Os melhores de 2018 segundo a APCA

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Eis o resultado da categoria música popular segundo a comissão julgadora da Associação Paulista de Críticos de Arte, que faço parte ao lado de José Norberto Flesch, Lucas Brêda, Marcelo Costa, Roberta Martinelli, Tellé Cardim e Fabio Siqueira.

Grande premio da crítica: Gilberto Gil
In Memoriam: Carlos Eduardo Miranda
Artista do Ano: Marcelo D2
Melhor Álbum: Luiza Lian – Azul Moderno
Melhor Show: Racionais MCs
Revelação: Duda Beat
Projeto Especial: Casa de Francisca
Capa: Karol Conká – Ambulante

Os 25 melhores discos brasileiros do 2° semestre de 2018

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Mais uma vez, o Pedro Antunes (que agora está na Rolling Stone) revela a lista com os vinte e cinco indicados a melhor disco de 2018 deste semestre de acordo com a comissão julgadora de música popular da Associação Paulista de Críticos de Arte, da qual faço parte ao lado ao lado de Marcelo Costa, Lucas Breda, Roberta Martinelli e José Norberto Fletsch. Coube tudo: experimentalismo e MPB tradicional, música instrumental e dance music, indie rock e rap, música eletrônica e pós-rock. A lista está ótima – como a produção musical brasileira tem sido nos últimos anos.

Ana Cañas – Todxs
Baco Exu do Blues – Bluesman
Bixiga 70 – Quebra Cabeça
BK – Gigantes
Cacá Machado – Sibilina
Carne Doce – Tônus
Diomedes Chinaski – Comunista Rico
Duda Beat – Sinto Muito
E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante – Fundação
Edgar – Ultrasom
Gilberto Gil – Ok Ok Ok
Josyara – Mansa Fúria
Karol Conká – Ambulante
Laura Lavieri – Desastre Solar
Luiza Lian – Azul Moderno
Lupe de Lupe – Vocação
Mahmundi – Para Dias Ruins
Marcelo D2 – Amar É Para Os Fortes
Mulamba – Mulamba
Pabllo Vittar – Não Para Não
Phill Veras – Alma
Quartabê – Lição#2 Dorival
Rodrigo Campos – 9 Sambas
Samuca e a Selva – Tudo Que Move é Sagrado
Teto Preto – Pedra Preta

A lista com os indicados do primeiro semestre está neste link.

Maurício Pereira e Luiza Lian de graça no CCSP

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Maurício Pereira e Luiza Lian são convidados da noite Fugitivos, organizada pelo Coral Jovem do Estado na Sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo, de graça, a partir das 19h. Os dois cantam músicas do próprio repertório arranjadas por nomes como Arthur Decloedt e Thiago França ao lado do Coral e uma banda formada por Henrique Alves no contrabaixo, Tonho Penhasco no violão e guitarra, Charles Tixier na bateria e Gabriel Levy no piano (mais informações aqui).

Vida Fodona #578: 23 anos do Trabalho Sujo

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23 em quase sete horas.

Red Hot Chili Peppers – “One Hot Minute”
Linguachula – “Língua”
Karnak – “Cala A Boca Menina(o)”
Beck – “Novacane”
DJ Shadow – “What Does Your Soul Look Like, Pt. 4”
Olivia Tremor Control – “Define a Transparent Dream”
Legião Urbana – “Leila”
Blur – “Look Inside America”
Yo La Tengo – “Autumn Sweater”
Grenade – “Rubber Maid Heart”
Chemical Brothers – “Elektrobank”
Radiohead – “Electioneering”
Racionais MCs – “Tô Ouvindo Alguém Me Chamar”
Beastie Boys – “Three MCs and One DJ”
Massive Attack – “Exchange”
Pulp – “This is Hardcore”
Suede – “Everything Will Flow”
Flaming Lips – “The Spark That Bled”
Built to Spill – “Center of the Universe”
Planet Hemp – “12 Com Dezoito”
Mundo Livre S/A – “O Mistério do Samba”
Avalanches – “Since I Left You”
Wado – “Uma Raiz, Uma Flor”
Los Hermanos – “Retrato pra Iaiá”
Playgroup – “Number One”
N*E*R*D – “Run to the Sun”
Casino – “Samba-Dada”
Daft Punk – “Something About Us”
De Leve – “Essa é pros Amigos”
Marcelo D2 – “A Maldição do Samba”
BNegão + Seletores de Frequência – “V.V.”
Gabriel Muzak – “Estética Terceiro Mundo”
Danger Mouse – “My 1st Song”
Outkast – “Roses”
Curumin – “Solidão Gasolina”
Mombojó – “Absorva”
Hurtmold – “Chuva Negra”
Wilco – “At Least That’s What You Said”
Nação Zumbi – “Na Hora De Ir”
Supercordas – “3000 folhas”
Kassin + 2 – “Futurismo”
Gnarls Barkley – “Crazy”
Spoon – “Rhthm & Soul”
National – “Brainy”
Apples in Stereo – “Energy”
Vanguart – “Semáforo”
Benji Hughes – “You Stood Me Up”
Cut Copy – “Hearts on Fire”
Midnight Juggernauts – “Into the Galaxy”
Ladyhawke – “Paris is Burning”
Miami Horror – “Sometimes”
Xx – “Crystalised”
Cidadão Instigado – “Contando Estrelas”
Céu – “Bubuia”
Nina Becker – “Toc Toc”
Tulipa Ruiz – “A Ordem das Árvores”
Breakbot + Irfane – “Baby I’m Yours”
Metronomy – “The Bay”
Washed Out – “Eyes Be Closed”
Destroyer – “Kaputt”
Lana Del Rey – “Video Games”
Rapture – “Miss You”
Chromatics – “Lady”
Sexy Fi – “Looking Asa Sul, Feeling Asa Norte”
Frank Ocean – “Lost”
Poolside – “Harvest Moon”
Sambanzo – “Capadócia”
Arcade Fire – “Porno”
Glue Trip – “Elbow Pain”
My Bloody Valentine – “New You”
Unknown Mortal Orchestra – “So Good at Being in Trouble”
Lorde – “Royals”
Kendrick Lamar – “Bitch Don’t Kill My Vibe”
Sia – “Chandelier”
Criolo + Juçara Marçal – “Fio de Prumo (Padê Onã)”
Bixiga 70 – “100% 13”
Taylor Swift – “Blank Space”
Siba – “O Inimigo Dorme”
Ava Rocha – “Transeunte Coração”
Boogarins – “6000 Dias (Ou Mantra Dos 20 Anos)”
Tame Impala – “Let It Happen (Soulwax Remix)”
Emicida – “Mandume”
Beyoncé – “Formation”
Rihanna – “Needed Me”
Solange – “Cranes in the Sky”
BaianaSystem – “Cigano”
Otto – “Soprei”
Don L – “Eu Não Te Amo”
Flora Matos – “10:45”
Thundercat – “Friend Zone”
Angel Olsen – “Special”
Courtney Barnett – “Need a Little Time”
Stephen Malkmus + The Jicks – “Kite”
Karol Conká – “Fumacê”
Baco Exu do Blues + Tuyo – “Flamingos”
Luiza Lian – “Mira”

Vida Fodona #576: Às vezes tem esses atrasos

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Mas importante é virar.

Velvet Underground – “Cool it Down”
Ryan Adams – “Style”
Siba – “Mel Tamarindo”
Beatles – “Sexy Sadie”
Hüsker Dü – “Never Talking to You”
Glue Trip – “Time Lapses”
Luiza Lian – “Pomba Gira do Luar”
Spoon – “I Ain’t the One”
Stephen Malkmus & the Jicks – “Difficulties / Let Them Eat Vowels”
LCD Soundsystem – “Other Voices”
Edgar – “Print”
Kiko Dinucci – “Vazio da Morte”
Otto – “Caminho do Sol”
Lana Del Rey – “Venice Bitch”

Tudo Tanto #40: Luiza Lian nas alturas

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Retomo minha coluna sobre música brasileira, que era mensal na revista Caros Amigos, agora semanalmente, no site Reverb – e começo falando sobre o show que Luiza Lian apresentará neste fim de semana, confere lá.

Música de Selvagem no CCSP

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O grupo instrumental finalmente junta os quatro vocalistas com quem gravou o disco Volume Único – Luiza Lian, Pedro Pastoriz, Tim Bernardes e Sessa – numa apresentação inédita nesta quinta-feira, no Centro Cultural São Paulo, a partir das 21h (mais informações aqui).

Vida Fodona #573: Não falho no meio da semana

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Sem muita conversa.

Giancarlo Rufatto – “Um homem médio, um homem em busca de um conflito”
Boogarins – “Lá Vem a Morte, Pt. 1”
Siba – “Marcha Macia”
Luscious Jackson – “Naked Eye”
Warpaint – “Heads Up”
Red Hot Chili Peppers – “Bloodsugarsexmagik”
Sade – “Paradise”
Massive Attack – “Safe From Harm”
Letrux – “Vai Render”
Ava Rocha – “Periférica”
Luiza Lian – “Iarinhas”
Glue Trip – “Time Lapses”
Nina Becker – “Voo Rasante”
Lion Rock – “Rude Boy Rock”

Sacerdotisa do agora

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Depois de se reinventar em Oyá Tempo, Luiza Lian dá seu salto mais ousado e congela o tempo em seu ótimo Azul Moderno, a versão remix de um disco que nunca foi lançado, que chega nesta quinta às plataformas digitais. Ela me chamou para escrever o release do disco, que reproduzo abaixo.

Luiza Lian não espera o disco começar para colocar-se pronta: “Tempo que escorre a louça pra lavar / Cheiro de café, resíduo que vingou / Esse vapor que lento lambe a parede não preenche o espaço que ele desmanchou”. Ela canta antes de qualquer instrumento (seguida primeiro de um piano e depois de efeitos sobre este mesmo piano) e com poucas palavras cria um ambiente ao mesmo tempo familiar e fragmentado, pensativo e melancólico, que nos convida para um mergulho em suas crenças e descrenças no que considera o registro de um encerramento de ciclo.

Seu terceiro disco, Azul Moderno, canta o fim da primeira fase de sua carreira, iniciada com o disco homônimo de 2015, mas também encerra uma série de ciclos pessoais e profissionais. Ele começou a ser composto em uma viagem que Luiza fez com uns amigos num fim daquele mesmo ano para Vale do Matutu, no interior de Minas Gerais, quando começou a exercitar algumas canções que já vinha rascunhando ao lado da amiga escritora Leda Cartum, que também estava nesta virada de ano. Começaram brincando com alguns versos e refrões numa música que aos poucos se tornava longa – e que mais tarde daria origem a três músicas do futuro disco. Outras – como a faixa-título – surgiram das primeiras incursões da cantora e compositora ao violão. O lento processo de criação ainda incluiria o lançamento de alguns EPs para pavimentar o caminho para o segundo disco, até que um deles fugiu de controle.

Primeiro álbum-visual brasileiro, Oyá Tempo a princípio seria apenas um registro curto de transição, mas ganhou corpo, forma e vulto para além do que esperava. Estimulada por Tim Bernardes pa gravar pontos de umbanda, ideia que desenvolveu ao lado de outro amigo, o produtor Charles Tixier, que levou o disco para um lado eletrônico. O experimento cresceu para um conjunto de oito canções que a cantora e compositora transformou em segundo degrau de sua discografia, embora ele ainda não exista fisicamente. Oyá Tempo ganhou uma inesperada vida própria – a começar por seu show, cujo cenário-instalação era um vestido transparente que funcionava como tela de projeção e isolava Luiza sozinha no palco. O disco que virou filme que virou show elevou Luiza para um outro patamar, levando-a para os principais palcos e festivais independentes do Brasil.

Enquanto isso, Azul Moderno seguia um rumo à parte e por um instante poderia se transformar em um disco falado, com Luiza recitando poesias sobre bases instrumentais, mas logo ela se voltaria para as canções. Antes mesmo do lançamento de Oyá Tempo, em abril de 2017, ela havia se isolado no sítio do produtor Gui Jesus de Toledo ao lado de seus novos produtores, Charles Tixier (que tocou bateria, MPC, baixo synth e teclados) e Tim Bernardes (que tocou violão, baixo e fez arranjo de vozes e sopros), para começar a gravação do dito segundo disco, convidando velhos conhecidos para gravar outros instrumentos – Gabriel Basile, Filipe Nader, Guilherme D’Almeida, Gabriel Milliet e Tomás de Souza. Mas o crescimento de Oyá não apenas o transformou no segundo disco de fato da cantora, postergando o lançamento de Azul Moderno por tempo indefinido, como abriu uma possibilidade arrebatadora para Luiza e Charles: Azul Moderno ainda não estaria pronto, ele precisava ser desconstruído.
É quando começa a segunda fase do disco, ainda no final de 2017, que o transforma no álbum que agora conhecemos – Azul Moderno é o disco remix de um disco que nunca foi lançado (a versão “unmix”, como brincam os dois), canções picotadas e reestruturadas a partir de pedaços de si mesmas ou de outras canções de Luiza e samplers das gravações iniciais e de fontes indecifráveis: trilhas sonoras, videogames, discos de efeitos sonoros, música clássica; tudo se misturava na paleta de sons que Charles assumiu após a primeira versão do disco estar pronta.

O resultado é um disco deslumbrante. Moderno e meticuloso, Azul Moderno é um passo além de Oyá Tempo e as relações de Luiza com um passado ancestral parecem mais refletir sobre a influência deste passado no presente e futuro do que na própria história. Se seu segundo álbum espalhava-se por toda a história ao tentar encapsular todo o tempo num momento, o novo álbum é mais espacial que temporal e busca justamente este lugar imaginário que criamos a partir de nossas relações pessoais. Como família, amigos, amores, conhecidos e ídolos se misturam em uma ambientação mental que acaba delimitando nosso horizonte físico.

Sob a batuta do maestro Tixier, Luiza se abre para anjos e exorciza demônios, enquanto ela sampleia o próprio passado, ainda que não-factual – um passado imaginado, que não existiu de verdade (justamente o disco não-remixado). É nesta região imaginária que o disco se encontra, entre o nascer ainda escuro do dia e a zona do crepúsculo pouco antes da noite. Esse aspecto líquido, volátil e pouco estável permeia todo o disco como se Azul Moderno fosse uma fábula, um sonho, uma alucinação. Do mesmo jeito que não sabemos se ainda é dia ou se já é noite, não dá pra saber o que realmente está acontecendo por todo o disco – como se ela nos obrigasse a refletir o que é real e o que não é a partir da constatação da beleza (ou da ausência dela).

Não por acaso, o disco começa com a palavra “tempo” dita sem nenhum acompanhamento, enfatizando a voz de Luiza como o timbre que nos guia por essa viagem. Pelo caminho, violões cristalinos e pianos invertidos, cordas gigantescas e teclados à espreita, graves escancarados e beats furtivos, timbres orgânicos e sintéticos – tudo convive num imenso e absurdo país das maravilhas em que Luiza passeia curiosa e decidida na mesma medida. Azul Moderno é brasileiro e internacional, atual e perene, novo com gosto de antigo, provocando sensações estranhas ao contrapor opostos improváveis – do violão Jorge Ben que conduz o groove de “Notícias do Japão” e as curvas sinuosas de “Iarinhas” ao samba-reggae eletrônico “Sou Yaba”, do lamento trip hop de “Pomba Gira do Luar” à bossa-grime “Mil Mulheres”, passando pelo chillwave manhoso de “Geladeira”, o tecno-afoxé de “Vem Dizer Tchau”, a balada “Mira” (música em homenagem a artista Mira Schendel que conecta-se com a “boca do céu” de Ava Rocha) e a oração de despedida que é a faixa-título. Ela encerra o disco num tom ao mesmo tempo amargo (“me perdoe pelas palavras cruéis”) e esperançoso, que localiza-se “entre as estrelas em volta de Andrômeda e meu manto azul moderno”, recuperando o nome do disco de uma valsinha escritapela poeta Maria Damião há cem anos (“A Rainha Me Ordenou”). Luiza Lian está pronta.

Vida Fodona #572: Noite de sexta ou manhã de sábado

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Por uma boa causa.

Luiza Lian – “Azul Moderno”
Zombies – “Friends of Mine”
Duran Duran – “Save a Prayer”
B-52’s – “Legal Tender”
Fagner – “Cartaz”
Letrux – “Noite Estranha, Geral Sentiu”
Frank Ocean – “Lost”
Carly Simon – “You’re So Vain”
Solange – “Losing You”
Glue Trip – “Honey”
Betina + Tatá Aeroplano + Bonifrate – “Hotel Vülcânia”
Arctic Monkeys – “One Point Perspective”
Lô Borges – “Faça Seu Jogo”
Air – “Kelly Watch the Stars”
Bob Dylan – “Subterranean Homesick Blues”
Dr. Dre – “Let Me Ride”
Sandra Sá – “Olhos Coloridos”