Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Standing in the way of… Beth Ditto

Link – 4 a 10 de junho de 2007

‘- 24 horas na internet
RSS facilita a vida
Sem vergonha
e-Tribo
Celular anti-PF
O computador do futuro ou a mesa de centro da Microsoft?
Jack Sparrow manda bem
E o patrimônio digital?

Gente Bonita Redux

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Luciano Kalatalo partiu em árdua missão rumo ao verão parisiense capturar boas vibrações e trazer novidades para a próxima coleção Outono/Inverno Gente Bonita de hits, que estréia ainda este mês. Mesmo desfalcado de um de seus integrantes, a festa Gente Bonita Clima de Paquera não pode parar – e para suprir a lacuna (no bom sentido) deixada momentaneamente, acionamos a querida pernambucana Dani Arrais, aquela mesma que fez neo-alternativos, gostosas da FAAP e gente normal berrar “Like a Prayer” naquela noite histórica no Bar Treze (quando tinha gente até dependurada no lustre!). O ataque desta vez acontece em sacrossanto templo rocker: a festa do Garagem, da dupla Paulão e André Barcinski, que além de nos convidar pra instaurar o inevitável ferormônio sonoro na naite ainda chamou o vigilante Tiago Carandina e o Hateen Fabrício Martinelli pra abarrotar a cabine do DJ. E como sempre temos esquema, o lance é você escrever seu nominho no www.gentebonita.org que concorre a vááááários (sério, vários) pares de ingressos na faixa prum sabadão de uma semana de tirar o fôlego (afinal, teve Four Tet na terça, Bellrays na quinta e Mudhoney na sexta – nada mal). Colocando o nome, é quase certeza que cê tá dentro – mas eu aviso antes das 20h do próprio sábado. E chega cedo que é a gente que abre a noite!

Gente Bonita Clima de Paquera @ Festa do Garagem
E – acreditem – é mais um preview da temporada Outono/Inverno de Hits!
DJ residentes: André Barcinski e Paulão
CDJs convidados: Gente Bonita Clima de Paquera Redux (Luciano Kalatalo Dani Arrais & Alexandre Matias), Fabrício Martinelli e Tiago Carandina
Sábado, dia 2 de junho de 2007
23h
Local: Clash Club – Rua Barra Funda, 969.
Telefone: (11) 3661-1550
Preço: R$ 15 (sem nome na lista) e R$ (com nome na lista – via www.clashclub.com.br). Mas se você se cadastrar no www.gentebonita.org corre SÉRIO risco de entrar sem ter que botar a mão no bolso…

Waking Life – O Despertar da Vida

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Waking Life – O Despertar da Vida (Waking Life, 2001, EUA). Dir: Richard Linklater. Elenco: Wiley Wiggins. 99 min. Por que ver: Linklater resume sua filmografia em um filme cabeça sobre o sentido da vida e a relação entre sonhos e a vida desperta – tradução apropriada para seu título. O jovem diretor trabalha entre filmes sérios sobre a sensação de estar vivo (a dobradinha Antes do Amanhecer/Antes do Por-do-Sol, sua obra-prima até então) e comédias adolescentes sobre a mesma sensação (Escola do Rock, Jovens Loucos e Rebeldes) e já havia encontrado um equilíbrio entre as duas metades em seu primeiro filme, o cult Slacker (1991). Mas em Waking Life ele vai além e encontra um jovem preso em um sonho em que todas as pessoas conversam entre si ou com ele sobre o sentido da vida, as relações entre as pessoas e a natureza da realidade. Cada diálogo ou monólogo tem o traço de animadores diferentes, uma vez em que foi usada a técnica da rotoscopia – desenhar sobre imagens pré-existentes – como estética do filme. Os atores estiveram lá e foram filmados em mini-DV por Linklater, mas ganham cores, traços e deformações típicas de desenhos animados feitos em um software caseiro, o propositalmente tosco Rotoshop. Fique atento: Além da sensação alucinógena causada pelo movimento e pelas cores do desenho, todo o texto do filme contribui para sua conclusão final – não é o que está acontecendo que importa, mas como. Não é o destino, mas a viagem.

Videodrome – A Síndrome do Vídeo

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Videodrome – A Síndrome do Vídeo (Videodrome, 1983, EUA). Dir: David Cronenberg. Elenco: James Woods, Deborah Harry. 89 min. Por que ver: Cronenberg não está para brincadeiras – e seu Mágico de Oz (adulto, gore e pessoal) inverte os papéis entre o Mágico e Dorothy. Max Renn (Woods, eficaz como qualquer alter-ego do diretor), player no novo nicho de mídia americano, a TV a cabo, teoricamente está no controle da situação, até que ele começa a captar intervenções de um programa pirata que aos poucos vão mexendo com sua mente. Videodrome é um programa de TV idealizado por um personagem chamado professor Brian O’Blivion, que só comparece a eventos através de sua imagem filmada. Envolvendo sexo, morte e violência, o programa começa a absorver Max de uma forma que ele perde a noção entre realidade e transmissão numa metáfora perfeita para a mídia de massa – e ainda mais eficaz nesta época de comunicação em tempo-real e vida virtual. Assim, Renn passa de manipulador de marionetes a manipulado – e é difícil saber quem está no comando. Fique atento: “Longa Vida à Nova Carne” é o slogan de um movimento de resistência midiático que surge à medida em que os grandes espetáculos visuais do filme começa – sexo oral via TV, o homem-videocassete… Surrealismo e tripas, sexo e máquinas – Cronenberg sempre pega na veia.

Se Meu Apartamento Falasse

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Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment, 1960. EUA). Diretor: Billy Wilder. Elenco: Jack Lemmon, Shirley MacLaine, F red MacMurray. 125 min. Oscar de melhor filme, diretor, direção de arte, roteiro original e edição. Globo de Ouro de melhor ator e atriz e melhor filme de comédia. Por que ver: Um dos principais observadores do way-of-life americano durante o século vinte, o polonês Billy Wilder também foi um de seus comentaristas mais ácidos. Aqui, ele invade a rotina de uma aparentemente pacata e eficiente companhia de seguros para desvendar uma trama de mentiras, favores e silêncios. C.C. Baxter (Lemmon, genial) é um funcionário sem brilho numa empresa mediana, que passa a crescer na hierarquia dos negócios à medida em que cede seu apartamento para seus superiores encontrarem-se com seus affairs extraconjugais, quase todas suas subordinadas no trabalho. Quando se vê com a possibilidade de levar sua própria vida amorosa com uma de suas colegas de firma (Fran Kubellik, Shirley MacLaine em um de seus melhores papéis), tem de equilibrar a rotina de entra-e-sai com as mentiras do escritório. Disfarçado de comédia de situação, Se Me Apartamento Falasse é uma crítica dura à fachada limpa e aos bastidores sujos da sociedade americana, algo como se Michael Moore e Seinfeld pudessem existir nos anos 50, com a sutileza e elegância de um James Stewart. Fique atento: A química entre Wilder, Lemmon e MacLaine é nitroglicerina pura e alterna momentos hilários e emotivos em um piscar de olhos – tanto que o trio repetiria a dose com sucesso três anos mais tarde, com o hilário e cínico Irma La Douce. E a direção de arte – cenários, figurino, decoração – transforma o escritório em um palco industrial.

Robocop – O Policial do Futuro

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Robocop – O Policial do Futuro (Robocop, 1987, EUA). Dir: Paul Verhoeven. Elenco: Peter Weller, Nancy Allen, Kurkwood Smith. 102 min. Por que ver: Parece um típico filme de ação dos anos 80, mas é muito mais do que apenas isso – apesar de não desapontar (longe disso) quem gosta de filme de ação. É o segundo filme feito nos EUA pelo diretor holandês Verhoeven, que entendeu a fórmula blockbuster e passou a usá-la como contra-ironia para cima dos americanos a partir deste Robocop. A premissa é simples e eficaz: um policial pai de família é assassinado por traficantes de drogas e seus restos mortais são usados como base para um novo projeto de sua corporação, o meganha ciborgue que batiza o filme. Por trás de uma equação óbvia (inserir o elemento robô no tema guerra de gangues, recorrente nos anos 80), há um subtexto bem menos simplista que é a crítica à política neoliberal de Ronald Reagan – o projeto Robocop é apresentado pela multinacional OCP, que comprou a polícia privatizada de Detroit e pretende transformar o centro da cidade em uma terra de ninguém, para depois reconstruí-lo como uma nova metrópole, o condomínio fechado em escala macro. O diretor iria além em sua crítica ao capitalismo americano em filmes como O Vingador do Futuro, Tropas Estelares, Instinto Selvagem e, em última instância, a bomba Showgirls. Fique atento: O humor cínico de Verhoeven rouba dos quadrinhos de Frank Miller a idéia do narrador da história ser um telejornal, que intercala notícias de um futuro bizarro com (ótimos) comerciais de produtos do futuro ainda mais improváveis. É ele quem dá o tom do filme – observando-o como linha-mestra faz com que sua ironia se sobressaia e toda a história ganhe um aspecto de caricatura. Tudo é motivo de riso involuntário, sublinha o diretor.

O Pecado Mora ao Lado

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O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955, EUA). Dir: Billy Wilder. Marilyn Monroe, Tom Ewell. 105 min. Por que ver: Marilyn Monroe. É pouco? Marilyn Monroe, Marilyn Monroe, Marilyn Monroe. Quer mais? Pode-se listar o nome da atriz por toda a extensão deste guia que não se quer se chega perto da presença perfeita que é a aparição loira de Ms. Monroe neste épico dedicado à sua beleza. O título original (a coceira dos sete anos) faz referência ao tempo em que o homem consegue ser fiel no casamento e Wilder coloca qualquer espectador deste filme – criança, idoso, homem, mulher – no papel de Richard Sherman (Ewell, o ator mais sortudo do mundo), um respeitado marido que vê a mulher sair em férias ao mesmo tempo em que uma estonteante modelo muda-se para o apartamento em cima ao seu. Ao sermos apresentado à personagem – cujo nome resume-se à “The Girl” (“A Garota” – ênfase no artigo definido e no substantivo feminino) – entendemos perfeitamente suas dúvida, seu desalento, seu desespero e sua disposição. E assim o diretor destrói a instituição chamada casamento ao fazer qualquer ser que move-se na superfície do planeta estancar-se de emoção à imagem simples e icônica de Marilyn, de branco, tendo o vestido suspenso pelo ar quente do metrô. Não são apenas suas pernas e risinhos – é a mulher, a garota, plena em nossa frente. Fique atento: Nem preciso dizer para não tirar os olhos de Marilyn (psiu, presta atenção!), mas vale registrar a presença de outro personagem crucial para o filme: o calor do verão, cujo peso no ar faz a consciência de Sherman derreter e a libido da garota estourar o termômetro.

Mistérios e Paixões

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Mistérios e Paixões (Naked Lunch, 1991, EUA). Dir: David Cronenberg. Elenco: Peter Weller, Judy Davis, Ian Holm. 115 min. Por que ver: Da literatura beat, William Burroughs é certamente o nome mais difícil para se trazer à tela, mas ironicamente Mistérios e Paixões (título em português idiota para uma obra que já existe no Brasil há décadas, O Almoço Nu) é a melhor representação da alma beat no cinema, entre cinebiografias, documentários e adaptações livres. Não é o caso desta, que embora pouco fiel à obra em si, é obcecada não só pela natureza doentia do livro como de toda obra e do personagem – um mundo aparte em que heroína, insetos, homossexualismo e espingardas. Reconta a história de Burroughs – do assassinato de sua mulher ao exílio no Norte da África – e a mistura com elementos de sua literatura. Genial. Fique atento: Não bastassem as alucinações grotescas que habitam a ficção de Burroughs ganharem forma, sentido e textura (um ânus falante, uma máquina de escrever insectóide), é a atuação quase asséptica de Weller (o Robocop), que transforma o escritor beat de um personagem asqueroso e bizarro a um espelho para cada espectador.

Lolita

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Lolita (Lolita, 1962, Inglaterra/EUA). Dir: Stanley Kubrick. Elenco: James Mason, Shelley Winters, Sue Lyon, Peter Sellers. 152 min. P&B. Por que ver: Nenhuma adaptação de livro feita por Kubrick é fiel ao original e esta é a graça – embora Lolita seja a peça que mais se aproxime da obra original. Mas com Kubrick, Humbert Humbert (Mason) é uma alma penada num corpo de um adulto, assombrada pelo fantasma do próprio desejo, o pequeno demônio de 14 anos que batiza o filme e o livro de Nabokov. É ela quem o faz decidir alugar um quarto em uma casa de família, ao assistir à pequena filha da proprietária chupar um pirulito enquanto toma banho de sol no quintal – numa cena atordoante de tão bela. A partir daí, o protagonista embala numa espiral de instinto puro, que torna-se desespero crescente fundado sobre a culpa. Tempere isso com uma Shelley Winters fenomenal e um Peter Sellers arrogante e preciso, em um de seus grandes – e subestimados – papéis. Fique atento: A fotografia em preto e branco torna o tema mais denso e sério a cada passagem – e o elenco, afiadíssimo, gira em torno de Sue Lyon, a alma, o coração e a força sexual do filme. Não é pouco, para uma atriz de apenas treze anos.