Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Weezer de volta ao planeta azul

E quem está voltando pro passado é o Weezer, que acaba de anunciar uma turnê pelos Estados Unidos no segundo semestre, quando tocarão a íntegra de seu disco de estreia, o famigerado disco azul batizado apenas com o nome da banda, que completa trinta anos no próximo dia 10 de maio. A turnê Voyage to the Blue Planet começa no dia 4 de setembro e passará por mais de 20 cidades por seu país, com abertura de bandas como Flaming Lips e Dinosaur Jr., e certamente deve ter mais datas anunciadas pela Europa, Ásia e, torçamos, América do Sul (quem tem coragem de trazê-los?). Os ingressos começam a ser vendidos nesta quarta-feira, primeiro para os integrantes do fã clube da banda, e depois para o público geral a partir da sexta-feira, mesmo dia em que o grupo toca em um aperitivo da turnê ao passar o disco na íntegra no Lodge Room de Los Angeles, quando terá abertura da banda Dogstar (também conhecida como a banda do Keanu Reeves), num show que já está esgotado. E em entrevista ao site Audacy, o líder da banda, Rivers Cuomo, contou que uma caixa com material da época está começando a ser pensada: “Coisas bem do começo da banda”, contou o vocalista, mencionando gravações de shows da época e que ainda não há data para este lançamento, mas que deve coincidir com a nova turnê.

Cowboy Carter: o segundo ato de Beyoncé

Cowboy Carter é o nome do segundo ato da trilogia Renaissance, segundo a própria Beyoncé anunciou nesta terça-feira em um simples stories em sua conta no Instagram. O novo capítulo da saga é dedicado à country music e um dos singles lançados anteriormente, “Texas Hold’Em” (lançado no mesmo dia que “16 Carriages”), já entrou para a história ao colocá-la no topo da parada de singles country dos EUA, algo que nenhuma mulher negra havia feito. O disco está agendado para o dia 29 de março e já está em pré-venda. Ao anunciar o novo ato, ela mostrou uma imagem de uma sela de cavalo com decorada com uma faixa com o título do álbum, mas não sabemos se esta será a capa de fato, uma vez que em seu site o disco surge apenas com a cor preta, seu nome e o título do novo trabalho. E ainda há especulações que ela talvez tenha gravado (ou usado um sample) de “Jolene”, clássico da musa country Dolly Parton. Segura!

Eric Carmen (1949-2024)

Quem nos deixa agora foi Eric Carmen, um dos heróis do power pop à frente de sua banda os Raspberries, que, entre 1970 e 1975, forjou pérolas como “Go All The Way”, “I Wanna Be With You”, “Tonight”, “On The Beach”, “Don’t Want To Say Goodbye”, “Overnight Sensation (Hit Record)”, “I Don’t Know What I Want” e “Let’s Pretend”. Sua carreira solo foi deixando esse frescor de lado com os anos, aproximando-o daquele tenebroso terreno em que o soft rock se encontra com o hard rock, gerando as famigeradas power ballads, não sem antes emplacar dois hits imortais nessa seara, ambos inspirados em obras do compositor russo Sergei Rachmaninoff: a inesquecível “All By Myself” e “Never Gonna Fall in Love Again”. Ainda emplacou “Hungry Eyes” na trilha sonora de Dirty Dancing, gravando mais espaçadamente a partir dos anos 80, além de tocar na banda de Ringo Starr. Sua morte aconteceu no fim de semana e a sua esposa Amy Carmen acaba de anunciá-la no site oficial de Carmen.

Preces delicadas

Linda linda a segunda apresentação que Luiza Brina fez de sua temporada Aprendendo a Rezar no Centro da Terra. Dessa vez acompanhada apenas de seu violão e da MPC conduzida pelo produtor de seu próximo disco, Charles Tixier, ela descortinou canções inéditas emendando uma na outra, borrando o final de uma com o começo da outra apenas com seu belo violão, que casa perfeitamente com sua voz tocante. Tixier, por sua vez, em vez de simplesmente disparar samples e trechos da orquestra que os dois reuniram para acompanhar a cantora mineira em seu álbum vindouro, optou por uma versão minimalista, tocando percussões sintéticas que apenas ajudavam a criar uma calma macia o suficiente para Brina deixar suas canções deslizar.

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Assista abaixo:  

Karl Wallinger (1957-2024)

Mais um que se vai cedo: Karl Wallinger, tecladista do grupo irlandês Waterboys e ele mesmo dono do grupo de um homem só World Party, despediu-se deste plano no domingo. De origem galesa, ele foi um dos primeiros diretores musicais da versão em palco da peça de glamour decadente Rocky Horror Picture Show antes que ela virasse um filme. Entrou para os Waterboys em 1983, depois da formação da banda, mas é um dos autores de seu maior hit, a irresistível “The Whole of the Moon”. Montou seu projeto paralelo World Party em 1986 e com ele emplacou mais um hit, a ótima “Ship of Fools”, e seguiu com o grupo mesmo após o fim dos Waterboys, no início dos anos 80. Colaborou com o primeiro disco de Sinéad O’Connor, que por sua vez participou dos dois primeiros discos de sua banda, e fez a trilha sonora do clássico indie Caindo na Real, que revelou uma nova geração de atores norte-americanos, como Winona Ryder, Ethan Hawke, Janeane Garofalo, Steve Zahn, Ben Stiller, Renée Zellweger e Andy Dick. Também envolveu-se com a produção do filme Patricinhas de Beverly Hills, também cuidando da trilha sonora. Sofreu um derrame em 2001, o que fez com que o World Party não lançasse mais discos, embora continuasse fazendo shows. A causa de sua morte não foi revelada.

Zona de Interesse é sobre aqui e agora

O Oscar é um jogo de cartas marcadas, a voz da indústria e é bem provável que seus filmes e cineastas favoritos nunca foram agraciados com a estatueta, mas a premiação tem seus momentos, como este discurso do inglês Jonathan Glazer, autor do excelente Zona de Interesse, que ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro. Pra mim é o melhor filme da temporada e não apenas por mostrar a Segunda Guerra Mundial de um ponto de vista apenas sonoramente explícito ou por sua visão de vídeo-arte para um assunto tão delicado, mas mais especificamente por usar o Holocausto para metáfora para outros tempos, inclusive agora. E isso não diz respeito apenas ao genocídio em Gaza ou à ascensão do neonazismo, como o diretor fez questão de frisar em seu discurso, mas sobre todos nós que vivemos no conforto de nossos lares, vizinhos de torturas, tragédias, massacres e todo tipo de violência, fingindo que não perguntamos se aquele escapamento que estourou na rua não pode ser um tiro – esteja você em qualquer lugar do planeta. Se há um filme para ser visto atualmente, este é Zona de Interesse.

Assista abaixo:  

Luisão Pereira (1968-2024)

Triste a notícia da passagem prematura de Luisão Pereira, um dos principais nomes do novo pop independente baiano neste século 21. Nascido em Juazeiro, logo mudou-se para Salvador quando, depois tocar em outras bandas, passou a integrar o grupo Penélope, liderado por Érika Martins. Depois, ao lado da violoncelista Fernanda Monteiro, montou a dupla Dois em Um e sempre esteve ligado às movimentações da cena soteropolitana, atuando inclusive na produção de discos de artistas locais e de grandes nomes da música brasileira, como Los Hermanos, Nação Zumbi, Elza Soares, Paralamas do Sucesso e Tom Zé, entre outros. Lutando contra um câncer desde 2017, lançou seu primeiro disco solo no ano passado, cantando justamente sobre o impacto da doença em sua vida. Fogo no Mar teve a participação de Mãeana, Marcelo Jeneci e Zé Manoel e foi sua última obra, antes de nos deixar no início deste domingo. Pra sempre fico com a lembrança de discussões sobre os rumos do mercado da música no Brasil, além de antecipar novidades e tendências de seu estado. Uma alma aberta. Vai em paz, compadre.

Meus votos de melhores de 2023 no Scream & Yell

Demorou, mas foi. Finalmente Marcelo Costa publica sua tão aguardada lista de melhores do ano reunindo, desta vez, 128 convidados que elegeram os melhores discos, filmes, séries, canções, livros, podcasts e shows de 2023. A minha lista (sem livros – porque só tô lendo livro velho – e sem podcasts – porque não consigo escutar) segue abaixo:  

Madonna e Kylie Minogue juntas pela primeira vez

As divas Kylie Minogue e Madonna dividiram o palco pela primeira vez quando a primeira participou do show que a segunda fez em Miami nesta quinta-feira. Além de cantar juntas o refrão de “Can’t Get You Outta My Head”, as duas ainda uniram vozes para cantar o hino de Gloria Gaynor “I Will Survive”. Bonito.

Assista abaixo:  

7 Estrelas transcendental

Foi como se fosse outro show. Luiza Lian apresentou seu 7 Estrelas | Quem Arrancou o Céu? nessa sexta-feira no Sesc Pinheiros e hipnotizou o público com uma versão formal da apresentação que fez no Sesc Pompeia, quando lançou o disco no ano passado na casa com duas plateias desenhada por Lina Bo Bardi. No palco italiano do Sesc Pinheiros, sua produção deixou o espetáculo mais enxuto e direto, aumentando ainda mais a profundidade da noite, que também teve mudanças consideráveis de roteiro e no arranjo das canções – como a maravilhosa versão ambient para a excelente “Viajante” ou deixar “Homenagem” para a segunda metade da noite. Além do disco do ano passado, Luiza ainda mostrou músicas dos discos Oyá Tempo e Azul Moderno com novas roupagens, sempre acompanhada de seu produtor Charles Tixier, encapuçado em seu set que misturava bateria e apetrechos eletrônicos. Toda a produção é minimalista: além de Luiza e Charlie, só o “minicorpo de baile” (como a própria vocalista as apresentou) formado pelas dançarinas Bruna Maria e Ana Noronha tomava conta do palco, agigantado pelas luzes de Amanda Amaral, o laser de Diogo Terra, as projeções de Bianca Turner e, claro, a voz e o carisma da estrela da noite, visivelmente emocionada. Foi mágico.

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Assista abaixo: