Os 25 melhores discos do primeiro semestre de 2024 segundo a comissão de música popular da APCA

Terça passada aconteceu mais uma premiação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (desta vez transmitida online, dá pra conferir aqui) e esta semana a comissão de música popular da APCA, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (TV Cultura), Bruno Capelas (Programa de Indie), Camilo Rocha (Bate Estaca), Cleber Facchi (Música Instantânea), Felipe Machado (Istoé), Guilherme Werneck (Meio e Ladrilho Hidráulico), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell), Pedro Antunes (Estadão e Tem um Gato na Minha Vitrola) e Pérola Mathias (Poro Aberto), escolheu os 25 melhores discos do primeiro semestre deste ano. Uma boa e ampla seleção que não contou com alguns dos meus discos favoritos do ano (afinal, é uma democracia, todos têm voto), mas acaba sendo uma boa amostra do que foi lançado neste início de 2024. E pra você, qual ficou faltando?

Confira abaixo os indicados:  

Uma noite peculiar no Picles

Quando reuni a sofrência pernambucana ao dance desconstruído paulistano no último Inferninho Trabalho Sujo de maio sabia que, por mais díspares que fossem as experiências ao vivo dos novos discos do Tagore e do Lauiz, havia um ponto em comum nessa formação. Algo que misturava uma sensibilidade fora do comum à necessidade de explorar novos caminhos sonoros atrairia públicos distintos (inclusive no quesito etário), mas prontos para aceitarem-se mutuamente. Dito e feito. Tagore começou a noite celebrando lembranças de sua juventude no início dos anos 90, mostrando principalmente as novas canções do disco Barra de Jangada, feito em homenagem a duas figuras importantes em sua formação que o deixaram recentemente: seu pai, o artista plástico Fernando Suassuna e o guitarrista Paulo Rafael, que tocou no Ave Sangria e acompanhou boa parte da carreira de Alceu Valença. Acompanhado de uma banda formada pelo guitarrista Arthur Dossa, o baixista e principal parceiro musical João Cavalcanti e pelo baterista Arquétipo Rafa, Tagore não só passou o disco recém-lançado como visitou pérolas de seu repertório como a já clássica “Movido a Vapor” e a bela “Olho Dela”, tocada num bis improvisado, como convidou o vocalista do Mombojó, Felipe S, para dividir os vocais do maior hit do mestre Alceu Valença, “Morena Tropicana”. Que vibe boa.

Depois foi a vez de Lauiz mostrar – a caráter, vestido de caubói – o repertório de seu disco lançado nessa sexta, Perigo Imediato. Cantando canções irônicas que perdem o cinismo ao serem desconstruídas num formato indie dance, o produtor dividiu-se entre piadas sem graça (como de praxe), vocais com vocoder e um keytar enquanto seu dupla, o DJ Marquinhos Botas-de-Ferro, disparava bases e tocava guitarra, sempre mantendo a seriedade que contrapunha à autodepreciação promovida pelo vocalista. Com timbres sintéticos que soam simultaneamente cafonas e modernos, os dois mantiveram o público sempre animado, mesmo quando zoavam da própria postura no palco. O show só pecou por ser curto e durou apenas meia hora. Mas o foi o suficiente para deixar o Picles em ponto de bala para que eu e Bamboloki, que estava completando seu primeiro aniversário como DJ, fizéssemos um dos nossos melhores sets, misturando Kasino e Siouxsie & The Banshees, Yo La Tengo e Arrigo Barnabé, Gang of Four e Jonata Doll e os Garotos Solventes. Quem foi sabe.

Assista abaixo:  

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Lauiz e Tagore

Temos que dar um jeito nesse frio polar que só entristece a vida das pessoas – e esse jeito chama-se Inferninho Trabalho Sujo, que acendemos em mais uma sexta-feira no Picles, a última antes do mês de junho e uma fogueira de boas vibrações. A começar pelos shows, que materializam não só um, mas dois lançamentos quentinhos que acabaram de sair do forno. Quem abre a noite é o produtor Lauiz, mostrando pela primeira vez ao vivo seu recém-lançado Perigo Imediato, que vem acompanhado do grande Tagore, este lançando seu belo Barra de Jangada. E depois dos shows assumo a pista ao lado da minha intrépida parceira de alucinações musicais coletivas Bamboloki, ambos disposotos a esquentar por dentro os corpos que se entregarem à nossa discotecagem. O Picles fica no número 1838 da rua Cardeal Arcoverde e a noite começa a esquentar a partir das dez. Venham!

Lauiz anuncia o Perigo

Produtor e tecladista do grupo Pelados, Luiz Martins, mais conhecido pelo pseudônimo de Lauiz, lança seu quarto disco solo, o primeiro mais arredondado e com cara de álbum, ainda este mês. E apesar da temática country presente na divulgação de Perigo Imediato, o disco não tem nada do gênero norte-americano e mais uma vez flagra Lauiz experimentando entre versos e beats. Ele tenta associar a temática caubói à exploração de timbres e gêneros musicais que faz em sua música. “A mistura final é uma forma de estrogonofe: uma canção imprevisível feita como uma colagem melequenta”, explica falando não só sobre o disco, mas especificamente sobre o primeiro single, “Só Palavras”, composto em parceria com seu colega de banda Theo Ceccato, que sai nessa sexta-feira e que ele antecipa em primeira mão aqui para o Trabalho Sujo. Lauiz reforça que o disco “é quase uma graduação na forma de canção que venho aprimorando nos últimos anos. A grande ironia é que por mais que atravesse de Aphex Twin a Mutantes, acredito que haja uma coesão na diversidade, uma ordem no caos”, ri.

Ouça abaixo: