Kiko Dinucci + Cadu Tenório: Imperador Ketchup

, por Alexandre Matias

cartaz sem palavras 300518

“Tomei conhecimento da existência desse filme mais ou menos em 95, 96, por causa da foto de uma matéria de revista que minha irmã tinha em casa”, o guitarrista Kiko Dinucci lembra como conheceu o clássico cult Imperador Ketchup (Tomato Kecchappu Kōtei), do cineasta japonês Shūji Terayama, que faz a trilha sonora ao vivo nesta terça-feira, no Centro da Terra, ao lado do experimentalista carioca Cadu Tenório (mais informações aqui). “Era um texto sobre a nouvelle vague japonesa e falava Nagisa Oshima, Imamura, esses diretores maravilhosos – se não me engano, o texto tinha algo a ver com a Lucia Nagib, especialista em cinema japonês e brasileiro. Eu tinha uma banda chamada Nitrate Kid, o Wash, da banda Eu Serei a Hiena, que tocava baixo, estava indo morar no Japão e me deixou encarregado de fazer uma capa para a demo. Peguei algumas revistas para fazer colagem e me deparei com uma foto do filme nessa revista da minha irmã, eram umas crianças com umas maquiagens bizarras e acabei usando. Me lembro da legenda: cena do filme Imperador Ketchup. A foto e o título do filme me causaram estranhamento e atração, pensei: ‘esse filme deve ser demente’. No mesmo ano o Stereolab gravava um disco com o mesmo nome do filme Emperor Tomato Ketchup, mas só fui conhecê-los no ano seguinte.”

“Esqueci que esse filme existia e um dia, 20 anos depois, lembrei dele, baixei e assisti. Fiquei chapado. Achei que ele dialogava diretamente com filmes do cinema marginal brasileiro como Rogério Sganzerla, José Agrippino de Paula e Andrea Tonacci. Ele é assustadoramente moderno e contemporâneo até hoje, dialoga diretamente com esse tempo demente no qual estamos vivendo, de tanto delírio fascista e autoritarismo”, continua Kiko. “Muita pouca gente conhece esse filme no Brasil, gostaria que mais gente conhecesse. Já que não sou programador ou curador de cinema, arrumei um jeito de exibir o filme que é tocar por cima dele, é mais uma desculpa pra ver e mostrar o filme e me reencontrar com o Cadu.” O filme é indicado para maiores de 16 anos.

A trilha ao vivo não é o primeiro trabalho de Kiko com Cadu Tenório. “Já tinha ouvido a falar no Cadu por conta da cena da cena carioca que se apresentava quase exclusivamente na Audio Rebel dentro da programação do Quintavant. Depois ouvi as coisas que ele fez em parceria com o Marcio Bulk e gostei bastante. Em seguida, ele gravou o Anganga com a Juçara Marçal, e de lá pra cá criou-se uma amizade e admiração mutua. Tocamos juntos a primeira vez numa programação chamada Nós da Voz, idealizada pela Juçara no qual cantoras e cantores faziam improvisação livre ao lado de instrumentistas, mas tudo com ênfase na voz como instrumento. Nesse dia o time era a Juçara, Ava Rocha, eu e Cadu – e ali percebemos que havia uma sintonia sonora. Posteriormente a Juçara e Cadu me chamaram pra fazer alguns shows do Anganga e ela também convidou Cadu pra participar do show Encarnado. Desde então nos encontramos em diversas ocasiões. Fizemos no ano passado uma pequena residência no Sesc Paulista ao lado da cantora moçambicana Lenna Bahule. Estamos sempre inventando alguma história.”

Os dois inclusive já fizeram trilha de filmes ao vivo. “O Cadu toca sampler e eu toco guitarra, sintetizadores e sampler. Ficaremos ao lado do palco, dialogando com o filme que terá seu som original, trabalhamos por cima da trilha do filme. Já fizemos também a trilha do filme Hitler III Mundo, de José Agrippino de Paula e foi fantástico. Temos em mente fazer outras trilhas ao vivo. Cadu tem uma trilha original para o filme mudo experimental de terror gore Begotten.”

O próprio Kiko tem sua carreira cinematográfica paralela: “Às vezes faço trilha de cinema pra me aproximar desse universo, mas me divirto mais com trilha ao vivo de filmes clássicos, me dão mais liberdade, dá pra tirar mais onda. Gosto de fazer cinema também, dirigir… Estou escrevendo um novo roteiro ao lado do Clima (o compositor Eduardo Climashauska) que foi ator do meu filme mais recente, Breve Em Nenhum Cinema – dá pra ver ele no Vimeo, viu?”

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