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O estado da música em 2010 segundo o NME

O semanário New Musical Express aproveitou mais uma reformulação gráfica para apresentar 10 capas diferentes que sublinham com 10 artistas diferentes a versão deles para o cenário pop atual no mundo. Bem diversificada e até fazendo apostas boas (Biffy Clyro e Magnetic Man), a lista consagra o indie rock como novo mainstream e parece apontar para o fim de uma década de indecisão editorial que o clássico jornalzinho patinou bonito. Não custa lembrar que apesar de lembrado recentemente por apostar em hypes furados e bandas constrangedoras, o NME é o veículo inglês que permitiu que a imprensa musical do país pudesse sair do trivial, apostou no punk logo que os Sex Pistols apareceram, fundou o que chamamos hoje de indie rock em dois momentos cruciais – ao lançar as fitas C81 e C86 -, assumiu ser de esquerda em plenos anos Thatcher, inventou o grunge ao acompanhar a primeira turnê do Nirvana à Inglaterra, e o britpop – entre vários outros méritos. Eis as capas:

Não é um mundo perfeito, mas me parece razoável – e mais próximo da realidade do que bandas com trinta anos de idade que se arrastam em shows pra dezenas de milhares de pessoas. Vi essa notícia na Bean, mas a imagem eu peguei no Move that Jukebox.

De volta ao vinil

Materinha que fiz pro C2 Música, a edição semanal do Caderno 2 do Estadão dedicada ao tema, sobre a visita que fiz há menos de um mês à Polysom, a tão falada única fábrica de vinis da América Latina, que finalmente lançou seus primeiros discos. Ela conversa com o Personal Nerd que fiz pro Link há duas semanas.


Sulcos do acetato, primeira etapa na fabricação do vinil, vistos no microscópio da sala de corte

Fotos: Tasso Marcelo/AE

Fazendo disco: o pó de PVC é posto na extrusora…


…que depois sai pelo cilindro à direita, como uma massa mole…


…as matrizes do disco são postas na prensa, que é calibrada a cada prensagem…


…a massa de vinil é posta entre os dois rótulos do futuro LP e depois posta na prensa…


…que, uma vez fechada, é aberta para revelar o disco idêntico ao que você vai pegar na loja, ainda quente…


…Tcharã!

O que ele está fazendo aí?
Passar um dia na Polysom, única indústria de vinil da América Latina, é como viver nos tempos em que CDs e música digital não eram mais do que ficção

Uma massa mole e preta sai quente de uma máquina chamada extrusora. Moldada numa pequena bola que cabe na palma da mão, ela é disposta sobre um dos rótulos de papel do futuro disco ? o outro é aplicado por cima, formando uma espécie de sanduíche de massa de pó de PVC e papel, que é colocado em uma enorme prensa hidráulica. A máquina faz seu trabalho em poucos segundos: espreme o bolinho engraçado entre duas chapas horizontais que, ao se afastarem uma da outra, revelam um disco de vinil recém-prensado.

Esta operação simples e quase artesanal é a etapa final de um processo que chega ao fim após quase um ano. “A gente achava que em um mês dava para colocar isso para funcionar e já estamos há oito meses, sempre fazendo testes para ficar direito”, explica João Augusto, dono da gravadora Deckdisc e agora proprietário da Polysom, a única fábrica de discos de vinil da América Latina.

A fábrica fica em Belford Roxo, região metropolitana do Rio, e a ida do Aeroporto Santos Dumont ao portão da Polysom dura quase o mesmo tempo que o do voo Rio-São Paulo. Ao volante, Rafael Ramos, filho de João Augusto e diretor artístico da gravadora ? um dos principais entusiastas da reativação da Polysom -, recorda o feito, com o sorriso largo. “Nem parece que até outro dia isso era só uma provocação que eu fazia com o meu pai”, revela enquanto atravessamos a Linha Vermelha saindo do Rio.

É importante entender o papel de Rafael nesse processo, uma vez que ele faz parte de uma geração que viu os vinis nas coleções dos pais, assistiu à ascensão e posterior queda do CD, viveu os primeiros dias da música digital, sem suporte e sem disco, e redescobriu o velho disco preto quase no fim da primeira década do século.


“As pessoas compram pelo fetiche”, diz João Augusto, um dos donos da Polysom

E Rafael está longe de ser o único. Só nos EUA, no ano passado, foram vendidos 2 milhões e meio de vinis, um número a que João Augusto acrescenta um dado interessante: “47% desses compradores sequer tem toca-discos”, enfatiza citando uma pesquisa feita pelo instituto Nielsen Soundscan. “As pessoas compram pelo fetiche.”

As megastores brasileiras não demoraram a perceber isso, tanto que algumas já exibem prateleiras com vinis recém-fabricados – todos importados. “Mas a maioria das lojas não tem nem espaço para receber os discos”, conta João. E ele traduz esse novo interesse pelo vinil ao contar como foi que a cantora Pitty reagiu ao ver seu disco na versão vinil: “Agora, sim, somos uma banda de rock.”

Pitty faz parte da primeira safra de discos saída da gravadora, todos da Deckdisc. Além do relançamento de Chiaroscuro, a primeira leva ainda inclui outros discos da gravadora carioca: o solo da vocalista do Pato Fu Fernanda Takai e os discos mais recentes dos grupos Cachorro Grande e Nação Zumbi. Mas João é enfático ao dizer que a Polysom não é a fábrica da Deckdisc. “É dos sócios da Deckdisc, cobramos da Deck o mesmo que cobramos de qualquer um.”

Ele acredita que a primeira etapa do processo está terminando agora, com a fabricação dos primeiros discos. “Só agora é que as pessoas vão ver que é verdade”, festeja. E não está falando apenas dos consumidores, mas também das gravadoras e dos artistas. “Acredito que os artistas vão motivar muito este movimento”, diz João, contando que alguns deles – Jorge Ben Jor e Lenine – já abraçaram a ideia.

Resta saber como o mercado brasileiro reagirá aos lançamentos. A gravadora EMI é uma das que estão em conversações com a Polysom para o relançamento da discografia do grupo Legião Urbana. Se ainda é cedo para saber se o velho LP volta para valer às lojas, ao menos podemos comemorar que a única fábrica de vinil da América Latina fica no Brasil ? e já está funcionando.

Na linha de produção


Pré-análise do áudio. O operador mede a qualidade do som usando instrumentos específicos e sua experiência técnica, antes do áudio começar a se transformar num vinil.


Cabeça de corte. Esta máquina funciona como um toca-discos. A diferença é que, em vez de reproduzir o som, ela grava os sulcos no acetato.



Galvanoplastia. É a fase química do processo, em que o acetato original é colocado em tanques com nitrato de níquel. As partículas de níquel “grudam” no acetato, formando uma “capa”, que é retirada e funciona como um vinil em negativo.

Prensagem. A capa de níquel é colocada nas prensas, que depois recebem uma massa mole feita a partir de pó de PVC que, prensada, vira um disco.

Woodstock Brasil, é?

Tão falando disso aí agora. Você já tem mais ou menos uma idéia do que esperar? Pois imagine: artistas gigantes que frequentam as paradas da Billboard e tem uma ou outra música tocando em rádios que você só ouve quando pega táxi + artistas que permitem quarentões pais de família que usam camisa pra dentro da calça no trabalho se comportar como adolescentes (usar camiseta preta! gritar em público! ficar bêbado! sair com os amigos ouvindo som alto no carro!) em shows feitos em estádio + aquelas bandas sub-Barão Vermelho (como se o Barão Vermelho por si só já não fosse um grande sub) que em algum lugar entre as orelhas de executivos de gravadora são o mais perto de rock’n’roll que pode ser consumido pelo público-médio brasileiro comprador de discos.

O que boa parte do público de um evento desses tem em comum é só a criação de uma espécie de ideal rock’n’roll na cabeça de gente que nunca gostou de rock ou que tem um CD do Phil Collins no carro pra quando quer parecer mais “descolado”. Justamente – é gente que usa esse tipo de termo, o “prafrentex” dos anos 00. E não é etário – o cara que tem idade pra ter ido ao Woodstock original devia estar reclamando dos hippies em 69 e o cara não tem idade para ter ido ao primeiro festival simplesmente nunca deve ter ouvido as bandas que tocaram lá – e, se ouvir, vai chamar de “porraloca” ou “mutcholoco”, apertando a voz pra ironizar na marra, enquanto entorna mais uma latinha de Bavária. No meio deles, um monte de meninas gritando “êêêêêêêêêêê” – como sempre tem, seja no show do Cordel, numa “festa rave”, na Pachá ou num “é bailão, é rodeio” da vida. E os próprios Wood & Stock do Angeli juntando os poucos trocados pra pagar centenas de dinheiros pra ver bandas que, saberão ao final do evento, desonraram toda uma geração. Se bem que o Wood vai aproveitar pra encoxar umas gatinhas.

Mas se meterem o Rage Against the Machine no elenco, vai rolar a descida ao inferno. Afinal não é todo dia que o Led Zeppelin da sua adolescência toca no seu país. O mais perto disso que podia acontecer era se o Red Hot (não o Chili Peppers, sou da geração que aprendeu o que era overdose de drogas com a morte de Hillel Slovak) viesse fazer um show tocando o BloodSugar de cabo a rabo.

Aliás, por falar nisso…

Updeite: Produtora diz que Woodstock no Brasil é ‘mera especulação’

Ufa.