Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Krautrock

Texto velho, do ano 2000. Mas ainda vale.

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Na Alemanha pós-guerra, a cultura nacional foi massacrada pelas soviética e americana como uma forma de aniquilar qualquer indício de retorno do nazismo. Logo as rádios e televisões bombardeavam música americana como começariam a fazer pelo resto do planeta. Mas ao contrário dos outros países, que viram sua música pátria aos poucos fundir-se com o novo padrão musical, a cultura alemã não conseguiu sobreviver em termos de cultura pop. Os poucos artistas locais que faziam sucesso eram pálidas imitações de sucessos estrangeiros.

Até que um grupo de estudantes sentiram o clamor da idade ao mesmo tempo em que os tempos estavam mudando. O ano era o histórico 1968 e os tremores sentidos nas paragens alemãs vieram justamente da arte. Seguindo uma tendência de teatro extremo que quebrava todas as convenções cênicas, incluindo até automutilação e morte no palco, este grupo de jovens se viram presos pelo mesmo tipo de música que seus pares americanos e ingleses. Com bagagem intelectual da faculdade e permissão para criar, os primeiros representantes do chamado krautrock deglutiram os Beatles, os Stooges, Ornette Coleman, o Pink Floyd de Syd Barrett, o Velvet Underground e James Brown ao mesmo tempo, fundindo-os em forma de jam sessions intermináveis baseadas no ritmo, que tornava-se cada vez mais marcial e intenso. Pioneiros na música eletrônica, eles a usaram como principal ferramenta de manipulação sonora. E criaram uma música cujo legado se extende à medida que o tempo passa.

Por muito tempo, o krautrock era visto como apenas um apelido para as bandas de rock progressivo da Alemanha. Não está errado, embora induza ao erro. Como os ingleses que inventaram o prog rock, os alemães eram jovens músicos que encontraram uma forma de explorar as fronteiras da música auxiliados pela técnica. Mas enquanto na Inglaterra sonhavam com a Idade Média e com solos gigantescos, na Alemanha os principais nomes do krautrock deixavam o ritmo tomar conta. Vindo da música negra (Can), da experimental (Faust), da eletrônica (Neu!), do rock de Detroit (Ash Ra Tempel), do free jazz (Cluster), da psicodelia (Amon Düul II) ou simplesmente de máquinas (Kraftwerk) o ritmo é fator fundamental na caracterização do krautrock. Usando-o como fio condutor por experimentações sonoras diversas, o rock alemão do começo dos anos 70 transformavam o ritmo numa porta para uma quarta dimensão musical, onde não importa quanto tempo dura uma canção e sim o transe que o ouvinte é submetido.

A influência do krautrock na cena pop mundial é muito maior que notória. Tanto subgêneros inteiros da música eletrônica (trance, ambient, techno, house, drum’n’bass, technopop) quanto as “novas formas” de criação e gravação propostas pelo pós-rock são quase que inteiramente criados do nada por estes alemães esquisitos. A lógica do sampler nasceu dele, quando a máquina sequer existia, com o baixista Holger Czukay, do Can, fazendo malabarismos e maravilhas com dois microfones e dois gravadores. New wave (Talking Heads, Pere Ubu, Devo) e pós-punk (Fall, PiL, Gang of Four, Suicide, toda a cena no wave nova-iorquina) procuraram discos de kraut para inspiração. A fuga das formas de gravação tradicionais antecipou o que diferentes bandas como Sebadoh, New Order, Pavement e Butthole Surfers acabaram fazendo.

Foram explorados os limites do barulho, da música étnica, da performance cênica, do som eletrônico, da sonoplastia e do improviso. O próprio rap só sobreviveu porque Afrika Bambaataa foi um dos primeiros a mostrar o ritmo dos alemães às massas, abrindo os limites do que pode ser música para o infinito na música popular mundial. Sem contar o Stereolab, que deve os sistemas circulatório e motor ao rock hipnótico dos germânicos. E David Bowie, que dedicou os anos punk à descoberta do mantra eletrônico do gênero morando em Berlim, onde compôs a trilogia Low/ “Heroes”/ Lodger. Sonic Youth, as bandas da gravadora Flying Nun, Stone Roses, Mouse on Mars, Spacemen 3, My Bloody Valentine, Aphex Twin, Brian Eno, Cabaret Voltaire, Mercury Rev, Throbbing Gristle, toda cena shoegazer, Bardo Pond – nomes de alto calibre devem e mostram respeito ao rock alemão do começo dos anos 70. É um espectro grande suficiente para ser conhecido.

Mas mesmo ganhando popularidade por diferentes campos da música, o krautrock ainda é um segredo para o ouvido popular. Talvez seja ainda por um bom tempo. O universo de ritmo e experimentação desencadeado por esta geração de músicos é grande o suficiente para que o termo seja um equivalente à música erudita alemã, o krautrock como uma legião de cérebros que fazem às vezes de um Beethoven moderno, descendente do Bach da música eletrônica, Karlheinz Stockhausen. O tempo não dirá – ele já diz

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Eu tenho outro texto sobre o Can em algum lugar, mas não tou achando… Mas achei um sobre Kraftwerk, quando eles tocaram pela primeira vez no Brasil, em 98. Vai na seqüência.

Breakraut

Ou seria Can Dance? Eniuei: rapeize dançando break no metrô em Nova York. Na trilha, “Vitamin C”.

Vi no Dago. E ainda no ritmo, que tal essa dancinha no supermercado?

Tem essa outra também, solitário no shopping.

E aqui o original ao vivo, em 72.

Falando nisso, acho que vou ressuscitar aquele meu texto sobre o Can e o Krautrock…

Comentando Lost: Jughead

Conforme o prometido, eis aqui a terceira parte da série Comentando Lost, em que eu e o Ronaldo dissecamos um episódio da quinta temporada da série por edição. Hoje o papo é Jughead, o episódio em que Faraday começa a botar as manguinhas de fora e que descobrimos algo crucial sobre um dos vilões da série (além de aturarmos a pior aventura envolvendo o personagem Desmond). Você já sabe como funciona, né: baixa o MP3 no mesmo computador em que você for assistir à série e quando falarmos “valendô!”, tu aperta o prei. E prometemos o comentário sobre o episódio de hoje em breve – e você sabe que dá pra ver ao vivo, né? Chega aqui mais tarde que eu passo as coordenadas.

Na Grobo!

Seu saite favorito apareceu no G1:

Foi um printscreen, mas o princípio da onipresença não pressupõe formato definido.

Rola nas carça

Sem apelação, porque isso é um blog de respeito. Mas olha isso e vê se não é bizarro:

4:20

Comentando Lost: The Lie

Siga-me com Ronaldo em mais um programete dedicado a dissecar episódios de Lost enquanto o próprio é assistido. Hoje o assunto é o segundo episódio, The Lie. E o terceiro sobe daqui a pouco, afinal, temos que acompanhar o ritmo do seriado. Então você já sabe, baixe o MP3 na mesma máquina em que vai assistir ao episódio e quando dermos o OK, você aperta o play no programa em que você vai ver o seriado – e come with us.

Banda Calypso é indicada ao Nobel da Paz

Ri não!

BELÉM (PA) – Joelma e Chimbinha vão dominar o mundo. A banda Calypso acaba de ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz “por seu relevante trabalho humanitário em prol dos carentes da região Norte”, segundo a nota oficial do Comitê da Paz.

O coquetel de lançamento da indicação aconteceu ontem, no salão Uirapuru, do Hotel Hilton, com a presença do Bispo João Pedro Nascimento, presidente do Comitê da Paz.

O evento, que segue até o dia 15 de fevereiro, será encerrado com o “Show e Copa da Paz”, um jogo de futebol e uma apresentação beneficente da banda Calypso, que será realizada no Mangueirão. O valor do ingresso ainda não foi divulgado.

A banda Calypso não foi localizada para comentar a notícia. O Comitê da Paz, ONG atuante na área de Direitos Humanos, é oriundo dos Boinas Azuis, que foram agraciados com o Prêmio Nobel da Paz edição 1988, pela missão humanitária nos idos dos anos 1957 a 1967, na Faixa de Gaza, Batalhão de Suez.

4:20

3 de fevereiro de 1959

E eu não podia deixar o dia de hoje sem pagar meu tributo a um gênio, um ás latino e um one-hit wonder fanfarrão da primeira geração do rock. Há cinqüenta anos, o avião que levava Buddy Holly, Richie Valenz e Big Bopper caía em Clear Lake, Iowa, nos EUA.


Buddy Holly – “Peggy Sue”


Ritchie Valens – “Ooh my Head”


Big Bopper – “Chantilly Lace”

Foi a primeira vez que o futuro do rock parecia efetivamente em xeque, o dia que ficou conhecido com “o dia em que a música morreu“.