Finalmente! Amigo do Tempo é melhor que Homem-Espuma e está disponível para download. Baixou?
O Alex resgatou e o Mombojó publicou vídeos com as apresentações que fez junto ao Los Hermanos em Curitiba e Porto Alegre, em 2006. No blog deles tem as duas bandas tocando juntas músicas do grupo carioca.
Enquanto Fred Zero Quatro lamenta a queda das gravadoras, o Mombojó faz aquilo que o Los Hermanos devia ter feito em Ventura – só que na marra. Sem gravadora, a banda preferiu se embrenhar no mato sem cachorro por conta própria e lançar o terceiro disco na unha. O vídeo acima mostra trechos das gravações do novo álbum, Amigo do Tempo (com cenas impagáveis, como o baterista Vicente, naturalmente chapado, falando que “o sistema independente é muito difícil” enquanto Chiquinho encarna o “Robot Rock” no teclado), e China, praticamente um dos integrantes da banda, embora não-oficialmente, acompanhou todo o processo e escreveu sobre ele no blog da dos caras:
“Quando as sessões de ensaio terminaram, eles tinham dezessete músicas e estavam prontos para registrá-las. Mas gravar onde? Com que dinheiro? Estar numa gravadora não valeria muito à pena, pois nem elas saberiam que caminho percorrer nesse confuso momento em que se encontra a indústria fonográfica.
Daí veio a grande sacada: “Porque não seguir o lema do movimento punk e fazer o disco nós mesmos?”. A idéia ganhou força rapidamente dentro da banda e logo estávamos todos (o Mombojó, eu, Homero Basílio e Jr.Black) na fazenda Rodízio, a 40 km de distância do Recife para dar início aos trabalhos. Levamos microfones, pré-amplificadores, compressores, guitarras e tudo o que tínhamos a mão para tentar registrar o som dos caras da melhor forma possível, mas percebemos que não seria uma tarefa fácil. A fazenda não tinha estrutura de estúdio, era apenas uma tranqüila e silenciosa casa de campo, e acredito que naquele lugar nem um violão tinha passado antes, que dirá uma bateria. Deu muito trabalho ambientar a sala onde seriam gravados os instrumentos. Forramos as paredes com lonas, para evitar que o som rebatesse demais, e colchões foram colocados estrategicamente nos cantos da sala, pois, dizem os especialistas, que numa sala de gravação não podem existir quinas. Foi uma montagem totalmente autodidata.
Muitos cabos depois e alguns choques elétricos, estava tudo pronto para começar a melhor parte. Foram duas semanas de intenso trabalho e muita diversão. Os takes eram gravados entre uma partida de futebol e um banho de piscina. Tudo caminhava em perfeita harmonia. O Mombojó sabia exatamente o que queria passar em cada canção, e para que isso acontecesse, aquele estado de espírito era fundamental. Depois que o grosso do material foi captado na fazenda Rodízio, os caras se trancaram na casa dos irmãos Marcelo e Vicente para editar o que fosse necessário e incluir os teclados de Chiquinho nas músicas. Hoje em dia não é preciso estar num grande estúdio para fazer esse tipo de coisa, e nada melhor do que o conforto do lar para realizar o trabalho”
Air – “Sing Sang Sung”
Thom Yorke – “Harrowdown Hill”
Mombojó – “Amigo do Tempo”
Scarlett Johansson & Pete Yorn – “Relator”
Crookers – “Put Your Hands on Me (featuring Kardinal)”
O Itaú Cultural fez um especial sobre a Jovem Guarda, com farto material multimídia e vários textos sobre o tema – vale a visita. E entre artigos assinados por bambas como o Fernando Rosa e o Ricardo Alexandre, me pediram para escrever uma matéria sobre a influência do movimento cultural no pop brasileiro do século 21. Olha o texto aê (para o ler o original, entre no site e clique na seção Textos).
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E que tudo mais vá pro inferno
Geração pop endossa a importância da jovem guarda para a história da música brasileira
Dá para imaginar o que seria da música brasileira se não houvesse a jovem guarda? Mesmo que não possa ser ouvido como um gênero específico – afinal, começou como a diluição do impacto mundial do rock por meio do senso estético e passional da América Latina –, o movimento talvez tenha sido o principal fenômeno musical do século passado no Brasil. Sua força vai além das canções e dos filmes de Roberto Carlos. Jovens, urbanos e elétricos, seus músicos conseguiram atingir o país com o mesmo impacto dos reis e das rainhas do rádio nas gerações anteriores e tiveram suas principais características absorvidas por quase todos os músicos, compositores e intérpretes que vieram em seguida. Do samba-rock ao tropicalismo, passando pela cena funk/soul dos anos 1970, pelos Mutantes e pela própria MPB, e indo até a música sertaneja e o rock dos anos 1980, todos reconhecem que a jovem guarda foi uma das manifestações populares mais autênticas da música brasileira, cuja repercussão ainda é sentida no país.
Por mais diverso e esquizofrênico que pareça ser o cenário pop atual, ele tem suas raízes inteiramente vinculadas ao movimento inaugurado pelo trio Roberto, Erasmo e Wanderléa. E da jovem guarda é possível colher frutos tão improváveis quanto a eletricidade dançante do trio Autoramas, as guitarras do La Pupuña, a autocrítica pop do Cabaret, o romantismo descarado do Cidadão Instigado, as melodias do Mombojó e o apelo direto de Lucas Santtana, além de toda a escola de rock gaúcho inaugurada pela Graforréia Xilarmônica, do carisma do pernambucano China e do tom confessional do Los Hermanos.
Um exemplo dessa influência direta está em Gabriel Thomaz, do Autoramas, que se reuniu com outros músicos de sua geração para, ao lado do tecladista Lafayette Coelho, reverenciar o período com a banda Lafayette e os Tremendões. Já China e alguns integrantes do Mombojó celebram a importância de Roberto Carlos com o grupo Del Rey. Trata-se de uma geração que cresceu ouvindo esse ritmo sem os preconceitos dos que, naquele período, o tachavam de música descartável ou rotulavam os músicos da jovem guarda de alienados políticos.
“Uma pitada sacana”
“Não sei se existe outro movimento nacional mais influente quando se fala em música popular. Todo mundo ouviu e tirou alguma coisa da jovem guarda, de Caetano Veloso ao brega paraense, de Amado Batista ao Autoramas”, explica Gabriel Thomaz. O gaúcho Frank Jorge, fundador da Graforréia Xilarmônica, concorda: “Foi ela quem trouxe o tipo de formação instrumental baixo, guitarra, bateria, voz e órgão, um novo enfoque para os arranjos”. O paulistano Curumin complementa: “Não consigo imaginar, por exemplo, o que teria acontecido com a tropicália, a psicodelia, o samba-rock e o rock dos anos 1980 caso a jovem guarda não tivesse acontecido”. Para Adriano Sousa, baterista da banda paraense La Pupuña, “o maior legado são as guitarras, os teclados do Lafayette e, claro, as letras, ingênuas mas com uma pitada sacana”.
Márvio dos Anjos, da banda Cabaret, teoriza: “Radicalizando, sem a jovem guarda o cenário pop do Brasil teria abraçado esse conceito babaca de linha evolutiva da MPB de raiz. Haveria rock, mas Cabeça Dinossauro [1986], dos Titãs, por exemplo, não seria precedido por canções deliciosas como Sonífera Ilha e Insensível. O Los Hermanos teria inaugurado a carreira com Bloco do Eu Sozinho [2001], e perderíamos Anna Júlia, que é a obra-prima deles. Sem falar o que devem a eles várias bandas do fim dos anos 1990, como Autoramas, e todo o rock gaúcho. Por outro lado, os caminhos de Rita Lee – com o Tutti-Frutti – e de Lulu Santos não teriam sido pavimentados por uma série de corinhos, e talvez eles fossem menos subestimados do que são por parte da geração atual. Enfim, o problema é que, com ou sem jovem guarda, o Brasil ainda é muito preconceituoso com a música adolescente. A galera quer ver maturidade em tudo e não repara que isso é coisa de velho”.
Já o compositor baiano Ronei Jorge pondera a extensão da influência da jovem guarda: “Não sei se dá para precisar o legado da jovem guarda na atual geração. Muitas coisas se passaram e se misturaram: tropicalismo, bossa nova, música cafona, mangue-beat etc.”. Kassin, que participa de projetos como o + 2 e o Artificial, além da banda Acabou la Tequila, pontua: “Acho que as gravações mudaram muito com a jovem guarda – a forma de orquestração, a introdução da guitarra. Isso abriu as portas para o que veio depois”. BC, guitarrista da banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju, complementa: “Houve um lado tecnológico, quando surgiram guitarras, baixos e amplificadores nacionais”.
Liberdades individuais
O fenômeno pop da jovem guarda deve-se em grande parte à expansão da cultura rock ’n’ roll pelo planeta, que estabeleceu um novo parâmetro para a música feita no Brasil. “A jovem guarda é a precursora do rock no país e tem um papel importantíssimo num conceito de rock sobre e para a diversão”, continua Márvio. “Hoje, o engajamento político está cada vez mais démodé, as democracias estão aí como queríamos, os movimentos sociais e as ONGs, mas o que a nossa geração quer mesmo são as liberdades individuais. A jovem guarda falava disso e virou referência, mesmo com uma rebeldia mais ingênua. ‘Manter a fama de mau’ para sair com mulheres, o sonho com o carro, a insatisfação com a ilegalidade dos prazeres ou com a rigidez da moral vigente”. Kassin emenda: “Para mim, aquelas músicas do Chico Buarque falando coisas pelas beiradas não faziam o menor sentido quando eu era adolescente. Minha reação era: ‘Por que ele não fala o que está pensando?’. Claro que hoje entendo melhor o período, mas a jovem guarda não precisava ser explicada”.
“Música emociona ou não emociona”, diz o cearense Fernando Catatau, guitarrista e líder do Cidadão Instigado. “As pessoas queriam ouvir canções politizadas no Brasil, então qualquer uma que não fosse assim parecia não ser legal. E na jovem guarda era tudo muito simples e puro”. Frank Jorge concorda: “Os tempos pediam posicionamentos. E eles diziam coisas que faziam sentido para eles e, é claro, para milhões de brasileiros. Podiam não ter uma postura política orgânica, engajada, mas a exerciam na prática”.
“Quase orixás”
Lucas Santtana cita uma música como exemplo da força do movimento: “Quero que Vá Tudo pro Inferno, de Roberto e Erasmo Carlos, já começa negando a tradição da canção popular brasileira ao indagar: ‘De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar?’. Símbolos que sempre foram orgulho nacional são postos à prova para no refrão culminar no que Fausto Fawcett chamaria de ‘puro-desabafo-egotrip-adolescente’: ‘Só quero que você me aqueça nesse inverno/E que tudo mais vá pro inferno’”. Gabriel concorda: “A jovem guarda reside no trio Roberto, Erasmo e Lafayette, e Quero que Vá Tudo pro Inferno tem o dedo dos três. É o som característico da jovem guarda”. “É uma obra-prima”, afirma China. “Como um artista consegue fazer sucesso com uma música que manda tudo pro inferno? É meio surreal se levarmos em conta todo o momento político da época.”
A dupla Roberto e Erasmo tem papel crucial nessa história: “É clichê falar deles como Lennon/McCartney, Jagger/Richards, mas a alimentação entre os dois, a provocação, as piadas internas, a competição e a busca por aprofundamento de caminhos musicais sem sair do pop os tornam artistas muito mais interessantes. Como se não bastasse o repertório”, lembra Márvio.
Lucas Santtana pontua que “a canção popular brasileira foi geneticamente modificada pela dupla e sua herança é nítida até hoje quando ouvimos artistas atuais como China, Ronei Jorge, Catatau, Rubinho Jacobina e Flavio Basso”. “Os dois são quase orixás”, arremata Kassin.
O programa ficou bonzão: tem psicodelia brasileira, punk funk da tribo, Caymmi mogadon, Oranger classudo, Elephant Six intravenoso (fora mais Of Montreal), guitarreira noventa, Cure fase morcego, esquizofrenia a go-go, lo-fi green-belly, pepperismo sul-africano, indieces, Beatles via Franz, roquinho de violão, o pai da bossa nova, pernambuquice e a nova do Cold War Kids.
MGMT – “Indie Rokkers”
All Girl Summer Fun Band – “Looking Into It”
Gang Gang Dance – “Bebey”
Marcelo Camelo – “Doce Solidão”
Supercordas – “Mágica”
Franz Ferdinand – “It Won’t Be Long”
Why? – “Song of the Sad Assassin”
Built to Spill – “Center of the Universe”
Cure – “One Hundred Years”
Of Montreal – “Triphallus, to Punctuate!”
Superbug – “Ice Cream Headache”
Ladyhawke – “Dusk Till Dawn”
Cold War Kids – “Something is Not Right with Me”
Mombojó – “Realismo Convincente”
Major Organ and the Adding Machine – “Un, Deux, Trois”
Quentin E. Klopjaeger – “Weatherman”
Last Shadow Puppets – “Standing Next to You”
João Gilberto – “Trevo de Quatro Folhas”
Oranger – “Sorry Paul”
Valeu, rapá.
Neutral Milk Hotel – “Oh Comely”
Serge Gainsbourg – “Ah! Melody”
Fleet Foxes – “Blue Ridge Mountains”
Zombies – “Changes”
Justice – “D.A.N.C.E. (Alan Braxe & Fred Falke Remix)
Jorge Ben – “Jazz Potatoes”
Dr. Lonnie Smith – “Devil’s Haircut”
Stereolab – “Three Women”
Buguinha – “Liberate”
Mombojó – “Desencanto”
David Byrne & Brian Eno – “Strange Overtones”
Talking Heads – “Electric Guitar”
Vanguart – “Spanish Woman”
Beatles – “Too Much Monkey Business”
Cansei de Ser sexy – “Move (Cut Copy Remix)”
Kills – “Cheap and Cheerful (Sebastian Remix)”
Stevie Wonder – “Supersticious (Justice Remix)”
Sebadoh – “It’s So Hard to Fall in Love”
João Gilberto – “É Luxo Só”
Surfe no YouTube, foco no rock independente brasileiro e olha só a relação de filé mignon que eu separei aí embaixo… E eu sei que tem mais, mas se liga:
“Calma” e “Pinto de Peitos” – Cidadão Instigado
“Chuva Negra” e “Mestro” – Hurtmold
“Câncer” – Walverdes
“Rainmaker” – Grenade
“Swinga” – Mombojó
“Máquina de Ricota” – Bonde do Rolê
“Noite” – Ronei Jorge & os Ladrões de Bicicleta
“Babydoll de Nylon” – Karine Alexandrino
“Querida Superhist x Mr. Frog” e “Beatle George” – Jupiter Maçã
“Burn Baby Burn” – MQN e o Marquinho Butcher
“Nada a Ver” – Autoramas
“Blablabla” – Pipodélica
Bonus track: Clipe não-autorizado para “Alala”, do Cansei de Ser Sexy, gravado na Torre (esse aqui é o oficial e aqui a mesma música no trio elétrico do Skol Beats, junto com o Camilo Rocha).
Bonus track dois: Teenage Fanclub no No Ar: Coquetel Molotov, em Recife (“What You Do To Me“, melhor impossível)., que dá a deixa pra outro tópico – shows gringos no Brasil.
Ajudem aí. Tanto esse quanto o próximo. Inclusive vocês que têm um monte de vídeos desses em casa.