Radiohead 2011: Newspaper album?

Como assim, Radiohead? Não me venha com essas:

Fred lembrou do Tom Zé.

Que ainda tem essa outra capa, mais jornal ainda (valeu, Marcio):

Marcio ainda lembrou dessa aqui, heheeheh.

E o Carlos lembrou dessa, do Bocato, que eu nem manjava:

E o Luís e o Lou ainda mandaram essa:

Alguém chuta o que pode ser? Um aplicativo pro iPad? Um novo pacote de revelações do Wikileaks? Um disco que é atualizado diariamente?

Frank Zappa e a música sem disco

Não custa voltar no Zappa, que já pensava nessas questões no começo dos anos 80. O texto abaixo é um trecho de uma matéria que escrevi pra capa da Bizz, quando ela ainda existia em 2006, sobre música digital. A íntegra da matéria tá aqui.

* Texto publicado originalmente no dia 20 de agosto de 2009

***

“CONSUMIDORES DE MÚSICA GOSTAM DE CONSUMIR MÚSICA, NÃO DISCOS DE VINIL EMBALADOS CAPAS EM PAPELÃO”. O negrito e o caps lock são tirados direto do original, que não é de nenhum consultor trend-setter descolado fazedor de cabeça de executivos da indústria da tecnologia e do entretenimento, e sim de ninguém menos que Frank Zappa. Logo que a música se despregou de seu suporte tradicional – na época, o disco de vinil – transformando-se em pedacinhos de zeros e uns transferíveis por redes de computadores, o principal iconoclasta musical do século vinte fez uma pergunta que até muita gente boa não fez: por que, se a música podia ser digitalizada – ou seja, livre de um suporte físico palpável (como o disco de vinil, a fita cassete, o cilindro do fonógrafo…) – por que raios a indústria fonográfica lançou um novo suporte?

Aí entramos no terreno da especulação, mas alguns fatos falam por si. O compact disc, apresentado ao público em 1982, é quase tão barato para fabricar quanto um disco de vinil, mas é mais prático para ser estocado e transportado – mais leve, menor, menos suscetível a atritos. Para tocá-lo, no entanto, os consumidores deveriam ter que comprar um novo equipamento, o CD-player – mais caro que qualquer outro player médio da época. E devido à sua suposta melhoria na qualidade do áudio (subjetiva, o tempo mostrou – vide os audiófilos de hoje em dia que ainda veneram o velho vinil), o disco passou a custar, em média, ao menos o dobro do antigo LP.

Alie a isso uma enorme campanha de marketing de todas as grandes empresas de tecnologia, que pegavam carona na novidade “CD” para lançar aparelhos que, além de alardear o compact disc como o futuro do áudio, rebaixava o vinil como suporte datado, mídia morta. Aos poucos, vitrolas e coleções inteiras de discos eram vendidas ou jogadas fora para abrir espaço para os pequenos discos prateados embalados em plástico. Sem querer – porque, por mais maquiavélicas que fossem as multinacionais na época, elas não teriam capacidade para pensar nisso (basta ver o zelo administrativo que fez com que o negócio praticamente falisse durante os anos 90) -, as pessoas estavam comprando um mesmo disco que já tinham pela segunda vez.

Entra Frank Zappa, crítico insistente de tudo que pode ser criticado – inclusive dele mesmo. De ascendência ítalo-americana, o compositor começou sua carreira com um pequeno estúdio em Cucamonga, gravando grupos de doo-wop, surf music e até se envolvendo com filmes pornô, até que entrou no imaginário mundial com discos que ridicularizavam o movimento hippie quando este era mais popular do que o YouTube em 2006. Desde os anos 60, mirou sua metralhadora musical em qualquer coisa que pudesse se mover, mas tinha como alvos favoritos o establishment norte-americano (inteiro, do governo às divas da indústria do entretenimento) e a estupidez humana. Engajado em causas espinhosas e delicadas, ele se pronunciou prontamente ao advento da música digital e em 1983, no mesmo ano em que o CD chegava ao mercado americano, escreveu sua “Proposta para a Substituição da Mercadoria Disco”, de onde saiu a citação em negrito do início. E finalizava a primeira parte de seu texto com mais negrito e letras maiúsculas: “As pessoas hoje em dia gostam mais de música do que nunca e eles gostam de levá-la onde quer que elas vão. ELAS PODEM OUVIR A DIFERENÇA ENTRE ÁUDIO DE BOA QUALIDADE E ÁUDIO DE MÁ QUALIDADE… ELAS SE IMPORTAM COM ESSA DIFERENÇA E ESTÃO DISPOSTAS A PAGAR PARA TER ‘ÁUDIO PORTÁTIL’ DE ALTA QUALIDADE PARA USAR COMO ‘PAPEL DE PAREDE PARA SEU ESTILO DE VIDA’”. Isso, lembrando, DEZ anos antes de a web atingir o grande público, DEZESSEIS anos antes do Napster e DEZOITO anos antes do iPod.

Zappa tinha até a resposta para problemas que ainda nem haviam começado a existir e aí que seu texto fica mais incisivo. Na segunda parte (chamada apropriadamente de “Respostas para Perguntas Intrigantes”), ele nos apresenta ao “Q.C.I.”. “Propomos adquirir o direito de duplicar digitalmente e estocar O MELHOR de cada um dos difíceis de transportar Q.C.I. (Quality Catalog Itens, Itens de Catálogo de Qualidade) de todas as gravadoras, reuni-los em um lugar de processamento central e torná-los disponíveis via fone ou cabo de TV paga, diretamente acessível através dos dispositivos caseiros de áudio do consumidor, com a opção de transferência de um ambiente digital para outro através da F-1 (o gravador de áudio digital da Sony, disponível para o público), Beta Hi-Fi ou cassete análogo simples (que precisa apenas da instalação de um conversor no próprio fone, cujo chip principal custa US$ 12)”.

“Todas as contas de pagamentos de royalties, cobranças do consumidor, etc., seriam automáticas e estariam no próprio programa básico do sistema”, Zappa continua. “O consumidor tem a opção de se inscrever em uma ou mais categorias de interesse, cobradas mensalmente, sem se preocupar com a quantidade de música que ele ou ela decidam gravar. Prover material em tal quantidade a um custo reduzido realmente diminuiria o desejo de duplicação e armazenamento, já que este estaria disponível a qualquer hora do dia ou da noite”.

Zappa simplesmente bolou um sistema de pagamentos, acesso e distribuição de música que parece atender às necessidades de todos (com a exceção daqueles que cita no início do texto – “Muitas pessoas estão empregadas no campo de promoção de discos. Estes salários são, na maior parte, desperdício de dinheiro”). Sem a internet. Sem o MP3. Sem P2P.

E conclui: “Queremos uma quantidade GRANDE de dinheiro e os serviços de uma equipe de mega-hackers para escrever o software deste sistema. A maior parte dos equipamentos, mesmo quando você ler isto, já estão disponíveis como itens existentes no mercado, apenas esperando para serem plugados uns nos outros de forma que eles possam por fim na “INDÚSTRIA DO DISCO” como a conhecemos.

Isso, repito, em 1983.

Beatles digital

Agora foi – e os Beatles finalmente chegaram à era do MP3, oficialmente, nesta terça-feira. Botei os outros comerciais para a TV que a Apple fez no meu blog no Link, vê lá.

Impressão digital #0029: A solução do Belle & Sebastian

Minha coluna no Caderno 2 voltou das férias ontem.

Uma música só para você
A solução do Belle & Sebastian

Ícones do indie rock desde seu primeiro álbum – If You”re Feeling Sinister, e lá se vão 12 anos desde seu lançamento -, o grupo escocês Belle & Sebastian acaba de soltar mais um disco no mercado. Write About Love é seu sétimo lançamento (sem contar os EPs) e, numa época em que qualquer disco pode ser baixado e ouvido com apenas uma busca no Google, a banda inventou uma forma interessante de fazer com que seus fãs comprassem a versão física – o CD – de seu novo álbum.

Muito já foi dito sobre este assunto: uma vez que a música perdeu seu valor comercial ao se tornar facilmente encontrada para download online, como os artistas podem fazer que seus fãs voltem a pagar por música? A primeira resposta já virou lugar-comum: o fã paga para ver o show (que abre uma discussão enorme sobre o que acontece com o artista que não faz apresentações ao vivo, mas isso é outra conversa).

Outros vieram propor mais soluções radicais. Já é clássico o exemplo do Radiohead, que liberou seu In Rainbows para download gratuito e propôs que os fãs pagassem quanto queriam para ter o disco (mesmo que não pagassem nada). A banda Nine Inch Nails transformou seu disco Year Zero em uma plataforma com diferentes versões para download. Quem quisesse ouvir o disco, podia baixá-lo gratuitamente. Se a opção fosse baixar o disco com uma qualidade sonora superior, havia um preço. Outra versão vinha com faixas extras, a um preço maior.

O baterista da banda, Josh Freeze, inspirado neste plano, lançou um disco em que ofertava várias versões com preços diferentes – e as opções mais caras incluíam desde um telefonema pessoal do músico para o fã em agradecimento à compra até um show particular feito para quem pagasse o valor máximo que ele pedia,US$ 20 mil.

O Belle & Sebastian, que se apresenta no Brasil no início de novembro, foi além e acaba de lançar uma promoção junto de seu novo disco que é simples e convincente o suficiente para fazer seus fãs comprarem o pedaço de plástico com as músicas gravadas. Cada cópia de Write About Love vem com um código único que, ao ser digitado no site da banda, permite que o fã participe de uma promoção.

Nela, a banda pede para que o fã escreva em 300 palavras porque o Belle & Sebastian deveria gravar uma música sobre ele mesmo. Quem conseguir convencer os escoceses ganha um senhor prêmio: a banda vai para a cidade do fã, passa uma tarde com ele para, depois, ouvir uma música composta sobre ele. Simples, não? E ainda há quem se pergunte sobre como ganhar dinheiro com música em tempos digitais…

1990 vs. 2010

Vi aqui. Dica da Fer.

Franz Ferdinand digital

Demorei para falar do show do Franz e também segurei pra linkar essa entrevista que a banda deu para o Pablo sobre música digital:

A distribuição de música ilegal pela internet atinge vocês?
Alex Kapranos – Isso chegou a um ponto em que as pessoas presumem que a música é gratuita. Acho que essa atitude não é tão fácil de se alterar.
Nick McCarthy – Quando você pensa em ouvir alguma banda, a primeira coisa que te vem à mente é o torrent.
Kapranos – A Lily Allen foi destruída pela imprensa por dizer que as bandas mais novas sofrem mais com isso. Pode até haver hipocrisia no que ela falou, mas não é muita. É uma observação razoável: as pessoas estão consumindo algo pelo qual não pagaram. Muita gente tem reações ambivalentes nesse assunto, mas existe mais hipocrisia em quem ataca a Lily Allen do que nela. E não estou falando da pessoa média, que só baixa as músicas. Estou falando das pessoas que disponibilizam esse material. Elas tentam espalhar essa idéia de um mundo socialista, mas eu poderia apostar que elas vivem felizes dentro das vantagens que o capitalismo traz a elas. O debate sobre direito intelectual é muito amplo. Não acho que existe uma solução simples e direta. Não é tão fácil quanto ser dono de uma loja de doces e dizer: “estes doces são meus, se você roubá-los eu vou chamar a polícia”. É uma situação muito interessante. Tudo está mudando.

Vocês enxergam uma solução?
McCarthy – Eu não vejo.
Kapranos – Você vê uma solução?

Muita gente diz que a respostas é investir em outras áreas, como os shows e o merchandising. Tanto que as gravadoras têm feito novos contratos, que incluem participação nesse tipo de coisa. E também há a venda de músicas pelos jogos de videogame.
Kapranos – É verdade, tudo isso está mesmo acontecendo. Mas ainda assim não vejo uma resposta definitiva. Acho meio triste essa conversa de que os músicos só ganham dinheiro com apresentações ao vivo, porque essa situação exclui os artistas que só trabalham em estúdio. Isso vai ser muito ruim para os produtores e pode implicar na queda da qualidade de gravação. Você precisa, sim, de investimento financeiro para fazer um disco como, sei lá, o Pet Sounds. Você precisa poder pagar os músicos, os engenheiros de som. Se isso tudo acabar, vai ser muito triste. Tudo o que vai existir será gravado em um quarto, em um laptop. E, claro, ótimas idéias são realizadas dessa forma, mas vai ser triste ver o outro lado desaparecer.

Vocês não gostam de fazer coisas por puro entretenimento? Tipo jogar videogames?
Kapranos – Eu não gosto de games por um motivo simples: não sou muito bom neles. Não gosto de fazer coisas nas quais não sou muito bom.
Paul Thomson – É difícil chegar ao fim dos jogos! Quase nunca dá.
Bob Hardy – Acho que o objetivo nem é esse, chegar ao fim. É só algo para ocupar o tempo. Matar tempo mesmo. Por exemplo, se você vai de Sidney para Glasgow e tem um jogo desses, o tempo passa voando. Pode ser o game mais simples de todos, não importa. Não precisa nem exigir muito de você. Tem esse debate de que os jogos musicais estão matando a música, e não acho que isso seja verdade. Os moleques não estão tocando instrumentos, são umas merdas feitas de plástico! Por outro lado, muita gente nos escreve dizendo que começou a tocar um instrumento de verdade depois de jogar um game desses.
Thomson – Eu acho esses jogos ridículos! Mas só digo isso porque não os jogo.

Muita gente provavelmente chegou à música de vocês porque “Take Me Out” está no primeiro Guitar Hero.
Bob Hardy – Eu já joguei. Você vai alternando entre a linha de baixo e a de guitarra, depois pula para a melodia. Chegou uma hora que pensei: “Não, não consigo”.
Kapranos – Como compositor, acho que é uma visão fascinante sobre o modo como as pessoas que não tocam e escrevem vêem a música. As pessoas começam a notar a melodia, o baixo, a bateria. Isso me ajuda na hora de escrever, de vez em quando é bom ficar no básico e evitar as coisas espertinhas que o seu lado artístico te obriga a fazer. Você pensa: “Ok, qual é a parte boa disto aqui?”. E se você não encontrar essa parte boa, então a sua música provavelmente não é tão boa assim.

Link – 7 de dezembro de 2009

A “era iPod” (2001-2009)Calma, o iPod só morreu como símboloCom a ‘cloud music’, streaming já é, hoje, o rádio do futuroDepois da música, é a vez dos filmes e livrosPorque a indústria prefere o streaming ao downloadDá para usar Hulu, iTunes e Netflix no Brasil?Ter ou não ter? Eis a questão que o digital propõeDo YouTube para HollywoodAs ameças à hegemonia do Google, o cão de um truque sóFuturo do livro já é uma página viradaBrasileiro, Yahoo Meme será lançado em todo o mundoRedes sociais podem salvar aqueles noites que parecem perdidasLocalização guia criação de aplicativo para celularDicionário Google já reúne 27 línguasNova PontoCom agita o mercadoLei quer proibir games violentosGoogle quer deixar a internet mais rápidaGuloseimas em rede socialAtivistas protestam por liberdade na webE-mails de um idiotaEditar pode ser fácilCaia na noite via rede socialEscreva tudo que quiser jogar no Nintendo DSConvenção de humor no MIT?Vida Digital: Ben Huh, do I Can Haz a Cheezburger

“Querendo comprar samba, você está maluco?”

“Um dia apareceu lá no morro o Mário Reis, querendo comprar uma música. Estava com outro rapaz, que veio falar comigo. ‘O Mário Reis está aí e quer comprar um samba teu’. Fiquei surpreso: ‘O quê? Querendo comprar samba, você está maluco? Não vendo coisa nenhuma’.

No dia seguinte ele voltou e me levou até o Mário Reis. Ele confirmou. ‘É, Cartola, quero gravar um samba seu. Fique tranqüilo, seu nome vai aparecer direitinho. Quanto você quer por ele?’ Pensei em pedir uns 50 mil réis. O outro rapaz falou baixinho: ‘Pede uns 500 mil’. Eu disse: ‘Você está louco, o homem não vai dar tudo isso’.

Com muito medo, pedi os 500 mil. Em 1932, era muito dinheiro. O Mário Reis respondeu: ‘Então eu dou 300 mil réis, está bom para você?’.

Bom, ele comprou o samba mas não gravou. Quem acabou gravando foi o Chico Alves.”

O Juliano pinçou a declaração acima, do Cartola, para falar um pouco sobre as transformações que aconteceram no mercado da música durante o século vinte e que agora parecem retomar seu curso original. Ele continua:

O Mário Reis, que se oferece para comprar o samba, aparentemente já está vivendo dentro da lógica das emissoras de rádio e da indústria nascente do disco. Para ele, faz sentido o processo artificial que tornou escasso um produto informacional e portanto naturalmente abundante.

Mário Reis inclusive menciona indiretamente o princípio que justifica o comércio de bens informacionais. Ele diz: “fique tranquilo, seu nome vai aparecer direitinho” e o que está por trás motivando essa preocupação é o direito de autor, a solução jurídica que dá a base para que esse modelo de indústria criativa cresça, permitindo que criativos profissionais vivam de sua produção.

A cabeça do Mário Reis é a que olha para o compartilhamento de músicas na rede e enxerga a contravenção, a pirataria, mas a do Cartola mostra como a coisa não é definitiva, como não existe uma verdade absoluta no posicionamento das gravadoras, que a motivação tem a ver não com a Justiça, mas com regras e hábitos que durante muitos anos sustentaram uma determinada indústria.

Alô, Lily Allen

Escuta essa:

Uma mensagem para Lily Allen