O primeiro release do Legião Urbana foi escrito à mão num papel de embrulhar pão

Marcelo Bonfá compartilhou em sua página no Facebook um release que Renato Russo escreveu sobre o primeiro show do Legião Urbana em Brasília, ainda em 1982. O grupo havia acabado de se apresentar num festival em Patos de Minas, em Minas Gerais, e preparava-se para fazer seu primeiro show em sua cidade-natal. O grupo ainda era um trio que nem contava com Dado Villa-Lobos em sua formação – embora Dado fosse citado, por conta de sua outra banda, neste mesmo release. A formação do Legião nesta época tinha Russo (tocando baixo e cantando), Bonfá (na bateria) e o guitarrista Eduardo Paraná. O detalhe é que o release, que preparava o público para a chegada de um grupo que bradava que “o importante é fazer o que você quer e ficar bem com todo mundo que quer se divertir.” “O Renato adorava escrever estes pequenos releases sobre nós”, escreveu Bonfá na rede social, “Não me lembro exatamente a que show ele está se referindo mas como diz o release, tratava-se da nossa primeira apresentação em Brasília antes do Dado entrar para a banda. Bem antes de assinarmos com a EMI. Renato deve ter escrito isso em 1982.”

Leia abaixo:  

O dia em que Andy Gill tocou com o Legião Urbana

andy_gill-legiao

Das quatro vezes que Andy Gill veio ao Brasil, apenas uma delas não fez show com o Gang of Four e sim com… o Legião Urbana! Num show tributo ao grupo criado pro Renato Russo, seus integrantes remanescentes Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá resolveram homenagear suas origens e seu fanatismo adolescente trazendo um dos ícones que moldaram o pensamento estético da banda em seus primeiros dias, justamente o recém-falecido guitarrista do Gang of Four. Gill foi um dos convidados do show MTV Ao Vivo – Tributo à Legião Urbana, que aconteceu em 2012, com o ator Wagner Moura fazendo as vezes do vocalista original.

Andy subiu para tocar duas músicas com o grupo, que durante estes números contou com o paralama Bi Ribeiro no baixo. A primeira delas, uma versão para “Damaged Goods” do Gang of Four com o próprio Dado nos vocais tinha um clima mais de karaokê com amigos para realizar um sonho juvenil, mesmo com o guitarrista inglês mostrando serviço. Na segunda música, resolveram embarcar na música do Legião que o grupo escolheu para mostrar a influência do grupo inglês na banda brasiliense, a balada gótica “Ainda é Cedo”. O vídeo abaixo tem uma qualidade melhor que o de cima – e traz o show na íntegra (e dá pra entender a treta de Dado com alguém na plateia).

Mas podiam ter tocado “A Dança” também, né?

30 anos do primeiro disco do Legião Urbana

legiao-1985

Após retomar os direitos para usar o nome Legião Urbana, Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá preparam o relançamento do primeiro disco da banda, lançado há trinta anos, com vários extras e gravações inéditas que nunca viram a luz do dia, além de anunciar um show em que tocarão este primeiro disco na íntegra. Explicam os dois em comunicado pelo Facebook:

“Depois de termos nossos direitos reconhecidos pela Justiça, recebemos da EMI – hoje parte da Universal Music – a proposta de lançar uma Edição Especial do nosso primeiro disco, também chamado de ‘Legião Urbana’, e originalmente lançado em 1985.

Surgia então o projeto ‘LEGIÃO URBANA – 30 ANOS’. Uma Edição Especial que, além de trazer o disco original remasterizado, trará um outro disco contendo algumas pérolas e raridades cuidadosamente guardadas nos cofres da gravadora. Entre elas estão, por exemplo, as três músicas que a EMI nos convidou para gravar no Rio de Janeiro em 1983, quando éramos um trio de rapazes vindo de Brasília – ainda com o Renato tocando baixo e cantando! Este lançamento da EMI/Universal está previsto para final de 2015.

O processo de mexer com todas essas fitas, de ver aquelas fotos, de ler aqueles textos e, principalmente, de ouvir aquelas primeiras versões das nossas músicas, exatamente como elas foram criadas, foi realmente emocionante. Tanto que acabou despertando a vontade de estarmos juntos tocando de novo.

Dessa vontade surgia uma segunda ideia: a de chamar alguns amigos e montar um show para tocar o nosso primeiro disco na íntegra. Mas, para evitar erros ou mal-entendidos, sentimos a necessidade de deixar bem claro que não existe possibilidade alguma de ‘volta’ da Legião Urbana. Como já dissemos inúmeras vezes, a Legião – como banda – acabou junto com a morte do Renato, em 1996. E, ninguém pode substituí-lo. Único e insubstituível.

Esse encontro onde vamos comemorar os 30 anos do nosso primeiro disco – tocando ele na íntegra – vai levar o nome do próprio disco, e será divulgado da seguinte forma:

DADO VILLA-LOBOS e MARCELO BONFÁ
em
“LEGIÃO URBANA – 30 ANOS”

É inevitável imaginar que os dois farão isso com cada um dos discos da banda, sempre comemorando 30 anos do lançamento de cada disco com uma série de shows e um relançamento. Quer saber? Tão certo eles…

Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá não são mais Legião Urbana

dadobonfa

Ou, melhor dizendo, os dois ex-integrantes da banda idealizada por Renato Russo não podem mais usar o nome do grupo, pois este pertence ao herdeiro do vocalista, Giuliano Manfredini. Vi na Zero Hora.

Legião Urbana + Cidadão Instigado

Você já viu o Cidadão Instigado tocando Legião Urbana, mas que tal um Legião Urbana cantando Cidadão Instigado?

O vocal do Bonfá consegue deixar ainda melhor o do Catatau.

Legião Urbana 2012: Marcelo Bonfá, Dado Villa-Lobos e… Wagner Moura!

Não ri não que é sério! Os três vão representar a história da banda num especial da MTV.

E você sabe que o Wagner já andou por essa praia, né….

2009: O ano da volta do Legião Urbana?

Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está

Embora muita gente entorte a cara, uma das principais bandas da história do pop brasileiro pode estar às vésperas de renascer para toda uma nova geração. Com o anúncio ano passado que a EMI finalmente vai disponibilizar online o catálogo do Legião Urbana, aos poucos começa uma espécie de Anthology brasileiro, idealizado por Renato Russo desde antes de sua banda existir, que em seus últimos anos de vida idealizava uma caixa com todo o material não-oficial do grupo lançada com o título de Material.

Mas o Legião continua firme e forte, rendendo não apenas dinheiro para sua gravadora e detentores de direitos autorais como reverberando no imaginário coletivo sempre de alguma forma – seja numa regravação, numa peça, num programa de TV. A presença de Renato Russo no imaginário coletivo brasileiro é uma constante maior do que ídolos mais incensados – como Cazuza, Raul Seixas ou os Mutantes – mesmo que não haja o oba-oba característicos dos fãs destes grupos.

Veja por exemplo, um festival realizado em Montevidéu no Uruguai que foi responsável, pela primeira vez depois do fim da banda, por reunir Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá de novo num palco – e para tocar Legião Urbana. Organizado no final de 2008 por bandas fãs uruguaias do grupo de Brasília, o evento teve um público de 2 mil pessoas que teve a oportunidade de assistir, entre outras atrações, ao Dado desafinando no vocal de “Índios”.

O Bruno do Sobremúsica entrevistou o Dado sobre o show no Uruguai:

Assisti da platéia, quente e lotada o Sebastián (vocalista da banda Vela Puerca) cantar “Se fiquei esperando meu amor passar”. Chorei! Muito emocionante, nunca mais tinha ouvido essa música ao vivo… E assim foi até a décima-primeira música quando eles nos chamaram ao palco e o La Trastienda (casa de shows) foi abaixo. Cantei “Índios” acompanhado do pessoal do Bajofondo, Juan, Luciano , Gabriel e Bonfá na bateria… Foi incrível. Na sequência Bonfá cantou “Pais e filhos” e mais uma vez a casa caiu… E assim se deu até o fim, momentos de grande emoção e comoção generalizada, todos acabaram em êxtase numa grande confraternização sulamericana. O melhor é que está tudo filmado. Lavamos a égua…

Isso no Uruguai. Por aqui, mal se fala num grupo que é a única banda pop brasileira que chega aos pés de Chico, Caetano ou Gil no critério quantidade de hits no inconsciente coletivo nacional. Nenhum outro grupo de rock brasileiro teve uma trajetória tão particular e uma aceitação tão instantânea – e massiva – de seu trabalho. Mais do que “porta-voz de sua geração”, Russo teve um papel crucial na história da música pop brasileira, quando ensinou a várias safras diferentes de ouvintes que era possível compor letra de música que não tivesse necessariamente cara de letra de música. Boa parte dos hits do Legião tem letras que parecem ter saído de conversas, de bate-papos, em vez de terem sido propriamente compostas.

E, bem ou mal, Renato Russo foi o arquetípico indie brasileiro. O moleque que não gosta de samba nem de praia, que fica ouvindo suas bandas desconhecidas no quarto, vivendo fantasias rock’n’roll. Renato imitava Morrissey e Ian Curtis quando se apresentava, líderes de duas bandas essencialmente indies, além de ter posado para a foto interna de um disco (V) com a camiseta do Jesus & Mary Chain. Nunca gravou cover, fez apenas citações de músicas alheias no meio de suas músicas. Quando fez concessões à música estrangeira, saiu em carreira solo, foi atrás de um tema para reunir grandes compositores americanos e outro para juntar breguices italianas. “Feche a porta do seu quarto porque se toca o telefone pode ser alguém com quem você quer falar por horas e horas e horas” é uma letra que fala de um comportamento típico do nerd atual – e isso antes da internet ou celulares existirem.

O indie, como tribo, é o nerd do rock (e não necessariamente só do rock inglês pós-86, mas de toda história do rock) – o cara que sabe a ordem das faixas de qualquer disco (pode ser dos Beatles, do My Bloody Valentine, do Engenheiros do Hawaii ou dos Ramones) equivale sua nerdice com gente disposta a aprender a falar orc ou klingon. A sutil diferença entre o indie e o nerd clássico é que os ídolos do primeiro aspiram por algo que os ídolos do segundo ignoram: estilo. Se bem que tem gente que acha que os uniformes dos Beatles (seja na Beatlemania ou no Sgt. Pepper’s) eram mais brega do que os de Jornada nas Estrelas (tudo bem – mas as únicas pessoas que eu vi fantasiadas de Beatles na vida eram bandas cover).

O Legião Urbana podem ser uma peça que está faltando no cenário pop brasileiro atual, que una tanto a geração dos festivais independentes com a cadavérica safra insistente das bandas de rock dos anos 80, aos grupos dos anos 90 que estão cada vez mais perdidos, aos indies ortodoxos que só ouvem bandas em inglês e aos emos cujas bandas podem aprender que compor em português permitem rimas que não são apenas verbos no infinitivo. O fato de Russo ter morrido pode ser crucial para não virar apenas mais um revival – substitui-lo por qualquer vocalista para uma volta do Legião me parece ainda mais risível do que colocar alguém para cantar no lugar de Freddie Mercury e chamar a banda de Queen – e fazer com que o cenário pop brasileiro finalmente se enxergue como um só.