Rap brasileiro contra o ódio e pela democracia

rappelademocracia

D2, Criolo, Rappin Hood, Don L, BNegão, Brown, Emicida e outros se posicionam contra o fascismo nas eleições brasileiras ao ler o manifesto Rap pela Democracia em uma só voz.

Eles criaram um site para explicar melhor o que está em risco – confere lá.

Os melhores de 2017 na música segundo a APCA

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Eis o resultado da eleição dos melhores do ano na categoria música popular segundo o júri da Associação Paulista de Críticos de Arte, do qual faço parte:

Grande prêmio da crítica: João Gilberto
Artista do ano: Rincon Sapiência
Melhor álbum: Boca, Curumin
Melhor show: Mano Brown (Boogie Naipe ao vivo)
Revelação: Pabllo Vittar
Projeto especial: Selo Discobertas (Acervo)
Música do ano: “As Caravanas”, Chico Buarque

Além de mim, participam do júri Fabio Siqueira, José Norberto Flesch, Marcelo Costa, Tellé Cardim, Lucas Brêda e Roberta Martinelli, estes dois últimos estreando na votação este ano.

Os indicados de 2017 da APCA

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Mais uma leva de indicados às categorias anuais da categoria de melhores do ano em Música Popular de acordo com o júri da Associação Paulista de Críticos de Arte, do qual faço parte. Depois das duas levas de discos (do primeiro e do segundo semestre), agora é a vez de saber quem são os indicados nas categorias artista do ano, show do ano, artista revelação e música do ano. A Adriana os antecipou em sua coluna no UOL e eu os trago pra cá. São eles:

ARTISTA DO ANO
Anitta
Chico Buarque
Mano Brown
Rincon Sapiência
Tim Bernardes

SHOW DO ANO
Cidadão Instigado – 20 anos
Curumin – (Boca ao vivo)
Far From Alaska – (Unlikely ao vivo)
Luiza Lian – (Oyá Tempo ao vivo)
Mano Brown – (Boogie Naipe ao vivo)

ARTISTA REVELAÇÃO
Baco Exu do Blues
Giovani Cidreira
Linn da Quebrada
My Magical Glowing Lens
Pabllo Vittar

MÚSICA DO ANO
Baco Exu do Blues – “Te Amo Disgraça”
Chico Buarque – “As Caravanas”
MC Fioti – “Joga o Bum Bum Tam Tam”
Pabllo Vittar – “K.O.”
Rincon Sapiência – “Meu Bloco”

Além de mim, votaram também nos indicados Marcelo Costa e José Norberto Flesch. O resultado da votação será divulgada na semana que vem.

Como foi o primeiro Spotify Talks de 2017

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Foi ótimo o papo sobre as diferenças e semelhanças entre a rua e a internet e como ambas influenciam de forma complementar padrões de comportamento neste novo século. A conversa teve a mediação da querida Renata Simões e reuniu um trio sensacional: Mano Brown, Tássia Reis e Kondzilla.

E o próximo Spotify Talks, nem te digo…

Spotify Talks 2017: Mano Brown, Tássia Reis e Kondzilla

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Reiniciamos os trabalhos da série Spotify Talks, ciclos de debates sobre música que concebi com o maior player de streaming do mundo, e começamos 2017 quente – o papo “Rua e Rede” mistura internet e vida offline traçando paralelos entre a ascensão da música digital e das redes sociais no Brasil com a expansão da chamada música de rua. Para isso convidamos um time de peso: o próprio Mano Brown, a sagaz Tássia Reis e o senhor Kondzilla participam da conversa que terá mediação da querida Renata Simões. O papo começa a partir das 20h desta terça-feira e será transmitido através da página do Facebook do Update or Die (confira mais informações aqui).

O Baile do Brown

Fotos: Willian Alves (Divulgação)

Fotos: Willian Alves (Divulgação)

Mano Brown lança seu primeiro disco solo transformando uma casa de shows num epicentro da música negra brasileira – escrevi sobre o show no meu blog no UOL.

Carlos Dafé, Seu Jorge, Ed Motta, Max de Castro, Hyldon – um verdadeiro panteão da música negra brasileira desfilou no palco de Mano Brown em sua primeira apresentação solo, na sexta passada, no Citibank Hall. E eles não eram os únicos a circular pelo palco – o maior nome do rap nacional veio cercado de uma banda com mais de dez músicos, sem contar dançarinos. E, no centro de tudo, ele sorria.

Brown não conseguia disfarçar – nem tinha por quê. Ele estava ali vivendo seu sonho de infância, uma versão pós-moderna para os espetáculos do Earth Wind & Fire, uma versão maiúsculas dos antigos bailes black nas periferias e no centro de São Paulo. Uma banda da pesada, com naipe de metais, backing vocals, dois guitarristas, tecladista, baterista, baixista DJ e percussionista, puxando um funk clássico, que ia groove orgânico dos anos 70 ao suíngue sintético dos anos 80, aquele clima entre o início da disco music e sua implosão que Brown sublinha ao chamar seu disco solo de Boogie Naipe. É uma noite dedicada à dança, ao flerte, à alegria e ao prazer, bem longe da cara amarrada e do clima denso que Brown criou dentro dos Racionais MCs.

Os shows de abertura – de Rincon Sapiência e Rael – não trouxeram todo o público para o local, deixando transitável a pista da casa de shows. Mas bastou começar a espera pelo show principal que logo o lugar começou a ficar lotado – nunca vi tanta gente na enorme casa de shows da zona sul de São Paulo. As cortinas se abriram pouco mais de uma hora após o horário anunciado (meia-noite), o que foi praticamente pontual levando em conta os atrasos intermináveis característicos dos shows dos Racionais.

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Cortinas abertas, luzes passeando entre os músicos e o público e uma lotação de pessoas no palco também semelhante à multidão no palco dos shows dos Racionais. Mas ali não era a entourage dos rappers e sim uma big band que descia a lenha para o público se esbaldar. À frente da banda, o rapper e cantor Lino Crizz, principal parceiro de Brown nesta nova fase, funcionava como o maestro da banda: vestido na estica, cabelo e vocais impecáveis, Crizz funcionava como a liga entre a banda e o dono da festa, sob o néon colorido que reproduzia de forma gigantesca a capa gráfica do álbum.

Brown sorria, rimava e cantava. É nítida sua vontade de deixar a persona criada com o grupo de rap num segundo plano, mostrando que mais do que um rapper implacável, ele também pode cantar – e bem. Seguindo à risca a mesma ordem de músicas do disco, ele chamava aos palcos praticamente todos os convidados que tocaram nas faixas de Boogie Naipe.

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E, ao vivo, Boogie Naipe é um claro bailão, com direito a locutor anunciando atrações (interpretado por Wilson Simoninha), solos de instrumentos, números de dança e climas diferentes de música – da introspecção à festa, do romantismo à exaltação, nunca optando pelo confronto. É um momento de celebração que Brown sublinha para o mesmo público dos Racionais que a vida não é só desgraça, só tragédia, só problemas. É preciso saber se divertir.

E assim ele vai chamando os convidados um a um, seguindo a ordem do disco, até que em dado momento, ele os reúne todos ao redor de uma mesa de boteco, tomando uísque e falando sobre a vida. O alívio de Brown ao ver que, depois de muito tempo de expectativa, deu tudo certo é transparente. Depois que Lino Crizz e Ed Motta dividiram o vocal no improviso de “This Masquerade” de Leon Russell, depois que Seu Jorge reapareceu tocando uma flauta transversal e Max de Castro e Duani desfilavam suas guitarras lado a lado, ele sentou-se num banquinho e desabafou: “Uma hora dessas o script já foi pro saco”, riu. Não tinha problema. Não tinha marra. Essa era a grande marca da noite – era o show de Brown, não do Brown dos Racionais.

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E embora o público pedisse músicas do grupo de rap, Brown não fugiu do script. Terminou o show tirando o gorro que usou toda a noite numa pequena barbearia cenográfica instalada à esquerda do palco e se era para cantar músicas que não fossem de seu disco solo, preferiu “I Want You”, de Marvin Gaye. A extensão do show poderia ser reduzida pois em dados momento o excesso de virtuosismo dos músicos, o excesso de improviso dos convidados e as coreografias no palco se tornavam repetitivas – mas isso também é característica tanto dos bailes black quanto dos shows de funk dos anos 70 e das apresentações da discoteca no fim daquela década.

O principal era o claro momento de celebração da cultura negra brasileira, que sublinhava uma verdade importante: Mano Brown é o polo magnético e unânime de diferentes gêneros e gerações desta cultura. Talvez apenas Jorge Ben e alguns nomes da velha guarda do samba provoquem tanta comoção e reverência. E como foi bom ver que Brown soube conduzir esta energia sem fechar a cara, sorrindo.

Vida Fodona #555: Máquina do tempo

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Pensativo.

Jorge Ben – “O Filósofo”
Calvin Harris – “Merrymaking at My Place”
!!! – “Heart of Hearts”
Blood Red Shoes – “It’s Getting Boring By The Sea (Blamma! Blamma! Red Shoes Mix)”
We Are Scientists – “Chick Lit (Danger TV Remix Edit)”
Edu K + Marina Vello – “Me Bota Pra Dançar”
Simian Mobile Disco – “Hustler”
Whitest Boy Alive – “The Golden Cage (Fred Falke Remix)”
Mano Brown + Seu Jorge + Dom Pixote – “Dance, Dance, Dance”
Quinto Andar – “Som Pra Pista”
Knife – “We Share Our Mother’s Health”
George Michael – “Freedom ’90”
Happy Mondays – “24 Hour Party People (Jon Carter Mix)”
B-52’s – “Rock Lobster”
Gang 90 + Absurdetes – “Românticos a Go-Go”
Talking Heads – “I Zimbra”
Fall – “Rollin’ Danny”
Erasmo Carlos – “Mané João”
João Donato – “Cala Boca Menino”
Odair José – “Com o Passar do Tempo”
Pink Floyd – “Free Four”
Pavement – “Father To a Sister of Thought”
Bruce Springsteen – “Glory Days”
Isaac Hayes – “By the Time I Get to Phoenix”

Vida Fodona #554: Vida Fodona de resistência

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O único Vida Fodona de março de 2017.

!!! – “The One 2”
Spoon – “Whisperilllistentohearit”
Katy Perry – “Chained to the Rhythm (Hot Chip Remix)”
Bruno Mars – “24k Magic”
Dr. Dre – “Let Me Ride”
Mano Brown + Dom Pixote + Seu Jorge – “Dance Dance Dance”
Daryl Hall & John Oates – “I Can’t Go For That (No Can Do)”
Roxy Music – “Oh Yeah”
Paralamas do Sucesso – “Nebulosa do Amor”
Lorde – “Liability”
George Michael – “Careless Whisper”
Boogarins – “Olhos”
Feist – “Pleasure”
Velvet Underground + Nico – “All Tomorrow’s Parties”
Black Angels – “I’d Kill for Her”
Underworld – “Slow Slippy”
A Tribe Called Quest – “We the People”
Danny Brown – “White Lines”
Negro Léo – “O Céu dos Otários é Neutro”
Sambanzo – “Capadócia”
Sebadoh – “Vampire”
Giovani Cidreira – “Crimes da Terra”
Karina Buhr – “Esôfago”
Ney Matogrosso – “Freguês da Meia-Noite”

E aqui a versão do Spotify, com menos músicas:

Um papo com Mano Brown

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Prestes a lançar a versão ao vivo de seu primeiro disco solo, ele também antecipa que este ano tem disco novo dos Racionais – leia a íntegra da entrevista lá no meu blog no UOL.

“Muito funk, muito soul, grandes músicos, convidados da pesada nessa festa de lançamento dia 12. É um lance que eu sempre sonhei fazer, construir os próprios arranjos, mudar no meio do percurso, solo, teclado, produção… A arte pela arte”, Mano Brown empolga-se ao telefone quando fala sobre os shows de lançamento de seu primeiro disco solo, Boogie Naipe, lançado no ano passado, e que terá suas primeiras apresentações ao vivo em maio. São três datas até agora: dia 12 de maio em São Paulo, no Citibank Hall (com abertura de Rael e Rincón Sapiência), dia 14 no Festival Bananada, em Goiânia, e dia 20 no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Mano Brown subirá ao palco com o parceiro Lino Krizz e uma banda com baixo, guitarra, bateria, teclados, sopro, percussão e backing vocals – doze músicos ajudando-o a buscar uma sonoridade que ele é afeito muito antes de conhecer o rap. Mas isso não quer dizer que ele deixou o rap – ou os Racionais MCs, grupo que lhe deu fama – em segundo plano, pelo contrário: “Os Racionais têm plano de lançar disco esse ano ainda.”

“Esse termo ‘boogie’ é utilizado há muito tempo pela música negra, desde o jazz. E também na raiz do hip hop, na época do break dance, das danças, na disco… É uma linhagem de som que eu gosto desde criança”, ele explica. Musicalmente, Boogie Naipe situa-se no final dos anos 70 e começo dos anos 80, naquela época em que a disco music começava a se metamorfosear em electrofunk, quando os teclados e pedais de efeito levavam o funk para a era digital – época em que Mano Brown saía da infância rumo à adolescência. “Eu comecei com essa sonoridade soul e funk antes do rap, eu comecei nisso. Antes do rap chegar no Brasil eu já tava na pista, acompanhando a cultura, a raça, o cabelo, a roupa, o comportamento… Mesmo sem saber da mensagem, eu já acompanhava. Pelas pessoas que me cercavam. Eu sempre sonhei em fazer música romântica desde lá. Eu queria saber tocar guitarra como o Jorge Ben, sempre gostei daquelas músicas, dos temas, das harmonias… Mas no final dos anos 80 tinha esse lance da música do protesto, tinha a necessidade de protestar, de reivindicar e eu aderi. Era prioridade pra raça, pro pessoal e eu aderi”, explica, justificando a criação dos Racionais.

“Edy Rock já tá fazendo música, eu tô fazendo música, o (Ice) Blue tem muitas músicas…”, enumera. “O lance dessa nova época é porque também a gente tem bem mais condições de fazer música, antigamente era mais difícil produzir, montar um estúdio, tudo era muito caro, restrito, para poucos. Você só podia entrar em estúdio na época de gravação mesmo, era tudo caro, você tinha que agendar muito antes. Hoje em dia todo mundo tem estúdio em casa, a gente tem os nossos, a gente faz as pré-produções na nossa quebrada mesmo pra depois ir pra finalização… Tem mais condições. As músicas estão saindo em série, tem muita música saindo aí, entendeu? Nos últimos quatro anos se somar Boogie Naipe com Racionais são trinta e sete músicas novas na música. Fora dezesseis faixas que já estão prontas e poderiam ter entrado no Boogie Naipe. Tenho um outro disco praticamente pronto.”

Fora a expectativa pelo próximo disco e pelos shows, Brown também anda atento sobre a atual situação política do Brasil, principalmente no que diz respeito à polarização entre as pessoas. “Ainda estamos entendendo o que é democracia. Democracia é você saber que tem gente que pensa diferente de você! Pra que time você torce? Você poderia ter um irmão palmeirense, mas você não ia expulsar o cara da sua casa. Você agride as pessoas que votam em um partido diferente? Essa radicalização é mais desespero e medo, o Brasil tem que amadurecer essa democracia.” Se isso pode virar tema de música é outra história. Mas Brown está de olho.

As 75 Melhores Músicas de 2016 – 54) Arthur Verocai + Mano Brown – “Cigana”

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“Vire a página, seque a lágrima, não demonstre sua dor”