Vida Fodona #618: Preferiu pular o carnaval

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2020 de fato.

Kiko Dinucci – “Rastilho”
Rihanna – “Consideration”
Bruno Schiavo – “Califórnia”
Luedji Luna – “Extra”
Spoon – “Pink Up”
Radiohead – “Present Tense”
Led Zeppelin – “Ten Years Gone”
Raul Seixas – “Paranóia”
Mundo Livre S/A – “Batedores (Resistindo ao Arrastão Global)”
Queen – “Killer Queen”
Paul McCartney – “Every Night”
Kassin + 2 – “Esquecido”
Meters – “Chicken Strut”
Stereolab – “Spark Plug”
Duran Duran – “Save a Prayer”

Kiko Dinucci: “Vamos explodir!”

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Rastilho, segundo disco solo de Kiko Dinucci, é uma bordoada sonora, seja na forma que ele desce a mão no violão, seja no canto triste que entoa mensagens diretas, muitas vezes mesmo sem letra. Resgatando o jeito rude e ríspido de tocar o instrumento que o consagrou nos primeiros discos do Metá Metá e do Passo Torto, ele agora o isola para ser ouvido sem nenhum outro acompanhamento senão as melodias vocais. Acústico e pesado, Rastilho transforma o violão de Kiko em uma arma de fogo verbal, disparando canções que atravessam o coração – de diferentes formas. São lamentos instrumentais (“Exu Odara”) e cantos de terreiro (“Olodé”, “Foi Batendo o Pé Na Terra”), crônicas de quebrada (“Febre de Rato” e “Veneno”, com Ogi, quando o rapper e cantora Juçara Marçal se engalfinham numa introdução à Tom Zé) e sambas de roda (“Foi Batendo o Pé Na Terra”, “Tambú e Candongueiro” que já havia gravado com o Grupo Afromacarrônico, “Vida Mansa”, eternizada por Cyro Monteiro), quase sempre acompanhado pelo luxuoso coro feminino composto por Dulce Monteiro, Maraísa, Gracinha Menezes e pela própria Juçara. Rastilho até cria um gênero novo ao misturar a sonoridade de filmes de velho oeste à rispidez do agreste nordestino (“Marquito”, o duelo de gritos, sussurros e rosnados entre Kiko e Ava Rocha em “Dadá” ou o vôo noturno de Juçara em “Gaba”) O ponto central do disco é sua última faixa, que batiza o disco e sintetiza as duas naturezas de seu título – a peça do violão e o pavio da pólvora -, que acaba solta um pesado presságio sobre o Brasil de 2020: “Vamos explodir”, seja lá o quê. Vamos. Ah vamos.

“Queima
Deixa arder
Virar cinza
Fumaça
A praça derreteu
A noite não findou
O temporal mal começou
Deixa o sol nascer
Quando ele quiser
A lava escorrer até o último sinal de vida
Abraçado à morte sem saber
O moribundos dançam
As moscas já nos cobrem
Ninguém pode parar
Nem fé, amor ou sorte
Vamos explodir”

Kiko Dinucci, caçador de caminhos

Foto: Vitória Proença

Foto: Vitória Proença

O violão bate pesado enquanto Kiko Dinucci abre os trabalhos de 2020 anunciando em primeira mão seu segundo disco solo, para o Trabalho Sujo. “Olodé”, primeira faixa que mostra de Rastilho, disco que lança em fevereiro, é uma boa amostra do novo trabalho, extremo distante de seu primeiro disco solo, o punk Cortes Curtos. “Olodé, Odé Lonan, Odé Asiwaju”, canta em iorubá (“Chefe dos caçadores, caçador de caminhos, caçador chefe”. Refeita as pazes com o violão (“não briguei com nenhum instrumento”, ele me corrige), ele o leva de volta ao terreiro sozinho, com poucas participações além de sua voz e suas cordas – como o cativante coro que repete as frases neste primeiro single. “É uma música que compus em homenagem aos orixás caçadores, em especial pra Oxosi, mas que pode ser também pra Logun Edé ou Ogun”, ele me explica. “A canção representa muito bem o clima do disco, agressivo e rítmico. Como se fosse a antítese da imagem mítica do violão macio servindo como cama pra uma canção bonita. No disco o violão é o destaque, está na frente, acima da voz, chega dando rabo-de-arraia, atropelando.”

“Eu senti saudade do violão depois de passar pelo trator guitarrístico que foi o Cortes Curtos”, continua, falando sobre o disco lançado em 2017 que gravou em formato power trio com Marcelo Cabral e Sérgio Machado. “Queria revisitar a minha maneira de tocar, riffs de baixo meio gambri marroquino, ataques de agudo em contraponto. Queria dedicar um disco a esse jeito de tocar. Já tinha exercitado isso no Duo Moviola, no Metá Metá e não queria deixar essa maneira de me expressar lá atrás. O disco foi uma forma de revisitar essa onda também. Esse violão vem muito da minha limitação técnica, eu sonhava em tocar aqueles choros fodões e quebrava a cara, então fui dando o meu jeito. Tenho uma relação afetiva com o violão, foi o meu primeiro instrumento, me acompanhou na infância, na adolescência punk remendado com durex, nas rodas de samba. Me acompanhou nos períodos mais importantes da minha formação.”

Quando eu pergunto sobre uma possível briga com o instrumento, ele explica melhor. “O que acontece é que em um determinado momento eu senti muito a limitação timbrística do violão, um violão é sempre um violão. Então voltei a tocar guitarra pra explorar pedais e outros timbres. Geralmente o violão é um instrumento que ocupa muito espaço na música brasileira, faz baixos, harmonia, ritmo, melodias, carrega a canção nas costas. Tocando guitarra elétrica eu exercitei outros jeitos de ocupar espaço, às vezes com menos notas, com menos responsabilidade que o violão. Teve essa fase do Metá Metá pro MetaL MetaL, do Passo Torto pro Passo Elétrico. Exercitei com a guitarra do Rodrigo Campos uma espécie de teia melódica e rítmica que foi importante para discos como o Encarnado da Juçara Marçal e A Mulher do Fim do Mundo da Elza Soares. Depois do Cortes Curtos eu passei os últimos três anos muito interessado em sintetizadores e samplers. Estou sempre nessa procura, muito até pela minha limitação técnica como músico. Agora voltei pro violão. O que junta todas essas fases é a característica rítmica. O jeito com que eu me aproximo da música é muito baseado na percussão, só que sem tocar instrumento de percussão.”

O repertório do disco é quase todo novo – apenas duas músicas já haviam sido compostas anteriormente. Até que, ao quebrar o pé num acidente de skate no ano passado, ele resolveu tirar o disco da cartola. “Tive que ficar de molho um tempo e pensei: agora eu vou ter que fazer esse disco. Já tinha vontade de fazer, mas precisei, digamos, de um empurrãozinho”, ri. “O disco foi gravado em três dias, no começo de setembro de 2019, por André Magalhães e Bruno Buarque, que o mixaram em mais três dias no começo de novembro. Foi gravado e mixado na fita, cem porcento analógico, na unha, sem edição ou overdub de violão, os takes de violão são de apenas um track, é sempre um violão sozinho tocando”. Além de Kiko, o disco conta com poucas participações especiais: Ava Rocha, Juçara Marçal e Ogi, além do coro formado por Dulce Monteiro, Gracinha Menezes e Maraísa.

As influências são clássicos da música brasileira. “Eu tava a fim daquele som do Sergio Ricardo na trilha do Deus e o Diabo Na Terra Do Sol, do Glauber Rocha, aqueles ecos que também estão no Geraldo Vandré de Requiém Para Matraga que estão no filme Bacurau, do Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, e originalmente no filme A Hora e a Vez de Augusto Matraga, do Roberto Santos. Aquele som do disco do Pedro Santos eu gosto muito também. E Eu ficava pensando naqueles ecos dos filmes do Zé do Caixão. O Bruno e o André usaram os delays e reverbs analógicos. Eu ficava mostrando esses sons pros caras.” Ele também cita mestres como Dorival Caymmi, Baden Powell, Rosinha de Valença, João Bosco, Nelson Cavaquinho, Gilberto Gil e Edu Lobo como referências nestas composições. O show de lançamento acontecerá dia 15 de fevereiro, no teatro do Sesc Pompeia. “Ao vivo deve ser bem parecido com o disco, talvez mais rápido e agressivo. O show tem que ser mais que o disco, tem que ter um grauzinho a mais”, conta. “Quero levar a formação do disco para os palcos sempre que possível, quando não der, farei sozinho.”

O fim de Baco Exu do Blues

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O jovem Baco Exu do Blues está prestes a encerrar sua trilogia de entidades depois de gravar um disco em duas semanas na Toca do Bandido. Inspirado no deus do vinho que batiza seu primeiro prenome, o disco ainda sem nome conta com participações de Duda Beat, BK, Kiko Dinucci, Ney Matogrosso e Hamilton de Holanda, além de ter uma faixa de dez minutos chamada “Exu is King” em que ele ameaça “matar o seu Messias”, em seu disco mais político. Conversei com ele num papo para a revista Trip – confere aí.

Sexta Trabalho Sujo #001: Kiko Dinucci

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Que prazer receber o grande Kiko Dinucci, guitarrista do Metá Metá e um dos principais músicos e compositores de sua geração para a noite de abertura de mais uma curadoria com a minha assinatura: a Sexta Trabalho Sujo acontece toda sexta no Estúdio Bixiga, sempre às 21h30, e nesta primeira sessão o mago de Guarulhos mostra alguns de seus clássicos, além de músicas que estarão em seu segundo disco solo, que será lançado no ano que vem (mais informações aqui). Vamos?

Sexta Trabalho Sujo: Novembro de 2019

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Tenho o prazer de anunciar, como parte das comemorações dos 24 anos do Trabalho Sujo, que acontecem neste mês de novembro, que a curadoria das sexta-feiras no Estúdio Bixiga está sob os meus cuidados. A Sexta Trabalho Sujo trará sempre shows de artistas consagrados ou em ascensão para o palco da casa que fica em frente à praça do Bixiga, sempre às sextas, a partir das 21h30. E os nomes que começarão este primeiro mês são cinco: Kiko Dinucci, dia primeiro, mostrando sozinho novidades que deverão resultar em seu próximo disco (mais informações aqui); Luiz Chagas, que recebe Suzana Salles e outros convidados no dia 8; dia 15 é a vez da rapper mineira de ascendência chilena Brisa Flow; depois temos a ótima banda nova Crime Caqui para finalmente fechar o mês com os queridos Garotas Suecas, dia 29. Mais um ciclo que começa, vamos lá! O Estúdio Bixiga fica na rua Treze de Maio, 825, e os ingressos custam R$ 30 (R$ 15 antecipado aqui).

Vida Fodona #592: Prestes a virar o disco

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Trocando de pele.

Kiko Dinucci – “Chorei”
Kinks – “Party Line”
Suede – “Can’t Get Enough”
Wilco – “Theologians”
Police – “Synchronicity II”
Cidadão Instigado – “Como As Luzes”
Maglore – “Clonazepam 2mg”
Midnight Juggernauts – “Ending of an Era”
Luiza Lian – “Geladeira”
Lorde – “400 Lux”
Pharcyde – “Passin Me By (Hot Chip Remix)”
Quinto Andar – “Contratempo”
Gabriel Muzak – “Estética Terceiro Mundo”
Brisa Flow – “Grillz”
Ava Rocha – “Lilith”

Jards Macalé no centro da conexão Rio-São Paulo

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Bati um papo com Rômulo Froes, Thomas Harres e Kiko Dinucci, produtores do disco Besta Fera de Jards Macalé, sobre a antiga aproximação das cenas mais instigadoras do Rio de Janeiro e de São Paulo, materializada nesta conexão – confere lá na Trip.

Vida Fodona #587: Clima de fim do mundo

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O tempo fechou mas dá pra voltar ao normal.

Rakta – “Fim do Mundo”
Alessandra Leão + Kiko Dinucci – “Tatuzinho”
Midnight Juggernauts – “Into the Galaxy”
Isaac Hayes – “Medley: Ike’s Rap II / Help Me Love”
Pavement – “The Hexx”
Richard O’Brien – “Science Fiction, Double Feature”
Tim Maia – “Me Enganei”
Fellini – “Valsa de La Revolución”
Angel Olsen – “Special”
Los Hermanos – “Corre Corre”
Boogarins – “Sombra ou Dúvida”
Gabriel Muzak – “Estética Terceiro Mundo”
Juliano Gauche – “Pedaço de Mim”

Marcelo Cabral: Influxo Cabralha

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Quando Marcelo Cabral avisou que estava voltando da Alemanha para passar um tempo de volta no Brasil, cogitamos rapidammente uma temporada ao redor do universo musical do baixista e de sua recente experiência artística na Alemanha. Próximo à cena de improviso livre de Berlim, Cabral foi descobrindo um método de criação artística que permite fluir por outras linguagens, incluindo literatura, teatro e spoken word e entender como isso influencia diretamente o resultado musical. E assim ele pensou em Influxo Cabralha, uma reunião de amigos e magos da música instrumental que atravessa quatro segundas-feiras de abril no Centro da Terra. Na primeira, dia 8, ele toca ao lado de Mauricio Takara, Thomas Rohrer e Mariá Portugal. No dia 15 ele chama Guilherme Held, Thiago França, Juliana Perdigão e Angélica Freitas. Dia 22 é dia de Kiko Dinucci, Rodrigo Brandão e Juçara Marçal. E a temporada termina no dia 29, com as participações de Thomas Harres, Bella, Patrícia Bergantin, Maria Beraldo e Ná Ozzetti (mais informações aqui). Bati um papo com o Cabral sobre esta safra de shows e a influência de sua estada na Alemanha neste novo projeto.