Lobão x Herbert Vianna

, por Alexandre Matias

Bem boa a extensa entrevista que o Lobão deu pro PAS no IG, mas um trecho específico causa até paranóia involuntária, se liga:

E teve o episódio do Herbert Vianna, que foi o que mais perturbou a minha carreira. Podem dizer que sou maluco, que isso nunca aconteceu, mas que influenciou minha psique e minha vida, mesmo eu estando completamente equivocado, é um fato. Por 20 anos, senti aquela presença indevida e aviltante, onipresente.

O que você sentiu quando a carreira dele foi truncada pelo acidente (em 2001)?
Tem partes que eu tirei do livro, sabe? Achando que ele estava me copiando, eu abdicava das coisas para não ficar igual a ele. Faço “Cena de Cinema” (1982), ele faz “Cinema Mudo” (1983), com a voz igual à minha. Tive que trocar de voz. Não é um plágio, mas é o conceito. Faço “Me Chama” (1984), ele faz “Me Liga” (1984). Chamo Elza Soares, o cara chama Elza Soares. Vou fazer um disco de samba para fugir dele, eles vêm com “Alagados” (1986) e se tornam pioneiros! Pô, é para enlouquecer. E eu fugindo, pegando as minhas reservas.

Você ficava paranoico em relação a ele? As coisas podem estar no ar, e vários pegam ao mesmo tempo.
Não, porque a gente sabia as fontes. A minha empresária, Leninha Brandão, tinha escritório ao lado do do empresário deles (José Fortes). Ele chegou no escritório, leu “Revanche” (1986) e disse: “Eureca! A favela é a nova senzala!”. Porra. Levo lata no Rock in Rio, tô tocando na Mangueira desde 1987 com Ivo Meirelles, meu parceiro. Dez anos depois, vem uma pessoa, que é a Fernanda Abreu, pega todo aquele conceito. Você vai checar: quem está produzindo e compondo todo o disco dela? É o cara.
Aí vem a parte que não contei. Vou fazer música eletrônica, vou fazer “Noite” (1998). Soube que eles iam fazer um disco de música eletrônica, era para “Hey Nana” (1998) ser eletrônico. Consegui botar a música “Me Beija” na rádio Cidade a duras penas. A gravadora (Virgin) estava puta comigo porque eu tinha recusado fazer Faustão, estava me dando a última chance. Então vamos fazer Canecão em dia pobre, terça-feira. Na véspera do show, a rádio Cidade anuncia show-surpresa dos Paralamas no Metropolitan! Ia ter matéria minha de uma página no “Jornal do Brasil”. Abro o jornal no dia seguinte e tem duas páginas sobre ensaio dos Paralamas! Quando chego no Canecão, estava às moscas. Falei: “Regina, é o fim. Acabou”. O disco foi pro vinagre.
Até esse momento, a Regina duvidava seriamente da minha sanidade mental em relação ao Herbert (risos). Fomos almoçar no dia seguinte, Herbert tá no rádio falando do sucesso do show deles: “Quero mandar um abraço para um grande ídolo meu, Lobão”. Comecei a ter tiques nervosos. Entramos no Fashion Mall, um restaurante vazio, está Herbert Vianna, com a mulher e os três filhos. Não, não é possível. Quando me levanto, sabe o que ele faz? Sai correndo, feito um camelô! Deixou a família. “Regina! Atrás dele!”
Durante todo esse período, eu tentei falar com ele, chamei para ser parceiro, telefonei: “Já que você fala que sou ídolo, por que a gente não faz parceria? A gente divide o royalty direito, você ganha 50, eu ganho 50, não é legal?”. Ele até ficou emocionado, chorou de um lado, eu chorei do outro. “Não posso agora, tô indo para Tóquio”. Nunca mais ligou.
Aí Ivo Meirelles me chama para almoçar. Me dá esporro: “Pô, cara, você é uma língua solta mesmo, para de falar essas coisas do cara aí. Ele é poderoso, tem conexão, todas as rádios tão com o cara. Todos os jornais, todos os músicos do Brasil tão com o cara, só você que é um idiota. E tem uma coisa: eu tô com ele, porque ele tem mais talento que você”. Ele tinha convidado o Ivo e o Funk’n Lata para tocar com ele no show! Comecei a espumar, né? Não aguento mais, tô enlouquecendo, fui fazer análise por causa disso. Tinha outros problemas, mas esse foi o mote, muito mais importante do que ter matado a minha mãe. O que mais me fez sofrer e ter ódio na vida foi isso. Passava o dia inteiro com ódio, meu coração doía, ficava exausto de tanto odiar.

O que sentiu quando ele se acidentou?
Fiquei com um sentimento horroroso, parecia que eu estava sendo enterrado vivo. Cara, e agora, como vai ficar minha história? O cara não pode mais se defender! Mas sabe como fecha essa história? Ele se recupera, volta do coma, fala uma coisa em espanhol, outra em inglês, outra em português e imediatamente pede um violão. A primeira coisa que cantou? “Chove lá fora e aqui…” (de “Me Chama”)! O epílogo do epílogo foi que em 2005 nos encontramos no VMB (premiação da MTV). Ele foi um amor, meio que perdeu a pose, né? Me abraçou, fiquei emocionado, senti carinho por ele. Até fui a um show deles. Tentei me adestrar, porque era muito ódio acumulado. Não fico achando isso das pessoas, é uma coisa pontual. Quando fui escrever o livro, fiquei num dilema terrível, não queria falar mal dele, mas precisava contar minha história.

Doideira doida.

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