O quinto Indiana Jones é um clássico da série

, por Alexandre Matias

Estou pra falar essa há um tempo e nunca lembro: se você gosta do Indiana Jones, vai lá ver o novo no cinema. Indiana Jones e a Relíquia do Destino pode não inspirar por inúmeros motivos – o excesso de remakes e continuações, franquias velhas sendo requentadas, só pelo fato de ser mais um hit de Hollywood -, mas o fato é que o quinto filme da série encerra a agora pentalogia no mesmo tom que conseguiu fechar no final dos anos 80, com o terceiro episódio, A Última Cruzada. O quarto filme não ajuda nessa percepção e por mais que George Lucas tenha insistido no tom de ficção científica dos anos 50 (a década em que o filme se passa), Shia LaBeouf se finja James Dean de forma quase caricata (me lembra a ponta do Michael Cera na terceira temporada de Twin Peaks) e a famigerada cena da geladeira antinuclear (que me incomoda menos do que o ataque de macacos de computação gráfica), ele é um bom filme – tanto que sua bilheteria no ano que foi lançado só ficou atrás do segundo filme que Christopher Nolan fez sobre o Batman (é, o do Coringa oo Heath Ledger). Mas não fazia justiça ao encerramento do personagem no cinema. Como muitos, me animei desde que soube que um fictício quinto Indiana Jones poderia se materializar e obviamente iria assistir mesmo que as críticas o destruíssem de saída – Harrison Ford e seu personagem mais clássico é um inspiração contínua desde que vi Caçadores da Arca Perdida e reencontrá-lo causava um certo nervosismo como rever um tio ou primo querido que não se vê há tempos. Mas se mesmo com as críticas, Indy havia sobrevivido ao quarto filme, não poderia ser de todo mal.

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E é justo o oposto da pior expectativa: o diretor James Mangold acerta em cheio no tom e teor do filme e Relíquia do Destino é uma celebração ao personagem, que o confronta com suas maiores paixões – seus amigos, amores e a História com agá maiúsculo. Nos faz assistir ao personagem pela primeira vez durante a Segunda Guerra Mundial, evento central em sua trajetória mas que não havia acontecido nos três primeiros filmes e já tinha ocorrido há mais de quinze no quarto. E recorre ao recurso de rejuvenescer Harrison Ford com computação gráfica fazendo isso surpreendentemente bem. O primeiro ato do filme, que se passa em 1944, poderia ter sido lançado nos anos 80 que não faria feio frente aos três filmes.

Depois o filme pula para 1969 quando acompanhamos Jones numa idade mais nova que seu ator, Harrison Ford tem 81 anos de idade enquanto o Indiana que agora acompanhamos tem quase 70. O filme que se desenrola a partir daí não é mais uma tentativa de recriar o brilho dos primeiros filmes (como o primeiro ato tão bem faz) e sim uma homenagem ao personagem e seu universo de golpistas, amigos fiéis, nazistas, saqueadores, cientistas e batedores de carteira que reúne um elenco exemplar (embora Phoebe Waller-Bridge quase comprometa querendo insistir em sua persona Fleabag por baixo de sua personagem) em cenas de ação que fazem Ford levar seu clássico alter ego ao encerramento digno de suas aventuras. Sabemos que ele só morrerá depois de completar 90 anos, que é como o vemos em cenas da série O Jovem Indiana Jones, de bengala e tapa-olho como se fosse um historiador e um pirata ao mesmo tempo. Mas este último filme faz o personagem despedir-se de suas aventuras sem melancolia ou declínio, mas inspirado pela vida que viveu. É muito bom.

Só lamento que o filme não foi dirigido por Spielberg. Não que James Mangold faça feio, pelo contrário – o diretor de Logan, Garota Interrompida, Knight & Day, Walk the Line e Ford v Ferrari é um fiel pupilo do pai do E.T. e o filme celebra a direção do mestre. Mas o velho Steven, como Harrison, ainda está em ótima fase. A sequência recente Ready Player One, Amor, Sublime Amor e Os Fabelmans reatou o contínuo de sua filmografia com aquele seu crescendo mágico do começo do século, quando enfileirou Inteligência Artificial, Minority Report, Prenda-Me Se For Capaz, O Terminal, Guerra dos Mundos, Munique e, justamente, o quarto filme de Indiana Jones (ele começa a derrapar a partir de sua adaptação de Tintim, na segunda fase irregular de sua obra, que vai até The Post: A Guerra Secreta). Claro que ele esteve observando a produção de perto, mas seria bem poético e autoral manter todos os filmes de seu personagem mais contínuo sob sua direção.

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