O Brasil visto por Beth Carvalho

, por Alexandre Matias

Corre pra ver no cinema o documentário Andança – Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho, que pode parecer mais uma biografia levada à telona a partir de registros inéditos e depoimentos de compadres da artista (o que já seria ótimo), mas é muito mais do que isso. Logo de cara, somos apresentados a uma Beth Carvalho que não conhecíamos – uma pesquisadora e arquivista de tudo aquilo que lhe emocionava. O tempo todo munida de uma câmera de vídeo ou de um gravador portátil (quando não eram os dois ao mesmo tempo), ela se revela uma autobiógrafa consciente não apenas de sua importância mas do trabalho que faz como agente cultural de seu tempo. O documentário de Pedro Bronz deixa as convenções cronológicas em segundo plano para nos apresentar não só a carreira de uma intérprete ímpar de nossa música como a forma como sua cabeça e coração funcionavam a partir de seus próprios registros, boa parte deles em vídeo. E daí que são velhos VHS e gravações em baixa resolução de telejornais locais do Rio de Janeiro? A verdadeira alta definição está na forma como Beth chegava em seus objetos de estudo, que logo tornavam-se seus camaradas, no momento exato, ouvindo em primeira mão pérolas de Cartola e Nelson Cavaquinho e tirando a cena do bloco do Cacique de Ramos do literal fundo de quintal para a história fonográfica do país, apresentando ao resto do Rio de Janeiro – e depois para o Brasil – nomes como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Jorge Aragão e várias outras lendas do samba, no momento em que eles floresciam. E ela não separava seu ativismo musical do político, batendo sempre em várias questões que são discutidas até hoje, além de estar presente em momentos decisivos da história do país – ao lado de personalidades que é melhor nem comentar para manter a surpresa. O filme ergue um pedestal para sua musa a partir das cenas, diálogos, versos, canções, rodas e shows que ela conseguiu presenciar e amplificar, mostrando que a importância de Beth Carvalho para a cultura brasileira ainda nem começou a ser medida. E prepare-se para chorar, porque é muita emoção.
Assista ao trailer.

Tags: ,