Oruã na KEXP!

Heróis do indie brasileiro, o quarteto carioca Oruã tirou o período pós-pandemia para desbravar o mercado internacional: já fez mais de 120 shows fora do país nos últimos três anos e atualmente atravessa uma residência artística em que passa por cinco diferentes cidades do estado da Califórnia, dentro da turnê que estão fazendo pelos Estados Unidos. Neste período também gravaram mais uma participação na festejada rádio da região de Seattle KEXP, quando mostraram músicas do disco que lançaram esse ano, Passe, em meia hora de programa. Formado pelo ícone do underground carioca Lê Almeida (nos vocais e guitarra), desta vez acompanhado por Phill Fernandes (bateria), João Casaes (sintetizadores) e Bigú Medine (baixo), o Oruã está vivendo o sonho que boa parte das bandas indies brasileiras só cogita e sua participação nesta rádio é só mais um degrau na construção internacional de sua reputação. E é tão foda ver o Lê se explicando em inglês para a apresentadora argentina do programa Albina Cabrera sobre a história e as influências da banda, bem como falando sobre a cena brasileira dos últimos anos – como estava reprimida e como está em plena ebulição, listando bandas como Glote, Economic Freedom Fighters, Tem Mas Acabou, Gueersh, Brita, Caxtrinho, Retrato e outras bandas que estão acontecendo agora. Grande Lê, avante!

Assista abaixo:  

Em plena transformação

Lê Almeida está mudando. O herói indie que estabeleceu um dos poucos portos seguros para o rock independente no Rio de Janeiro – a casa de shows Escritório, centro de um microssistema solar em que diferentes personalidades únicas da cena fluminense orbitavam ao redor -, ele aos poucos está expandindo suas fronteiras. E isso não diz respeito apenas aos limites geográficos, embora estas transposições tenham sido fundamentais para este novo momento. Desde que trabalhou com Doug Martsch do Built to Spill, encontrou caminhos para seu conjunto Oruã passear pelo hemisfério norte em paisagens norte-americanas e europeias que aos poucos foram atravessando sua concepção artística. Com o novo grupo, começou a fagocitar influências musicais que iam para além do indie rock e da música brasileira, alicerces de sua sonoridade até então e absorveu influências de música eletrônica, rock progressivo alemão, hip hop e free jazz, além de incorporar outras disciplinas para além da música. O resultado disso está em seu novo trabalho, I Feel in the Sky, gravado em várias cidades do mundo e que será lançado nesta sexta-feira e pode ser ouvido em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. Essa expansão artística também tem um desdobramento espiritual, que o próprio Lê explica num texto de apresentação do novo trabalho que ele também antecipa aqui para o site. Saca só:  

Onda lenta

Lê Almeida antecipou seu próximo disco, I Feel in the Sky, em uma apresentação hipnótica abrindo os trabalhos de outubro no Centro da Terra. Em sua versão solo, ele manteve os compadres de Oruã na formação – como Bigú Medine (agora disparando efeitos), João Casaes (nos teclados) e Phill Fernandes (na bateria) – mas convidou a baixista Melanie Radford e o baterista Cacá Amaral para fazer o público decolar em câmera lenta a partir de células musicais repetidas circularmente pela banda, enquanto ele cantarolava suas canções sobre uma base que conversava tanto com o krautrock quanto com o afrobeat – e tudo num ritmo vagaroso e hipnótico, barulhento e doce na mesma medida. Em dado momento do show, ele ainda chamou mais gente pra sua gira, convocando Ana Zumpano para a percussão e Otto Dardenne e Alejandra Luciani como vocais de apoio e fez um bis com uma música que havia sido composta no dia anterior. Só delírio.

Assista aqui:  

Lê Almeida: I Feel in the Sky

Às vésperas de entrar em uma residência artística na cidade norte-americana de Seaview, Lê Almeida é a primeira atração de outubro do Centro da Terra, quando antecipa o disco que mostra este mês pela primeira vez ao vivo. I Feel in the Sky marca a transição da musicalidade deste que é um dos principais nomes da cena indie do Rio de Janeiro para uma sonoridade em que influências jazzísticas e cancioneiras o levam para uma nova fase, mais espiritualizada. Chamado de “a resposta brasileira ao Robert Pollard” pelo jornal inglês The Guardian, em referência ao líder da banda Guided by Voices, Lê mistura as referências indie e lo-fi a elementos de free jazz, afrobeat, hip hop, krautrock e música brasileira. Na apresentação ele vem acompanhado dos músicos que também fazem parte de sua banda Oruã, como Bigú Medine, João Casaes, Melanie Radford, Phill Fernandes e Cacá Amaral. A apresentação começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

Centro da Terra: Outubro de 2023

Vamos à segunda metade do semestre, o que nos leva à fase final deste forte 2023, que nos trouxe tantos pensamentos e emoções sempre de forma intensa. E como neste outubro temos cinco segundas-feiras, a primeira delas (dia 2), foge da temporada e é uma apresentação única, em que o herói indie Lê Almeida revela em primeira mão, no palco, o disco que lançará este mês, I Feel in the Sky, que o aproxima de uma sonoridade jazz e espiritual. No dia seguinte, na terça-feira (dia 3), o músico e pesquisador Paulo Beto transforma sua banda eletrônica em uma orquestra e sob o título de Anvil FX Orchestra visita a obra Cosmos, de Carl Sagan, num espetáculo audiovisual que contará com as participações do vocalista Rodrigo Carneiro e do videoartista Jodele Larcher. Na segunda segunda-feira do mês começa a temporada de outubro, quando a cantora, compositora e musicista Paula Rebellato atravessa quatro segundas-feiras em suas Ficções Compartilhadas. Na primeira delas (dia 9), ela reúne-se aos saxofonistas Mari Crestani e Thiago França para mostrar suas novas composições. ERm sua segunda data (dia 16), ela dedica-se ao improviso com os velhos compadres Bernardo Pacheco, Cacá Amaral e Romulo Alexis. Depois (dia 23), ela mostra a avalanche kraut de seu Madrugada (ao lado de Otto Dardenne, Raphael Carapia e Yann Dardenne), para finalizar a temporada (dia 30) revisitando o clássico Desertshore da Nico ao lado de João Lucas Ribeiro, Mari Crestani e Paulo Beto. Haja coração! As duas terças seguintes ficam por conta da percussionista Nath Calan, que divide suas apresentações em duas partes: na primeira faz (dia 10), sozinha, sua apresentação de percussão cênica, área que se especializou, mostrando diferentes abordagens para seus instrumentos em cena em canções e temas de peças das quais fez parte. Na segunda (dia 17), entrega-se à música pop, cantando canções de artistas com quem já tocou bateria, de Fernanda Takai a Maurício Pereira, passando por Porcas Borboletas, Malu Maria, entre outros, acompanhada do guitarrista Carlos Gadelha e do baixista Eristhal. Na terça seguinte (dia 24), a cantora e compositora Manuella Julian, que apresenta-se como Manu Julian à frente de grupos como Pelados, Pequeno Cidadão e Fernê, começa a mostrar sua carreira solo, em canções inéditas e versões para músicas já conhecidas, com a guitarra de Thales Castanheira. E encerrando o mês na última terça-feira de outubro (dia 31), Maurício Pereira sobe ao palco do Centro da Terra mais uma vez acompanhado de seu compadre Tonho Penhasco, revisitando o repertório de seu disco mais recente, Micro, à luz de novidades que vem preparando para esta apresentação. Os espetáculos começam pontualmente sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

Oruã em outro patamar

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O herói indie Lê Almeida está nas alturas. Liderando sua nova banda, o trio Oruã, o dono da Transfusão Noise Records comemora os 15 anos de seu selo em grande estilo e acaba de voltar de uma turnê pelos Estados Unidos tocando junto com o guitar hero Doug Martsch, o líder do Built to Spill. “Esta nova fase está sendo linda, muito pelo fato de nós estarmos fazendo o que gostamos em proporções maiores do que já faziamos”, ele me explica por email, “viajar pra tocar em algum momento virou nossa ambição já que no nosso nível social não permite ter a minima condição de uma viagem turística”. O trio lança em primeira mão no Trabalho Sujo o clipe da faixa “Cruz das Almas BA”, feito com imagens da turnê em que passaram pelas cidades de Boise, Seattle, Portland, Tacoma e Walla Walla, no mês passado.

A conexão com Martsch foi essencialmente musica. “O Doug ouviu umas faixas minhas, curtiu e começou um contato. Quando ele esteve no Rio conheceu minha família, meus amigos, passamos a tocar junto e hoje pra mim é como se ele fosse parte da nossa galera 100%”.

Ele continua lembrando a turnê: “A primeira coisa que fizemos foi tocar na Radio Boise, da cidade do Doug e dias depois tocamos duas vezes num festival de cinco dias. Desde o começo sentíamos que o respeito de todos era enorme, eles adoram música brasileira. No festival fomos muito bem recebidos e já no nosso primeiro show fomos convidados pra gravar na KEXP pela Cheryl Waters, que estava na platéia. Depois fizemos uma tour de van passando por Seattle, Portland, Tacoma e Walla Walla onde todos os shows estavam com ingressos esgotados”. A viagem ainda proporcionou encontros históricos para o indie brasileiro. “Em Tacoma conhecemos o Calvin Johnson, máximo respeito e admiração”, Lê comenta sobre o encontro com o senhor Beat Happening. “Ele foi muito gente boa com a gente, só aumentou tudo que já sentiamos.”

O trio está às vésperas de repetir a dose, só que agora na Europa. “Vamos passar por muitos lugares, são um pouco mais que 30 shows, eu ainda não memorizei tudo aqui mas vamos no final de abril e voltamos no começo de junho. Estamos muito animados. Antes de viajar vamos lançar um EP chamado Tudo Posso, que vai sair em vinil 7″ nos Estados Unidos pela IFB Records e pela Transfusão. Esse video que estamos lançando é de uma das quatro faixas desse EP, que conta com alguns membros adicionais na formação do conjunto, Karin, Dani e David nos corais e Pedro e Russo nos saxofones.”

As turnês fazem parte da comemoração de seu selo, instituição que sobrevive heroicamente há 15 anos no Rio de Janeiro. “Nossas comemorações foram no início do ano quando fizemos quatro bailes contando com um show do Built to Spill em Madureira e em agosto vamos fazer alguns bailes comemorativos de seis anos do Escritório quando estaremos mais suave no Brasil. Depois da Europa temos mais algumas tours nos Estados Unidos com o Built to Spill que vão ate novembro”.

“Os primeiros shows que a gente fez com o Built to Spill foram no Escritório, num domingo chuvoso com uma fila grande na rua, foi um momento muito emocionante pra mim e pros meus amigos”, lembra, reforçando a importância de sua casa de shows para o próprio selo. “A partir dessa primeira tour passamos a dividir mais as funções entre nós. Agora o Joab e o Raoni tão tomando conta junto com a Karin e a Maria enquanto viajamos. Eles andam montando a programação e levando adiante, o importante é não parar.”

Mas não deixa de comentar sobre o estado da cena independente brasileira. “Falta respeito sem base em números. Eu sempre fui da minoria, mesmo viajando pra fora com o Built to Spill, eu ainda sou o mesmo cara que come o prato feito de dez reais da Tiradentes e toco a mesma guitarra Giannini.
Hoje nós conseguimos investir em nós mesmos, isso é lindo, nossos discos são caprichados, fazemos nossas gravações de um jeito que ninguém faz igual, mas no fundo só queremos fazer o nosso, conheçer pessoas nas viagens, fazer vinculos, trocar discos. Sou muito grato pela base de amigos que formamos nesses 15 anos, tive a sorte ter uma família próxima que sempre deu corda para minhas ondas artísticas, fizemos amizades por causa do som que eu sei que vai ser pra vida toda, isso é o mais importante.”

A outra cara de Lê Almeida

Foto: Karin Santa Rosa (Divulgação)

Foto: Karin Santa Rosa (Divulgação)

Herói do indie carioca, Lê Almeida transmutou sua musicalidade do shoegaze pro kraut ao parir o conjunto Oruã, em que reveza sua barulhenta guitarra com teclados elétricos. O grupo, formado por Lê (guitarra, teclados e vocais), João Luiz (baixo) e Phill Fernandes (bateria), envereda por trincheiras mais experimentais que as que Lê caminhava anteriormente e sai em busca de ouvintes em turnês de carro pelo Brasil, desbravando os interiores do Brasil com uma sonoridade densa e hermética, mas ao mesmo tempo hipnótica e psicodélica. Ele falou em lançar o single de “Malquerências” (que deverá estar no próximo disco do grupo, Romã) no Trabalho Sujo e eu aproveitei pra conversar com ele sobre sua nova banda.

Conte como o Oruã começou.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-conte-como-o-orua-comecou

Era uma banda instrumental que começou a ganhar letras. Fale sobre esse processo.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-era-uma-banda-instrumental-que-comecou-a-ganhar-letras-fale-sobre-esse-processo

Você está excursionando bastante com a banda. Como está sendo a repercussão?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-voce-esta-excursionando-bastante-com-a-banda-como-esta-sendo-a-repercussao

De onde vem o nome da banda?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-de-onde-vem-o-nome-da-banda

É seu único trabalho atualmente? Você parou seus outros projetos?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-e-seu-unico-trabalho-atualmente-voce-parou-seus-outros-projetos

Há previsão de lançamento de discos?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-ha-previsao-de-lancamento-de-discos