Kiko Dinucci de volta ao skate
Depois de parir seu Rastilho a partir de um acidente de skate, Kiko Dinucci reencontra a velha prancha ao convidar integrantes do coletivo Velô Skatearte para fazer o clipe de “Febre do Rato”, que ele apresenta em primeira mão aqui no Trabalho Sujo, bem como conta a história de como o clipe aconteceu. Veja abaixo:
Tags: kiko dinucci“Um dia, marcado em um vídeo do Instagram, fui conferir a postagem e logo reconheci minha música ao fundo. Tratava-se de um vídeo no qual Alison Rosendo, vulgo Kbssa, andava de skate, ou melhor, dançava, ao som da música “Foi Batendo o Pé na Terra”, faixa do meu disco Rastilho em pleno Marco Zero no Recife Antigo. Alison dava uma sequência de manobras, com predominância de uma manobra chamada No Comply, na qual o skatista mistura um jogo aéreo girando o corpo e o skate ao mesmo tempo, sempre apoiado com um dos pés no chão e o outro no skate, com intermináveis variações da mesma manobra. No Comply foi imortalizada e muito usada no clássico vídeo dos anos 80 Public Domain. Sempre achei uma manobra muito bonita, talvez a manobra mais parecida com o passo do samba, a mais sincopada das manobras, exige uma certa ginga do skatista. Me veio a ideia de que Alison poderia dançar uma música inteira em um clipe de alguma faixa do Rastilho. Fiz o convite.
O que eu não sabia era que Kbssa fazia parte de um coletivo muito interessante chamado Velô Skatearte ao lado de Naldo Pereira e outros integrantes que fazem vídeos fora do circuito sul/sudeste e dão ênfase a cena de skate de outras cidades. Velô já filmou em São Luiz do Maranhão, Fortaleza, Crato, Serra do Araripe, Garanhuns, Recife, João Pessoa, Natal e Delmiro Golveia. Tudo filmado por Naldo em Mini DV, fazendo referência aos vídeos de skate dos 90.
Alison e Naldo escolheram “Febre do Rato” para dançar. Nele Kbssa encarna um personagem, caminha pela cidade com “a febre do rato” e dá alguns no comply. Acho emblemático que tenha um vídeo de skate ao som de alguma faixa do Rastilho, já que em 2019 eu arrebente a fíbula e tíbia na altura do calcanhar caindo de skate na miniramp do Parque da Juventude, o antigo Carandiru, na zona norte de São Paulo, o que me levou a um mês de internação, duas cirurgias, muita morfina, tramal e uma espécie de estopim para que em plena recuperação empunhasse o violão para começar a compor e gravar o Rastilho.
O skate sempre me trouxe alegria, enxerguei o vídeo produzido pelo Velô como uma espécie de ritual de cura ou de mudança de ciclo. Perdi shows e turnês internacionais por conta do acidente, Paal Nilsen-Love (The Thing) me mandou uma mensagem no zap: “No more skateboad, Kiko!” Mesmo com o acidente, agradeço as coisas boas ou ruins que o skate me trouxe, acabou influenciando muito o meu disco. Muita gente me pergunta de onde vem os ecos dos violões e das vozes e quais são os pedais, sempre respondo: morfina, lógico.”