O universo de Quentin Tarantino
A teoria já foi discutida por Selton Mello e Seu Jorge no curta Tarantino’s Mind, da 300 ml. Vale o replay:
Resumindo: todo o universo dos filmes de Quentin Tarantino – à exceção de Jackie Brown, cuja história é de Elmore Leonard – está interligado entre si, seja por marcas, como os cigarros Red Apple (o Slusho de Tarantino) ou o Big Kahuna Burger (que, citado em Pulp Fiction, também reaparece em Reservoir Dogs e no trecho que Tarantino dirige no filme Grande Hotel)…
…Mas principalmente pelos personagens. Como explicou o Selton no vídeo acima, Vincent Vega (o Travolta em Pulp Fiction) e Vic Vega (Michael Madsen em Cães de Aluguel) são irmãos, o policial Scagnetti que só é citado em Cães de Aluguel é o mesmo que aparece em Assassinos por Natureza (cujo roteiro é de Tarantino). A maleta de Pulp Fiction é a que tem os diamantes do final de Cães de Aluguel e, diferente do que foi citado no vídeo acima, há uma teoria que diz que os filmes Um Drink no Inferno e os dois Kill Bill não pertencem diretamente a este universo, mas são filmes que são assistidos pelos personagens. Filmes violentos, cheios de referências à cultura pop – e o Sonny Chiba no início de True Romance (outro roteiro de Tarantino) é o mesmo que faz Hatori Hanzo em Kill Bill, que tem uma história parecida com a série de TV que Mia Wallace iria interpretar em Pulp Fiction, o Fox Force Five, onde era uma especialista em facas, como a Noiva de Kill Bill. A lista vai adiante sempre com elementos pequenos, vagos, em que a lição de Hitchcock (ele mesmo um easter egg humano em todos seus filmes clássicos) mistura-se com a sincronicidade de C.G. Jung. Não chega a ser um grande filme dividido em capítulos como sugere o papo de Selton e Jorge, mas um jogo de linguagens e de camadas de leituras que o Rob Ager tão bem definiu a explicar o 2001 de Kubrick. O próprio Tarantino já admitiu isso.
(Vale até abrir um parêntese pro Hitchcock:
Que figura!)
A novidade é que esta semana apareceu uma releitura deste universo que pode explicar a origem de toda verborragia pop e ultraviolência que unem a filmografia de Tarantino quase como uma tônica de narrativa, mais do que uma história em si. Traduzo abaixo o post que pintou no Reddit na terça passada, assinado por FrancisDollarHyde (spoilers se você não viu o filme mais recente de Mr. Q, Bastardos Inglórios – mas, porra, você ainda não viu esse filme? Vacilo). Veja abaixo:
Acontece que Donny Donowitz, o ‘Urso Judeu’, é o pai do produtor de cinema Lee Donowitz de Amor à Queima Roupa – o que signifca que, no universo de Tarantino, todo mundo cresceu aprendendo como um bando de mercenários judeus metralharam Hitler até a morte em um cinema em chamas, ao contrário do suicídio quieto em seu bunker.
E o fato da Segunda Guerra Mundial ter terminado dentro em uma sala de cinema, há um natural aumento de importância à cultura, daí o fato de todo mundo ser completamente maníaco por filmes e programas de TV. Da mesma forma, os Estados Unidos venceram a Segunda Guerra num único e intenso massacre ultraviolento, os americanos como um todo se tornaram mais insensíveis a este nível de violência. Eis o porquê de Butch ser tão implacável ao matar duas pessoas, Mr. White e Mr. Pink adotam uma abordagem pragmática de assassinato em sua própria linha de trabalho, a taxista Esmerelda ser obcecada com a morte, etc.
Você pode extrapolar ainda mais ao perceber que os filmes de Tarantino são, tecnicamente, dois universos – ele já saiu por aí falando que Kill Bill e Um Drink no Inferno se passam num “universo de filme num filme”; ou seja, são os filmes que os personagens do universo de Pulp Fiction, Cães de Aluguel, Amor à Queima Roupa e Death Proof iriam ver nos cinemas. (Kill Bill, no fim das contas, é basicamente Fox Force Five, reduzido ao fato de Mia Wallace ser a protagonista.)
O que vem imediatamente à mente em relação a Kill Bill e Um Drink no Inferno? Que eles são loucos e malucos, mesmo nos padrões de Tarantino. São filmes produzidos pelos Estados Unidos em um mundo onde a vitória definitiva se resumiu a trancar as pessoas em uma sala de cinema e explodi-las aos pedaços – e não se esqueça que Lee Donowitz, filho de um dos integrantes daquela missão suicida para matar Hitler, é um produtor de filmes bem sucedido.
Resumindo, transforma todos os filmes de Tarantino numa realidade alternativa de ficção científica. Como eu amo isso.
Incrível, não? E a dúvida de agora vem em relação ao novo filme de Tarantino, Django Unchained. Como ele se encaixa nessa história?
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