Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Participei semana passada da terceira edição do Think Tank, videocast que o Ronaldo vem tocando com a YB – e que conta com a participação do Pena Schmidt, do Maurício Tagliari, do Miranda, do Juliano Polimeno e André Bourgeois. O papo foi aquele que você já deve supor: as mudanças que a internet têm provocado no mercado de música e como este mesmo mercado pode se reinventar sem rádio ou gravadoras. Com esse tanto de gente falando, inevitável rolar o fireball de informação – mas dá pra filtrar e tirar as informações que mais lhe interessam.
Resenha do show, só amanhã. Fiquem aí em cima com o vídeo que o usuário andrewsfg editou usando diferentes trechos da gravação de “Paranoid Android” em São Paulo. Acho tão legal quando neguinho canta as partes instrumentais da música, hahaahahah. E segundo o sujeito, a idéia é fazer um DVD. Vamos ver – mas a idéia é fodaça.
O torrent com o show do Kraftwerk e do Radiohead pode ser baixado aqui – só o show do Radiohead, no entanto, tá aqui. Mas ambos arquivos contém apenas o show que foi transmitido pelo Multishow – ou seja, sem os três bis (ou você não sabia que o Multishow cortou a transmissão ao vivo para exibir o Big Brother)?
E aí, será que veremos o show dos caras esse ano por aqui? Continuo insistindo.
O Radiohead foi do caralho, ao contrário do Just a Fest – que foi um grande foda-se pro público
Vamos separar as coisas: os shows que o Radiohead fez nesse fim de semana talvez tenham sido os melhores shows internacionais que o Brasil recebeu neste século. Catártico, profissa, emotivo e cabeça ao mesmo tempo, os shows derrubaram queixos, expectativas negativas e lágrimas, provocando comoção em até quem não acha a banda grande coisa. Mas depois eu falo disso.
Pra começar, quero falar do evento, Just a Fest.
Quando o show foi anunciado, o evento da Planmusic parecia bom demais pra ser verdade. Além da escalação que a princípio incluía “apenas” Radiohead e Kraftwerk, o festival ainda convenceu o Los Hermanos a deixar as férias de lado e ganhar uma nota preta pra fazer dois shows – alguém aí cogita o valor?. Melhor: ao comprar ingressos pela internet, o público ficou feliz não só com a facilidade da compra (ainda traumatizado com os incidentes nos shows do João Gilberto e da Madonna) como também com o o preço pago (não que pagar 200 reais para assistir a um show seja um preço justo, mas 2008 viu a cotação de ingressos entrar na casa dos quatro dígitos – e ainda perguntam de onde vem a tal “crise”).
Mas um festival não é só escolha de bandas e facilidade de compra na hora do ingresso.
E, quando foram abertas as portas para o grande evento, o Just a Fest revelou sua cara: era apenas mais um festival tosco e qualquer-nota, piores do que qualquer um desses festivais de rádio que incluem Ivete Sangalo, Marcelo D2 e Capital Inicial na escalação. Tratando o público feito merda – afinal, o ingresso já estava pago – a organização do Just a Fest revelou-se amadora e pífia, sendo sequer digna deste rótulo. “Desorganização” ainda era eufemismo.
No Rio, além do som baixo (só dava pra ouvir direito caso você ficasse de frente das caixas de som), houve gente reclamando que os banheiros não estavam abertos até a metade do show do Radiohead e a única comida disponível era um cachorro quente bem fuleiro. Na entrada, ninguém checava se os compradores tinham carteirinha de estudante. Na saída, o público disputava táxis na marra (que, por conveniência própria, só pegavam passageiros que topassem pagar preço fechado) sem saber que o metrô estava funcionando ali perto. Não havia nem um ponto de táxi indicado pela produção ou placas para avisar onde era o metrô – e que ele ainda estava funcionando.
Mas se no Rio foi complicado, em São Paulo foi caótico. Primeiro porque o público era muito maior. O som estava bem melhor, fato, mas o telão da banda deu pau nas cinco primeiras músicas (aquela tela verde que apareceu em uma determinada hora não era opção estética). Sim, havia mais do que um mero cachorro quente tosco para comer – mas a “praça de alimentação” (põe aspas nisso) fechou antes do final do show. Quem deixou pra comer algo depois que o show acabou, se deu mal.
Fora o ponto crítico de todo o evento aqui: o local. Além de ser no raio que o parta, a Chácara do Jóquei ainda tem um dos piores acessos quando se vem de São Paulo (isso, vindo de São Paulo – afinal, quase saímos do município pra chegar lá). Foi lá que aconteceu o único Claro que é Rock, que quase foi um desastre completo devido às chuvas – que transformou boa parte do lugar numa enorme poça de lama. O Just a Fest contou com a sorte da chuva só ameaçar durante o show do Los Hermanos. Se chovesse, o lugar viraria um lodaçal impraticãvel – e mesmo com a chuvinha, a lama já espalhou pelo lugar.
Eis que o público tem de sair do show e é socado, feito gado indo pro abatedouro, num único corredor até o final. “Socado” também é eufemismo – teve gente passando mal no meio do espreme-espreme da saída. Detalhe: as quatro saídas de emergência do local, que poderiam ter sido usadas para diluir a vazão da massa, seguiram fechadas. Depois de quase meia hora para pisar fora da Chácara do Jóquei, o público ainda sofreu com mais amadorismo – como no Rio, não havia área para táxis (o mínimo em qualquer grande festival em São Paulo) e o estacionamento, dito “vallet” (mais aspas), que custava 35 reais, ficou entregue à lei do mais forte – saía quem conseguia (ou seja, todos ao mesmo tempo). Além disso, os ônibus que saíam de lá demoraram a voltar para a civilização devido ao volume de trânsito. Quem ligava para chamar táxi não tinha retorno, pois os táxis não chegavam ali por causa do trânsito. Resultado: não fui o único que chegou em casa quase 4 da manhã (sendo que o show terminou meia-noite e meia).
Vai rolar Just a Fest ano que vem? Suposição: a organização pegou a banda que mais atraía mídia e bancou o evento para, num segundo momento, chegar com uma batelada de matérias e muita repercussão para possíveis patrocinadores e vender o festival para uma marca. “Olha só a exposição que seu nome pode ter em 2010”, diriam ao lado de uma pilha de matérias sobre o show do Radiohead.
Não misture alhos com bugalhos: o Radiohead foi do caralho, mas o Just a Fest foi mais do que uma bosta – foi um foda-se generalizado pro público. Se aos poucos estamos conseguindo ter níveis de “primeiro mundo” no Brasil, ainda temos uma classe de entretenimento que trabalha no esquema pão e circo, sendo que o pão é velho e murcho e o circo está caindo aos pedaços.
Você também passou por algum aperto no Rio ou em São Paulo? Contaê – amanhã eu falo do show em si (e sigo subindo os videozinhos lá na TV Trabalho Sujo).
Updeite-se: Já foram buzinar pra banda, conhecida pelo compromisso com os fãs e pelo repúdio a eventos toscos. Eis a íntegra do post na W.A.S.T.E. Central, a rede social da banda (só dá pra acessar o link quem for cadastrado no site):
The show was simply amazing. This is an undisputed fact.
But some problems arose along the evening. Very concerning ones, most particularly in regards to the environment and carbon footprint, one of the main concerns of the band in the planning of this tour.
The access to the festival site was simply terrible, causing unbelievable traffic jams when entering and exiting the official festival parking site. Even though I was driving a car with four passengers, we had to endure over an hour of traffic.
To exit the parking area was another unbearable ordeal. Almost two hours of waiting in parked cars. Some people fell asleep inside them. Others were trying to gather signatures for a combined lawsuit against the festival organization.
Please post pictures here.
The band must know about this.
Mas, além da banda, outras pessoas deviam saber disso também. Afinal, como já lembraram nos comentários, Just a Fest é um nome fantasia. Se souberem de alguma iniciativa (online ou offline) sobre o assunto, dêem um toque aí. Se postarem algo em seu blog/fotolog/myspace/flickr/youtube, etc., me manda o link na área de comentários.
• Street Fighter IV • Geração Flickr completa 5 anos • Internet Explorer 8 • Google Voice • iPhone finalmente vira um celular comum • Smartphones para as massas • Entrevista: Hugh Forrest, organizador do festival South by Southwest • Apple e os aplicativos • Discografias, do Orkut, é fechada e reabre na mesma semana e jornal americano abandona o papel • Vida Digital: Sérgio Arno •
Segurem a onda, vou levar um tempo para reorganizar o estrago feito por esse fim de semana Radiohead aqui no Trabalho Sujo – provavelmente vão aparecer uns posts aí de trás pra frente, falando de Battlestar Galactica (cujo final – ufa! – também foi no fim de semana passado), os 4:20 passados, o On the Run de domingo que não rolou, etc. E, claro, depois eu falo dos shows – embora já adianto que o show de São Paulo conseguiu superar o do Rio, com exceção do final caótico promovido pela desorganização do evento. Por enquanto, fiquem com uma que rolou no Rio de Janeiro e que não teve em São Paulo.
Com isso, mais um fim de semana parado: nem Palavras para o Domingo, nem On the Run, nem nenhuma notícia até a segunda-feira. E pode esperar que a resenha dos dois shows não vai sair logo, não. Tou às vésperas das minhas férias e tem um monte de coisa acontecendo no tal mundo offline que o ritmo tende a diminuir até abril – quando eu páro por um mês.
Isso também tem atrasado a retrospectiva de 2008 (ainda! :-/) e o comentário em cima de um monte de discos que saíram desde que Watchmen foi lançado. Tudo isso vai rolar, com tempo. Quem sabe, alguma coisa surge durante as férias (post programado existe pra isso, né), mas do mesmo jeito, não vou prometer nada.
Enfim, é o trabalho de um homem só, todos amigos e leitores contribuem de forma geral, mas a execução é feita só por mim. E como ainda não ganho dinheiro só pra isso, agüentem. Ou melhor, esperem.