que sua decisão não foi política; ele só não desejava perder clientes. “Não temos condições de perder cliente algum”, disse, “e por isso a decisão foi puramente defensiva do ponto de vista comercial”. Foram cálculos comerciais frios como esse que levaram muitas empresas a sair da África do Sul duas décadas atrás. E é exatamente esse tipo de cálculo que representa nossa esperança mais realista de levar justiça à Palestina depois de tão longa ausência.
Outra jóia pra comemorar o meio século da gravadora de Berry Gordy: Motown in a Foreign Language. Sente o repertório:
The Supremes – “Jonny und Joe (Come see about me)”
Marvin Gaye – “Wie Shon Das Ist (How Sweet It Is)”
The Temptations – “Solamente Lei (My Girl)”
The Supremes – “Wo Ist Unsere Liebe (Where Did Our Love Go)”
Marvin Gaye – “Sympathica”
The Supremes – “Moonlight and Kisses (german)”
Smokey Robinson – “Aqui Con Tigo (Being With You)”
Martha & The Vandellas – “Yo Necesito De Tu Amor (I’m Ready For Love)”
Jermaine Jackson – “Je Vous Aime Beaucoup”
The Four Tops – “Gira Gira (Reach Out I’ll Be There)”
The Supremes – “Chi Mi Aiutera (You Keep Me Hanging On)”
Edwin Starr – “Che Forza (Soul Master)”
Stevie Wonder – “Dove Vai (Travelin’ Man)”
The Velvelettes – “Puisque Je Sais Qu’il Est Moi (As Long as I Know He’s Mine) “
The Four Tops – “Piangono Glo Vomini (I Can’t Help Myself)”
The Supremes – “Thank You Darling”
Stevie Wonder – “Il Sole E’ Di Tutti (A Place In The Sun)”
Smokey Robinson & The Miracles – “Non Solo Quello Che Tu Vuoi (I’m The One You Need) “
The Supremes – “You Can’t Hurry Love”
Jimmy Ruffin – “Se Decidi Cosi (What Becomes Of The Broken Hearted)”
Martha & The Vandellas – “Jaime Mack (spanish)”
Stevie Wonder – “Non Sono Un Angelo (I’m Wondering)”
The Four Tops – “L’ Arcobaleno (Walk Away Reneel)”
The Velvelettes – “Je Veux Crier (My Foolish Heart Keeps Hanging on a Memory)”
The Temptations – “Sei Solo Tu (The Way You Do The Things You Do)”
Stevie Wonder – “Passo Le Mie Notti Quida Solo (Music Talk)”
Edwin Starr – “Dolce Amore (Oh, How Happy)”
Stevie Wonder – “Solo Te, Solo Me, Solo Noi (Yester me, Yester you, Yesterday)”
Jermaine Jackson – “Let’s Get Serious (spanish)”
Charlene – “Nunca He Ido A Mi (I’ve Never Been To Me)”
Isela Sotelo – “Angelito (Angel Baby)”
Steve Wonder – “Se Tu Ragazza Mia (italian)”
Stevie Wonder – “My Cherie Amour (italian)”
The Supremes – “Wo Ist Unsere Liebe (Where Did Our Love Go)”
The Four Tops – “Gira Gira (Reach Out I’ll Be There)”
Martha & The Vandellas – “Yo Necesito De Tu Amor (I’m Ready For Love)”
E hoje continuo com a retrospectiva do ano passado que havia parado pouco antes do natal. E amanhã nós dOEsquema começamos uma retrospectiva geral de 2008 apontando para o ano que começa: cada um dos quatro escreverá um texto sobre um determinado assunto por semana, até o carnaval, quando o ano começa de fato. Enquanto isso, vou acrescentando aos melhores discos e músicas do ano passado listas com 20 itens dos melhores mashups, filmes e shows de 2008, todos estes apresentados sem ordem específica.