A volta do Mombojó

, por Alexandre Matias

Enquanto Fred Zero Quatro lamenta a queda das gravadoras, o Mombojó faz aquilo que o Los Hermanos devia ter feito em Ventura – só que na marra. Sem gravadora, a banda preferiu se embrenhar no mato sem cachorro por conta própria e lançar o terceiro disco na unha. O vídeo acima mostra trechos das gravações do novo álbum, Amigo do Tempo (com cenas impagáveis, como o baterista Vicente, naturalmente chapado, falando que “o sistema independente é muito difícil” enquanto Chiquinho encarna o “Robot Rock” no teclado), e China, praticamente um dos integrantes da banda, embora não-oficialmente, acompanhou todo o processo e escreveu sobre ele no blog da dos caras:

“Quando as sessões de ensaio terminaram, eles tinham dezessete músicas e estavam prontos para registrá-las. Mas gravar onde? Com que dinheiro? Estar numa gravadora não valeria muito à pena, pois nem elas saberiam que caminho percorrer nesse confuso momento em que se encontra a indústria fonográfica.

Daí veio a grande sacada: “Porque não seguir o lema do movimento punk e fazer o disco nós mesmos?”. A idéia ganhou força rapidamente dentro da banda e logo estávamos todos (o Mombojó, eu, Homero Basílio e Jr.Black) na fazenda Rodízio, a 40 km de distância do Recife para dar início aos trabalhos. Levamos microfones, pré-amplificadores, compressores, guitarras e tudo o que tínhamos a mão para tentar registrar o som dos caras da melhor forma possível, mas percebemos que não seria uma tarefa fácil. A fazenda não tinha estrutura de estúdio, era apenas uma tranqüila e silenciosa casa de campo, e acredito que naquele lugar nem um violão tinha passado antes, que dirá uma bateria. Deu muito trabalho ambientar a sala onde seriam gravados os instrumentos. Forramos as paredes com lonas, para evitar que o som rebatesse demais, e colchões foram colocados estrategicamente nos cantos da sala, pois, dizem os especialistas, que numa sala de gravação não podem existir quinas. Foi uma montagem totalmente autodidata.

Muitos cabos depois e alguns choques elétricos, estava tudo pronto para começar a melhor parte. Foram duas semanas de intenso trabalho e muita diversão. Os takes eram gravados entre uma partida de futebol e um banho de piscina. Tudo caminhava em perfeita harmonia. O Mombojó sabia exatamente o que queria passar em cada canção, e para que isso acontecesse, aquele estado de espírito era fundamental. Depois que o grosso do material foi captado na fazenda Rodízio, os caras se trancaram na casa dos irmãos Marcelo e Vicente para editar o que fosse necessário e incluir os teclados de Chiquinho nas músicas. Hoje em dia não é preciso estar num grande estúdio para fazer esse tipo de coisa, e nada melhor do que o conforto do lar para realizar o trabalho”

China conta mais aqui.

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