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É, não bastasse o cara se gabar de ter orgulho de não ler livros, mas mesmo assim publicou um! Thank You And You’re Welcome é descrito como um “guia para criar e celebrar o momento”, tem 52 páginas (algumas vazias) com frases soltas como “Life is 5% what happens and 95% how you react!” e “I hate the word hate!”. Dureza…
E há quem leva a sério o sujeito…
Lembram do Olly? O cara iniciou uma série de mashups visuais em seu Flickr – vai fazer nove capas de games como se fossem capas de livro. Olha o naipe:
E foi só o Olly dar a idéia que um monte de designer, no fórum do Something Awful, começou a replicá-la:
Na mesma linha dos games que viraram livro do Olly Moss, olha esses filmes que viraram livro nas mãos do Spacesick…
Da Dani.
Materinha na Folha de hoy…
Crítica/Humor: Filho de Mel Brooks alerta sobre o perigo dos zumbis
De repente, quem você pensava que havia morrido aparece na sua frente, olhos vidrados, andar cambaleante. Ao perceber você, o cadáver lança os braços para a frente e passa a emitir um som gutural -que aos poucos se transforma num grito grotesco. Por mais bizarra que a cena possa parecer, suponha que ela aconteça. Nesta situação, a primeira e única pergunta depois de alguma exclamação de cunho religioso ou de um palavrão é: o que fazer?
Foi pensando nisso que o humorista Max Brooks, ex-roteirista do programa de TV norte-americano “Saturday Night Live”, escreveu “O Guia de Sobrevivência a Zumbis”, em que tenta responder à tal pergunta em mais de 300 páginas de um detalhismo nerd deliciosamente meticuloso e divertido. Escrito sempre a sério, sem nenhum traço de ironia ou distorções caricatas no texto, o guia não apenas cogita a possibilidade destes seres poderem um dia realmente andar entre nós como afirma que eles existem desde o início da raça humana, como uma espécie de doença que, depois de matar seu hospedeiro, o transforma em uma máquina de comer qualquer ser vivo -de preferência gente.
Brooks, filho do comediante Mel Brooks e da atriz Ann Bancroft, escreve que os zumbis são acobertados pelos governos e pela mídia. O livro, escrito originalmente em 2004, prefere não fingir que a ameaça não existe e explica, com minúcia e pluralidade, tudo o que se sabe sobre estes seres também conhecidos como necrófilos. Até mesmo este texto poderia ser encarado como um tentativa de acobertar a existência dos zumbis, ao tratar o tema como mera ficção e não como realidade inevitável, como martela o autor, constantemente.
O segredo do texto é nunca se transformar numa paródia e sempre se levar a sério. Ele examina o comportamento dos mortos-vivos desde seus sentidos básicos (se eles têm paladar ou olfato) até suas relações sociais (caso você não saiba, mortos-vivos não comem outros mortos-vivos) e explica como se deve utilizar cada uma das armas disponíveis contra as criaturas. De armas medievais e espadas de samurai a ferramentas e armas brancas e de fogo, além de listar dicas para transformar sua casa num forte antizumbi auto-sustentável.
Brooks também detalha formas de evitar o contágio, lista os melhores veículos para uma fuga e enumera aparecimentos e registros históricos a respeito desta epidemia que acompanha a evolução do ser humano.
Chega até a cogitar uma possibilidade final e extrema da praga se espalhar de tal forma que o planeta se torne habitado por mortos-vivos. Quando isso acontecer, a pergunta do início torna-se ainda mais pertinente e desesperada. Em torno desta premissa, Brooks escreveu um segundo livro sobre o tema, “World War Z” (guerra mundial z), lançado neste ano nos EUA e já comprado pela produtora do ator Brad Pitt, Plan B, para virar filme.
O GUIA DE SOBREVIVÊNCIA A ZUMBIS ***
Autor: Max Brooks
Tradução: Amanda Orlando e Gabriela Fróes
Editora: Rocco
Quanto: R$ 36 (336 págs.)
Ondas rebeldes
“Rádio Guerrilha” narra a Guerra da Bósnia a partir das emissões de uma emissora alternativa
Era 1992 e o tempo fechava sobre a ex-Iugoslávia. Com seu comandante eleito, o ex-comunista Slobodan Milosevic a atiçar velhas rixas étnicas em nome do renascimento quase sagrado de uma Sérvia ancestral, um lento e doloroso Vietnã começava a ser desenhado no mapa do Leste Europeu, recém-ingresso no mundo capitalista após a falência do sistema soviético.
Na contramão dos países que antes formavam a Cortina de Ferro, o antigo império dos Balcãs entrava em uma ditadura arcaica, que fingia não interferir no nacionalismo extremo e no genocídio desenfreado, quando, na verdade, era seu principal incentivador. E sob aquele clima de paranóia, perseguição e proibição que acompanha qualquer guerra, uma pequena rádio jovem resistia bravamente à programação de mídia estatal e à agenda de Milosevic, intercalando relatos e depoimentos da linha de frente do campo de batalha com doses cavalares de Clash, Pixies, Public Enemy e Sonic Youth.
Versão chapa-branca
Até que, um dia, seus ouvintes se deparam com outra rádio, embora atuando sob o mesmo nome. Fora o pop barulhento vindo do exterior e o dedo na ferida de seu noticiário; em seu lugar, canções tradicionais e hinos militaristas se alternavam com versões chapa-branca para os acontecimentos no país.
A conclusão dos ouvintes foi inevitável: censuraram a rádio. E eles passaram a ligar para a emissora, quando eram atendidos por uma telefonista igualmente correta, que apenas dizia que a rádio era a mesma, mas havia mudado um pouco.
Depois de quase um dia inteiro de reclamações, o diretor da rádio, o jornalista Veran Matic, baixou a guarda e revelou que tudo não passava de uma brincadeira baseada nos rumores de que a rádio seria fechada.
Foco de resistência
Voltou a tocar, no dia seguinte, sua programação normal, incluindo os telefonemas dos ouvintes indignados com a mudança editorial de mentira. Só uma coisa mudou: seu slogan passou a ser “não confie em ninguém, nem na gente”.
Esse é um dos inúmeros “causos” reunidos no livro “Rádio Guerrilha – Rock e Resistência em Belgrado”, do inglês Matthew Collin, que conta a história da emissora B92 -depois, B2-92-, uma brincadeira de estudantes de comunicação que se tornou um dos principais focos de resistência política quando o horror da guerra assolou a velha Iugoslávia.
A rádio foi criada em 1989 como uma espécie de paródia às comemorações do aniversário do antigo líder comunista Tito, morto em 1980, para ter apenas duas semanas de existência. Mas a brincadeira deu gosto e logo a rádio continuaria com duas frentes que se bicavam: a do jornalismo independente e a da rádio rock. A fonte de atrito vinha do jornalismo da emissora, que achava que a rádio tinha uma programação musical extrema, que repelia ouvintes em potencial.
Mas prevaleceu a visão de Veran Matic, estudante de literatura que abandonou a vida acadêmica para dedicar-se ao jornalismo na prática. Ele acabou como uma das principais vozes do programa de rádio dos anos 80 “Ritam Scra”, que, ao lado do núcleo de jornalismo Index 202, tornou-se a base da B92.
Com pouco mais de 30 anos, boêmio e afeito ao amadorismo radiofônico por definição, Matic era um crítico de música respeitado que aos poucos se tornou um dos principais líderes de uma geração esmagada pela guerra -embora rejeitasse sempre esse papel.
Conglomerado de mídia
Cabeça da emissora, ele foi o responsável por mantê-la sempre à frente de sua época -tanto de seus detratores quanto de seus fãs- e por transformá-la num pequeno conglomerado de mídia alternativa, com editora, gravadora, emissora de TV e centro cultural.
Era um dos homens de mídia mais respeitados dos Bálcãs, a despeito das tentativas de interromper suas atividades. Ao acompanhar a saga da rádio, Collin, autor do ótimo “Altered State – The Story of Ecstasy Culture and Acid House” (Estado Alterado – A História da Cultura do Ecstasy e da Acid House), aproveita para contar a Guerra da Bósnia de uma forma simples e enxuta, ao mesmo tempo em que descreve a degradação e queda de Belgrado como amostra do que a guerra pode fazer a um país.
Mas tudo isso com um texto leve e bem-humorado -por vezes cínico- que equilibra tão bem as melhores qualidades da rádio: relatos pop disfarçados de jornalismo e jornalismo disfarçado de relato pop.
RÁDIO GUERRILHA – ROCK E RESISTÊNCIA EM BELGRADO
Autor: Matthew Collin
Tradução: Marcelo Orozco
Editora: Barracuda (tel. 0/xx/11/3237-3269)
Quanto: R$ 44 (336 págs.)
Essa matéria saiu na Folha de hoje, no Mais!. Vale ir atrás, o livrinho é istaile…
Enquanto as luxuosas instalações do Marriott Hotel recebem, em Copacabana, no Rio de Janeiro, a cúpula mundial do conhecimento compartilhado ao redor de sua grife mais reluzente – a marca Creative Commons –, um informal baixo clero deste mesmo setor reúne-se em Ipanema, numa pequena loja de quadrinhos, roupas e assessórios alternativos, para celebrar a entrada no mainstream de seu produto mais bem recebido pelo mercado – o super-herói Capitão Presença.
“As Aventuras do Capitão Presença” (Conrad) não apenas consagra a inspiração coletiva instigada em toda uma geração de cartunistas como oficializa a carreira de Arnaldo Branco, o criador do personagem, que criou-se na internet e aos poucos come pelas beiradas do sistema: tornou-se colaborador fixo da revista “Bizz” e tranpôs a revista independente “F.” para a mesma Conrad que agora o publica em livro.
Natural que este lançamento acontecesse sob o manto de seu personagem mais popular, o herbífumo voador que reacende a questão das drogas no imaginário coletivo brasileiro – em seu caso, especificamente, a maconha. Enquanto nomes que se tornaram referências canábicas tupiniquins, como Gil, D2 ou Gabeira, hoje pigarreiam antes de começar a falar do assunto (sem contar as pára-quedistas Soninha e Luana Piovanni, que, sem querer, levantaram e deram bandeira ao mesmo tempo), o Capitão Presença esfrega na cara a familiaridade não apenas com a maconha, mas com o submundo da droga que o Brasil alimenta e finge não alimentar.
E não apenas do ponto de vista legal, mas também social, medicinal, artístico ou rotineiro. Afinal, não custa lembrar que o único super-poder do personagem é ter maconha na hora em que as pessoas precisam de maconha. Olha como o malandro carioca foi se reinventar…
Não é mero humor feito para quem usa drogas, como o excesso de obviedade parece supor. Este, tal como seus em pares de outras eras (Freak Brothers, Cheech & Chong e Wood & Stock), é só mais um elemento de crítica a este suposto público-alvo.
Isso, claro, sem o mínimo pudor ou formalismo intelectual, no humor sempre amargo de Arnaldo, que logo criou toda uma fauna ao redor do personagem, com nomes que falam por si, como o pidão Super Aba, o cachorro Malhado e o vacilão Mané Bandeira. Não bastasse seu universo, Presença ainda foi lançado para presidente da república neste ano, numa campanha em que o personagem promete “acabar com a seca não apenas no nordeste, mas em todo o Brasil”.
Mas o que une o encontro de Copacabana com o happy hour em Ipanema é o fato do personagem ser, na prática, um exemplo de conhecimento compartilhado e produção coletiva. Criado em duas tiras por Arnaldo, Presença ganhou vôo próprio e passou a ser redesenhado por cartunistas e ilustradores de sua geração que, a despeito (ou justamente por causa) das drogas, passaram a criar o personagem de forma coletiva – e assim Arnaldo publicou o personagem (como todo o livro) na licença Creative Commons. E enquanto no iCommons discute-se generosidade intelectual em palestras e workshops, esta mesma generosidade é celebrada, à brasileira, sem tanta teoria e com mais diversão – e longe, embora menos de um bairro de distância, dos gringos.
AS AVENTURAS DO CAPITÃO PRESENÇA
Editora: Conrad
Quanto: R$ 25 (144 págs)
Lançamento: hoje, às 19h, no La Cucaracha (r. Teixeira de Melo, 31-H, Ipanema, Rio, tel. 0/xx/21/2522-0103)
Esse texto saiu na Folha dessa sexta…
Resenhinha do Pornô, do Irvine Welsh, na capa da Ilustrada de hoje. Aí embaixo, a íntegra, pré-edição:
Do mesmo jeito que era inevitável que Simon D. Williamson arrumasse um emprego que o mantivesse próximo do sexo, das drogas, dos jogos e da farra de seus anos dourados, também era inevitável que não durasse muito no cargo. E até durou demais, mesmo que mais apresentável e mais experiente que quando deixou sua cidade-natal rumo a Londres, ele ainda era o mesmo Sick Boy que funcionava como o próprio RP de seu bando na pós-adolescência.
Ao lado de Mark Renton, Frank Begbie e Daniel “Spud” Murphy, ele fazia parte do pequeno grupo de junkies sem esperanças que protagonizava “Trainspotting”, série de monólogos psicótico-autistas sobre o underground de Edimburgo, Escócia, no final dos anos 80. O livro, lançado originalmente em 1993, colocou o escritor escocês Irvine Welsh no mapa do mundo pop, especialmente após as adaptações para o teatro (encenada em Londres por Harry Gibson em 1995) e para o cinema (dirigida na Inglaterra por Danny Boyle em 1996).
Dez anos depois do golpe que parecia ter desfeito de vez aquela já esfacelada quadrilha, o acaso reúne os quatro novamente no decadente distrito de Leith que antes se referiam como lar. E eles não estão felizes com o reencontro. Apenas o tímido e inofensivo Spud permaneceu nas ruas de sua cidade, e ainda luta para deixar o vício de heroína no passado, como já aconteceu com os outros três.
Depois de anos na prisão, o psicopata Begbie reza para encontrar o filho da puta que lhe enviava revistas gay anonimamente quando estava na cadeia e para não encontrar Renton, a quem culpa sua estada atrás das grades. Sick Boy tem de engolir o orgulho de ser demitido de mais uma casa noturna em Londres agarrando-se no pub de uma tia para retornar à Escócia, que abomina. Renton é praticamente extraditado de volta para a Grã-Bretanha por Sick Boy, que o encontra dono de uma boate em Amsterdã e o ameaça a entrar em seu novo esquema: pornografia.
Assim começa “Pornô”, último livro lançado por Welsh, em 2002, que agora ganha edição brasileira. Depois da traição final de “Trainspotting” seus protagonistas (se é que podemos chamá-los assim) voltam a habitar a mesma sociosfera, seus reencontros sendo antecipados no mesmo tipo de monólogos atordoados do livro inicial.
Três deles têm filhos, todos estão sempre se ajeitando no espelho, fingindo não aceitar a velhice que começa a despontar no horizonte. Estão mais reflexivos, mas isso não quer dizer que a quantidade de sexo, drogas e violência diminuiu – pelo contrário, ela continua presa às suas personalidades como particularidades físicas.
Sexo casual, baseados, lugares imundos, garrafas de vinho, muito sangue, linhas de cocaína, estupros, muita cerveja, ameaças de morte e trambiques – o underground continua o mesmo. Mas a lenta realização de que os quarenta anos estão na próxima esquina e um balanço sobre a primeira metade da vida os torna menos impulsivos e sem tanta sede de vida.
Este lado é compensado no personagem de Nicola Fuller-Smith, a estudante de cinema Nikki, dez anos mais nova que o grupo e, portanto, com a idade que seus pares tinham em “Trainspotting”. A ela cabe o tesão pela vida e a lenta e deliciosa autodestruição do livro anterior. Manipuladora de homens e pseudo-intelectual, tem uma empáfia sensual típica das meninas que se consideram no controle da situação, provocando combustão com a química ao lado de Sick Boy. Os dois – ególatras, sexcêntricos, arrogantes – formam um casal perfeito, cínico e mau caráter.
Mas toda barra pesada e desilusão é bem diluída no humor peculiar de Welsh, que vai da ultraviolência ao sadismo de desenho animado, de perversões intelectuais a egotrips mirabolantes – se perde em relação a “Trainspotting” em ritmo e energia, “Pornô” ganha em acidez e meticulosa crítica comportamental. Os delírios de Sick Boy sobre empreendedorismo, tanto no mercado de “entretenimento adulto” quanto na “revitalização do centro de Leith” aludem tanto à megalomania neoliberal quanto ao novo-riquismo – e são hilários. A tradução de Daniel Galera e “Mojo” Pellizzari abranda felizmente o inglês tosco de alguns dos personagens – tornando os livros de Welsh difíceis até para quem lê em inglês – em prol do ritmo da leitura.
***
“Pornô”
Editora: Rocco
Páginas:568
Preço : R$ 62,50
Resenhinha pro livro The Future of Music que saiu na Bizz 195, a com os Strokes na capa e, pra deixar registrado, uma senhora matéria do Lucio.
“A água tem um papel essencial em nossas vidas – nada acontece sem água. Centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo trabalham no mercado de prover água para outras pessoas, bilhões são gastos para garantir o suprimento regular de água e exércitos de pesquisadores e trabalhadores lidam com projetos relacionados à água. Ao lado do ar, a água é absolutamente essencial à vida. Não pagamos pelo ar – ainda – mas pagamos por água e, por conseqüência, algumas das companhias de lidam com água estão entre as empresas mais ricas do planeta”.
E o que o futuro da música tem a ver com a água? Na verdade, a água é apenas uma metáfora que David Kusek e Gerd Leonhard usam para explicar como a música será consumida no futuro. “The Future of Music” é, sim, um exercício de futurologia, mas baseado em números e situações atuais de empresas e pessoas que já encontraram soluções para a chama “crise na indústria na música”. Que, salientam os autores, não existe. A crise é da indústria do disco: “Muitos de nós estamos acostumados a pensar que toda a indústria é fundada em uma fórmula simples: volume de venda de discos = valor da indústria”, escrevem, “isso é um mito porque, na verdade, a indústria do disco é só uma fatia da indústria de música como um todo – e muitas das outras fatias são sequer conhecidas pelo consumidor médio de música”.
Os autores traçam um panorama sobre a indústria da gravação de discos e sobre a digitalização da música que, a partir dos anos 80, liberou-a do formato disco para qualquer outro suporte de natureza digital. Ao cogitar que os consumidores pagassem mais caro por um produto mais barato (o CD) e forçando o público a comprar novamente os mesmos discos, a indústria fonográfica criou um formato fácil de gravar, copiar, distribuir, dar. Achou que estava vacinando-se, quando provava um veneno cujo gosto está sendo sentido hoje em dia.
Mas “música de graça” não é equivalente à artistas sem dinheiro, como as grandes gravadoras fazem supor. Mesmo porque “música de graça” nunca é de propriamente gratuita – ninguém baixa MP3s e queima CD-Rs sem ter uma boa conexão online ou um computador decente, que foram pagos por alguém.
Voltamos então ao paralelo com a água, que está sempre ao nosso redor e, aparentemente, é de graça. Mas quando lavamos a mão no restaurante, abrimos a torneira num parque público ou tomamos banho num hotel estamos, mesmo que indiretamente, pagando a conta. E a troca de parâmetro básico – música como um serviço, não como um produto – faz com que o pagamento pela música aconteça mais pela comodidade do acesso do que pelo valor agregado ao disco propriamente dito. Ou alguém consegue explicar outro motivo para o fato de um trecho tocado em MIDI de uma determinada música (o famigerado ringtone) custar mais caro que a música inteira, na versão original, nas lojas de MP3s online?