E a minha coluna de ontem no Caderno 2 foi sobre a dominação brasileira nos trending topics.
Trending Trópicos
…E o Brasil dominou o Twitter
As coisas andam mais depressa no mundo digital. A Copa do Mundo terminou há mais de um mês, mas o movimento “Cala Boca Galvão” parece que aconteceu anos atrás. Para quem não lembra, a tentativa de calar o locutor da Globo começou a partir das reclamações de brasileiros no Twitter, o que fez que a frase chegasse aos trending topics da rede social. Esses tópicos funcionam da seguinte forma: quando um termo é repetido várias vezes pelos usuários do Twitter, ele aparece em uma lista que apresenta quais são as frases, palavras ou expressões mais twittadas naquele instante. Eis um dos grandes trunfos do Twitter: funcionar como um termômetro do inconsciente coletivo mundial – ou ao menos das pessoas conectadas à sua rede.
“Cala Boca Galvão”, portanto, foi uma das expressões que apareceram nos trending topics logo que a Copa começou. Quem não era brasileiro e viu aquela expressão em português nos tópicos, passou a perguntar o que era aquilo. Irônicos, alguns brasileiros começaram a brincar com o significado e disseram que a frase era o slogan de um movimento que queria salvar aves em extinção no Brasil – isso foi assunto até desta coluna, domingos atrás.
Não foi a primeira vez que o Brasil chegou à lista dos tópicos mais falados no Twitter. Em junho do ano passado, o ator Ashton Kutcher resolveu brincar com a seleção brasileira e aprendeu, na lata, o significado da expressão “Chupa!” Twittou e, em pouco tempo, o termo “Chupa” estava nos trending topics.
Mas depois do “Cala Boca Galvão”, algo mudou. Cientes de que haviam emplacado um termo na lista, brasileiros começaram a twittar freneticamente para ver se alguma bobagem entrava nos trending topics. E elas começaram a entrar. Foi questão de tempo para que quem não fosse brasileiro começasse a se perguntar, como perguntaram sobre o Galvão, o que era “Fiuk”, “Cala Boca Stallone” ou “Bruna Surfistinha”. E nas últimas semanas, não apenas um ou dois, mas todos os dez tópicos mais comentados no Twitter tinham sido criados por brasileiros.
Isso gerou uma repulsa brasileira ao próprio comportamento dos brasileiros – gente inconformada, reclamando da presença de algum termo no Twitter, sem perceber que, ao reclamar dele, o ajudava a mantê-lo no topo. Mas é um comportamento típico: reclamar que o brasileiro avacalha tudo e que isso é coisa de subdesenvolvido.
O engraçado é que essa avacalhação é uma das bases da nossa cultura – vide Oswald de Andrade, o Amigo da Onça, o Pasquim, Chacrinha e Hermes e Renato. E agora, as brincadeiras no Twitter entram nessa tradição, como uma manifestação em massa que pode ser chamada de “trending tropicalização”.
Mais barato
Kindle: Às vésperas da popularização?
Foi posta em pré-venda na semana passada, a terceira versão do e-reader da Amazon, o Kindle. Menor e mais leve que as versões anteriores, a maior novidade é a redução de preço. O aparelho, que começou a ser vendido a US$ 399, agora custa US$ 139, três anos depois de seu lançamento. Analistas acreditam que, uma vez que o dispositivo passe a custar US$ 10o, ele deixa de ser um produto de nicho e ganha o mercado de vez.
A matéria de capa do Link dessa semana reunia exemplos de como o mundo digital vem mudando nosso vocabulário, inserindo palavras e expressões no dia-a-dia sem que nem sequer nos darmos conta. Além deste glossário (diagramado genialmente, pra variar, pelo Jairo e pelo Thiago e convertido na versão digital vertical acima pela Helô), a edição ainda contava com uma ótima matéria da Carla sobre as mudanças que o idioma sofre com o tempo e um artigo do Bráulio Tavares comentando estas mutações. Recomedo a leitura.
• Novo léxico • A vida das palavras • Braulio Tavares: Espalha como vírus, caduca feito disquete • Personal Nerd: 404 not found • Facebook: as cifras, o filme e os Simpsons • Servidor: File, Kinect, e-books e ProEvolution Soccer • Navegar impreciso: Orkut só segue soberano no Brasil – mas até quando? • Vida Digital: Kevin Macdonald •
Eis minha coluna no Caderno 2 de ontem…
“Aquela da sanfoninha”
“Stereo Love”, um ringtone do inferno
Aconteceu na redação. O mês de junho ainda não havia começado, era tarde da noite no jornal e, na calma noturna da quase meia-noite, uma pequena sanfoninha tocou a distância. E tocou. E tocou. Era o celular que alguém havia esquecido sobre a mesa enquanto ia tomar água, ao banheiro, fumar um cigarro. A sanfoninha tocava uma melodia simples e chorosa, quase um forrozinho, com um mínimo ritmo dançante, daquele de bater o pé e só. Dada a época do ano, pensei que o dono do aparelho pudesse estar em clima de festas juninas. Vai saber.
Até que comecei a ouvir aquela musiquinha repetidas vezes. Em situações diferentes, ela vinha aos poucos acrescida de uma batida de dance music (hã?) e um vocal sussurrado num inglês com sotaque, cantando uma letra genérica sobre amor. Sempre trechos, quase sempre iniciados pela sanfoninha brega, ouvidos a distância, de passagem – sempre ouvidos através do celular de alguém.
Descubro, tardiamente, graças à repórter Ana Freitas, que trabalha comigo no Link, que “Stereo Love” foi o hit que lançou a carreira do DJ romeno Edward Maya no final do ano passado, em parceria com a DJ e vocalista russa Vika Jigulina. Tão sem graça quanto grudenta, a música tornou-se sucesso de downloads na França (justamente para se tornar ringtone de celular) e depois começou a crescer entre os países da Europa central – Bélgica e depois Suíça, para finalmente, em abril deste ano, ser lançada nos EUA e, finalmente, chegar aos ouvidos brasileiros. A música é sucesso nas rádios dance do Brasil e Vika Jigulina já até veio para cá, quando se apresentou em uma festa no Rio de Janeiro, no dia 10 deste mês.
Três dias antes, o dono do perfil /konelindo no YouTube subia um vídeo que resumia o drama que eu havia começado a sentir. Sem imagens, o clipe apenas apresenta uma tela preta que mostra letras em branco que, aos poucos, formam a frase “eu odeio quem coloca essa música como toque de celular”, seguida da infame sanfoninha de forró dos Bálcãs que vinha me perseguindo. Foi assim, através da Ana, que me passou o tal vídeo, que matei uma dúvida que eu nem sabia que tinha.
Mas o ponto dessa história toda não diz respeito apenas a uma música semidesconhecida que virou sucesso de uma hora para outra, e sim ao fato desta ser usada como toque de celular. Se fosse apenas Stereo Love, já seria motivo para essa coluna. Mas não é só ela.
Donos de celulares que permitem trocar o tom de chamada por músicas muitas vezes nem pensam ao escolher uma canção favorita para ser seu ringtone. Mas se esquecem que aquela música será tocada toda vez que seu celular for acionado – ou se lembram, mas esquecem que aquela música será repetida para todos os que estiverem ao seu redor. E não pense com os seus botões que a música que você escolheu é boa e que seus amigos não ligam. É bem provável que eles liguem sim e comentem sobre a música chata que toca toda vez que o seu telefone toca.
Quer personalizar o toque do seu celular? Escolha uma música discreta e que não seja facilmente reconhecível – o telefone pode tocar em uma reunião com alguém que odeia aquela música, aí já viu…
É só uma questão de etiqueta digital. Nem vou entrar no mérito daqueles que ouvem música no celular sem fone de ouvido (você já deve ter dividido o elevador com um tipo desses). Porque aí não é etiqueta – é só falta de noção mesmo.
• Dupla exposição • Todo mundo dá opinião visual, diz designer • Do celular para as redes sociais • Personal Nerd: O que mudou na vida das pessoas com a chegada da câmera digital • Shuffle: Celulares com câmera • Shuffle: Câmeras digitais • Celulares x Câmeras • Lan house deixará de ser ‘casa de jogo’ • Mais tempo para discutir a lei do direito autoral • Games podem ficar mais baratos • Quando todo mundo estiver online, o Congresso será inútil? • Isso não é jogo • Filme do Facebook, Naspers, Steve Jobs e Nhom •Vida Digital: Mauricio David Romero Bordón •
Minha coluninha no 2 de ontem…
Sobre o que é A Origem?
Mantendo segredos na era digital
“A sua mente é a cena do crime”, diz a frase que anunciava Inception, a nova produção do mesmo Christopher Nolan que dirigiu os últimos filmes do Batman, Amnésia e O Grande Truque. O filme estreou sexta passada nos EUA e será lançado no Brasil no início de agosto com o título sem graça A Origem (alguém me explica o motivo de acrescentar o artigo definido na tradução?).
Com nomes de peso como Leonardo Di Caprio, Ellen Page, Cillian Murphy e Michael Caine, A Origem vinha cercado de muita expectativa. Primeiro pelo fato de ser um projeto particular de Nolan, que foi adiado devido à agenda que assumiu ao dirigir os filmes do Homem-Morcego. Depois vieram as primeiras cenas, que mostravam ruas e prédios se dobrando em curvas impossíveis e tiroteios que desafiam a gravidade. Mas, o principal motivo de especulação sobre A Origem era sua história. Afinal, do que trata esse filme?
Durante meses, Nolan trabalhou com sua equipe em sigilo total, distribuindo partes do roteiro em separado, para que a história não vazasse. Complexo e denso, cheio de referências a sonhos, ao inconsciente coletivo e, talvez, a uma possível realidade virtual, A Origem partia da premissa de que sua trama era tão importante quanto os nomes que participavam da produção.
Deu certo: Nolan conseguiu manter o segredo até que o filme começou a ser exibido para executivos do cinema e jornalistas – e, a princípio, parecia que o sigilo era até desnecessário, pois muitos nem sequer o entenderam. Logo surgiam elogios que ligavam o filme a nomes como Kafka, Kubrick ou Jung e, aos poucos, a história do filme começava a tornar-se pública.
Se A Origem vai fazer sucesso ou não, só conseguiremos saber em breve. Há quem acredite que éapenas marketing e que o filme será o oposto de Avatar – que era motivo de riso antes da estreia e depois fez história.
Mas independentemente do que aconteça, vale reconhecer o mérito de Nolan: produzir um filme caro (US$ 160 milhões) e manter o suspense sobre seu tema em uma época em que parece que se sabe tudo sobre tudo.
Sem inventar nada
Uma eleição pouco bizarra
Com o fim da Copa, as eleições começam a entrar na rotina do brasileiro. E antes que surjam brincadeiras, piadas e especulações sobre candidatos e partidos (que já começaram – procure “Dilmaboy” por sua conta e risco no YouTube), não dá para fugir da própria eleição como motivo de riso. Vide o perfil www.twitter.com/eleicaobizarra, dedicado a linkar candidatos improváveis – de verdade – que disputarão nossos votos.
E nesta edição do Link tive o prazer de chamar a Chiquinha pra fazer o Personal Nerd. Ficou demais:
Estou colaborando com outros cadernos do Estadão, onde trabalho. Sempre que me pedem, arrumo um texto sobre o universo do Link para outros cadernos – e vou, como faço com meus textos no Link, republicando por aqui. Quem chamou desta vez foi o caderno Metrópole, que fez uma matéria sobre revival de games. A minha análise segue a seguir:
Games complicados obrigaram os fãs a voltaraopassado
Aos 40 anos de idade, o cinema começava a ser uma indústria. O som gravado, também. Os games, no entanto, não levaram tanto tempo.Entre a criação do primeiro videogame (Spacewar!, em1961) e a comercialização do primeiro jogo (Pong, em 1972) passaram-se apenas 11 anos. E, em menos de 10 anos, o Atari transformava os games primeiro numa novidade, depois numa febre e, finalmente, numa indústria.
Esse mercado seguiu crescendo de forma assustadora. Na década seguinte, os jogos ganharam imagens e narrativas complexas e deixavam de ser simples e intuitivos.
Com isso, a indústria criou um fã de games xiita e intransigente, que carregava todo o estereótipo negativo do termo “nerd” – antissocial, passivo, sem amigos. E, sem querer, abandonou o público que não queria aprender golpes complicados nem ver monstros em altíssimas definição – só queria se divertir com um controle na mão.
E foi esse público que começou a resgatar os antigos jogos, graças a programas chamados “emuladores” – que, como o nome entrega, recriavam os ambientes digitais frequentados por quem era criança ou adolescente nos anos 80. Enquanto o mercado apostava na sofisticação e na dificuldade, os próprios fãs de games voltaram à simplicidade lúdica de jogos como Pac-Man, Tetris, Prince of Persia, Zelda e Super Mario por conta própria.
E assim anteciparam a grande revolução dos games da primeira década do século 21, que foi o resgate do videogame como mera diversão – tendência que começou com o Wii da Nintendo, passou pelos jogos causais lançados para celular e culminou com a chegada dos games sociais em sites como Facebook. Videogame, afinal, é só uma brincadeira.
E por falar em desenho rústico, foi com imenso prazer que eu publiquei o grande Cersibon na capa do Link de hoje. Acima, sua versão para o Keyboard Cat.
• Balaio de gato • ‘É preciso pensar como um gato’, diz autor da bíblia dos LOLCats • Gata pianista dá entrevista • A rede ronrona • A união faz a compra • Personal Nerd: compra coletiva • A campanha está na rede, agora só falta a população • A copa dos Tumblrs • Golias x Golias • Leitura digital, Justin Bieber x Hackers, Microsoft e 3G • Vida Digital: Legião Urbana •