Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Marlena Shaw (1942-2024)

Apesar de ter uma certa estabilidade em seus primeiros anos de profissão, a diva soul Marlena Shaw, que nos deixou neste sábado, não chegou a desfrutar do sucesso comercial de seus discos na época em que foram lançados, sendo descoberta tardiamente por duas gerações de entusiastas da música negra norte-americana no Reino Unido. Primeiro quando a cena dance nothern soul dos anos 70, precursora da cultura do DJ e das festas intermináveis muito antes da música eletrônica, descobriu seu maior hit, “California Soul”, gravado em 1969. Depois, nos anos 80, a cena rare groove pinçou a excelente “Yu Ma / Go Away Little Boy”, de seu marailhoso álbum Sweet Beginnings, de 1977. As duas músicas – entre outras – foram sampleadas e tocadas por DJs por todo o planeta a tempo da própria Marlena saborear seu sucesso ainda em vida, embora não na época em que elas foram lançadas. Esse flow foi o responsável por trazê-la ao Brasil há dez anos, quando ela dividiu o palco com o Bixiga 70, na edição de 2014 do festival Sesc Jazz.

Os 50 melhores discos de 2023 segundo o júri de música popular da APCA

Estes são os 50 discos mais importantes lançados em 2023 segundo o júri da comissão de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e apresentadora do Mistura Cultural), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell) e Pedro Antunes (Tem um Gato na Minha Vitrola, Popload e Primavera Sound). A amplitude de gêneros, estilos musicais, faixas etárias e localidades destas coleções de canções é uma bela amostra de como a música brasileira conseguiu se reerguer após o período pandêmico com o lançamento de álbuns emblemáticos tanto na carreiras de seus autores quanto no impacto junto ao público. Além dos discos contemporâneos, fizemos menções honrosas para dois álbuns maravilhosos que pertencem a outras décadas, mas que só conseguiram ver a luz do dia neste ano passado, um de João Gilberto e outro dos Tincoãs. Na semana que vem divulgaremos os indicados nas categorias Artista do Ano, Show e Artista Revelação, para, no final de janeiro, finalmente escolhermos os vencedores de cada categoria. Veja os 50 (e dois) discos escolhidos abaixo:  

Missa de rock gaúcho

“Nossa, Bidê ou Balde? Ainda existe? Que flashback!”, foram algumas das reações que ouvi ao comentar que iria discotecar (ao lado do Fabrício Nobre, que trouxe CDs de fábrica pra tocar!) no show de 25 anos da banda que seu vocalista, Carlinhos Carneiro, montou para celebrar a banda nesta quinta-feira, no Cine Joia. Muita gente desconfiada que não ia dar certo, que a Bidê não tem mais público e que ficou no passado ou que a apresentação fosse um mero caça-níqueis – desconfianças que não poderiam estar mais distantes da realidade. O que se viu no show do grupo redivivo foi uma mistura de baile da saudade rock com culto às canções do grupo que é um marco no rock gaúcho – aquele momento em que o indie rock suplantou as referências sessentistas que tomavam conta do gênero desde que Júpiter Maçã puxou a sardinha pra psicodelia, nos anos 90. A Bidê puxou uma geração de artistas do sul que conectou-se ao resto do Brasil naqueles primeiros anos da web, quando as próprias bandas disponibilizavam seus discos online pra que fossem ouvidas pelo mundo, enterrando de vez a era dos fanzines e da fita demo (que ressurgiriam 20 anos depois). A banda em si nem existe mais e a noite desta quinta, como aconteceu no final do ano passado em Porto Alegre, foi um mais momento de celebração de Carlinhos à velha Bidê e seu legado, cantado com força pelo público quarentão que encheu o Joia. Embora não seja um show da Bidê em si (o vocalista montou um grupo para essas apresentações, formado por Guilherme Schwertner, Lucas Juswiak, Pedro Petracco, Maurício Chaise e Fu_k The Zeitgeist), a noite contou com participações históricas de vários ex-integrantes da banda, como Katia Aguiar, Rodrigo Pilla, Rafael Rossato e Guri Assis Brasil. Mas o centro da noite é o carisma esparramado de Carlinhos Carneiro, que se joga em diversos níveis em todas as músicas, até nas menos conhecidas, como é de praxe nas apresentações da banda. Parte do público não se via desde os tempos em que a Bidê existia, por isso o fator congregação subiu a um nível de catarse próximo do religioso, uma missa sobre paixões e acabação rock’n’roll. Noitada!

Assista abaixo:  

Dois Carlos e um Arrigo

Arrigo Barnabé começou 2024 cantando Roberto Carlos e Erasmo Carlos nesta quarta-feira, no Bona, sem precisar recorrer a faixas desconhecidas ou momentos fora da curva da dupla de compositores. Em vez disso, amparado pelo tecladista Paulo Braga e pelo violonista Sérgio Espíndola (ambos fazendo vocais de apoio), preferiu ir no cerne da obra dos dois procurando suas músicas mais conhecidas e relendo-as com sensíveis mudanças de arranjo, vocais guturais, lembranças que aquelas faixas traziam e observações sobre as composições dos dois Carlos – como quando reforçou, quase como um alívio cômico involuntário, a onipresença da palavra “estrada” naquelas canções. E por pouco mais de uma hora, o maestro torto do Lira Paulistana invocou clássicos como “Os Seus Botões”, “Como é Grande o Meu Amor por Você”, “Como Dois e Dois”, “As Curvas da Estrada de Santos”, “Gatinha Manhosa”, “Quero Que Tudo Mais Vá Para o Inferno”, “Sentado À Beira do Caminho”, “Força Estranha”, “Sua Estupidez”, “Detalhes”, “Eu Te Darei o Céu”, “Vem Quente Que Eu Estou Fervendo” e “Se Você Pensa”, além de “Ternura Antiga”, letra de Dolores Duran musicada por Roberto, que foi tocada apenas por Mauro e Sérgio, e “Quando Eu Me Chamar Saudade”, de Nelson Cavaquinho, que Arrigo puxou após provocar Sérgio para tocar alguns sambas de Cartola, que finalmente cantou lindamente “Acontece”. Uma noite improvável e sensível, que o trio encerrou com a trágica “Cachaça Mecânica”, de Erasmo Carlos.

Assista abaixo:  

Vida Fodona #805: Pegando fogo

Vambora que o ano já começou quente!

Ouça abaixo:  

Roxette via Pabllo Vittar

Essa bola já estava quicando a um tempo e foi Pabllo Vittar quem a aproveitou – lançando uma versão grudenta para o hit “Listen to Your Heart”, do Roxette, rebatizado como “Pede Pra Eu Ficar”, que ganha clipe nessa sexta-feira. Ouça a versão abaixo:  

O “adeus” de Kim Gordon

Nossa musa Kim Gordon acaba de anunciar seu segundo disco solo, sucessor de No Home Record, que ela lançou em 2019. O álbum The Collective também foi produzido pelo mesmo Justin Raisen que trabalhou com ela no disco anterior (produtor de artistas pop como Sky Ferreira, Charli XCX e Lil Yachty), e será lançado em março, mas ela antecipa o disco já com o primeiro single, “Bye Bye”, um trap com grunhidos de guitarra e sintetizador, em que a musa da juventude sônica rima com sua voz sussurrada enquanto faz sua mala para sair de casa, numa versão pós-moderna e em primeira pessoa para “She’s Leaving Home” – e com o clipe estrelado por Coco Gordon Moore, sua filha. Dá pra ver a capa do disco, o nome das músicas e o clipe completo abaixo:  

E o No Doubt vai voltar pro Coachella desse ano!

E cês viram que o No Doubt vai voltar? A formação clássica com Gwen Stefani, Tony Kanal, Tom Dumont e Adrian Young acaba de anunciar que estarão no Coachella deste ano… e certamente irão fazer mais shows pelo mundo (veja o vídeo abaixo). O festival californiano acaba de anunciar sua escalação para 2024 e o grupo de skacore dos anos 90 é uma das atrações da edição deste ano, que ainda terá, como headliners, Lana Del Rey, Tyler the Creator e Doja Cat, além de shows de artistas como Justice, Blur, J Balvin, Khruangbin, Lil Yatchy, Jungle, Bleachers, Grimes, Jon Baptiste, Faye Webster, a volta do Sublime com Jakob Nowell, filho do vocalista original, Bradley Nowell e a brasileira Ludmilla, entre outras dezenas de artistas desconhecidos para o grande público. Veja o poster abaixo:  

Centro da Terra 2024!

Janeiro é aquele raro mês do ano em que o palco do Centro da Terra não recebe espetáculos – afinal de contas, é bom tirar férias! Mas voltamos com nossa programação em fevereiro – e com uma novidade: além da minha curadoria de música seguir nas segundas e terças como há anos e a de dança, feita pelo Diogo Granato, seguir firme às quintas e sextas, agora temos uma curadora de cinema que irá tomar conta das quartas-feiras, e a responsável por essa programação é a Chica Mendonça, seja bem-vinda! Mas já na próxima segunda, dia 22, anunciamos os espetáculos de segunda e terça da curadoria de música em fevereiro, porque 2024 já começou quente. E o restaurante do teatro, o ótimo Shakshuka, já voltou às atividades, funcionando de segunda a sexta do meio-dia às 22h30. Vamos lá?

Manu Chao em São Paulo!

Em fevereiro Manu Chao vem mais uma vez para São Paulo fazer shows e como os ingressos para as duas datas anunciadas anteriormente (dias 1° e 3) evaporaram logo que foram anunciados, o Cine Joia anunciou mais uma data com o camarada clandestino, que agora também toca no dia 6 de fevereiro – e os ingressos começam a ser vendidos nesta terça-feira, a partir das 11h, neste link. Não dê mole!