Legião Urbana no Perdidos na Noite

Outras jóias desencavadas pelo site oficial da banda no YouTube: as aparições do grupo no Perdidos na Noite, apresentado por Fausto Silva, que era uma espécie de CQC e Pânico de sua época, só que com música.

Poizé: o Faustão já foi legal.

Renato Russo, 50 anos

Como bom brasiliense, fica aqui a minha lembrança e meu salve ao João de Santo Cristo original, o retirante carioca que legitimou a cultura da minha cidade-natal em forma de canção. Aproveitei a data para desenterrar uma entrevista que fiz com o Renato Russo em 1994 e que foi capa da Ilustrada em 2001, quando completaram cinco anos da morte do cara. Segue:

Em entrevista inédita, Renato Russo fala de drogas e da Legião

Há exatos cinco anos o pop brasileiro perdia o pouco de senso crítico que tinha, acelerando a escavação do atual abismo cultural em que se encontra. Com a morte de Renato Russo, acabava a Legião Urbana, uma das duas bandas de rock mais importantes do Brasil, funcionando no imaginário nacional -ao lado do experimentalismo dos Mutantes- como os Beatles para o do planeta.

O fim do grupo coincidiu com a aceleração da idiotização do pop brasileiro, hoje composto por discos de regravações, muitos deles subprodutos da própria Legião.

No dia 21 de maio de 1994, Renato Russo e a banda viajavam pelo interior de São Paulo com a turnê do disco O Descobrimento do Brasil. O show daquela noite havia sido no ginásio municipal de Valinhos (a 88 quilômetros da capital) e problemas com a acústica do lugar fizeram o grupo convocar uma reunião de emergência na beira da piscina do hotel Royal Palm Plaza, em Campinas. Leia trechos da entrevista concedida por Renato Russo, após a reunião.

Qual seu disco favorito da Legião Urbana?
O V, que eu acho o disco mais difícil. Gosto muito de O Descobrimento do Brasil. Agora, que encontrei a programação dos 12 passos -parei de beber e de me drogar-, tudo está mais tranquilo. Esse show de hoje, por exemplo: o som estava um caos, tudo estava um horror, e o público, superlegal. O lugar tinha uma reverberação brutal. O público berrava muito, e o engenheiro de som teve de aumentar tudo, desequilibrou. No começo era só “bum-bum-bum” e eu berrando, não dava para ouvir os detalhes. Mas, se fosse em outra época, eu teria ficado tão preocupado que ia beber, tomar um porre, falar: “Nunca mais vou fazer show”, nhem-nhem-nhem… Isso agora não existe mais. Há uma tranquilidade, uma serenidade que esse disco trouxe, e acho que as músicas refletem isso.

Como foi sair dessa fase?
Eu estava me destruindo e, em vez de me matar com um tiro na cabeça, preferi procurar ajuda. Isso vem desde os 17 anos, mas no V foi a primeira vez que coloquei na música essas questões. “Montanha Mágica” é sobre isso. Eu era jovem e acabei entrando num beco sem saída.
Isso foi me consumindo, eu ficava deprimido e não sabia o porquê. Achava que o mundo era horrível, igualzinho ao Kurt Cobain, nada mais valia a pena. E isso é estranho porque, se eu achar um dia que as coisas não valham a pena, quero estar com a cabeça no lugar, e não com o corpo cheio de toxinas. Parei com todo tipo de droga e vi que as coisas não eram tão ruins.

Isso se refletia na sonoridade da banda?
Isso a gente decide. Todo disco a gente tenta fazer uma coisa diferente, até porque é mais divertido. E para não ficar na obrigação de repetir o mesmo trabalho. Não achávamos que o Quatro Estações fosse estourar, porque é um disco bem difícil, mas todo mundo gostou. As letras são complicadíssimas e não é tão pra cima quanto acham. É tão depressivo quanto o V.
Tentamos fazer músicas mais pra cima porque era natural, mas não ficava bom. O Descobrimento do Brasil não é um disco pra cima, é como o Power, Corruption and Lies, do New Order. É a coisa mais gloriosa do mundo, mas, se prestar atenção, é pesado.

Como o Quatro Estações…
No geral, as pessoas acharam que aquilo foi a coisa mais alegre que já foi feita. Enquanto o V, não. A gente tentou fazer uma música alegre pelo menos, de tudo quanto foi jeito, e não saía. “Vento no Litoral” só tocou porque tem uma melodia bonita. Acho “Metal contra as Nuvens” uma música superacessível. O problema é que o disco falava de coisas que as pessoas não estavam querendo ouvir na hora. Foi quando estourou a axé music, a gente veio na contramão. Mas o disco tem as melhores letras, de longe. Consegui falar tudo o que eu queria. Mas as pessoas não queriam ouvir aquilo. Por exemplo, “Metal contra as Nuvens” é uma música sobre o Collor, mas nunca ninguém falou sobre isso.

Como você vê a crítica?
Eles usam os motivos errados. Eu não sou o dono da verdade, mas, para mim, o que motiva esses caras é um rancor e uma incompreensão do que é o nosso país e de como as coisas funcionam. Existem iniciativas maravilhosas no Brasil e a gente não sabe. Aí a gente fica oprimido, achando que tudo não presta, que tudo é horrível. Gostaria de poder apresentar um bom trabalho para as pessoas que gostam da gente. Acho sacanagem, na posição que a gente está, não tentar se esforçar o máximo para apresentar o melhor que a gente pode fazer.

E o futuro do Legião?
Não tenho idéia. Eu não vejo como a gente vai seguir o que está fazendo sem se repetir. Depois de “Perfeição”, eu vou escrever o quê? Depois que você fala “vamos celebrar a estupidez humana”, o que você vai falar? Então talvez a gente faça uma coisa parecida com o que o The Cure faz, para depois, com o tempo, a gente fazer uma mescla. Ou virar uma banda de trabalho, como o New Order. Eu não quero ficar falando como eu acho tudo horrível como está. Se a gente cansar, a gente pára. Se a gente achar que ainda vale a pena fazer alguma coisa, a gente continua.

E esse site novo do Legião Urbana?

Todo dois ponto zero… Resta saber o que eles vão fazer com isso:

E se vão desovar as gravações inéditas da banda. Falando nisso, isso me deu uma ideia…

Vida Fodona #199: Encerrando mais um ciclo

É isso aí: a partir do programa que vem já entro na terceira centena de podcasts.

Yeasayer – “O.N.E.”
Of Montreal – “Plastis Wafers”
Happy Mondays – “Step On”
DeLorean – “Seasun”
80 Kidz + Lovefoxxx – “Spoiledboy”
Prince – “When You Were Mine”
Grizzly Bear – “Boy from School”
Legião Urbana – “Andrea Doria”
R.E.M. – “Near Wild Heaven”
She & Him – “In the Sun”
Xx – “VCR (Matthew Dear Remix)”
Lobsterdust – “Steady Romance”
Spoon – “Written in Reverse”
Phoenix – “Fences”
Kill Memory Crash – “Hit and Run”

Você vem?

E a volta do Legião Urbana, hein…

Aconteceu ontem, no Porão do Rock, em Brasília. Clique por sua própria conta e risco:

De repente, a volta dos Mutantes não parece ser o fundo do poço.

Vida Fodona #149: Postergando pro meio do ano

De novo falando entre as músicas, num VF fora do comum – mas igualmente bom.

General Eletriks – “Take Back the Internet”
Florence and the Machine – “Kiss with a Fist”
Friendly Fires – “In the Hospital”
Phoenix – “Like a Sunset”
Phantom Band – “The Howling”
Silver Jews – “Night Society”
El Mató a Un Policía Motorizado – “Corre, Corre, Corre”
Gal Costa – “Tuareg”
Pink Floyd – “Let There Be More Light”
Love – “Orange Skies”
Legião Urbana – “Teorema”
João Penca e Seus Miquinhos Amestrados – “Lágrimas de Crocodilo”
Stevie Wonder – “All Day Sucker”
Kinks – “Gotta Get The First Plane Home”
Mundo Livre S/A – “A Expressão Exata”
Quinto Andar – “Vai Venu”
Javiera Mena – “Al Seguinte Nível”
Rita Lee – “De Pés no Chão”
Elliott Smith – “Ballad of a Thin Man”

Chega mais.

Hoje só amanhã: a quinta semana de 2009

Amanhã não, segunda – nesse domingo não tem Trabalho Sujo.

A volta do Legião Urbana
Gravações raras de João Gilberto ressurgem na internet: tanto as gravações que fez na casa do fotógrafo Chico Pereira em 1958 (o técnico de som Christophe Rousseau fala mais sobre o assunto), quanto o show ao lado de Tom Jobim, Os Cariocas e Vinícius de Moraes em 1962 e as gravações do tempo do Garotos da Lua, em 1950 (que repercutem) •
Lost: Jughead
Sílvio Santos portátil
Dakota Fanning, 15 anos
Little Joy em São Paulo
Moleque chapa no dentista, é remixado e vira desenho
Entrevista: Matt Mason (Pirate’s Dilemma)
Vazou o disco de Lily Allen
Trailers novos: Transformers 2 e Jornada nas Estrelas (com menção ao Cloverfield) •
Rick Levy se aposenta da naite
50 anos do dia em que a música morreu
Banda Calypso é indicada ao Nobel da Paz
Lux Interior (1948-2009)
Legendas.tv fora do ar (e hackers sacaneiam o site da APCMdeu no G1) •
A história do Kraftwerk
Krautrock dance
Emma Watson, 18 anos
Paul’s Boutique comentado pelos Beastie Boys
Soulwax faz set só com introduções de músicas (uma idéia que o Osymyso já tinha tido) •
Alan Moore e a televisão do século 21 (que aproveita para falar de sua participação nos Simpsons) •
Phelps dá pala, devia ter respondido assim, mas é punido; Ronaldo sai em sua defesa
Um herói candango
Vocalista do Gogol Bordello já agitou feshteenha no Rio e vai tocar no carnaval do Recife com Mundo Livre e Manu Chao
Saiu a escalação do festival de Boonnaroo
Forgotten Boys sem Chucky
Comentando Lost: The Lie
A história do krautrock
Entrevista: Lawrence Lessig
Comentando Lost: Jughead
Kraftwerk 1970
Oito episódios para o fim de Battlestar Galactica
Of Montreal tocando Electric Light Orchestra
Fubap de cara nova
“Friday I’m in Love” sem palavras
Todas as mortes em Sopranos
Christian Bale estressa com produtor e é remixado
Montage papai
As calcinhas da Kate do Lost são brasileiras
Lykke Li 2009
Cansei de Ser Sexy x Chromeo
Visita à discoteca Oneyda Alvarenga
Moleque do dentista e Christian Bale são remixados

2009: O ano da volta do Legião Urbana?

Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está

Embora muita gente entorte a cara, uma das principais bandas da história do pop brasileiro pode estar às vésperas de renascer para toda uma nova geração. Com o anúncio ano passado que a EMI finalmente vai disponibilizar online o catálogo do Legião Urbana, aos poucos começa uma espécie de Anthology brasileiro, idealizado por Renato Russo desde antes de sua banda existir, que em seus últimos anos de vida idealizava uma caixa com todo o material não-oficial do grupo lançada com o título de Material.

Mas o Legião continua firme e forte, rendendo não apenas dinheiro para sua gravadora e detentores de direitos autorais como reverberando no imaginário coletivo sempre de alguma forma – seja numa regravação, numa peça, num programa de TV. A presença de Renato Russo no imaginário coletivo brasileiro é uma constante maior do que ídolos mais incensados – como Cazuza, Raul Seixas ou os Mutantes – mesmo que não haja o oba-oba característicos dos fãs destes grupos.

Veja por exemplo, um festival realizado em Montevidéu no Uruguai que foi responsável, pela primeira vez depois do fim da banda, por reunir Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá de novo num palco – e para tocar Legião Urbana. Organizado no final de 2008 por bandas fãs uruguaias do grupo de Brasília, o evento teve um público de 2 mil pessoas que teve a oportunidade de assistir, entre outras atrações, ao Dado desafinando no vocal de “Índios”.

O Bruno do Sobremúsica entrevistou o Dado sobre o show no Uruguai:

Assisti da platéia, quente e lotada o Sebastián (vocalista da banda Vela Puerca) cantar “Se fiquei esperando meu amor passar”. Chorei! Muito emocionante, nunca mais tinha ouvido essa música ao vivo… E assim foi até a décima-primeira música quando eles nos chamaram ao palco e o La Trastienda (casa de shows) foi abaixo. Cantei “Índios” acompanhado do pessoal do Bajofondo, Juan, Luciano , Gabriel e Bonfá na bateria… Foi incrível. Na sequência Bonfá cantou “Pais e filhos” e mais uma vez a casa caiu… E assim se deu até o fim, momentos de grande emoção e comoção generalizada, todos acabaram em êxtase numa grande confraternização sulamericana. O melhor é que está tudo filmado. Lavamos a égua…

Isso no Uruguai. Por aqui, mal se fala num grupo que é a única banda pop brasileira que chega aos pés de Chico, Caetano ou Gil no critério quantidade de hits no inconsciente coletivo nacional. Nenhum outro grupo de rock brasileiro teve uma trajetória tão particular e uma aceitação tão instantânea – e massiva – de seu trabalho. Mais do que “porta-voz de sua geração”, Russo teve um papel crucial na história da música pop brasileira, quando ensinou a várias safras diferentes de ouvintes que era possível compor letra de música que não tivesse necessariamente cara de letra de música. Boa parte dos hits do Legião tem letras que parecem ter saído de conversas, de bate-papos, em vez de terem sido propriamente compostas.

E, bem ou mal, Renato Russo foi o arquetípico indie brasileiro. O moleque que não gosta de samba nem de praia, que fica ouvindo suas bandas desconhecidas no quarto, vivendo fantasias rock’n’roll. Renato imitava Morrissey e Ian Curtis quando se apresentava, líderes de duas bandas essencialmente indies, além de ter posado para a foto interna de um disco (V) com a camiseta do Jesus & Mary Chain. Nunca gravou cover, fez apenas citações de músicas alheias no meio de suas músicas. Quando fez concessões à música estrangeira, saiu em carreira solo, foi atrás de um tema para reunir grandes compositores americanos e outro para juntar breguices italianas. “Feche a porta do seu quarto porque se toca o telefone pode ser alguém com quem você quer falar por horas e horas e horas” é uma letra que fala de um comportamento típico do nerd atual – e isso antes da internet ou celulares existirem.

O indie, como tribo, é o nerd do rock (e não necessariamente só do rock inglês pós-86, mas de toda história do rock) – o cara que sabe a ordem das faixas de qualquer disco (pode ser dos Beatles, do My Bloody Valentine, do Engenheiros do Hawaii ou dos Ramones) equivale sua nerdice com gente disposta a aprender a falar orc ou klingon. A sutil diferença entre o indie e o nerd clássico é que os ídolos do primeiro aspiram por algo que os ídolos do segundo ignoram: estilo. Se bem que tem gente que acha que os uniformes dos Beatles (seja na Beatlemania ou no Sgt. Pepper’s) eram mais brega do que os de Jornada nas Estrelas (tudo bem – mas as únicas pessoas que eu vi fantasiadas de Beatles na vida eram bandas cover).

O Legião Urbana podem ser uma peça que está faltando no cenário pop brasileiro atual, que una tanto a geração dos festivais independentes com a cadavérica safra insistente das bandas de rock dos anos 80, aos grupos dos anos 90 que estão cada vez mais perdidos, aos indies ortodoxos que só ouvem bandas em inglês e aos emos cujas bandas podem aprender que compor em português permitem rimas que não são apenas verbos no infinitivo. O fato de Russo ter morrido pode ser crucial para não virar apenas mais um revival – substitui-lo por qualquer vocalista para uma volta do Legião me parece ainda mais risível do que colocar alguém para cantar no lugar de Freddie Mercury e chamar a banda de Queen – e fazer com que o cenário pop brasileiro finalmente se enxergue como um só.

Vida Fodona #123: Um, dois, três

Programa calminho, com um miolo de mashup e uma rabeira de remix, mas com muita balada e músicas pra ficar numa bowa.

First Aid Kit – “Tiger Mountain Pleasant Song”
Proibidão – “Mangueira Verde e Rosa”
Lulu Santos – “Adivinha o Quê?”
Marcelo Camelo e Mallu Magalhães – “Janta”
Crazy Baldhead – “Bluejay”
João Gilberto – “Aos Pés da Cruz”
First Aid Kit + Crazy Baldhead – “Tiger Bluejay Mountain”
Girl Talk – “Give and Go”
João Brasil – “This is How We Dance”
Lalo Schiffrin – “Magnum Force Team”
Elton John – “Goodbye Yellow Brick Road”
R.E.M. – “Electrolite”
Renato Russo – “Marcianos Invadem a Terra”
Metric – “Love is a Place”
Midnight Juggernauts – “Into the Galaxy”
Kills – “Cheap and Chearful (Fake Blood Remix)”
TV on the Radio – “Dancing Choose”
Ween – “The HIV Song”
Kooks – “Kids”

Vida Fodona #122: Mais Pra Canção

Hoje tem Velvet, Wilco e Bowie ao vivo, clássicos do Talking Heads, Tom Zé e Novos Baianos, novas do TV on the Radio, Lambchop, Mogwai, Macaco Bong e Fujiya & Miyagi, além de dois mashups, uma demo e um remix. Sirva-se!

Renato Russo – “Geração Coca-Cola”
Pavement – “Western Homes”
Lambchop – “Popeye”
Velvet Underground – “I Can’t Stand It”
Talking Heads – “Air”
Mudhoney – “Thorn”
Tom Zé – “Mã”
Novos Baianos – “Suingue de Campo Grande”
Macaco Bong – “Vamos Dar Mais Uma”
Beatles – “Golden Slumbers”
David Bowie – “Life on Mars”
Wilco – “Shot in the Arm”
Smiths – “How Soon is Now? (Mark Ronson Remix)”
Elastica – “All Nighter”
Fujiya & Miyagi – “Knickerbocker”
Mogwai (feat. Roky Erikson) – “Devil Rides”
TV on the Radio – “Golden Age”
Arty Fufkin – “Giver Losers a Chance”
Soul Cookin’ – “99 Supersonic Problems”