Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
“IF YOU’RE A FASCIST, GET A TESLA, IT’S ELECTRIC, IT DOESN’T MATTER”, bradou Neil Young na primeira música de sua apresentação no Light Up the Blues Concert, que aconteceu no sábado passado, no Greek Theater, em Los Angeles, nos EUA. Foi a estreia de “Let’s Roll Again”, uma faixa em que o velho canadense zoa a política externa de seu país vizinho, falando sobre a produção de carros limpos feitos na China e citando as tradicionais fábricas de carros dos EUA como uma forma de mostrar o quanto a lógica capitalista daquele país afundou ainda mais. A apresentação de Young aconteceu num festival que arrecadava fundos para crianças autistas dos EUA e ainda contou com shows de Billy Idol, Cat Power, Rufus Wainwright, entre outros. Young ainda aproveitou para tocar uma música que não tocava ao vivo desde 1989, a gigantesca “Ordinary People”, com quase dezoito minutos, e na última música, “Rockin’ in the Free World”, ainda pode contar com o compadre Stephen Stills, integrante, como Young, do clássico quarteto Crosby Stills Nash & Young, na guitarra.
Lello Bezerra fez bonito na primeira apresentação pública de seu segundo disco solo, que ainda vai ser lançado ainda neste semestre, ao tocá-lo pela primeira vez ao vivo, nesta terça-feira. O novo trabalho – chamado Matéria e Memória, como antecipou em primeira mão – é a primeira incursão do guitarrista pernambucano ao caminho da canção e das letras, ao contar com a inspiração e a parceria de sua companheira Juuar, e foi gravado sozinho e de maneira digital, por isso o desafio era trazer a sonoridade do futuro disco para o palco. Para isso, contou com o auxílio luxuoso de Marcelo Cabral, Julia Toledo e Alana Ananias, que o ajudaram a erguer parte das canções do disco de forma orgânica e fluida, Cabral dividindo-se entre o baixo elétrico e o synthbass, Juliana entre o sintetizador e o piano (e, em uma música, a guitarra) e Alana segurando o ritmo tanto na bateria tradicional quanto nos beats e efeitos eletrônicos. Sobre essa base entrosadíssima entravam a guitarra cheia de efeitos de Lello e sua voz, macia e tranquila, cantando canções nada óbvias que ecoam tanto a psicodelia pernambucana quanto o cancioneiro cearense e misturam essas lembranças estilísticas com um Nordeste pessoal, nada praiano, sertanejo e urbano – “das feiras, da arte figurativa e da escultura”, como frisou entre duas músicas. Noite linda.
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Encerramos a programação de música de abril no Centro da Terra nesta terça-feira com a presença do guitarrista pernambucano Lello Bezerra, que, na noite batizada de Figurafundo, começa a trazer para o palco seu segundo disco solo, previsto para ser lançado no segundo semestre. Ele vem cercado dos bambas Julia Toledo (piano e sintetizador), Marcelo Cabral (contrabaixo e OP-1) e Allana Ananias (bateria e SPDS), que o auxiliam nessa transposição inédita. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda no site do Centro da Terra.
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O Stereolab não está pra brincadeira e soltou mais uma de seu próximo disco, Instant Holograms on Metal Film, o primeiro disco de inéditas em 15 anos, que será lançado no próximo dia 23. E depois da ótima “Aerial Troubles”, que fugia de qualquer expectativa em relação aos próximos passos, eles soltam agora a magnífica “Melodie is a Wound”, que com seus quase oito minutos de groove repetitivo já pode ser considerada um novo clássico da banda anglofrancesa que já tem data marcada para vir ao Brasil.
Paulo Beto encerrou sua temporada no Centro da Terra nesta segunda-feira em grande estilo, depois de reunir a atual formação de seu Anvil FX para três incursões distintas: o próprio show do Anvil, o projeto paralelo Pink Opake e a participação de Fausto Fawcett, ídolo de PB com quem ele tem trabalhado diretamente nos últimos anos. A apresentação começou com o líder da noite convidando Sílvia Tape, Tatiana Meyer, Apolônia Alexandrina, Mari Crestani e Biba Graeff (esta última voltando aos palcos) para assumirem suas posições, revezando-se entre synths, guitarras e baixos para uma catarse que inicialmente pendia mais para o industrial pós-punk, depois caminhou para o synthpop e culminou com a fusão dessa sonoridade eletrônico sobre o suíngue oitentista dos raps de Fausto, que fez a banda entrar em erupção no último ato: “Tu já te eclesiastes?”, encerrou o bardo.
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Se prepare para uma imersão a um dos maiores artistas do século 20. Pude visitar antes da abertura a exposição Andy Warhol: Pop Art!, que abrirá para a visitação pública a partir do próximo dia 1º, e a mostra, com mais de 600 itens do The Andy Warhol Museum, em Pittsburgh, o maior museu dos Estados Unidos dedicado a um só artista, ocupa 2 mil metros quadrados dois espaços expositivos do Museu de Arte Brasileira da FAAP, o Salão Cultural e a Sala Annie Alvares Penteado, e é de cair o queixo, reunindo itens de todas as fases do artista, desde os tempos em que começou a atuar como ilustrador de moda até seu auge nos anos 1960 e 1970, quando, além de referência estética para o resto do planeta ao criar a pop art, também exercitou os limites da arte ao atuar como cineasta, produtor musical, fotógrafo, editor e até mesmo celebridade, tornando-se uma obra de si mesmo. É a maior exposição sobre Warhol já realizada no Brasil e a maior realizada sobre o artista fora de seu país, reunindo suas polaroides, a reprodução de um painel de madeira que fez para a vitrine da loja Bonwit Teller, as recriações de embalagens de sopa e de sabão em pó transformadas em arte, sua gigantesca Última Ceia, ilustrações de celebridades tão diferentes quanto Elvis Presley, Marilyn Monroe, Mao Tsé-Tung, Michael Jackson, Elizabeth Taylor e Pelé, uma recriação de suas nuvens prateadas, seus longos filmes silenciosos (como Empire, Blow Job, Kiss e Chelsea Girls), seus testes de tela, vídeos com ensaios do Velvet Underground, capas de discos, exemplares de sua revista Interview, entre inúmeros outros itens. A exposição fica em cartaz do dia 1º de maio até o dia 30 de junho, o MAB FAAP fica na Rua Alagoas, 903 e os ingressos já estão à venda. Veja mais imagens abaixo:
Ainda impactado pela maravilha que foi o segundo show da turnê Tempo Rei que Gilberto Gil faz para despedir-se dos palcos. Ciente do assombro inicial que tive no primeiro show que vi, o primeiro dessa excursão que fez em São Paulo, pude assistir À passagem da tour pela cidade em sua última vinda com um olho mais clínico, uma vez que não havia mais a surpresa. Mal sabia que seria a noite se tornaria a mais emocionante da turnê quando Gil trouxe, depois de chamar Nando Reis para o palco como primeiro convidado da noite (com o qual dividiu “A Gente Precisa Ver o Luar”), mais uma filha para o palco – e ninguém menos que Preta Gil. A aparição improvável da filha mais conhecida do clã tinha essa característica pois ela atravessa a fase mais grave do câncer que descobriu há dois anos e esteve hospitalizada há pouquíssimo tempo. E embora tenha chegado amparada pela irmã Nara Gil e pela cunhada Mariá Pinkusfeld (“a Nara e a nora”, como brincou depois o próprio Gil mais tarde), ela perdeu a aparente fragilidade ao sentar-se ao lado do pai e cantar uma versão emocionante para “Drão”, música que seu pai compôs ao separar-se de sua mãe, Sandra Gadelha, a quem preta dedicou a canção. Um momento único, central, que conseguiu arrebatar ainda mais a emoção da noite, igualmente intensa à outra que assisti. Como no primeiro show, Gil também atravessou duas horas e meia sem parar no palco, desfilando a mesma sequência de hits com a mesma precisão (e mesmíssimo roteiro) e disposição que nos shows anteriores. E é tão bom vê-lo fazendo isso sem apelar para o peso da idade ou gabar-se da sabedoria e da experiência – Gil prefere fazer do que falar (embora adore falar). Entendo a decisão do mestre de despedir-se dos palcos nessa escala, de shows contínuos apresentados em estádios, ainda mais com a idade passando dos 80, mas duvido muito que ele aposente-se dos palcos definitivamente. É uma desconfiança que parte de sua destreza e familiaridade com o palco e, claro, uma torcida, para que possamos nos reencontrar com Gil muitas outras vezes..
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“O fato de morarmos há bastante tempo em cidades e estados diferentes acabou por nos fazer criar raízes diversas com outros parceiros mais frequentes e próximos” – assim uma das duplas mais importantes (e longevas) da música brasileira anunciou sua separação neste sábado, num post em suas redes sociais. Juntos há 53 anos (se contarmos os quatro anos iniciais em que a dupla era um trio, com a presença do saudoso Zé Rodrix), o carioca Luiz Carlos Pereira de Sá e o baiano Guttemberg Nery Guarabyra se tornaram um dos principais expoentes de um gênero dos anos 70 conhecido como rock rural, que bebia tanto nas tradições sertanejas do país quanto na genealogia do rock tanto brasileiras quanto estrangeiras dos anos 60 e 70, assinando canções que são clássicos do cancioneiro popular brasileiro, como “Dona” (eternizada pelo grupo Roupa Nova), “Espanhola” (consagrada por Flávio Venturini) e “Verdades e Mentiras”, uma das canções que a dupla compôs para a trilha sonora da novela Roque Santeiro (além do tema do protagonista da saga, vivido por José Wilker). Em seu post de despedida, a dupla no entanto reforça que cumprirá os quatro shows já marcados, em São Paulo (dia 31 de maio), São Bernardo do Campo (dia 14 de junho), Belo Horizonte (dia 12 de julho) e Itajaí (dia 25 de setembro). Eu não duvido nada que o anúncio do fim da dupla possa inclusive aumentar seu número de shows nos próximos meses. Tomara: afinal eles merecem uma despedida em grande escala e o público também poderá vê-los antes de partirem para os chamados novos desafios.
Arnaldo Antunes apresentou seu Novo Mundo em São Paulo neste fim de semana, quando esteve na choperia do Sesc Pompeia acompanhado de quase a mesma bandaça que o ajudou a erigir seu novo disco – além de Kiko Dinucci na guitarra, Vitor Araújo nos teclados e synths e Betão Aguiar no baixo, o novo grupo tinha Curumin na bateria (em vez do produtor do álbum, Pupillo) e Chico Salem ao violão e guitarras. Mas talvez por ter visto o primeiro dos três shows do fim de semana, na sexta-feira, tenha pego um momento em que eles ainda estavam tateando o novo show, o que fez a noite aquecer do meio pro fim. Com o foco no repertório do novo álbum (mas sem participações especiais – podiam ter chamado Ana Frango Elétrico ou Vandall para participar de uma das músicas), Arnaldo também passeou por outros momentos de sua carreira, visitando tanto Titãs (“O Pulso” e “Comida”, que apareceu no bis) quanto Tribalistas (quando engatou “Já Sei Namorar” logo no começo e “Passe em Casa” antes de terminar a primeira parte) quanto hits de sua carreira solo, mas o show engrenou bonito quando pinçou uma nova (“Tire Seu Passado da Frente”) e emendou com uma versão para o reggaeinho “Cultura”, que, ao deixar na mão dessa banda, virou uma dubzeira cabulosa e o primeiro grande momento desse grupo cinco estrelas soando como uma unidade em si, em vez de mera cama sonora para as canções de Arnaldo. Autor e banda ainda estão se reconhecendo no palco e é inevitável que aos poucos todos soarão como uma só força, mesmo com os holofotes voltados para o poeta.
#arnaldoantunes #sesscpompeia #trabalhosujo2025shows 069
“Uma das melhores homenagens que tive na minha vida”, confessou emocionado Paulinho da Viola ao receber, no Recife, a presença do boneco carnavalesco gigante de Olinda feito em sua homenagem. O “Paulozão da Viola” foi feito por Guilherme Paz, escultor da Embaixada dos Bonecos Gigantes de Recife e foi uma surpresa para o cantor carioca que o escultor combinou com a esposa do homenageado, Lila Rabello. Paulinho chorou ao ver a célebre homenagem, que aconteceu quando sua turnê Quando o Samba Chama passou pelo teatro Classic Hall, na sexta passada.