“A próxima composição é para meu amigo, Ryuichi Sakamoto”, disse Ralf Hütter durante a apresentação do Kraftwerk no Fuji Rock Festival, que aconteceu no país de origem do músico homenageado, falecido em 2023. “Somos amigos para sempre. Desde nosso primeiro concerto do Kraftwerk em Tóquio, em 1981. Quando tocamos no No Nukes Festival em 2012, Sakamoto escreveu uma nova letra em japonês para ‘Radioactivity’, que tocamos naquele show”, concluiu, antes de apresentar uma rara versão de música alheia em um show da banda alemã, quando tocaram uma versão maravilhosa para “Merry Christmas, Mr Lawrence”, a primeira trilha sonora escrita por Sakamoto, arte em que ele tornaria-se um mestre. A música tem o mesmo título do filme que Nagisa Ōshima dirigiu em 1983 e que ainda conta com a participação de David Bowie. A mesma música que lentamente foi transformando-se em “Radioactivity”. Lindo demais… Assista abaixo:
Agora que abriu a porteira, já era: tem mais gente jogando capas de discos para serem expandidas por algoritmos designers. Separei umas que cogitam realidades estranhas demais para além das imagens que já conhecemos.
Agora sim o C6Fest disse a que veio. Depois de um primeiro dia irregular (pouco público, atrações que não empolgaram tanto e pouca circulação entre o público de diferentes palcos, o que não valorizava a ótima estrutura do evento), o festival feito pelo time que criou o Free Jazz e o Tim Festival em outras aeons mostrou não só que está disposto a entrar de vez no mapa cultural de São Paulo como superou quaisquer outros festivais realizados por aqui desde os tempos do saudoso Planeta Terra. A utilização dos espaços do Parque Ibirapuera e um elenco ousado e pouco trivial transformou o festival em uma experiência única, que talvez só pecasse pela falta de sinalização entre o Auditório do parque e a área comum em que se localizavam outros dois palcos, maior distância a ser percorrida pelo público – ou será que monitores humanos usando lâmpadas e megafones para apontar o caminho são mais eficazes do que placas bem posicionadas?
Depois de já ter anunciado Kraftwerk (pela primeira vez no Brasil sem um de seus fundadores, Florian Schneider, que morreu em 2020), Weyes Blood e Tim Bernardes tocando Gal Costa em sua escalação, o festival C6Fest, produzido pela Dueto de Monique Gardenberg que fazia o Free Jazz e o Tim Festival, acaba de anunciar sua formação completa. O evento acontece no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, entre os dias 18 e 20 de maio, e no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, entre os dias 19 e 21 do mesmo mês e traz, na escalação final, nomes novíssimos como Arlo Parks, Black Country New Road, Samara Joy e Dry Cleaning, grandes nomes da última década como War on Drugs. Christine and the Queens, The Comet is Coming e Jon Batiste e veteranos como Underworld e Juan Atkins, entre várias outras atrações. No time brasileiro, há um tributo a Zuza Homem de Mello (que foi curador do Free Jazz e do Tim Festival) com a Orquestra Ouro Negro, Fabiana Cozza e Monica Salmaso, Russo Passapusso com a Nômade Orquestra, Caetano Veloso e uma homenagem musical ao ano de 1973 com Kiko Dinucci, Juçara Marçal, Arnaldo Antunes, Tulipa Ruiz, Linn da Quebrada, Giovani Cidreira e Jadsa. Os ingressos começam a ser vendidos a partir do próximo dia 5 e separei mais informações sobre horários e preços abaixo.
Nesse compasso de espera…
Donna Summer – “On the Radio”
The Weeknd + Kenny G – “In Your Eyes (Remix)”
Chemical Brothers – “Star Guitar”
Guilherme Arantes – “Deixa Chover”
Letrux – “Abalos Sísmicos”
Erasmo Carlos – “Mané João”
Karina Buhr – “Amora”
Metronomy – “The Light”
Cut Copy – “Like Breaking Glass”
Arcade Fire – “Porno”
Jessie Ware – “Adore You”
Daryl Hall & John Oates – “I Can’t Go For That (No Can Do)”
Daft Punk – “Oh Yeah”
Kraftwerk – “Showroom Dummies”
Tyler the Creator – “What’s Good”
Céu – “Nada Irreal”
Pavement – “The Hexx”
Mais um programa gravado ao vivo.
Tagore + Boogarins – “Dramas”
Ava Rocha – “Caminando sobre Huesos”
Nightmares on Wax – “Les Nuits”
Darondo – “Didn’t I”
Unknown Mortal Orchestra – “So Good at Being in Trouble”
Céu – “Arrastar-te-ei”
David Bowie – “V-2 Schneider”
Velvet Underground – “There She Goes Again”
Serge Gainsbourg – “La Ballade De Melody Nelson”
Girls – “Alex”
Letuce – “Quero Trabalhar com Vidro”
Luiza Lian – “Geladeira”
Air – “Kelly Watch the Stars”
Kraftwerk – “The Hall of Mirrors”
Kali Uchis – “Venus as a Boy”
Angel Olsen – “More than This”
Weyes Blood – “A Lot’s Gonna Change”
Def – “Alarmes de Incêndio”
Legião Urbana – “Giz”
Com a morte de Florian Schneider, o que chamamos de música eletrônica fica órfã. Um dos fundadores do Kraftwerk, o músico alemão foi um dos pioneiros do gênero e começou a desconstruir sua musicalidade quando passou a submeter seu principal instrumento – a flauta transversal – a uma série de pedais de efeito, mudando inclusive o papel do instrumento nas formações em que tocava, até o final dos anos 60. A partir daí, conheceu o eterno parceiro Ralf Hütter, e aos poucos foi abraçando os sintetizadores e a pós-produção, criando o principal grupo alemão da história da música pop, que abriu fronteiras inimagináveis ao processar o rock progressivo dentro das rígidas regras do minimalismo eletrônico, influenciando até mesmo David Bowie, que compôs uma música em sua homenagem (“V-2 Schneider“, do disco “Heroes”). A causa da morte não foi anunciada.