Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Kamau: T.E.R. (Tempo em Registro)

Satisfação receber mais uma vez o mestre Kamau no palco do Centro da Terra, mais uma vez experimentando entre atos de sua carreira e transformando nosso palco em seu laboratório particular. Desta vez ele traz a apresentação T.E.R. (Tempo em Registro), em que mistura clássicos e novidades acompanhado pelos compadres DJ Erick Jay e o rapper e cantor DCazz. O espetáculo começa pontualmente às 20h e ainda há ingressos à venda no site e na bilheteria do Centro da Terra.

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E se o Tom Zé tocasse com o Tortoise 25 anos depois?

Já garantiu seu ingresso pro show de 25 anos do TNT que o Tortoise irá fazer nesta quinta-feira no Cine Joia? Se não, deu mole: os ingressos estão esgotados! Resta saber se o grupo de Chicago convidará para a apresentação o velho mestre com quem dividiu palcos há um quarto de século, quando apresentou-se, primeiro nos EUA e depois no Brasil ao lado de Tom Zé. O velho tropicalista vivia o ápice de sua popularidade após ser redescoberto por David Byrne no início dos anos 90 quando foi apresentado ao Tortoise por um amigo do grupo, o professor Christopher Dunn, da Universidade de Louisiana, nos EUA, que na época escrevia um livro sobre música brasileira. Levou o baiano, que na época estava lançando o disco Com Defeito de Fabricação, para os EUA e uma das apresentações está na íntegra no canal do YouTube do próprio Dunn (assista abaixo). Depois da passagem pelos EUA, o grupo de Chicago veio para a América Latina e além de shows por Buenos Aires e Santiago, também passou por Belo Horizonte e São Paulo, quando dividiu o palco com Tom Zé. Pude assistir às duas apresentações realizadas em dezembro de 1999 no teatro do Sesc Pompéia e foram momentos únicos para quem gosta de música, independente de rótulos, uma vez que o grupo de jazz rock experimental norte-americano entrosou-se bem com o mestre de Irará, que tocou um esmeril usando capacete e óculos de seguraça enquanto as faíscas espalhavam-se pelo palco. Bem que o Tom Zé podia subir no palco do Cine Joia por apenas uma música, celebrando aquele primeiro encontro.

Assista à íntegra do show em Chicago abaixo:  

Entre a catarse e a espreita

O trompetista Romulo Alexis começou sua temporada Cosmofonias nesta segunda-feira no Centro da Terra invocando a performance Fenda, que fez à frente de seu Rádio Diáspora, duo que mantém ao lado do baterista Wagner Ramos, fez ao lado das bailarinas Belle Delmondes e Ester Lopes. Enquanto a dupla instrumental explorava as fronteiras do free jazz, as duas performers se entregavam de voz e corpo à liberdade expandida musicalmente, colocando movimentos, gestos, cantos e gritos ao dispor da apresentação, que por vezes explodia em catarse, noutras recolhia-se à espreita, buscando direções e encontrando outras entre estes dois extremos.

Assista abaixo:  

Romulo Alexis: Cosmofonias

Imensa satisfação em receber o trompetista e arquiteto sonoro Romulo Alexis como o dono das segundas-feiras de maio no Centro da Terra, quando ele apresenta a temporada Cosmofonias, dedicada ao improviso coletivo a partir de quatro recortes diferentes. A temporada começa nesta segunda-feira 6, quando Romulo recebe, como Rádio Diáspora, ao lado de seu chapa Wagner Ramos, as performers Ester Lopes e Belle Delmondes numa noite chamada Fenda, em que trabalham música e corpo investigando as fronteiras do legado afrodiaspórico. Na outra terça, dia 13, ele chama a Nigra Experimenta Arkestra ao reunir To Bernado (trombone), Gui Braz (cordas e flauta), Salloma (kalimba, voz e flauta), Karine Viana (vilolino e voz), Laura Santos (clarinete e voz), Manoel Trindade e Lerito Rocha (percussões), Lua Bernardo (contrabaixo acústico, voz e flauta), Du Kiddy (guitarra), Henrique Kehde (bateria), Stefani Souza (saxofone), além do próprio Romulo. Depois, ele reúne-se à produtora Leviatã (Amanda Obara, Iago Mati e Natasha Xavier) para convidar o artista sonoro Edbras Brasil, a vocalista Inès Terra, a cellista (que também toca didjiridou) Thayná Oliveira, o percussionista Sarine e o flautista Douglas Leal. E na última segunda-feira, dia 27, ele cria, mais uma vez ao lado de Wagner Ramos, o Rádio Diáspora Ensemble Cachaça 2024, quando reúne-se ao trombonista Allan Abbadia, à contrabaixista Clara Bastos, à vocalista e percussionista Paola Ribeiro e ao sax de Steafani Souza para uma noite de criação coletiva espontânea. As apresentações começam sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados no site e na bilheteria do Centro da Terra.

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A Enorme na Europa

E essa turnê europeia que a Sophia Chablau e Uma Enrome Perda de Tempo anunciou nesta segunda-feira? São doze apresentações em cinco países (França, Portugal, Espanha, Holanda e Alemanha) entre os meses de junho e julho. Nada mal, hein? Ah moleque!

Vida Fodona #809: Maio tá chegando com tudo

Aproveitando o flow.

Ouça abaixo:  

“A coisa mais polêmica que já fiz foi permanecer”: A íntegra do discurso de Madonna na Billboard em 2016

Não fui ao histórico show que Madonna fez no Rio de Janeiro neste fim de semana, mas é inevitável reconhecer sua grandeza – e nem só da apresentação, mas da própria artista. Ela é um ícone intransponível na história da cultura popular contemporânea e o extenso musical sobre sua própria vida e carreira que apresentou para mais de um milhão e meio de pessoas na praia de Copacabana (e outros tantos milhões que puderam assistir à distância) é só mais um capítulo numa saga singular que ressuscitou um colossal discurso que ela deu em 2016 ao aceitar o prêmio de Mulher do Ano concedido pela revista Billboard. Trechos desta fala, entre elas a forte frase que dá título a esse post, voltaram a aparecer online, mas reforço a importância da íntegra de sua apresentação, que fala sobre a dificuldade de ser artista mulher – ou apenas de ser mulher – atualmente. Assista abaixo, publiquei a tradução logo em seguida:  

O Megalópolis de Francis Ford Coppola está vindo aí

Projeto pessoal que o diretor Francis Ford Coppola acalenta desde que terminou Apocalypse Now, no fim dos anos 70, Megalópolis, sua primeira incursão à ficção científica, finalmente teve suas primeiras imagens reveladas, antecipando a tensão relacionada à sua primeira exibição, que acontecerá no próximo dia 17, no festival de Cannes. O projeto é inspirado em épicos futuristas como Metrópolis (de Fritz Lang, de 1987) e Daqui a Cem Anos (de William Cameron Menzies, de 1936) e tenta imaginar o futuro do império estadunidense a partir da evolução urbana de sua principal cidade, Nova York. O filme começou a ser feito algumas vezes, mas foi interrompído por motivos diversos, como a produção do terceiro volume da saga O Poderoso Chefão, a versão do cineasta para o Drácula de Bram Stoker, o atentado ao World Trade Center no 11 de setembro de 2001 e por falta de dinheiro. O projeto foi retomado pouco antes da pandemia e está sendo bancado inteiramente por Coppola, que tirou boa parte do dinheiro da sua vinícula para bancar os 120 milhões de dólares do filme. No trailer, conta-se pouco: vemos apenas o protagonista do filme (Cesar Catilina, vivido por Adam Driver) desafiar a gravidade ao conseguir parar o tempo, colocando o filme no delicado terreno que fez até Christopher Nolan patinar bonito (no grandioso e frustrante Tenet). Além de Driver, o elenco ainda conta com Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Jason Schwartzman, Laurence Fishburne, e Dustin Hoffman, entre outros. Torço para que, diferente da maioria dos projetos megalomaníacos de Coppola desde Apocalypse, consiga superar sua expectativa, mas sempre fico com uma pulga atrás da orelha de qualquer novo filme do clássico diretor…

Assista abaixo:  

Sensibilidade à flor da pele

Duas produtoras líderes de bandas que estão começando experimentaram pela primeira vez o palco do Picles neste fim de semana, quando Tiny Bear e Grisa apresentaram seus trabalhos no Inferninho Trabalho Sujo. Com muita emoção à flor da pele, as bandas passeiam por camadas sonoras tensas e hipnóticas para cantar músicas com sensibilidade à flor da pele. Liderado por Bia Brasil, o grupo Tiny Bear derramou seu drama posicionando-se em algum lugar entre as baladas de anime, o trip hop e o indie rock e mesmo com um integrante a menos não fez feio, com sua cabeça e vocalista entregando-se às canções.

O clima já estava quente e quando chegou a vez da Grisa de Giovana Ribeiro Santos, de Juiz de Fora, a temperatura manteve-se firme, abrindo outras possibilidades dramáticas. Calcadas num soul pesado, no rock psicodélico e no shoegaze, o grupo fez seu primeiro show em São Paulo, mostrando músicas já lançadas e algumas de seu primeiro álbum, Geografia de Lugar Nenhum, prometido ainda para esse ano. Entre a guitarra e o theremin, Giovana mostrou a que veio – e deixou tudo no jeito pra que eu e a Bamboloki, que discotecou comigo dessa vez, levássemos a pista do Picles para um universo de rock, dance music e esquisitices desenfreada. Discotecar na sexta-feira é outro nível, né…

Assista abaixo:  

Um belo reencontro

Fim de semana começou com o reencontro da banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo com seu farol artístico, Ana Frango Elétrico, que originalmente aconteceria no início de março mas que, por questões pessoais (Theo Ceccato, o baterista, havia quebrado o pé!), só aconteceu dois meses depois, no mesmo Sesc Bom Retiro em que o primeiro show aconteceria. Era também o primeiro show da Enorme em uma unidade do Sesc após o lançamento de seu segundo álbum e acontecer no Bom Retiro ainda lhes garantiu um ótimo som para mostrar seu Música de Esquecimento na primeira parte do show – que ainda teve o próprio baterista vindo para frente cantar sua ótima balada “O Último Sexo” quase às lágrimas. Mas depois que Ana subiu ao palco, a banda voltou no tempo e Sophia puxou o flashback pra julho de 2019, quando eu havia juntado aquelas duas jovens forças no palco do Centro Cultural São Paulo, fazendo-os voltar ao primeiro disco de Ana, Mormaço Queima, que a vocalista não mediu elogios ao comparar com a lenda urbana do primeiro disco do Velvet Underground, que não vendeu muito, mas todo mundo que o comprou montou uma banda. E assim voltaram ao passado para tocar juntos músicas de seus primeiros discos como “Debaixo do Pano”, “Picles”, “Loteria” e “Delícia Luxúria”, mas também puxaram duas de seus discos recentes, como “Segredo” e “Quem Vai Apagar A Luz?”, em que Ana assumiu a voz do coautor da música, Negro Leo, e o momento mais bonito da noite, a versão que fizeram juntos para “Insista em Mim”. “Não vai embora nunca”, disse Sophia, antes de emendar, quase chorando que, “você é meu melhor amigo, cara”. Foi demais.

Assista abaixo: