O Terno 2014: “Mais uma manhã nublada em SP”

, por Alexandre Matias

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Quem já assistiu a um show do trio paulistano O Terno sabe que eles talvez sejam a melhor banda de rock de São Paulo hoje, embora o vocalista e guitarrista Tim Bernardes discorde: “Não acho que somos uma banda ‘estritamente’ de rock”. Tudo bem, há doses de música brasileira suficientes para tirar o trio do estereótipo tradicional do gênero, mas a formação baixo-guitarra-e-bateria e as altas doses de psicodelia, rock sessentista e microfonia não negam as origens.

O mais impressionante, no entanto, é o vigor e a força com que Tim, o baixista Guilherme D’ Almeida e o baterista Victor Chaves apresentam suas músicas – ainda mais levando em conta suas idades (Tim e Victor têm 23 anos, Guilherme, 24). As coisas ficam ainda mais sérias a partir de seu próximo disco, batizado apenas de O Terno, que será lançado na próxima semana em CD e vinil, com shows em São Paulo (dia 22 no Auditório Ibirapuera) e Porto Alegre (dia 25 de agosto no bar Opinião). O grupo julga que este trabalho, o primeiro disco composto apenas por músicas próprias, é um passo além rumo a uma sonoridade mais ampla, uma vez que se permitiram explorações sonoras nas gravações que não haviam conseguido fazer no disco de estréia, batizado de 66.

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Produzido pela banda e Gui Jesus Toledo, o segundo disco ainda conta com participações especiais, como Tom Zé, Pedro Pelotas (tecladista do Cachorro Grande), Luiz Chagas (pai e guitarrista de Tulipa Ruiz) tocando lapsteel, Marcelo Jeneci, entre outros. A banda descolou dois aperitivos do novo disco pro Trabalho Sujo – a capa acima, assinada por Renata de Bonis, e a faixa “O Cinza”, segunda música do segundo disco, ouça abaixo.

Ainda bati um papo com os três por email, a seguir:

O que vocês aprenderam com o primeiro disco de vocês?
Guilherme D’ Almeida – O processo de gravação e produção do primeiro disco foi um grande aprendizado para nós. A sensação é de que logo após a finalização do 66 nós abrimos a cabeça para novos caminhos e processos de gravação. Esse primeiro disco foi um registro do que já trabalhávamos e gravamos em poucas horas, takes ao vivo com poucos overdubs. Durante o intervalo entre os dois discos nós conseguimos experimentar novas formas de arranjo e gravações com o EP “Tic Tac” /”Harmonium”, conseguimos explorar as sonoridades para além do trio.
Assim, chegamos para o segundo disco com uma vontade maior de explorar recursos que não foram usados em 66. As bases continuaram sendo gravadas ao vivo, porém, houve um grande e mais detalhado trabalho de overdubs, participações, mixagens mais minuciosas. Somando novas possibilidades em estúdio sem perder a energia do trio, que foi muito trabalhada durante o tempo de estrada do primeiro disco.

O que muda no segundo?
Victor Chaves – Mudou bastante coisa. Esse segundo disco, além de ser inteiro autoral, foi feito com mais calma e pudemos ficar no estúdio experimentando diferentes sonoridades para cada música. Apesar da maioria das bases terem sido gravadas por nós três ao vivo, as músicas foram preenchidas com mais overdubs e efeitos de estúdio. Nesse disco, em vez de tentar colocar todas as idéias na mesma música, acabamos explorando caminhos diferentes e cada música ficou com uma microatmosfera própria, dentro do álbum, que unifica todas elas. Tivemos também um olhar de fora, do Gui Jesus Toledo, que foi quem gravou o disco e coproduziu ele com a gente. Procuramos caprichar bastante e ter o máximo de cuidado em todos os processos do disco, desde a gravação até a arte gráfica, e sinto que ficou um trabalho com a nossa cara, ou com várias caras nossas, e, por isso, decidimos chamá-lo de O Terno.

Vocês são uma banda estritamente de rock. Acham que o gênero estagnou ou ainda é viável sem ficar fazendo autorreferências?
Tim Bernardes – Não acho que somos uma banda “estritamente” de rock… Qualquer banda hoje em dia já não é mais “estritamente” de algum desses gêneros que existem há tantos anos. Tem músicas no disco que os “rockeiros” achariam muito calmas, ou mais MPB e outras que a galera da MPB acharia muito rock’n’roll. Enfim, acho que O Terno seria uma banda de rock’n’roll mais na intenção, independente de estar tocando uma música calma de amor, uma marchinha ou uma música mais porrada, curtimos a intenção rock’n’roll de tocar com vontade, com sangue nos olhos, que é algo que pode rolar em qualquer gênero mesmo ele não sendo “estritamente” rock, Coltrane tem isso, Piazolla tem isso, é mais a intenção, o jeito de tocar. E foge desse jeito blasê meio morto que tem muito na música hoje e que não nos atrai tanto.
Quanto às autorreferencias isso é algo que pode ser feito de jeitos interessantes e dependendo da mistura e das idéias vai resultar em coisa nova. Nós temos muita referência antiga e muita referência nova, o que vai gerar a cara d’O Terno é o jeito como nós misturamos isso pra criar uma coisa nossa.

O que cada um da banda ouviu bastante antes e durante a gravação do disco?
Os três – Buffallo Springfield, Neil Young, Duncan Browne, Connan Mockassin, Mac Demarco, Tame Impala, Fleet Foxes, Foxygen, Dr. Dog, Pond, Unknow Mortal Orquestra, Charlie e os Marretas, Pond, Temples, Clube da Esquina e Zombies.

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