Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Começando bem

Bem bonita a apresentação que Paulo Ohana fez nesta terça-feira no Centro da Terra, antecipando o disco Língua na Orelha, que será lançado no fim deste mês ao tocar pela primeira vez com a banda com a qual gravou o disco: Bianca Godoi (bateria), Ivan “Boi” Gomes (baixo) e Ivan Santarém (guitarra), infelizmente desfalcada do saxofonista e flautista Fernando Sagawa, que não pode comparecer. Além de músicas do seu disco anterior – O Que Aprendi com os Homens -, ele mostrou a íntegra do disco ainda inédito e contou com a participação do cantor e compósitor Gabriel Milliet, que participou da apresentação pilotando um sintetizador e, primeiro só os dois e depois com a banda, passaram por “Grande Hotel São João”, do próprio Milliet, e pela bela “Ojos de Video Tape”, do excelente Clics Modernos do argentino Charly Garcia.

Assista aqui:  

Paulo Ohana: O Que Aprendi com a Língua dos Homens na Minha Orelha

Quem apresenta-se nesta terça-feira no Centro da Terra é o brasiliense Paulo Ohana, que faz a transição entre seu disco mais recente – O Que Aprendi Com os Homens, de 2021 – e seu próximo álbum – chamado Língua na Orelha. Entre os dois discos, a força da palavra como linha condutora de suas composições e do espetáculo, chamado didaticamente de O Que Aprendi com a Língua dos Homens na Minha Orelha. Ohana, que toca violão e guitarra e cuja sonoridade equilibra-se entre o indie rock, o folk e o jazz, vem acompanhado de uma senhora banda formada por Bianca Godoi (bateria), Fernando Sagawa (saxofone e flauta), Ivan “Boi” Gomes (baixo) e Ivan Santarém (guitarra) e a apresentação ainda conta com a parrticipação do cantor e compositor Gabriel Milliet. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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Anouk Aimée (1932-2024)

Uma das grandes musas do cinema moderno, Anouk Aimée nos deixou nesta terça-feira, anunciou a própria filha da atriz, Manuela Papatakis, em um post no Instagram: “Com minha filha Galaad e minha neta Mila, temos a enorme tristeza de anunciar a partida de minha mãe Anouk Aimée. Estava ao lado dela quando ela faleceu esta manhã em sua casa, em Paris.” Nascida Francoise Dreyfus e filha de atores, ela troucou seu nome artístico em referência à primeira personagem de sucesso que interpretou (aos 14 anos, no filme La Maison sous la Mer, de Henri Calef) e depois trocou o sobrenome por “Aimée” (“amada”, em francês) após o poeta e roteirista Jacques Prévert sugerir a mudança, quando escreveu o papel da protagonista do filme Les Amants de Vérone especialmente para ela. Foi musa de alguns dos principais diretores dos anos 60 e sua presença em filmes como Le Rideau Cramoisi (de Alexandre Astruc), La Dolce Vita e 8½ (de Fellini), Lola (de Jacques Demy) e, obviamente, Un Homme et une Femme (de Claude Lelouch) determina o rumo destas obras. Com Lelouch visitou a personagem que lhe consagrou, Anne Gauthier, outras duas vezes, em Un homme et une Femme: Vingt ans Déjà (1986) e Les Plus Belles Années d’une Vie (2019). Trabalhou ainda com Bernardo Bertolucci (La Tragedia di un uomo Ridicolo, 1981) e Robert Altman (Prêt à Porter, 1994) e foi definida por Fellini como “o tipo de mulher que faz você morrer de preocupação”, após comparar sua beleza com a de Greta Garbo, Marlene Dietrich or Cindy Crawford: “estas grandes rainhas misterioras, sacerdotisas da feminilidade”. Au revoir, chérie!

Apocalipse magnético-eletrônico

Na terceira aparição no Centro da Terra dentro de sua temporada Curadoria do Medo, a dupla Test incorporou ainda mais um elemento que só foi resvalado na segunda noite. Se na primeira segunda-feira do mês, João e Barata tocaram sem interferência musical externa, deixando as intervenções pra área visual com a videoartista Carol Costa, na segunda começaram a trabalhar com manipulação dos próprios ruídos que faziam no palco, quando chamaram Douglas Leal, do Deaf Kids, para manipular as gravações que vinha fazendo durante a apresentação. Nesta semana, o processo foi ainda mais intenso quando a dupla chamou o maestro noise Leandro Conejo para reger o ruído eletrônico e magnético produzido pelo trio formado por Rayra Pereira, Miazzo e André Damião, este último tocando um instrumento que ele construiu a partir de uma TV portátil dos anos 80, que tornava o noise extremo da dupla dona da temporada ainda mais limítrofe. Um acontecimento.

Assista abaixo:  

Vida Fodona #814: Françoise Hardy (1944-2024)

A voz da França se calou.

Ouça abaixo:  

As 40 melhores músicas do R.E.M., por eles mesmos

“Escrever canções e ter um catálogo de discos dos quais todos nós nos orgulhamos, que está aí para todo o mundo pelo resto do tempo, é sem dúvida o aspecto mais importante do que fizemos como uma banda. Em segundo lugar, conseguimos fazer isso durante todas essas décadas e continuar amigos. E não apenas amigos, mas queridos amigos. Amigos pra sempre”, disse Michael Stipe ao aceitar a entrada do R.E.M. ao Songwriters Hall of Fame, cuja cerimônia, que aconteceu nesta quinta-feira, viu o grupo voltar a tocar juntos depois de anos longe dos palcos. “Somos quatro pessoas que desde muito cedo decidiram que seriam donos das nossas próprias fitas masters e dividiríamos igualmente nossos royalties e créditos de composição”, continuou o vocalista. “Éramos todos por um e um por todos. E então começamos a fazer nosso trabalho desta forma. Funcionou bem, às vezes ótimo, e que viagem que foi. Realmente significa muito para nós que você nos reconheçam esta noite e por isso agradecemos por essa honra incrível.” O grupo aproveitou o barulho para ressuscitar uma playlist em que cada um de seus integrantes escolhe suas dez músicas favoritas, fazendo o próprio Top 40 da banda. E aproveitando a cerimônia, o programa CBS Mornings disponibilzou os 40 minutos da entrevista com o grupo no canal do YouTube da emissora norte-americana. Veja o discurso, a entrevista e a relação das músicas da playlist – e quem escolheu o que abaixo:  

A nova geração está chegando!

Tô falando disso há um tempo: há uma nova geração de músicos e bandas vindo aí que está vindo com mais força e criatividade do que podemos esperar. E nesta sexta-feira, reuni dois exemplares desta nova safra, quando o palco do Inferninho Trabalho Sujo recebeu as bandas Skipp is Dead e Tangolo Mangos. Liderado e concebido pelo amapaense Alejandro de Los Muertos – o próprio Skipp, que também faz os flyers do Picles, entre outras mil atividades -, o Skip is Dead mistura indie rock do início deste século com trilha sonora de videogame e guitarradas do norte do país e rotulando-se como space pirate synth rock e ainda conta com o baterista Marco Trintinalha, o guitarrista Colinz, o tecladista Leon Sanchez (sintetizadores) e o baixista Vinicius Scarpa. Mas o show foi além dos músicos no palco e com uma direção de arte afiadíssima, ainda mais para os padrões do Picles, elevou a apresentação para o nível de espetáculo, com uma instalação que incluía dois telões, figurino e maquiagem num show multimídia que ainda contou com a participação da Yma em uma das canções.

Depois deles foi a vez do grupo baiano Tangolo Mangos mostrar seu disco de estreia Garatujas pela primeira vez em São Paulo e o público era formado por um verdadeiro quem é quem de nomes dessa mesma novíssima geração, entre cantoras, instrumentistas e agentes culturais que estão se conhecendo e reconhecendo como uma mesma turma à medida em que fazem seus trabalhos. Liderados pelo carismático guitarrista Felipe Vaqueiro, o Tangolo era nitidamente uma inspiração para essa parte do público que também é artista e idolatrado pelo pequeno mas firme fã-clube que ergueram em São Paulo, que não só sabia as letras do grupo de cor como estavam prontos para sair quebrando tudo ao menor sinal da banda. Esta, além de Vaqueiro, ainda conta com o baterista João Antônio Dourado, o baixista João Denovaro e o percussionista Bruno “Neca” Fechine, exímios músicos versados tanto em rock clássico, MPB, indie rock e música baiana e a fusão destes gêneros musicais aparentemente contraditórios encaixava-se como um quebra-cabeças a cada nova canção que o grupo mostrava. Com o paulista Caio Colasante fazendo a segunda guitarra como convidado, a banda ainda contou com participações especiais durante a noite, como o pernambucano Vinícius Marçal (da banda Hóspedes da Rua Rosa), o conterrâneo Matheus Gremory (mais connhecido como Devil Gremory, cujo trabalho musical mistura trap e heavy metal) e a mineira Júlia Guedes, neta de Beto Guedes, que também está preparando seu primeiro trabalho solo e tocou teclado com o grupo reverenciando sua linhagem, quando a Tangolo passeou por dois clássicos compostos quando o grande Lô Borges ainda era da sua faixa etária: “Trem de Doido”, do clássico disco Clube da Esquina, e “Você Fica Melhor Assim”, de seu mitológico disco de estreia. Uma noite marcante que ainda contou com duas estreias: a da jornalista Lina Andreosi como DJ, que tocou antes das duas bandas, e a da quase-parente Pérola Mathias dividindo a discotecagem comigo na pista do Picles – quando seguimos o fervo misturando Stevie Wonder com Slits, Beyoncé com Jamiroquai, Gloria Groove com Can, Rita Lee com (claro que não podia faltar) Mariah Carey. Quem foi sabe: a nova geração está chegando!

Assista abaixo:  

Mais Joni Mitchell?

A cantora e compositora paulistana Luiza Villa mais uma vez traz sua homenagem à grande mestra do folk Joni Mitchell para o palco do Blue Noite de São Paulo. Na nova apresentação do espetáculo Both Sides ela segue acompanhada dos mesmos músicos que a acompanham – Pedro Abujamra (piano e teclados), Tomé Antunes (guitarra), João Pedro Ferrari no baixo, e Tommy Coelho na bateria = e repassa clássicos do repertório da cantora canadense, como “Free Man in Paris”, “Little Green”, “Cactus Tree”, “Big Yellow Taxi”, “Hejira”,“Coyote”, “Help Me”, “In France They Kiss on Main St” e “The Hissing of Summer Lawns”, além de algumas surpresas. A apresentação é mais uma vez dirigida pelo jornalista e curador de música Alexandre Matias e acontece no dia 23 de julho, a partir das 22h30. O Blue Note fica na Av. Paulista, 2073 (entrada pelo Conjunto Nacional) e os ingressos já podem ser comprados neste link.

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Inferninho Trabalho Sujo apresenta Tangolo Mangos e Skipp is Dead

Mais uma sexta-feira daquelas no Picles, quando não apenas duas bandas tocam pela primeira vez na Inferninho Trabalho Sujo, como também duas novíssimas DJs pela primeira vez na casa. Quem abre a noite é outra prata da casa, Skipp, o autor dos maravilhosos flyers do Picles, que lança o novo clipe de “Infected Skies“, de sua banda Skipp is Dead, cuja maquiagem foi feita por nossa agente do caos Bamboloki sob seu codinome profissional de make, Buzz Darko. Depois é a vez da banda baiana Tangolo Mangos incendiar a noite como uma das principais novas atrações de Salvador nestes anos 20. Antes das duas bandas, quem começa a noite é a querida Lina Andreosi, que faz sua primeira aparição oficial como discotecária e, depois das bandas, quem divide o som da noite comigo pela primeira vez no Picles é a minha prima de outra família, Pérola Mathias, e já combinamos que não vamos deixar ninguém parado! O Picles fica no número 1838 da rua Cardeal Arcoverde e a noite começa às 20h para terminar sabe lá a que horas da madrugada… Vem!

Nahim (1952-2024)

Ídolo pop nos anos 80, o cantor Nahim foi encontrado morto nesta quinta-feira. O paulista de Miguelópolis Nahim Jorge Elias Júnior, filho de pai libanês e de mãe baiana, sempre esteve envolvido com música, desde a adolescência, e foi descoberto pelo produtor Mister Sam, que o lançou com o nome de Baby Face e cantando músicas em inglês no início dos anos 80. Mas só se tornou conhecido ao passar a cantar em português, quando foi convidado para participar do programa de auditório Qual é a Música?, que Sílvio Santos exibia em seu SBT aos domingos, ficando invicto por 20 semanas e tornando-se um dos maiores vencedores do programa (atrás somente de Ronnie Von, Sílvio Britto e Gretchen). Ao tornar-se um popstar televisivo numa variação de um show de calouros, suas músicas começaram a fazer sucesso e a fama da TV fez que músicas bestas com títulos igualmente fúteis, como “Coração de Melão”, “Dá Seu Coração” e “Tacka Tacka”, tornou-se um dos principais astros daquela nova década. Ao terminar o contrato com o SBT, tornou-se jurado no programa Cassino do Chacrinha, na Globo, o que fez tornar-se ainda mais popular – mas como muitos de sua geração foi engolido quando as bandas de rock dos anos 80 atingiram uma popularidade muito maior. Nas décadas seguintes, Nahim passou a viver a vida como celebridade do passado e traçou um percurso feito pela maioria destas celebridades: participou programas do tipo reality show, foi preso e tentou a carreira como político, mas não foi eleito. Apesar de ter morrido por conta de uma queda, que resultou em traumatismo craniano, suspeita-se que ele tenha tido um enfarto ou mau súbito, o que lhe fez cair de uma escada em sua própria casa, em Taboão da Serra, em São Paulo.