Impressão digital #126: O futuro do Facebook

Aproveitei o gancho do bilhão de cadastrados no Facebook na semana passada para falar um pouco sobre o futuro da rede social na minha coluna no Link de hoje

O primeiro bilhão do Facebook e o futuro das redes sociais
Acabou o encanto de retomar amizades

Nunca fui fã do Foursquare. Marcar presença nos lugares a que vou, para que todos vejam, me parece fútil e assustador ao mesmo tempo. Mas entendo quem usa. É prático para lembrar lugares onde você conheceu certa pessoa ou o dia de uma reunião apenas pelo histórico de check-ins. E os comentários dos usuários ajudam a escolher um restaurante próximo de onde você está.

Na semana passada, Luiz Horta, colunista de vinhos do caderno Paladar do Estado, comentou no Facebook uma outra utilidade do Foursquare: descobrir onde os chatos estão. É perfeito – antes de decidir a qual restaurante ou cinema ir, basta checar a rede social e ver se algum mala já deu as caras lá para saber onde não ir. Por dois microssegundos pensei em aderir apenas para isso. Mas logo em seguida, a vontade passou. Entrar em mais uma rede social?

O que nos traz de volta ao Facebook, que na semana passada estufou o peito para dizer que já tem 1 bilhão de usuários. O número parecia vir antes, mas essa contagem já era em conta-gotas. A marca dos 800 milhões foi atingida em setembro de 2011, enquanto a dos 900 milhões só veio em junho deste ano.

É um número impressionante e muito bem vendido. Certamente o Google conecta tanta gente há mais tempo, mas não soube faturar em cima. O bilhão do Facebook, porém, esconde uma desaceleração drástica no crescimento da rede social. No Brasil, a adoção foi tardia, beneficiando o Facebook por mais tempo. O País era considerado uma das últimas fronteiras do site. Rússia e China são as próximas. Zuckerberg não sepultou o Orkut de vez. Sua popularização por aqui desde 2010 ofuscou a rede social do Google. Mas, em 2012, a ascensão já é menos íngreme do que antes. O que nos acende duas perguntas: já passamos o ápice da grande era do Facebook? E qual a rede social tomará o seu lugar?

A primeira pergunta não pode ser respondida neste ano. O Facebook deve continuar a crescer, mas há uma diáspora lenta e gradual do condado virtual de Mark Zuckerberg e isso vem acompanhado de vários questionamentos: estamos nos expondo muito? Estamos perdendo muito tempo online? O Facebook é uma empresa confiável? Meus relacionamentos pessoais precisam ser expostos tão escancaradamente?

Já a segunda pergunta não é tão hermética, mas o presente já dá dicas de como será o futuro próximo. Eu não quero entrar no Foursquare. Eu adoro o Instagram. Tentei usar o Flickr e não me dei bem com ele. Nunca nem entrei no LinkedIn e acho interessante o funcionamento de rede social do YouTube. Cansei do Twitter (embora ainda o use) e estou familiarizado com o Facebook. Entrei em redes sociais das quais nem mais lembro a senha. Em outras palavras: não sei se existirá uma rede social para substituir o Facebook.

Vejo cada vez mais redes sociais de nicho, para reunir apenas alguns amigos sobre apenas um assunto. Acabou aquele momento de encantamento, aquela hora em que você se lembra de pessoas do passado e adiciona amigos com quem não falava há décadas. Boa parte desse encantamento é autoindulgente – adicionamos um amigo que nos faz lembrar de nós mesmos em uma determinada época de nossas vidas. É claro que há exceções e várias amizades são retomadas. Mas, de uma forma geral, vivemos um momento social em que finalmente lembramos por que esquecemos de certas pessoas de nosso passado – pois elas não tinham de serem lembradas mesmo.

O Facebook se perde ao se vender como uma máquina de publicidade. Tenho a impressão que até o fim do ano que vem estaremos nos conectando ao Facebook como se pudéssemos ver um canal de TV apenas com comerciais.

O futuro pertence a redes pequenas, que se conversam e se interligam, muitas vezes conectadas pelos logins de grandes players – Facebook, Twitter, Apple, Amazon, PayPal, Google, Microsoft. Isso, portanto, o que não quer dizer que esta nova década será menos centralizada e controladora.

A pergunta não é quem substituirá o Facebook, mas até quando ele será relevante para a maioria das pessoas.

Uísque, por favor

Horta agilizou uma degustação da minha bebida favorita e alerta – tem Laphroaig no free shop!

Os single malts são o mais próximo do terroir que nossa língua pode perceber. É uma afirmação controversa, não tem raiz da videira nem clorofilia e madurez da uva no sol, mas se sente a turfa escocesa com intensidade ímpar. Laphroaig, da ilha de Islay, é quase uma hipérbole do solo engarrafado, de tão potente. Já o conhecia de fama, único uísque a trazer a chancela real do príncipe de Gales estampada no rótulo e famoso pelo “estilo gaita de fole”, que se ama ou detesta. Sem opções.

Comprei uma garrafa no Duty Free de Guarulhos e fui abri-la no hotel em Buenos Aires, numa viagem recente. Foi uma epifania aromática. Tirei a tampa e instintivamente olhei para o teto, com medo de disparar o alarme de incêndio. Não estou exagerando. O primeiro gole foi pavoroso, como me advertia o nariz: fumaça, iodo, algo de esparadrapo e medicinal, como lamber um cinzeiro ou beber um charuto guardado num armário de farmácia. É atraente essa descrição? Nem um pouco. Meia hora depois o gosto ainda estava na boca, só que ficara agradável, salino, marinho e defumado, pedindo mais goles.

Atesto e dou fé. Continua lendo lá.

Harmonizando com Helô e Horta


Jerez vai bem com Olafur Eliasson? C’est grec à moi

E já que passei por um assunto quase bissexto por aqui (artes plásticas), não custa citar o curioso jogo que a Helô e o Horta vêm travando no Facebook. Começaram a partir de um jogo de palavras da Helô depois de uma sexta cansativa, mas logo virou um entrave de harmonização entre telas e vinhos, dois assuntos que não tenho a menor intimidade. Pra mim, a história da pintura é um borrão indistinto entre a primeira pincelada e o borrão pós-moderno e enquanto não colocam contornos nos retratados (quadrinhos, desenhos animados, pop art) esse passado é um incógnita com alguns nomes óbvios (Da Vinci, Van Gogh, Picasso, Pollock) em destaque. Vinho então, nem se fala: meu primeiro porre aos treze anos (Campo Grande, 1988, Sangue de Boi) me deixou um trauma histórico em que associo o cheiro da uva fermentada ao de suco gástrico, mas estou em pleno processo de recuperação junto à esposa. O que não me deixa alheio à apreciação deste jogo, uma espécie de versão erudita das T-girls, principalmente devido aos seus personagens. A Helô, os leitores deste saite a reconhecem, me ajuda a capitanear o Link toda semana enquanto singra suas viagens psicológicas como se cozinhasse para um amigo em seu mais que recomendado Caracteres com Espaço. Horta, outro frequentador daquela redação, é o crítico de vinhos do caderno Paladar e pode ser descrito como se todos os personagens de Hergé (Tintim, Haddock, Girassol, os Dupont, talvez Milu) fossem uma só pessoa. Como não entendo patavina deste riscado, pedi para Helô explicar la règle du jeu:

Não é exatamente um jogo, é mais uma brincadeira mesmo. Porque jogo tem regra, isso vale, aquilo não. E brincadeira não. Na brincadeira, brinca-se. E é isso que eu e o Luiz Horta estamos fazendo. A gente tá brincando.

Nossa diversão pode parecer meio inacessível de cara, mas deixa a timidez de lado e chega mais perto. Eu vou explicar como funciona. Você viu Ratatouille, aquele file do ratinho que cozinha? Sabe a hora que o crítico come o ratatouille e é transportado imediatamente para a sala de casa, a mãe dele contra a luz da porta, ele criança (me arrepia só de lembrar)? A sensação que está por trás dessa brincadeira é essa. Mas como é difícil demais descrever memórias de maneira suficientemente clara a ponto de elas serem totalmente compreendidas pelo outro, usamos imagens. E no lugar da comida, vinho.

Para cada vinho, associamos uma obra de arte. A coisa começou comigo jogando uma cartada que já dava o vinho e a obra. Algumas rodadas foram assim. Até que o jogo mudou, quando o Horta jogou uma obra de arte e pediu um vinho. Essa parte ficou mais legal, porque os processos começaram a ficar mais claros.

Digo, antes, as rodadas vinho-obra, elas vinhas sem explicação. Agora, nas rodadas obra…. vinho, quando a gente escolhe o vinho, explica o que levou à decisão. É uma brincadeira de associação livre que apesar de usar dois universos tidos como sofisticados, não passa de uma brincadeira de criança, tipo aquela que você cada um vai dizendo uma palavra por livre-associação e depois todo mundo tenta refazer o trajeto.

Se quiser brincar com a gente, está mais do que bem-vindo. A quadra é o Face. Depois eu ponho as rodadas no meu blog.

Confere .