O álbum que Neil Young deixou em 1976

, por Alexandre Matias

Hitchhiker

Entre 1975 e 1977 Neil Young reunia-se com o produtor David Briggs para gravar demos em noites de lua cheia. “Acho que vou abrir a torneira”, dizia ao anunciar que iria trazer músicas novas para serem testadas no estúdio. Briggs sentava-se à mesa de gravação no estúdio Indigo Ranch, em Malibu, na Califórnia, nos EUA, e o músico canadense empunhava seu violão rascunhando versos e acordes que tornavam-se canções na frente do produtor. Uma dessas sessões, gravada na noite do dia 11 de agosto de 1976, finalmente vê a luz do dia com o lançamento do disco Hitchiker.

Composto originalmente como uma coleção de demos para ser mostrada para os executivos da gravadora Reprise, o disco não impressionou a gravadora e Neil Young preferiu guardá-lo por considerar-se “meio chapado” nas gravações, um longo take noturno em que os dois paravam de tocar e gravar apenas para fumar maconha, beber cerveja ou cheirar cocaína.

A grande maioria das canções reapareceriam em vários outros discos de Neil: “Powderfinger”, “Ride My Llama” e “Pocahontas” formam parte da espinha dorsal do clássico Rust Never Sleeps, que gravaria ao vivo com sua banda fiel escudeira o Crazy Horse no final de 1978 (sendo que a gravação da última usaria o mesmo vocal que Young registrou no disco que foi arquivado). “The Old Country Waltz” foi parar no American Stars ‘n Bars, “Captain Kennedy” é a última faixa de Hawks & Doves, a faixa-título foi registrada no disco Le Noize de 2010 e “Campaigner” apareceu na compilação Decade, lançada em 1977. As únicas inéditas de fato são “Hawaii” e “Give Me Strenght”.

Mas reunidas numa mesma tacada – e ainda mais sabendo que elas foram gravadas na mesma noite -, as canções de Hitchiker transformam o disco em um registro cru e delicioso de um dos principais compositores de nossos tempos, forjando suas canções com a força de um ferreiro e a delicadeza de um jardineiro. Discaço.

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