Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Encerramos nesta terça-feira a programação de música de agosto no Centro da Terra quando recebemos uma apresentação formal de um projeto que vem sendo burilado por três cantores e musicistas a partir das composições próprias e alheias. O espetáculo Espaço Semelhante reúne Gabriel Milliet, Lucca Francisco e Stephanie Borgani visitando, de forma meditativa, lúdica e com aberturas para o improviso, canções em forma de transe, acompanhadas de poucos instrumentos, como guitarra, violão, flauta, piano e sintetizador, em arranjos minimalistas. O espetáculo começa sempre às 20h e os ingressos já estão à venda no site do Centro da Terra.
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O Spoon nem bem terminou de gravar o sucessor de seu ótimo Lucifer on the Sofa, de 2022, e já liberou dois singles (as ótimas “Chateau Blues”, um blues elétrico naquela veia característica do grupo, e uma balada de andamento kraut, “Guess I’m Falling in Love”), bem diferentes entre si, mas com marcas indefectíveis de sua sonoridade. Não há nenhuma outra novidade sobre o próximo disco – nem título, previsão de data, nada – e o grupo usou esse lançamento também para anunciar a turnê que começam nesta semana pelos EUA, dividindo noites com os Pixies. Nada mal…

Rita Oliva encerrou com chave de ouro a temporada Em Brisas bolada com seu nome artístico Papisa, em que recebeu diferentes convidados a cada segunda-feira deste mês. E o convidado da noite se materializou a partir de sua coragem, como ela comentou no meio da apresentação, ao chamar o titã Paulo Miklos para dividir o palco do Centro da Terra com ela, que ela não conhecia pessoalmente, abordado através de mensagens no Instagram. A cara de pau deu certo e os dois não só fizeram uma linda apresentação a dois – visitando o repertório um do outro sempre em dupla -, como passearam por canções alheias (passando por músicas de Tim Bernardes, Evinha, Sabotage e, claro, Titãs) e mostraram até músicas que compuseram juntos especialmente para esta ocasião. Trocando de instrumentos, passaram do baixo para a guitarra para o violão para o bandolim para o piano e para a flauta, além de contar com a participação do pernambucano Arquétipo Rafa, que havia tocado com Rita na semana passada, e voltou ao palco do teatro para encerrar a noite. Foi demais.
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Uma noite mágica. Assim foi a apresentação que Francisca Barreto fez no Sesc Belenzinho neste domingo, quando conseguiu afiar ainda mais o espetáculo que organizou no final do ano passado e vem lapidando desde então. Com uma banda enorme entregue à sua sensibilidade, ela conseguiu sintetizar os sentimentos que queria passar para o público ao mesmo tempo em que mostrou que está pronta para assumir uma nova fase, em que deixa de ser apenas instrumentista e intérprete para assumir-se como compositora, vocalista e autora. O ponto-chave da noite passado aconteceu em sua composição “Bico da Proa” (que batizou seu primeiro espetáculo, no ano passado), quando o crescendo da canção a fez ergue-se da cadeira sem estar tocando nenhum instrumento, deixando corpo e voz tomarem conta do teatro, linha que seguiu em sua já clássica versão para “Teardrop”, do grupo Massive Attack. Contando com uma banda tão firme quanto próxima dela mesma (a baterista Bianca Godoi, o baixista Valentim Frateschi, o guitarrista Vitor Kroner – que produziu seu único single lançado até agora, “Habana” -, o violista Thales Hashi e o trumpetista Menifona, único novato no show), ela sublimou as inseguranças e hesitações das primeiras apresentações e cresceu artística e emocionalmente em frente aos olhos do público. A apresentação ainda contou com a presença de sua irmã de palco Nina Maia – que tornou-se apenas instrumentista ao tocar algumas canções no teclado antes de dividir vocais em seus dois duetos, as complementares “Amargo” e “Gosto Meio Doce” – e do produtor-executivo Yann Dardene, que assumiu o violão em três canções, além da moldura desenhada pelo véu central no palco e pelas luzes da dupla Retrato (Ana Zumpano e Beeau Gomez, cada vez mais autorais em suas luzes e cenografia). Para alguém que há pouco mais de dois anos não se assumia artista (apenas musicista), a apresentação de domingo foi mais do que um salto no escuro – foi o começo de um voo. Voa, Chica!
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Acompanho o trabalho de Francisca Barreto desde quando ela assinava apenas como Chica e dizia apenas ser violoncelista – embora já cantasse -, compondo dupla com Nina Maia, há mais de dois anos, quando fizemos a primeira apresentação delas lá no Centro da Terra. De lá pra cá, ela foi pinçada por ninguém menos que Damien Rice para acompanhar seus shows pelo mundo e passou a pensar na própria carreira solo à medida em que desbravava palcos no litoral Mediterrâneo, na Oceania e na Ásia, compondo suas primeiras canções e organizando um repertório que mistura Milton Nascimento com Heitor Villa-Lobos e Massive Attack. No começo de 2024 me procurou para dizer que queria levantar seu primeiro show solo, que ela fez no Centro da Terra e depois conseguimos repetir duas vezes – uma no Porta e outra no Belas Artes. Nesse mesmo período, fez shows em parcerias com outros artistas (além de sempre estar por perto de Nina, que lançou seu próprio disco solo em 2024) e lançou seu primeiro single, a delicada “Habana”, canção de seu mestre no instrumento, o cubano Yaniel Matos. E ao conseguir seu primeiro show num Sesc, ela me convidou para dirigir a apresentação, o que aceitei com um sorriso no rosto, do tanto que gosto do trabalho dela. A apresentação que coroa essa primeira fase de sua carreira solo acontece neste domingo, dia 24, às 18h, no Sesc Belenzinho. Seguindo a estrutura básica dos shows que fez até aqui (com algumas surpresas e acabamentos finais), a apresentação conta com o mesmo grupo que a acompanha até agora – Victor Kroner (guitarra, que produziu seu primeiro single), Bianca Godoi (bateria), Valentim Frateschi (baixo) e Thales Hashi (viola) – com o acréscimo dos sopros de Melifona e as participações de Nina Maia (cantando e tocando teclado) e Yann Dardenne (violão). O show ainda conta com luz e cenografia da dupla Retrato – Ana Zumpano e Beeau Gomez – e os ingressos já estão à venda. Tá ficando liindo demais…

Se há uma coisa que gosto de fazer é ver a evolução dos artistas, vê-los tomando consciência de experimentos estéticos e políticos ao traduzir suas vontades e aspirações em arte, não importa de qual natureza. E há muito tempo acompanho artistas em início de carreira, gente que, mesmo que não seja propriamente jovem, está começando a entender a natureza da própria linguagem e o impacto que ela tem no público, no inconsciente coletivo e em si mesmo. Quando falamos sobre música há dois palcos já estabelecidos que ajudam a forjar a identidade destes operários do som: um deles, o disco, tem pouco mais de um século de tradição e bem menos que isso como seu formato mais clássico, o álbum; enquanto o outro, o palco, é milenar e segue como principal veículo para a arte de qualquer músico (um terceiro, pós-moderno e recente, o palco online, aos poucos vem se impondo como novo escape para a produção artística). Desde que comecei a trabalhar como curador de apresentações ao vivo, há quase dez anos, percebi a centralidade do show como coração pulsante do organismo artístico, algo que o disco só consegue calcificar, engessar. E entre as centenas de artistas com quem trabalhei neste período, uma das carreiras que mais tenho gostado de ver desabrochar é a da violoncelista Francisca Barreto, que conheci em 2022 quando ainda fazia com a amiga Nina Maia (outra que acompanhei desde o começo e já estabeleceu-se como uma das revelações da música paulistana da década), e que aos poucos foi descobrindo sua própria identidade. No começo do ano passado, ela veio me propor fazer um primeiro show solo no Centro da Terra e desde então tenho a acompanhado na lapidação dessa primeira fase de sua vida artística em diferentes palcos, até que ela me chamou para dirigir sua primeira apresentação num Sesc, que acontece neste domingo, às 18h, no Sesc Belenzinho. E conhecendo-a como já conheço, não foi difícil tecer seu repertório num fio condutor coeso e crescente, sem perder a delicadeza, a intensidade e a carga dramática – e um tanto melancólica – que ela traz para o show. E o fato de ela ter reunido um time de músicos que elevam o nível musical à medida em que aumentam o astral do convívio em grupo (Bianca na bateria, Thales na viola, Valentim nos baixos, Kroner na guitarra, participação de Yann Dardenne e Nina Maia e a estreia dos sopros de Lucas Melifona) não só facilitou bastante meu trabalho como reforça a consciência que Chica tem do que quer fazer artisticamente. Unindo isso ao som tocado por Yann e por Anna Vis e com as luzes e elementos cênicos trabalhados ao lado de Ana Zumpano e Beeau Gomez, tenho certeza que quem for ao teatro do Belenzinho nesse domingo vai sair extasiado e com a certeza de ter visto um momento mágico na carreira de um artista. Ainda há ingressos disponíveis. Vamos lá?

Jaguar pediu a saideira. Um brinde ao mestre!

Dona de um dos discos mais bonitos de 2025, a coreana Michelle Zauner, que assina como Japanese Breakfast, escancarou uma de suas influências ao convidar Beck para participar do show que fez na sexta-feira, no Greek Theatre, em Los Angeles, nos EUA. O convite rendeu duas versões que fizeram juntos, reforçando que o Beck que ela puxou para ao palco foi a persona menos hipster e pós-moderna do artista. Jogando os holofotes em sua fase folk, ela cantou a linda “Golden Age” e o colocou para fazer o segundo vocal de “Men in Bars”, de seu recente For Melancholy Brunettes (and Sad Women), que no disco fica a cargo do ator Jeff “Lebowski” Bridges.

Mais um Inferninho Trabalho Sujo no Redoma com a energia lá no talo. Desta vez foi a vez de receber duas estreias na festa e a primeira delas veio lá no Espírito Santo. O Gastação Infinita surgiu no mesmo interior capixaba que trouxe nomes tão distintos para a música brasileira como Roberto Carlos, Sergio Sampaio, Primitive Painters, My Magical Glowing Lens e Mickey Gang e a fusão de gêneros musicais promovida pelo encontro do baterista e vocalista Matheus Tavares, com o guitarrista e flautista Iago Tartaglia, o baixista Hecthor Murilo, o tecladista Pedro “Puff” e guitarrista Vitor “VT” coloca, no mesmo balaio, jazz, funk, música pop, rock clássico e progressivo, MPB e até tradições de seu estado, como quando puxam um congo em pleno set elétrico. Ainda trabalhando músicas do disco do ano passado, começa a mostrar o repertório que se forma num disco que querem lançar ainda esse ano, chamado Moqueca de Minério, que é uma boa definição da própria sonoridade do grupo, embora não tenha a conotação tóxica que o título originalmente se pretende. Os minérios dessa moqueca musical são consistentes e a banda não poupa energia para mostrar isso. Mas sem nunca perder o humor, inclusive no momento em que arremessam um jacaré inflável no público, ameaçando parar o show se o boneco cair no chão. Sempre no talo, o grupo está prestes a decolar.
Depois foi a vez do trio Nigéria Futebol Clube atropelar o público com um atordoo sonoro que bebe tanto do punk clássico e do hardcore, mas principalmente do pós-punk e do híbrido de punk-funk que une bandas tão distintas quanto Gang of Four, Funkadelic, Red Hot Chili Peppers e Bad Brains num mesmo panteão sonoro. E o que começou como uma sessão de descarrego rítmico logo transformou-se numa gira elétrica em que o baterista e vocalista Raphael “PH” Conceição puxava a pregação de seu púlpito percussivo, enquanto o guitarrista Rodrig Silva ecoava tanto ecos magnéticos de Andy Gill e Glenn Branca quanto sintonizava-se com os delírios mântricos de Albert Ayler e Ornette Coleman (e soltando efeitos sonoros – até sambas antigos – que disparava descalço pelos pedais), acompanhado de perto do baixo de Cauã de Souza ecoa tanto os da nave de George Clinton (Bootsy Collins e Billy Bass) quanto o início da carreira de um de seus discípulos mais devotos, Flea. A performance do trio ainda não foi devidamente capturada em disco – e dá pra entender a dificuldade de quem se atrever -, mas já é um dos melhores segredos da nova cena de São Paulo. Arrasadores.
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Semana que vem tem mais um Inferninho Trabalho Sujo no Redoma e pela primeira vez recebemos uma banda de fora de São Paulo para tocar nesse palco, quando os capixabas do Gastação Infinita fazem sua estreia na festa na sexta-feira dia 22, mostrando o disco que lançaram no ano passado, Odisséia na Ideiaerradolândia. Quem divide a noite com eles é o explosivo trio paulistano Nigéria Futebol Clube, também fazendo sua estreia no Inferninho Trabalho Sujo. A casa fica na Rua 13 de Maio, 825-A, no Bixiga, abre às 21h, e os ingressos já estão à venda neste link. Eu discoteca antes, durante e depois dos shows, desta vez com o auxílio luxuoso da querida Gabriela Cobas. Vamos lá?
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