Professor Duprat – Maestro da Invenção

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Maior satisfação anunciar meu primeiro projeto como diretor artístico, que concebi ao lado dos novos compadres Arthur Decloedt, Charles Tixier e João Bagdadi. O espetáculo Professor Duprat – Maestro da Invenção, que acontece nos dias 6 e 7 de setembro, no teatro do Sesc Pompeia, começou como a ideia de uma celebração dos 50 anos da Tropicália que fugisse do trivial. Chamei João, do selo RISCO, para me ajudar a estruturar a produção, que por sua vez chamou Arthur (do Música de Selvagem) e Charles (do Charlie e os Marretas) para fazer a direção artística. Originalmente havia pensado na recriação do disco que o maestro Rogério Duprat havia lançado naquele 1968 – A Banda Tropicalista do Duprat -, mas logo ampliamos a homenagem para além da efeméride, contemplando todo o alcance de uma obra ainda desconhecida pela maioria do público, diferente de grande parte das músicas que arranjou.

Duprat, que entrevistei para a falecida revista Bizz no segundo semestre do ano 2000 ao lado do Fernando Rosa, mexeu nas bases de canções que hoje fazem parte do imaginário brasileiro: além das tropicalistas “Domingo no Parque” e “Baby”, grande parte das músicas d’Os Mutantes e de Gilberto Gil no início de suas carreira, “Construção” de @Chico Buarque, todo Ou Não de Walter Franco, “Maria Joana” de Erasmo Carlos, todo o Tropicália ou Panis et Circencis e outras tantas. Também foi pioneiro na música eletrônica no Brasil (estudou com Karlheinz Stockhausen e John Cage e foi colega de classe de Frank Zappa), célebre na música erudita contemporânea brasileira e trabalhou com trilha sonora para o cinema, publicidade e até tradução de livros.

A banda montada para apresentação inclui, além dos diretores musicais no baixo e bateria, André Vac (do Grand Bazaar), Mariá Portugal, Rafael “Chicão” Montorfano e Maria Beraldo (do Quartabê), Filipe Nader (também do Música de Selvagem e Trupe Chá de Boldo) e o mestre Thiago França, e o espetáculo ainda conta com Curumin, Tiê, Luiza Lian, Tim Bernardes, Jonas Sá e Jaloo como intérpretes das músicas imortalizadas com arranjos do maestro, morto em 2006. Mas como um espetáculo não é só música, convidamos Gui Jesus Toledo para fazer o som, Caio Alarcon para operar o monitor, Olivia Munhoz para cuidar da direção cênica e iluminação, Gabriela Cherubini e Flávia Lobo de Felício para ficar com o figurino e Maria Cau Levy para criar a identidade visual e a Francine Ramos para a assessoria de imprensa. Abaixo, o texto que escrevemos para apresentar o espetáculo, orgulhosos que estamos da homenagem que estamos fazendo para este farol de nossa música, que muitos ainda não conhecem (mais informações aqui).

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Há meio século o Brasil conheceu o trabalho de um compositor erudito e professor acadêmico que revolucionou a música brasileira. O maestro Rogério Duprat é mais conhecido por sua imagem iconoclasta na capa do disco-manifesto Tropicália ou Panis et Circensis, onde, entre os jovens multicoloridos Gil, Caetano, Mutantes, Tom Zé e Gal Costa, aparecia adulto e monocromático segurando um penico como se fosse uma xícara de chá. A representação – referindo-se ao mictório de Duchamp – talvez seja a melhor tradução para a colossal contribuição deste músico não apenas ao movimento tropicalista quanto à música brasileira desde sua aparição.

O espetáculo Professor Duprat – Maestro da Invenção parte desta efeméride para jogar luz na biografia musical do maestro paulista. Influente não apenas no movimento que ajudou a conceituar (a Tropicália), como na história da música brasileira, Duprat é um dos principais compositores eruditos contemporâneos brasileiros, um dos grandes nomes na música para a publicidade do país, compositor de trilhas sonora para filmes como O Anjo da Noite e Marvada Carne, pioneiro na utilização de computadores na música (há mais de 50 anos), tradutor do único livro de John Cage publicado no Brasil, aluno e colega de nomes como Karlheinz Stockhausen, Pierre Boulez, Gilberto Mendes e Frank Zappa. E, claro, arranjador e maestro de obras de diferentes artistas como Mutantes, Caetano Veloso, Gal Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil, O Terço, Nara Leão, Walter Franco, Sá, Rodrix e Guarabyra, Frenéticas, Erasmo Carlos, entre muitos outros.

A proposta da apresentação é trazer parte do repertório produzido por Duprat interpretado por artistas atuais que foram diretamente influenciados por seus feitos criativos. Concebido pelo jornalista, curador e crítico musical Alexandre Matias, do site Trabalho Sujo, com direção musical dos produtores Arthur Decloedt e Charles Tixier e produção executiva de João Bagdadi do Selo RISCO, para o palco do Teatro do Sesc Pompeia. O espetáculo costura músicas conhecidas do grande público (como”Domingo no Parque”, “Cabeça”, “Ave Lúcife”, “Construção”, Tuareg”, “2001”, “Irene”, “Não identificado”, “Índia”, “Futurível” e “Baby” entre outras) com arranjos ousados e a influência comercial e erudita de Duprat.

As canções serão apresentadas de forma não-linear e não-cronológica, ecoando diferentes épocas da biografia do maestro através de artistas como Curumin, Tiê, Jaloo, Tim Bernardes, Jonas Sá e Luiza Lian acompanhados por uma banda formada por Charles Tixier (Charlie e os Marretas), Arthur Decloedt (Música de Selvagem), Filipe Nader (Trupe Chá de Boldo), Thiago França (Metá Metá), Maria Beraldo Bastos, Mariá Portugal e Rafael “Chicão” Montorfano (Quartabê) e André Vac (Grand Bazaar).

Ficha técnica

André Vac: guitarra, violão e violino.
Arthur Decloedt: contrabaixo e MPC.
Charles Tixier: bateria, synths e MPC.
Curumin: vocal e bateria
Filipe Nader: sax alto e barítono, clarinete alto e souzafone.
Jaloo: vocal
Jonas Sá: vocal
Luiza Lian: vocal
Maria Beraldo: vocal, clarinete e clarone
Mariá Portugal: vocal, bateria e MPC
Rafael “Chicão” Montorfano: piano, synths e teclados.
Thiago França: sax tenor e flauta.
Tim Bernardes: vocal e guitarra
Tiê: vocal

Equipe:
Direção artística: Alexandre Matias, Arthur Decloedt e Charles Tixier.
Concepção e curadoria: Alexandre Matias
Direção musical: Charles Tixier e Arthur Decloedt.
Produção executiva: João Bagdadi.
Som: Gui Jesus Toledo.
Monitor: Caio Alarcon
Luz: Olivia Munhoz
Figurino: Gabriela Cherubini e Flavia Lobo de Felicio
Identidade visual: Maria Cau Levy
Assessoria de Imprensa: Francine Ramos.

SERVIÇO:
Professor Duprat – Maestro da Invenção
Dias 6 e 7 de setembro. Quinta, às 21h, e sexta, às 18h
Teatro
Ingressos: R$9 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$15 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$30 (inteira).
Venda online a partir de 28 de agosto, terça-feira, às 12h.
Venda presencial nas unidades do Sesc SP a partir de 29 de agosto, quarta-feira, às 17h30.
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 12 anos.
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93.

Luiza Lian no Centro Cultural São Paulo

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Luiza Lian despede-se de seu sensacional álbum-instalação Oyá Tempo neste sábado no Centro Cultural São Paulo a partir das 20h (mais informações aqui).

Música de Selvagem encontra Luiza Lian

Foto: Gabriel Basile

Foto: Gabriel Basile

Prestes a lançar seu segundo disco, batizado de Volume Único, na próxima semana, o grupo de improvisação instrumental paulista Música de Selvagem se entrega às canções a partir de uma temporada que fizeram com compositores como Tim Bernardes, Pedro Pastoriz e Sessa na Associação Cultural Cecília há dois anos. O trabalho começa a ser revelado com a colaboração que o grupo fez com Luiza Lian, quando ela ainda produzia o trabalho que depois se tornaria o vídeo-álbum-instalação Oyá Tempo. À época, o grupo registrou os rascunhos que se tornariam as faixas “Cadeira” e “Tem Luz” numa pequena peça chamada “Dois Blocos”, mostrada pela primeira vez no Trabalho Sujo. Filipe Nader, o Chile, saxofonista e cofundador do grupo ao lado de Arthur Decloedt, fala sobre a concepção da música: “Lembro que na época que fizemos a residência na Associação Santa Cecília a Luiza estava fazendo a pré-produção do Oyá Tempo. Pedimos umas músicas para ela para fazermos uma versão e o que acabou rolando foi que ela mandou dois poemas. Daí juntamos os dois e fizemos essa música em três partes com dois blocos de poemas e uma improvisação à quatro vozes no meio – dois saxofones barítono, eufônio e canto. A coisa toda foi gravada em dois takes lá na Voz do Brasil. De todas as faixas do disco que sai na semana que vem essa é a que mais tem improvisação vocal, a Luiza deu um show improvisando junto com a gente.” Sente só:

As 75 melhores músicas de 2017: 43) Luiza Lian – “Oyá”

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“Preparo a minha casa para um temporal”

Os melhores discos de 2017: 45) Luiza Lian – Oyá: Tempo

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“Depois dessa tormenta eu vou me encontrar”

17 de 2017: 4) Segundamente

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A primeira curadoria que exerci em 2017 começou no ano anterior, quando a Keren me chamou para assumir o papel de curador de música do Centro da Terra. Para mim o desafio era simples mas ao mesmo tempo complexo: chamar artistas para valorizar o espetáculo e criar novos projetos a partir do próprio local (ele mesmo uma viagem para dentro, como o próprio tom do meu 2017). Uma matemática irracional me fez criar o projeto Segundamente, em que artistas têm quatro segundas-feiras para criar um projeto próprio, de preferência inédito. Assim, tivemos os 15 anos de carreira do Tatá Aeroplano em março, o Chega em São Paulo de Negro Leo em abril, o Mergulho de Tiê em maio, o Depois a Gente Vê de Thiago França em junho, o Na Asa de Luísa Maita em julho, o Música Resiliente em Camadas Lentas do Maurício Takara em agosto, o Mete o Loco de Rafael Castro em setembro, o Persigo SP de Saulo Duarte em outubro e o Enfrente de Alessandra Leão em novembro, além dos shows individuais de Iara Rennó (Feminística), Luiza Lian (Oyá: Centro da Terra) e Papisa (Tempo Espaço Ritual), nos meses com cinco segundas-feiras. Foram meses de aprendizado e preparo, intensos e emocionantes, com o desafio de fazer o público da região do Sumaré sair de casa nas segundas-feiras para ver shows que não veria em nenhum outro lugar. Ainda teve o sensacional encontro com todos estes artistas na primeira segunda de dezembro, provando que a música vibra sem precisar de regras ou planos. É só deixar rolar. Agradeço imensamente a todos os artistas que convidei e também a todos que foram convidados por estes artistas, transformando o Centro da Terra em um núcleo de produção musical avançada numa época em que fazer cultura parece ser subversivo – porque talvez o seja.

Como foi a sessão de encerramento do Segundamente

segundamente2017

Eis a íntegra do show que encerrou o ano no Centro da Terra, reunindo treze cobras da atual música brasileira: Alessandra Leão, Saulo Duarte, Thiago França, Luísa Maita, Papisa, Negro Leo, Luiza Lian, Tatá Aeroplano, Maurício Takara, Iara Rennó e Tiê, além dos convidados Marcelo Cabral, Rafa Barreto e Charles Tixier.

Que noite!

Os indicados de 2017 da APCA

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Mais uma leva de indicados às categorias anuais da categoria de melhores do ano em Música Popular de acordo com o júri da Associação Paulista de Críticos de Arte, do qual faço parte. Depois das duas levas de discos (do primeiro e do segundo semestre), agora é a vez de saber quem são os indicados nas categorias artista do ano, show do ano, artista revelação e música do ano. A Adriana os antecipou em sua coluna no UOL e eu os trago pra cá. São eles:

ARTISTA DO ANO
Anitta
Chico Buarque
Mano Brown
Rincon Sapiência
Tim Bernardes

SHOW DO ANO
Cidadão Instigado – 20 anos
Curumin – (Boca ao vivo)
Far From Alaska – (Unlikely ao vivo)
Luiza Lian – (Oyá Tempo ao vivo)
Mano Brown – (Boogie Naipe ao vivo)

ARTISTA REVELAÇÃO
Baco Exu do Blues
Giovani Cidreira
Linn da Quebrada
My Magical Glowing Lens
Pabllo Vittar

MÚSICA DO ANO
Baco Exu do Blues – “Te Amo Disgraça”
Chico Buarque – “As Caravanas”
MC Fioti – “Joga o Bum Bum Tam Tam”
Pabllo Vittar – “K.O.”
Rincon Sapiência – “Meu Bloco”

Além de mim, votaram também nos indicados Marcelo Costa e José Norberto Flesch. O resultado da votação será divulgada na semana que vem.

Segundamente 2017

Encerramos o primeiro ano do projeto Segundamente no Centro da Terra convidando quase todos os músicos que encabeçaram espetáculos nas segundas-feiras para um grande encontro (mais informações aqui).

25 discos brasileiros para o primeiro semestre de 2017

25discos-2017-01

Estes são os 25 brasileiros escolhidos na categoria melhor disco do primeiro semestre deste ano pelo júri da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), do qual faço parte.

Aláfia – SP Não é Sopa
Boogarins – Lá Vem a Morte
Corte – Corte
Criolo – Espiral de Ilusão
Curumin – Boca
Do Amor – Fodido Demais
Domenico Lancellotti – Serra dos Órgãos
Don L – Roteiro Pra Aïnouz vol.3
A Espetacular Charanga do França – Chão Molhado da Roça
Felipe S. – Cabeça de Felipe
Giovani Cidreira – Japanese Food
Hamilton de Holanda – Casa de Bituca
João Donato + Donatinho – Sintetizamor
Juliana R – Tarefas Intermináveis
Kiko Dinucci – Cortes Curtos
Lucas Santtana – Modo Avião
Luiza Lian – Oya Tempo
Matéria Prima – 2Atos
Mopho – Brejo
My Magical Glowing Lens – Cosmos
Rincon Sapíencia – Galanga Livre
Rodrigo Campos – Sambas do Absurdo
Trupe Chá de Boldo – Verso
Vermes do Limbo + Bernardo Pacheco – Berne Fatal
Zé Bigode – Fluxo

Muita coisa boa sendo lançada este ano – e vem mais coisa boa neste semestre. O júri é composto por mim, José Norberto Flesch e Marcelo Costa e no segundo semestre escolheremos mais outros 25 discos. O Pedro antecipou a lista e publicou os links para ouvir os 25 discos em seu blog no Estadão.