Máquina do Tempo: 1° a 30 de novembro

billboard
1° de novembro – O lançamento da revista Billboard, o dia que o mundo conheceu o disco Abbey Road, a morte de Yma Sumac e o aniversário de Pabllo Vittar

youresovain
2 de novembro – Carly Simon lança “You’re So Vain”, a primeira vez do termo “Beatlemania” é a prisão do pai de Marvin Gaye

Vanilla-Ice
3 de novembro – “Ice Ice Baby” levando o rap ao topo das paradas pela primeira vez, a volta dos Righteous Brothers e censura a shows de rock!

good-vibrations
4 de novembro – Os Beach Boys lançam “Good Vibrations”, My Bloody Valentine lança o Loveless e morre Fred “Sonic” Smith

d2
5 de novembro – Aniversário de D2, Thaíde e Mr. Catra, a estreia do programa de Nat King Cole e a morte de Link Wray


6 de dezembro – Taylor Swift lança 1989, os Sex Pistols estreiam ao vivo (por dez minutos!) e os Monkees lançam um filme lóki

ary-barroso
7 de novembro – O nascimento de Ary Barroso, o último show de Aretha Franklin e a morte de Leonard Cohen

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8 de novembro – O lançamento do quarto disco do Led Zeppelin, David Bowie no programa da Cher e o filme que deu um Oscar pro Eminem

rolling-stone
9 de novembro – É lançada a revista Rolling Stone, o disco 36 Chambers do Wu-Tang Clan, John conhece Yoko e Bowie toca ao vivo pela última vez

queen
10 de novembro – A gravação do clipe de “Bohemian Rhapsody”, o primeiro rap a entrar na lista dos mais vendidos e Chaka Khan com Prince, Stevie Wonder e Melle Mel

twovirgins
11 de novembro – John & Yoko lançam Two Virgins, Bill Haley chega ao topo das paradas e Dylan lança seu primeiro livro

likeavirgin
12 de novembro – Madonna lança o disco Like a Virgin, o estúdio Abbey Road é fundado e o Velvet Underground faz seu primeiro show

qotsa-bataclan
13 de novembro – Atentado terrorista no show do Eagles of Death Metal, “Feelings” ganha o disco de ouro e morre Ol’ Dirty Bastard

Black-or-White
14 de novembro – Michael Jackson lança o clipe de “Black Or White”, Ray Charles chega pela primeira vez ao topo e Pete Townshend assume que é bissexual

millivanilli
15 de novembro – Empresário do Milli Vanilli assume que dupla é uma fraude, Janis Joplin é presa por xingar um guarda e os Dire Straits dominam as paradas

candeia
16 de novembro – A morte de Candeia, a prisão do baterista do Clash e os Stones tocam na festa privê de um bilionário

Composer Heitor Villa-Lobos at the Piano
17 de novembro – Morre o maestro Heitor Villa-Lobos, o primeiro disco das Spice Girls e Patti Smith ganha o National Book Award

genesis-lamb-lies-down
18 de novembro – Genesis lança o clássico The Lamb Lies Down on Broadway, morre Danny Whitten da Crazy Horse de Neil Young e o Nirvana grava seu Acústico MTV

michael-varanda
19 de novembro – Michael Jackson pendura o filho bebê na varanda, Carl Perkins grava “Blue Suede Shoes” e Zappa conclui sua ópera Joe’s Garage

keithmoon
20 de novembro – Keith Moon passa mal e fã termina o show tocando bateria com o Who, Isaac Hayes chega ao topo e Bo Diddley é banido da TV

petergrant
21 de novembro – A morte de Peter Grant, o empresário que fez o Led Zeppelin acontecer, Olivia Newton John emplaca “Physical” e os Beatles lançam Anthology

MichaelHutchence
22 de novembro – A morte acidental do líder do INXS, Michael Hutchence, o início da carreira de Simon & Garfunkel e Pearl Jam apenas em vinil

Jerry-Lee-lewis-mugshot
23 de novembro – Jerry Lee Lewis é preso após baixar armado na casa de Elvis Presley, Pink Floyd nas paradas de sucesso e morre Adoniran Barbosa

Freddie-Mercury
24 de novembro – Morre Freddie Mercury, Howlin’ Wolf toca na Inglaterra e o Crowded House encerra suas atividades

bodyguard
25 de novembro – Estreia Guarda-Costas o filme que catapultou a carreira de Whitney Houston, surge a primeira gravadora online e morre Nick Drake

hacienda
26 de novembro – O clube Haçienda é leiloado, o Cream faz seu último show e Richey Edwards, dos Manic Street Preachers, é declarado morto

justifymylove
27 de novembro – O clipe de “Justify My Love” é banido da MTV, Hendrix comemora aniversário num show dos Stones e o Pavement termina ao vivo

elton-lennon
28 de novembro – John Lennon toca pela última vez ao vivo (ao lado de Elton John), Kurt Cobain zoa o Top of the Pops e Britney dá a volta por cima

susanboyle
29 de novembro – O fenômeno Susan Boyle cumpre a promessa em seu primeiro álbum, morre George Harrison e Taylor Swift substitui a si mesma no topo

cartola
30 de novembro – Morre Cartola, Michael Jackson lança Thriller, Madchester chega ao Top of the Pops e Joey Ramone vira um quarteirão em NY

O ano digital de Roberto Carlos

rc

Escrevi para o UOL Entretenimento sobre a iniciativa do velho capixaba de entrar em serviços de streaming, o que diz respeito às mudanças de hábito digitais no Brasil.

A era do streaming

azul-streaming

Escrevi sobre a atual fase do streaming em uma matéria para a Azul Magazine do mês passado, que colo a seguir:

A vez do streaming
Aplicativos tornam-se cada vez mais populares e querem mudar nossa relação com a forma de consumir música – mais uma vez

Em fevereiro, uma troca de cargos levantou uma sobrancelha do mercado de música global quando a Apple anunciou a contratação do DJ Zane Lowe – talvez o principal da rádio estatal britânica BBC – para integrar as fileiras da divisão Apple Radio. O serviço hoje funciona só nos Estados Unidos, mas a iniciativa pode ser mais um passo que a empresa criada por Steve Jobs esteja dando para entrar no universo do streaming.

Aqui, vale uma explicação sobre este novo mercado: trata-se de aplicativos e serviços, pagos ou não, que permitem escutar música a partir de diferentes aparelhos (principalmente smartphones e tablets, mas é possível acessar boa parte deles via web e até pelas smartTVs) e oferecem um leque cada vez mais amplo de artistas, discos e canções. É um setor ainda pequeno (agora que ultrapassou sua terceira dezena de milhões de assinantes no mundo todo), mas seu crescimento vem acontecendo a largos passos (em 2011 eram 8 milhões de assinantes) e a cada ano novos ouvintes aderem ao formato que, para muitos, é um caminho sem volta.

Dá para entender. Afinal, com uma conta em um destes serviços é possível ouvir música sem se preocupar em fazer downloads, ripar CDs ou conectar o celular ao computador. Mesmo o ato de comprar faixa por faixa (ou disco a disco) parece estar com os dias contados, pois paga-se uma mensalidade para ter acesso a um número crescente de novas músicas – o catálogo dos principais aplicativos é parecido e já ultrapassou os 30 milhões de canções disponíveis.

E, como já era de se esperar, o Brasil é um dos principais alvos desses serviços inovadores. “O País é considerado um mercado novo e como tudo que está no inicio apresenta grandes oportunidades e obstáculos”, explica Roger Machado, diretor do Napster para a América Latina. “Talvez o maior desafio agora seja explicar quais os benefícios do streaming e os diferenciais entre os players.”

Os serviços em atuação por aqui já são cinco: Deezer, Napster, Rdio, Spotify e Google Play. “O mercado no Brasil é muito promissor, porque essa tecnologia começou a provar o seu impacto na pirataria”, afirma Mathieu Le Roux, diretor do Deezer para a América Latina. “Segundo um estudo encomendado pela Deezer e outras empresas do setor, quem usa serviços de streaming baixa 31% a menos de música ilegal.”

Em contrapartida, há que vencer a cultura de resistência ao pagamento pelas canções. “Uma das tarefas do setor é catequizar os usuários, explicar a cadeia musical e ressaltar a importância de colaborar com o artista”, prossegue Mathieu.

Os players ainda não brigam entre si justamente por entender que o momento é de trazer novos ouvintes em vez de disputar os já existentes. Por isso a contratação de Zane Lowe pela Apple parece indicar que a empresa vá querer sua fatia deste bolo. No ano passado, ela comprou a fábrica de fones de ouvido Beats e a aquisição incluía seu próprio serviço de streaming. Se somarmos as duas apostas, tudo indica que a Apple pode também pular no mercado de streaming em 2015, fazendo valer sua história na difusão da música digital neste século.

Com que aplicativo eu vou?

As opções disponíveis no Brasil têm preços (em torno de R$15) e catálogos (cerca de 30 milhões de músicas) parecidos. Seus diferenciais são as parcerias, a interface e as promoções:

Spotify
O serviço sueco é o mais popular atualmente. Sua versão premium – pode ser tsatada por 30 dias gratuitamente – permite escutar músicas sem estar conectado à internet e pular os anúncios onipresentes no formato grátis.

Deezer
A opção gratuita do aplicativo francês permite pular apenas um número específico de músicas por dia. Realiza as Deezer Sessions, convidando artistas para fazer shows exclusivos, cujos repertórios ficam disponíveis posteriormente. Recentemente anunciou parceria com a operadora Tim, que pagam menos para ter acesso ao conteúdo do aplicativo.

Rdio
Com uma interface clean e com a possibilidade de funcionar como rede social (há como ver listas de músicas de amigos), o aplicativo pode ser experimentado durante seis meses gratuitamente. Depois disso só é possível utilizá-lo pagando a assinatura.

Napster
Sua versão atual é o oposto do software homônimo, criado em 1999 e que deu origem à pirata digital, já que é o único serviço que não oferece versão grátis. A marca foi comprada pela norte-americana Rhapsody e traz playlists escolhidas por artistas e celebridades, além de ter fechado parcerias com a operadora Vivo e o portal Terra (cujos assinantes pagam menos para ter acesso ao conteúdo do aplicativo).

Google Play
É o caçula dos players e ainda está engatinhando – mesmo com a força do Google por trás, é o que está presente em menos dispositivos, apenas para iOS, Android e web. Foi lançado no fim de 2014 e deve mostrar suas armas este ano, especialmente quando conectar-se a outro serviço pago de música do Google, o YouTube Music Key.

Música, Performance e Mercado no Sesc Ipiranga

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Participo hoje, às 20h, do seminário Música, Performance e Mercado organizado nas quintas-feiras de outubro pelo Sesc Ipiranga. Falo sobre “Mídias sociais, marketing digital e a era da nuvem”, relacionando essas recentes transformações com as mudanças no mercado da música, num papo com o Vinicius Apoena da agência digital MK&Vapps. A entrada é gratuita e os ingressos começam a ser distribuídos com uma hora de antecedência no local. A mediação é feita por Thales de Menezes.

Refletor #004: Satisfação Instantânea?

u2

Na minha coluna para o Brainstorm9 dessa semana, eu falei da inusitada forma como o U2 lançou seu novo disco, Songs of Innocence.

Satisfação Instantânea?
A Apple e o disco do U2 que apareceu no seu computador

Todos rimos quando, no início do mês, a Apple anunciou que daria para todos seus clientes o novo disco do U2 de graça. A princípio o riso era mais um desabafo mau humorado em relação à transformação destas duas marcas – Apple e U2. As duas começaram desbravando novas fronteiras em seus territórios e décadas depois se tornaram o contrário do pregavam antes.

A Apple de Tim Cook é o U2 do século 21: previsível, insosso, preocupado com os tempos modernos mas completamente convencional. Seu novo relógio de pulso não conseguiu instigar nossa curiosidade como Steve Jobs bem temperava qualquer mudancinha em sua linha linha de produtos, todos saudados como o Próximo Passo em Direção à Melhor Perfeição Possível. Sem Jobs, o Apple Watch parece o comunicador de pulso do Dick Tracy, um pequeno trambolho quadrado no pulso.

Já o fulgor carismático de Steve Jobs morreu no U2 lá pelo fim do século passado, quando saíram de um limão prateado na turnê do disco Pop. Na turnê deste disco, de 1997, a banda se autoironizava ao decorar seu palco com um único arco dourado do McDonald’s, assumindo de vez uma versão corporativa de si mesma que no início daquela década (entre suas obras-primas Achtung Baby, de 1991, e Zooropa, de 1993) era só mais uma persona da banda de Bono.

É exatamente neste período em que Bono começa a se descolar do U2, misturando-se entre políticos internacionais como uma espécie de aval artístico que qualquer projeto social ou ambiental – governamental ou não – precisava para ajudar no marketing. Se o U2 virou uma caricatura sonora de si mesmo, Bono encarnou um estereótipo deformado do terceiro setor, investidor de startups e defensor dos animais, presente em qualquer encontro cívico ou esportivo como “o cara da música”.

Nos anos Bush, Bono representava a visão neocon daquilo que deveria ser a esquerda, uma chatice conveniente, mas facilmente descartável. Sua chatice politicamente correta atingiu níveis monumentais e ofuscou qualquer tentativa de sua banda de sair do mesmo lugar (não foram muitas, convenhamos).

Aí os dois se juntam para lançar dar, de graça, o novo disco do U2, Songs of Innocence, para quem quer que já tenha comprado qualquer tipo de conteúdo através da loja online da Apple.

Mas, espera aí, música de graça? Vamos (re)ver o momento em que Bono e Tim Cook conversam sobre o novo anúncio

Bono: Há rumores que o U2 não fez nenhum disco nos últimos cinco anos, mas isso é não é verdade. Nós fizemos alguns discos, só não os lançamos. Estamos fazendo isso o tempo todo. É o que fazemos. Assim, queríamos esperar até que tivéssemos um que fosse tão bom quanto nossos melhores trabalhos – tão bom quanto o melhor que já fizemos.
Tim Cook: Você sabe que nós nos sentimos da mesma forma sobre nossos produtos.
Bono: Nós somos o sangue em suas máquinas oh mestre zen do hardware e software Tim Cook. Olha, na semana passada nós terminamos nosso disco, chama-se Songs of Innocence. Estamos bem animados. A questão agora, mestre zen, é como nós conseguimos atingir o maior público possível ,pois é isso que nossa banda faz?
Tim Cook: Nós somos os primeiros no mundo a ver isso?
Bono: Sim.
Tim Cook: É um white label?
Bono: É isso aí um white label. E a dúvida é que acho que você pode nos ajudar – como conseguimos chegar ao maior número de pessoas possível?
Tim Cook: Bem, temos o iTunes.
Bono: Acho que você tem mais de meio bilhão de usuários no iTunes. Você pode fazer isso chegar neles?
Tim Cook: Claro que sim.
Bono: Você conseguiria, em cinco segundos, apenas apertando um botão “send” mágico da Apple, fazer isso?
Tim Cook: Se dermos o disco de graça…
Bono: Mas antes você vai ter que pagar. Porque nós não estamos nessa de música de graça por aqui.
Tim Cook: Já ouvi dizer que sou um bom negociador.
Bono: Você consideraria dar Songs of Innocence de graça para mais de meio bilhão de pessoas em cinco segundos a partir de agora?
Tim Cook: Sim, podemos. Apertamos um botão e demorará um pouco mais para ir para toda a internet. Mas isso pode começar em cinco segundos.
Bono: Deixa eu ver se entendi, o novo disco do U2 Songs of Innocence irá chegar de graça para meio bilhão de pessoas nos próximos cinco segundos. 5, 4, 3, 2, 1. Uau! Isso é que satisfação instantânea.

Bono parece estar sendo irônico, mas não está. Ele não está dando música de graça para os clientes da Apple. Depois do anúncio soubemos que a música não veio assim de graça – a Apple havia comprado os MP3 da banda para colocá-los no software loja iTunes para seus mais de 500 milhões de clientes em 119 países. Quanto custou? Cem milhões de dólares. Motivos de sobra para o U2 rir sozinho.

Mesmo que, logo em seguida ao anúncio, continuassem rindo deles. Jovens querendo saber quem hackeou seus aparelhos e enfiou músicas de um tal U2 em seu sistema operacional. Na outra ponta, velhos fãs da Apple que não suportam a banda irlandesa devido ao excesso de Bono das últimas décadas que se viram, de repente, com aquela banda chata no meio de sua seleção de artistas cuidadosamente escolhida. A reação foi tamanha que a própria Apple criou um site que permitia deletar o disco de seu sistema operacional.

Sobravam motivos para considerar o anúncio do U2 com a Apple um erro de marketing, como alguns disseram. Até que as vendas começaram.

Vendas? Mas o disco não veio de graça?

Sim, mas os inúmeros fãs da Apple ou do U2 que não sairam reclamando dos dois nas redes sociais não acharam má ideia aquele novo disco da banda de surpresa em seus sistemas operacionais. Uns não conheciam a banda, outros nem lembravam dela. Bastou Songs of Innocence aparecer de graça para que muitos começassem a fuçar o catálogo passado do grupo.

E na primeira semana após o anúncio, nada menos que 24 títulos da banda voltaram ao Top 200 do próprio iTunes – estes foram comprados em vez de baixados de graça. Os discos The Joshua Tree (1987), Achtung Baby (1991), War (1983) e duas coletâneas de singles, Uma delas, U218, chegou ao top 10 no iTunes em 46 países.

Apple e U2 podem não ser mais os líderes de inovação e contestação que já foram no passado, mas a convergência das duas marcas abriu um mercado de ressurreição de catálogo que já vem sendo explorado em box-sets de CD, reedições em vinil, playlists de programa de streaming. A banda irlandesa e a empresa norte-americana deram um passo a mais nesse mercado – e talvez começaremos a receber mais “discos de graça” sem que queiramos em nossos aparelhos.

Será que estamos vendo o nascimento de um novo tipo de spam?

O fim do download

Liv me chamou pra escrever um artigo em cima da matéria dela que foi capa no Segundo Caderno do Globo nessa quarta, sobre a chegada do Spotify ao Brasil e a consolidação do streaming como tendência. A ilustração da matéria é do Tiago Lacerda, da Beleléu.

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O fim do download?
Uma análise sobre o cenário atual da música digital

Estamos entrando na fase 2 da indústria fonográfica no século digital. A fase 1 foi marcada por uma série de decisões arbitrárias, posicionamentos radicais e tiros no pé — principalmente logo que as pessoas começaram a trocar MP3 de graça entre si, graças à invenção de um adolescente americano. Shawn Fanning criou um programa que permitia que as pessoas trocassem arquivos digitais entre si sem que esses arquivos estivessem hospedados em um servidor central, no fim do século passado, e inaugurou uma lógica chamada P2P (do inglês “peer-to-peer”, parceiro para parceiro). Vimos gravadoras multinacionais processando seus próprios clientes, a ascensão da Apple nesse mercado, a consagração do YouTube como uma grande rádio global, a ascensão e queda do MySpace, a solução do Radiohead para a crise e a caça às bruxas que começou com o julgamento dos caras do Piratebay e a prisão espetacular de Kim Dotcom, do Megaupload, no final de 2011.

Enquanto isso tudo aconteceu, artistas, agentes, empresários, gravadoras e novos players entenderam melhor a lógica da internet e hoje vivemos uma fase em que o streaming por assinatura parece ser a aposta certa. São vários novos nomes aos poucos se estabelecendo — Spotify, Deezer, Rdio, Pandora, Grooveshark —, mas a tecnologia pode dar uma rasteira nesse novo cenário. Afinal, em poucos anos teremos pendrives com a capacidade um terabyte (mil gigabytes) ou mais, a preços bem razoáveis. Mais do que isso: essa capacidade de armazenamento vai para os nossos celulares (ou qual seja a espécie de dispositivo móvel de acesso à internet que estaremos usando lá). Já há aplicativos de torrent para celular e já é possível acessar conteúdos em streaming usando a lógica P2P. Em pouquíssimo tempo, download ou streaming vai ser uma diferença meramente técnica. E talvez possamos finalmente falar em fim do download — não por vitória dos grandes conglomerados, mas pelo fato de que as pessoas não precisam mais baixar para consumir. A setinha do download aos poucos vai ficando bem parecida com a do play…

Por que a MTV não passa mais clipes?

A resposta é simples:

Música e internet, por Cory Doctorow

Na edição dessa semana do Link, publicamos um texto do Cory Doctorow em que o editor do Boing Boing fala sobre o porquê do papel central da música, desde o Napster, na discussão em relação às liberdades digitais:

Então, por que a indústria musical continua a ser vista como o bicho-papão das disputas políticas da internet? Brown chamou o ato de baixar músicas de “o pecado original da internet”, imaginando que continuaremos a falar de música por bastante tempo.

Acho que ele está certo. A música existe num ponto especial de intersecção entre o comércio e a cultura, entre o esforço individual e o coletivo, entre a identidade e a indústria, e entre o digital e o analógico. Ela é a forma de arte perfeita para criar uma controvérsia infinita na internet.

O texto inteiro tá no site do Link.

4:20

iTunes no Brasil

Escrevi sobre a chegada do iTunes no Brasil para o caderno de Economia & Negócios do Estadão, na quinta-feira:

iTunes brasileiro não deve mudar hábitos de consumo

A entrada da Apple no mercado de música digital não foi uma ideia original – ela surgiu, na verdade, de uma lacuna deixada pelas empresas que geriam o mercado fonográfico na virada do milênio e não souberam lidar com a chegada da internet. O iTunes surgiu como loja a partir do tiro que as gravadoras deram no pé ao tratar seus consumidores como vilões. E até hoje o revés sofrido é usado como prova de que é impossível deter o digital.

Recapitulando: em 1999, um universitário americano criou um software gratuito que permitia troca de músicas via internet, sem que elas estivessem em um servidor central. Assim, qualquer um poderia ver as músicas que outra pessoa tinha e baixá-las para seu computador. O programa chamava-se Napster e os executivos das grandes gravadoras entenderam como roubo. Se tivessem um pingo de visão empresarial, talvez pudessem comprar o software – como fizeram depois – para estreitar o contato com um público que, aos poucos, começava a abandonar os CDs.

A Apple fez o que as gravadoras não fizeram: legalizou esse comércio e na metade da década já era vista como uma das marcas mais associadas à música no século 21, sendo que a empresa lucrou muito mais com a venda de tocadores de MP3 – o icônico iPod – do que com a venda de músicas. Assim, pegou os americanos em um momento em que eles começavam a baixar música de graça e os educou para as compras online.

Não é um formato ideal. As músicas são vendidas individualmente, o que faz o preço das músicas de um único disco às vezes ser mais alto que o de um CD, um artefato que teve custos vinculados à fabricação, transporte, estoque e varejo. E, nos últimos dez anos, viu-se a ascensão de serviços que cobram assinatura. Nesse formato, o ouvinte não precisa sequer fazer o download – ouve o que quiser, no aparelho que quiser.

Quase dez anos após ter sido lançado nos EUA, o iTunes chega ao Brasil cobrando, em dólar, preços que conseguem ser maiores que os concorrentes em mídia física. E isso num mercado que não tem tradição de venda de mídia digital, acostumado a baixar música sem pagar. Um cenário mais favorável à entrada dos tais serviços por assinatura.

O iTunes brasileiro terá consumidores, mas serão pessoas que ainda tateiam no meio digital, gente que não se familiarizou com o download de música e que ainda apanha do computador. Não existe a possibilidade de a Apple conseguir educar o brasileiro para comprar música. Esse tempo já passou. Resta torcer para que os modelos por assinatura não levem tanto tempo para chegar por aqui…