Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Ao propor desconstruir o Centro da Terra em sua apresentação Quando a Tua Tela Quebra, Marina Melo colocou o público no palco e o transformou em uma roda de conversa, explorando diferentes ângulos do teatro como uma forma de desafiar as convenções.
Depois de sua estada em São Paulo, Dodô volta apaixonado pela cidade e começamos mais um DM falando sobre o momento em que a cidade que escolhi viver está atravessando. E além de suas aventuras em seu próprio Astoria particular, conversamos sobre a reverência em vida a nomes como Nei Lopes e Lia de Itamaracá, o iminente golpe desenhado pelo presidente da república para salvar seu próprio rabo e como a cultura vai ter um papel crucial nos próximos anos.
Nesta terça quem toma conta do Centro da Terra é a cantora e compositora paulistana Marina Melo, que começa a mover seu próximo trabalho – Canções de Amor para Itens Descartáveis – em uma apresentação única, Quando a Tua Tela Quebra, em que ela questiona a onipresença destes dispositivos em nossas rotinas propondo um ritual no palco do teatro do Sumaré. Os ingressos para esta apresentação, que começa pontualmente às 20h, já estão esgotados.
Alguém anotou a placa do avião? Na primeira segunda-feira de sua temporada Pocas no Centro da Terra, Kiko Dinucci reuniu-se com Lello Bezerra e Guilherme Held para um encontro de antiguitarras, trabalhando seus instrumentos para muito além dos limites da melodia, da harmonia e do ritmo, explorando espaços sonoros com timbres elétricos quase sempre indomáveis, tudo assistido visualmente pelas intensas tintas de Gina Dinucci. E pensar que isso é só o começo…
Quem toma conta das segundas-feiras de maio no Centro da Terra é o compadre Kiko Dinucci, que vem com a temporada Pocas experimentar possibilidades que nunca havia cogitado. Na primeira delas, dia 9, ele convida Guilherme Held e Lelo Bezerra para uma noite só com guitarras, com a parte visual a cargo de sua irmã, Gina Dinucci. Na semana que vem seu comparsa é Gustavo Infante, que vai fazer loops analógicos a partir de trechos de violão tocados na hora por Kiko, enquanto Maria Cau Levy cuida das projeções. Na terceira segunda-feira, dia 23, ele tira o dia para cantar samba, sem tocar nada, deixando os instrumentos com Alfredo Castro, Xeina Barros e Henrique Araújo, além das intervenções de Bruno Buarque. E, na última segunda de maio, ele chama o Test e Negravat pra uma noite que promete muito barulho. As apresentações começam pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados aqui.
No meu programa de entrevistas desta semana converso com a Carol Passos, uma das criadoras do podcast Posfácio, que fala sobre livros e que está prestes a entrar em uma nova temporada entrevistando escritores. Falamos sobre jornalismo e literatura e como o primeiro tem prestado bem menos atenção à segunda, criando espaços que permitem a criação de projetos como este podcast. E também falamos sobre questões técnicas envolvendo este tipo de publicação, que está bem mais à mão da maioria das pessoas atualmente.
Don L @ Casa Natura Musical (7.5.2022)
É impressionante a força de Don L, que se apresentou neste sábado na Casa Natura Musical – e não estou falando só do indivíduo, do rapper, do poeta, do artista. Don L já é um conceito que transcende a estética e a arte e parte para a política e para a ação direta, sem esquecer as duas primeiras constantes. É um conceito tão preciso e potente que todos rimam tudo junto, repetindo suas frases como versos de um hino. E é importante frisar isso: apesar do clima de celebração, a apresentação de L nunca cede à metáfora divina e por mais que possa lê-la de uma forma mística e até religiosa, pela forma como ele prende seu público apenas com as palavras, ele reforça o papel político, cidadão e humano, enfileirando hinos pátrios de um país em construção. Praticamente sem dirigir-se ao público fora de suas canções (o que ele precisa dizer está em suas letras), ele magnetiza a pequena massa sem precisar subir o tom e ela está entregue à sua presença – tanto que puxa o coro de “lutar, criar, poder popular” sem que ele precise lembrá-los. Bem-vindos à Élewood…
Abrir uma sessão do Aparelho é tirar o freio de mão em uma ladeira e assim eu, Vlad e Tomate disparamos a falar sobre todos os assuntos possíveis que nos vêm à cabeça, desde como o NFT dos centavos da gasolina vai criar uma indústria de coquetéis molotov à precaridade vendida como superação pelo jornalismo charlinho, passando por um flashmob de abraçaços à polícia militar e o Predador cantando o hino nacional nas passeatas bolsonaristas. É difícil, mas assim vamos.
Café, ópera de Felipe Senna inspirada em Mario de Andrade @ Theatro Municipal (6.5.2022)
“Nenhum artista pode, mesmo que queira, não participar. Ou você não conformisticamente se inclui na coletividade ou conformisticamente se vende aos seus chefes. E não se iluda: num desses vocês há de estar”. Bem forte a ópera Café, composta por Felipe Senna sobre um libreto escrito por Mario de Andrade em 1941 e encenada por Sérgio de Carvalho no Theatro Municipal durante esta semana. Cogitando a possibilidade de um levante dos trabalhadores da cultura cafeeira frente à gana da especulação de uma elite brasileira que só os parasita, as questões de 80 anos atrás infelizmente eram idênticas às de hoje: crise política e econômica, soluções de mentira para problemas reais, como o desemprego, a miséria e a fome. A ópera foi montada com a Orquestra Sinfônica Municipal, o Coral Paulistano, o Balé da Cidade de São Paulo e o Coletivo Nacional de Cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e teve as participações do ator Carlos Francisco e dos grandes Negro Leo e Juçara Marçal. Esta aparece ainda na primeira parte, imponente e na veia (como mostra o vídeo que consegui filmar na encolha, perdão pelo enquadramento cego), enquanto Leo surge gigante no ato final (esse não consegui filmar), atualizando as questões da era getulista para os dias de hoje com direito a fala de Marighella e protagonismo motoboy. Também filmei o encerramento da noite e bastava a presença das bandeiras do MST no Theatro Municipal para sintetizar o que foi aquela noite. E como disse a frase de Mario de Andrade que abre o texto e encerra a ópera: não se iluda. A ópera fica em cartaz até domingo mas os ingressos estão esgotados. Tem que ter mais.
Ana Frango Elétrico @ Casa Natura Musical (5.5.2022)
Ana Frango Elétrico despediu-se ontem de seu Little Electric Chicken Heart na @casanaturamusical com um show inacreditável – casa lotada e todo mundo cantando todas as músicas junto! Só o fato de reunir aquela banda já seria um acontecimento (cadê o disco, Guilherme Lírio? Nem te vi depois Vovô BebÇe!) – como foi um acontecimento assisti-los tocando a íntegra do segundo disco da Ana quase ipsis literis, como se pudéssemos assistir a um Pet Sounds ao vivo – um Pet Sounds retropicalista, diga -, com pitadas do primeiro disco, Mormaço Queima. No bis ela voltou tocando “Debaixo do Pano” da Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, o punk mcdonalds “Picles” e o groove disco do single que compôs com Ava Rocha, a irresistível “Mulher Homem Bicho”. Showzaço! E o disco novo está vindo aí…