O “Truco” de Maria Beraldo

, por Alexandre Matias


(Foto: Pétala Lopes)

O fim do primeiro disco solo da cantora e compositora Maria Beraldo foi, como todas nossas biografias recentes, atropelado pela pandemia e quando ela estava começando a finalizar seu Cavala nos palcos, começaria a burilar o que poderia ser o próximo disco – mas este processo iniciaria naquele fatídico março de 2020 e ela teve que refazer seus planos. Neste período, começou a enveredar pelo caminho das trilhas sonoras para cinema, quando começou a encontrar um caminho de volta. “Eu tava precisando de um respiro criativo e algo pra trabalhar meu músculo da criação de outro jeito e tava cansada do formato canção, com poucos minutos, comparado com a música de concerto, que pode ser mais longa e ter diferentes momentos”, ela me explica por áudios de Whatsapp. “O cinema é outro tamanho de tela. Eu vinha trabalhando num lugar pequeno e de repente eu tinha um troço enorme”, lembra.

E depois de um longa metragem (O Acidente, em que o amigo Bruno Carbone a convidou para estrear neste formato e ela compôs toda a trilha usando apenas seu instrumento, o clarinete), dois curtas e uma série, ela volta à canção na única música da trilha do longa Regra 34, da diretora Julia Murat, que acaba de entrar em cartaz. Ela foi convidada pelo produtor e músico Lucas Marcier para compor toda a trilha do longa e um dos pilares da trilha foi esta nova canção, “Truco”, que ela lança nesta sexta-feira e dá os rumos para seu próximo disco. Ouça abaixo:

“Foi um trabalho super fluido, tanto com o Lucas quanto com a Julia”, lembra Beraldo. “O filme tem uma coisa que me guiou e me inspirou, que é o fato de ele discutir a violência social através da sexualidade. A protagonista, Simone, é uma mulher negra que elabora a questões sociais a partir das relações sexuais e afetivas. Isso me moveu para fazer o filme e está refletido nessa trilha”.

“A letra desta canção traz como eu digeri o que foi mais importante do filme pra mim, que é uma espécie de revanche através do prazer, porque a protagonista vai atrás do desejo sexual dela, do tesão dela, dentro de todo o contexto de violência – o filme fala de prostituição na internet e BDSM -, que traz um medo associado ao tesão, essa coisa tensa”, continua. “A música tem o ar de revanche pelo prazer, porque a vida sexual está permeada por muitos embates sociais, mas é o cara que tá se aproveitando dela ou ela que tá se aproveitando dele? E a forma como ela toma as rédeas disso, a música fala que é o tesão dela que manda.

Ela reforça que a música deve estar em seu próximo disco, possivelmente com outro arranjo, e que mais do que uma inspiração, “Truco” serviu como “força de ativação” para seu novo momento criativo. “Ela é muito sobre o meu sentimento em relação à música, as coisas que quero dizer, viver e compartilhar, essa alegria e prazer de ser uma pessoa LGBT e dar essa música pra nossa comunidade festejar. É uma alegria muito potente e forte, que funciona como uma arma muito poderosa nessa guerra, nossa alegria, nosso sorriso, nosso prazer.”

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