Criando uma tradição
Eu e Arthur Amaral, o capo da Porta Maldita, estamos criando uma pequena tradição nas edições do Inferninho Trabalho Sujo que realizamos naquele segundo andar da rua em frente ao Cemitério São Paulo, ao reunir bandas de diferentes públicos e sonoridades para trazer gente diferente, legal e interessada nos nomes que estão surgindo nesta década que, apesar de na metade, ainda tem cara de nova devido aos seus primeiros e terríveis anos. A noite desta quinta-feira começou com o trio Polly Noise & The Cracks, banda paralela do núcleo Der Baum, já clássica banda new wave synthpop do ABC paulista, desta vez liderada pela guitarrista Fernanda Gamarano, que deu a cara sem rosto ao grupo, que mergulha nos oceanos da melancolia gótica de Robert Smith. É o primeiro projeto paralelo do Der Baum, que vai preparando seu próximo álbum enquanto os outros integrantes da banda vão soltando seus novos trabalhos, como me disse Ian Veiga, que, como Fernanda, é fundador do Der Baum e que toca bateria como um dos Cracks, e que ainda conta com a videomaker Priscilla Fernandes no baixo gallupiano. Show curto, mas eficaz.
Depois foi a vez de Lauiz subir ao palco com a cozinha do grupo Celacanto num formato banda de rock, longe dos experimentos eletrônicos pop que caracterizam sua discografia – o que pode marcar o início de uma nova fase de seu trabalho, por assim dizer um “Lauiz rock”. Com Matheus Costa no baixo e Giovanni Lenti na bateria, ambos celebrando o lançamento do primeiro disco de sua banda em clima da farra na Porta Maldita, a nova formação do show de Lauiz ganhou inevitáveis peso e força, liberando inclusive seu comparsa Marcos M7i9 para soltar sua faceta guitarrística, chegando ao auge quando, depois de passar versões pesadas das músicas de seu Perigo Imediato e uma inédita, Lauiz – vestido com uma camiseta Pepsi Gangster – convidou o guitarrista Vicente Tassara, compadre tanto na banda Pelados quando no projeto de plunderfonia YouTube Shorts – para três músicas, duas delas versões de clássicos do indie rock com W maiúsculo: “Undone (The Sweater Song)” do Weezer e uma inacreditável versão para “Roses Are Free’, do Ween. E se o Lauiz antecipou a vibe country do Cowboy Carter de Beyoncé em seu último disco, talvez possa antecipar a fase rock da diva no próximo trabalho. A ver.
A noite fechou com um show inacreditável do Tutu Naná, banda de Chapecó baseada em São Paulo, cuja química mistura noise, shoegaze, free jazz, dream pop rock e até bossa nova numa formação precisa, com os vocalistas e guitarristas Akira Fukai e Jivago Del Claro (que reveza-se entre o baixo e a guitarra), a bateria à Keith Moon do impressionante Fernando Paludo e a flauta transversal da esplendorosa vocalista Carou Acaiah, que equilibram-se em linhas instrumentais que vão do esporro ao sussurro hipnotizando todos os presentes. A banda, que mora no mesmo lugar há um ano, é um segredo bem guardado da cena indie brasileira que deve começar a ser conhecido neste ano, quando possivelmente lançam dois (!) discos. Muito foda.
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