Juçara Marçal: Encarnado Acústico

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Que honra poder receber durante quatro terças-feiras uma versão nova para um clássico moderno da música brasileira vinda de sua própria autora. A querida e implacável Juçara Marçal volta ao palco do Centro da Terra para mais uma temporada, quando relê seu Encarnado com os mesmos músicos com quem o gravou mas de uma forma completamente nova: sem eletricidade. Encarnado Acústico ocupa as terças de março no Centro da Terra a partir deste dia 10 (mais informações aqui).

“Foi ideia do Thomas (Rohrer). que estava programando um festival na Leviatã, um espaço cultural no centro da cidade, focado nos sons mais experimentais, improvisos livres, performances, e sugeriu de a gente fazer essa versão sem amplificação, até porque o espaço não comportaria o show de outra forma”, a própria Juçara me explica, lembrando desta única apresentação no fim do ano passado. Além de Thomas, tocando viola, Kiko Dinucci e Rodrigo Campos também participam dos shows.

“Fizemos apenas algumas músicas e o resultado foi surpreendente”, lembra a cantora. “Os arranjos mudam sensivelmente porque o Kiko está usando uma viola dinâmica e ele acaba tendo que pensar nas frases que faz de um jeito diferente. No todo, o som acaba mudando também. O fato do Rodrigo usar violão de aço e não guitarra também muda bastante o som.” O formato obviamente também impacta em seu canto: “Não ter que me preocupar com dois microfones e pedais dá uma bela diferença, fico mais livre e a voz também, inevitavelmente.”

Serão quatro shows idênticos, ao contrário das temporadas de segundas-feira, que cogitam diferentes possibilidades a cada apresentação. “Em princípio, sim”, ela continua. “Vamos vendo o que funciona, tanto do ponto de vista do repertório, como nossa posição no palco”. Quando pergunto se há músicas de outros trabalhos que podem surgir no repertório, Ju é categórica: “Em princípio, não.”

Ela reforça a importância do teatro neste novo show. “A conexão palco-plateia é diferente, a atenção é outra, a dispersão diminui”, enumera. “As pessoas têm uma possibilidade maior de embarcar na história que de certa forma contamos num show.”

Nada de disco novo? “O próximo disco não tem muito a ver com o Encarnado não. #aguardeeconfie”, ela ri fazendo a hashtag.

Centro da Terra: Março de 2020

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A programação de fevereiro do Centro da Terra invade o próximo mês quando Beto Villares encerra a sua temporada Amostras Emocionais no dia 2 de março, mostrando pela primeira vez seu novo disco, Aqui Deus Andou, ao vivo. No dia seguinte, na terça, dia 3, Felipe S., vocalista do Mombojó, começa a mostrar músicas inéditas no espetáculo Notícias Recentes (mais informações aqui), quando divide o palco com nomes como Habacuque Lima, Bruno Bruni, Barbarelli, entre outros. Na outra segunda, dia 9, é a vez do produtor e percussionista Guilherme Kastrup começar a temporada Feminino Fatorial (mais informações aqui), quando convida as artistas visuais Edith Derdik e Carol Shimeji, as percussionistas Beth Belli e Jackie Cunha e a dançarina Morena Nascimento para um espetáculo contínuo, que vai mudando a cada nova segunda-feira. A programação do mês se encerra com chave de ouro, quando mais uma vez recebemos a deusa Juçara Marçal para recriar seu Encarnado no palco do Centro da Terra, só que em versão acústica (mais informações aqui), convidando Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Thomas Rhorer para recriar este marco da música brasileira deste século ao vivo. Que mês!

Um gosto de Lira Paulistana

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Prestes a lançar seu segundo disco, o grupo Amanticidas escancara sua principal influência, a vanguarda musical que girava ao redor do teatro Lira Paulistana durante os anos 80 e convida uma de suas principais seguidoras desta linhagem, no single que antecipa o novo lançamento. “Paisagem Apagada” é um pequeno e importante aperitivo de Teto, que foi produzido por Fernando Catatau, e está sendo antecipado em primeira mão para o Trabalho Sujo. A faixa também é um comentário sobre o Brasil de 2020 ao cantar que “Foi minha distração, sou eu que sou culpada, agora condenada assistir o desmonte do meu mundo”.

“A gente escolheu a Juçara muito tempo atrás, ela que foi ficar sabendo depois! Quando o Alex (Huszar, baixista e vocalista) chegou com essa canção, voz e violão, lá em 2017, foi imediato e unânime: a gente quer, a gente precisa, ouvir isso na voz dela”, explica o guitarrista e vocalista João Sampaio. “Não sabemos se é a letra, o clima, tudo isso junto: a gente sabia que tinha que ser a Juçara. Aí no ano passado durante as gravações nosso produtor Fernando Catatau – sem palavras, que homem – fez a ponte e o negócio virou realidade. Trabalhar com ela foi um prazer, uma honra e uma aula: é sempre bom quando você é fã de uma pessoa faz tempo e descobre que além do talento ela também é generosa, gente boa e uma baita profissional.”

João continua fazendo a conexão entre a cena que inspirou a criação do grupo, cujo nome saiu de uma música de seu maior ídolo, Itamar Assumpção, e a cena atual. “O legado mais forte talvez seja essa afirmação de que é possível fazer música autoral, original, diferente e interessante nessa cidade esquisita e imensa. Que tem gente pra fazer, gente pra ouvir, que não é fácil mas que vale a pena. Mas é um pouco difícil falar em descendência porque o pessoal da vanguarda original via de regra ainda tá por aí a mil, lançando coisa nova, então as gerações vão se confundindo, trocando. A gente quer mais é entrar nessa confusão”.

E não mediram esforços para se misturar: além da inspiração em Itamar, o grupo já dividiu o palco com alguns dos principais protagonistas daquela cena (Arrigo Barnabé, Banda Isca de Polícia, Ná Ozzetti, Alzira E, Suzana Salles, Orquídeas do Brasil, entre outros) e de se enturmar com artistas que orbitam ao redor deste grupo (como Tulipa Ruiz, Tom Zé, Maurício Pereira), além de ter seu primeiro álbum produzido por Paulo Lepetit. “A inspiração, na verdade, veio um pouco da necessidade”, continua João. “Lá nos idos de 2012 o Alex já tinha juntado a gente pra fazer um som assim meio vanguarda paulista. Tínhamos ensaiado umas poucas vezes, começado a levantar um repertório e conversado sobre as influências – Itamar já era a maior -, mas tudo naquele estágio bem preliminar de banda que quase-existe. Aí uma outra banda que o Sampaio tinha acabou e eles tinham um show marcado pra dali a duas semanas; ele ligou pra todo mundo, a gente escolheu o nome, se matou de ensaiar – algo que logo se tornaria um hábito -, levantou um show e seguiu dali.” Além de João e Alex, a banda ainda conta com Luca Frazão (violão de sete cordas e voz) e Joera Rodrigues (bateria).

O guitarrista lembra dos primeiros contatos que fizeram com os integrantes da vanguarda paulistana: “Teve um marco inicial bem claro nisso tudo que foi um evento em 2015 no qual tocamos antes da Isca de Polícia – a ideia dos produtores era justamente esse encontro de gerações. Aí tiramos um arranjo bem cascudo do Itamar pra impressionar – “Peço Perdão”, do disco Às Próprias Custas S/A – e funcionou: conhecemos o pessoal todo da Isca e o Lepetit falou pra gente que tinha um estúdio e adoraria que a gente gravasse lá. Dito e feito, em 2016 sai nosso primeiro disco com produção dele, que trouxe junto as participações incríveis de Arrigo Barnabé e Tom Zé. Com esse impulso inicial do Lepetit a gente foi indo atrás dos nossos caminhos pra buscar todo mundo daquela geração, querendo aprender: dividimos palco com Suzana Salles e Vange Milliet, com as Orquídeas do Brasil, Alzira E, gravamos no disco do Tom Zé, só alegria. Em 2018 fizemos uma turnê estadual em que cada show teve uma participação diferente desse pessoal, como o Maurício Pereira e a Ná Ozzetti. Estamos sempre nessa busca, que enxergamos um pouco como um longo processo de pesquisa mas também como uma realização pessoal e profissional gigante.”

“O jeito que esse processo de pesquisa se traduz no nosso trabalho é um pouco misterioso pra nós mesmos, continua o guitarrista. “A gente tenta assimilar, se apropriar e depois fazer do nosso jeito, mas o que sai e o que soa fica por conta do ouvinte. Mas claro que existem algumas inspirações mais diretas e conscientes, como estar no nosso processo de arranjo a coisa Itamarística das linhas instrumentais individuais se somando, um negócio meio contraponto até, que sempre nos fascinou e que a gente enxerga muito também nos trabalhos de um pessoal mais recente aqui de SP que admiramos demais, como Metá Metá, Passo Torto, Juçara Marçal…”

Teto será lançado nesta sexta-feira.

Os 100 melhores discos dos anos 10

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Estive entre a centena de votantes que Marcelo Costa convidou para resumir a década passada em disco em seu Scream & Yellaqui você confere os 50 discos nacionais mais votados e aqui os 100 internacionais. Meus votos seguem abaixo (a lista com todos os votantes e seus votos está neste link), mas em breve publico minha própria lista aqui no Trabalho Sujo (onde você sabe que eu não faço essa separação entre brasileiros e estrangeiros).

Melhores discos nacionais – 2010 a 2019
1) Elza Soares – A Mulher do Fim do Mundo
2) Juçara Marçal – Encarnado
3) Criolo – Nó na Orelha
4) Serena Assumpção – Ascensão
5) Metá Metá – MM3
6) Ava Rocha – Ava Patrya Yndia Yracema
7) Céu – Tropix
8) Siba – De Baile Solto
9) BaianaSystem – Duas Cidades
10) Cidadão Instigado – Fortaleza

Melhores discos internacionais – 2010 a 2019
1) Beyoncé – Lemonade
2) Chromatics – Kill For Love
3) Frank Ocean – Channel Orange
4) Radiohead – A Moon Shaped Pool
5) The Internet – Hive Mind
6) Daft Punk – Random Access Memories
7) Rihanna – Anti
8) Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly
9) Arctic Monkeys – AM
10) Warpaint – Heads Up

Vida Fodona #615: O último programa de 2019

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Raspando o tacho do ano.

Tulipa Ruiz + João Donato + Edgar – “Manjericão”
Fountains D.C. – “Big”
Tame Impala – “Patience”
Georgia – “About Work The Dancefloor”
Chromatics – “You’re No Good”
Ariana Grande – “NASA”
Stephen Malkmus – “Forget Your Place”
Caroline Polachek – “So Hot Youre Hurting My Feelings”
Clairo – “Bags”
Caribou – “You and I”
James Blake + Rosalía – “Barefoot In The Park”
Luiza Brina + César Lacerda – “De Cara”
MGMT – “In the Afternoon”
Yumi Zouma – “Right Track / Wrong Man”
Brockhampton – “Sugar”
Lil Nas X + Billy Ray Cyrus – “Old Town Road”
Sharon Van Etten – “Seventeen”
Luedji Luna + Attooxxa + Omulu – “Tô Te Querendo”
Charli XCX + Christine and the Queens – “Gone”
Mura Masa + Slowthai – “Deal Wiv It”
Lizzo – Juice
Francisco El Hombre – “Chão Teto Parede (Pegando Fogo)”
Dua Lipa – “Don’t Start Now”
Little Simz – “Boss”
Nill – “Mulher do Futuro Só Compra Online”
Michael Kiwanuka – “Hero”
The Comet is Coming + Kate Tempest – “Blood Of The Past”
Nomade Orquestra + Juçara Marçal – “Poeta Penso”

Juçara Marçal: Curima

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Que prazer receber Juçara Marçal no Centro da Terra neste mês de outubro, quando ela toma conta das segundas-feiras com sua temporada Curima (mais informações aqui). “É uma palavra que vem do quimbundo e designa várias coisas ligadas a um rito: o próprio rito, a música, a dança, o canto, a festa, a brincadeira”, me explica na entrevista abaixo, em que disseca o que pensou para este mês. Curima parte de trabalhos estabelecidos da cantora carioca, cujo trabalho é pilar fundamental de duas grandes instituições da músicia independente brasileira, os grupos A Barca e Metá Metá. Mas em paralelo a estes trabalhos, ele sempre envolveu-se com colaborações, parcerias e outros experimentos sonoros, justamente os que revive durante este mês, trazendo elementos que ela vem flertando há pouco tempo: o improviso livre e a presença da dança em sua obra.

Na primeira data, dia 7, batizada de Outras Curima ela convida Rodrigo Brandão para um mergulho do canto falado, ao lado da baixista Clara Bastos, do trompetista Rômulo Alexis e da bailarina Aysha Nascimento. Na segunda, dia 14, que ela chamou de Curima 24h, ela mergulha no improviso ao lado do velho compadre Thomas Rhorer e de Marco Scarassatti, além da dançarina Marina Tenório. No dia 21, ela visita as canções eternizadas pela francesa Brigitte Fontaine, em Curima para Brigitte, quando leva este seu já conhecido trabalho para o campo do improviso, ao lado dos comparsas de Metá Metá Kiko Dinucci e Thiago França, além de Lincoln Antonio e do bailarino Ernesto Filho. Finalmente, no dia 28, ela invade o terreno de seu trabalho Anganga, feito ao lado de Cadu Tenório, na noite Anganga Curima, que contará com as presenças de Cadu e a volta da bailarina Aysha Nascimento. Ela conta a concepção geral da temporada e como ela conversa com a preparação de seu segundo disco solo na entrevista abaixo:

O que é Curima?
É uma palavra que vem do quimbundo e designa várias coisas ligadas a um rito: o próprio rito, a música, a dança, o canto, a festa, a brincadeira. Por isso, achei que seria um bom nome para as sessões que farei no Centro da Terra. Essas segundas-feiras serão abertas a essas várias maneiras de ritualizar o encontro.

Como você dividiu este conceito em quatro noites?
Quatro encontros de improvisação. Em cada um, o nó acontece a partir de algum projeto já existente, juntando amigos com quem já improvisei antes, e outros que convido para improvisar pela primeira vez. Em todos, uma bailarina – ou bailarino – interagindo com o som.

Fale sobre os convidados e o clima da primeira noite, Outras Curima,
Pra abertura, chamei Rodrigo Brandão. E essa aconteceu com a ajuda do acaso. Rodrigo está morando em Lisboa. Calhou de estar aqui para a tour Outros Espaço, com os músicos da Sun Ra Arkesrta. Quando soube disso, não tive dúvida, chamei-o pra abertura que acontece um dia após o fim da tour pelo interior. E a coincidência vinha a calhar. Eu participei do álbum do Rodrigo, o Outros Barato, de spoken word mergulhado no improviso livre. Além de participar cantando, um texto meu acabou entrando no disco. Então, o que era pra ser uma simples participação, foi momento de experimentação e descoberta também pra mim. Assim, Outras Curima celebra o encontro com Rodrigo, com o spoken word, com o improviso… Todas matérias novas na minha vida de cantora.
Chamei também a Clara Bastos, baixista da banda Orquídeas do Brasil. A gente já tocou junto no som do Paulo Padilha, por bastante tempo, mas é a primeira vez que nos juntamos para uma sessão de improviso. O trompetista Rômulo Alexis foi toque da Clara. Já tinha ouvido falar bastante dele, mas nunca rolou de tocarmos juntos. Nos conheceremos no palco. Desafio sempre instigante. E na performance corporal, a atriz, bailarina, diretora, que eu tive a sorte de conhecer mais de perto na montagem de Gota d’água {Preta}, Aysha Nascimento.

Depois temos Curima 24h. O que é isso?
O segundo dia é uma deferência ao parceiro de longa data, Thomas Rohrer, um dos maiores improvisadores que conheço. Tocamos juntos desde o grupo A Barca. Depois o chamei pra compor o trio que me acompanhava no Encarnado. Recentemente, a gente formou esse Duo 24Horas pro Festival de Moers, que rolou em junho. Já tínhamos feito algumas sessões de improviso, sempre com mais gente, inclusive o Marco Scarassatti, que também é convidado desse segundo dia. Marco tem um trabalho incrível como improvisador e criador de novos instrumentos sonoros. Voltando ao 24Horas, pro festival, eu e Thomas propusemos um show do duo, que precisava ter um nome. Esse nome surgiu de uma brincadeira dele, da época d’A Barca. Nas pesquisas que fazíamos, nos deparávamos frequentemente com músicas tão encantadoras que a gente não queria nunca mais parar de tocar. Cada vez que surgia na roda uma música com essa vocação, o Thomas já anunciava: “Música 24 Horas”. Daí a chegar no nome do duo, foi um pulo!
A performance corporal desse dia é da Marina Tenório, atriz e bailarina que quando vi dançando numa sessão de improviso, com Thomas e Philip Somervell, fiquei encantada. Foi por causa desse dia que tive a ideia de fazer as sessões com participação de performers corporais. A Marina foi muito inspiradora nesse sentido.

Como Curima conversa com seu espetáculo em homenagem à Brigitte Fontaine? Quem mais toca contigo neste terciero dia?
Pro dia da Curima para Brigitte, a ideia é que as músicas que canto dela surjam em meio aos movimentos improvisados que vamos criar. Eu, Kiko e Lincoln já temos no repertório algumas das músicas da Brigitte arranjadas. Então o desafio será puxar essas canções em meio ao improviso. O Lincoln é parceiro de longa data – de antes d’A Barca até. Mas nunca estivemos juntos numa sessão de improviso. Por isso, resolvi propor o desafio pra ele e pra mim. Pra completar o time e a trama de improviso, chamei o outro parceiro do Metá Metá, Thiago França.
Na performance corporal, o Ernesto Filho, que é um aficcionado pela Brigitte Fontaine. Ele até fez um filme inspirado em suas canções. Por isso, no dia 21, teremos também a projeção desse filme, como elemento mobilizador das performances, que se chama: Pas Ce Soir (Esta Noite Não).

E a última noite, Anganga Curima, como conversa com seu trabalho com Cadu Tenório?
Este dia vai ser dedicado ao repertório do disco Anganga, que fiz em parceria com o Cadu. Com a Aysha Nascimento de volta pra fechar o ciclo. Ideia semelhante ao da segunda anterior. As músicas que já tocamos no Anganga, mas num contexto ininterrupto de improvisação. Os arranjos já estruturados surgirão – ou não! – em meio aos movimentos sonoros que formos criando na hora.

Curima já é uma preparação para seu próximo disco solo? Em que pé está este processo?
Estou bem interessada em cada um dos encontros ser momento de experimentar a elasticidade do canto, do verso, em meio aos movimentos sonoros improvisados. Testar possibilidades rítmicas da voz, timbres, pedais, buscar saídas diferentes pra algo já arranjado. Acho que a abertura natural de uma sessão de improviso vai me ajudar a aprofundar algumas questões que estou investigando pro disco novo. Mas não haverá nada do disco… Até onde eu sei!

O fato de você realizar esta temporada num teatro muda muito em relação a apresentá-lo em casas de show tradicionais?
Só o fato de a temporada poder ser pensada de forma mais experimental, pra apresentar um processo, não necessariamente um show pronto, já muda totalmente o jeito de encarar cada apresentação. E o fato de ser num teatro como o Centro da Terra torna tudo mais especial, pois é um teatro muito aconchegante. Propício a experiências mais intimistas, e também mais radicais.

Vida Fodona #593: O complexo de épico pra lá

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Mais um programa do solto

Clash – “The Card Cheat”
Nill – “Stay High”
Can – “Future Days”
Jupiter Apple – “Welcome to the Shade”
Massive Attack – “One Love”
Supercordas – “3000 Folhas”
Of Montreal – “Touched Something’s Hollow”
Frank Zappa + The Mothers of Invention – “What’s the Ugliest Part of Your Body (Reprise)?”
Rush – “Red Barchetta”
Ava Rocha – “Doce é o Amor”
Percy ‘Thrills’ Thrillington – “Long Haired Lady”
Nomade Orquestra + Juçara Marçal – “Eró Iroko”
BaianaSystem + Antonio Carlos & Jocafi + Edgar + BNegão – “Salve”
Black Alien – “Jamais Serão”

Fala, Nomade Orquestra!

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A big band do ABC Nomade Orquestra está prestes a lançar seu terceiro disco e Vox Populi, cuja capa é antecipada em primeira mão aqui para o Trabalho Sujo, é primeiro disco com vocais – e conta com um time estelar: Siba, Edgar, Juçara Marçal e Russo Passapusso, cada um com duas canções. Abaixo, o primeiro teaser que o grupo disponibilizou do trabalho, mostrando a participação do pernambucano Siba.

“A seleção dos vocalistas foi um mix de afinidade, apreciação e aproximação com os quatro nomes escolhidos”, me explica o baixista do grupo, Ruy Rascassi. “É um recorte interessante da música contemporânea brasileira, com duas figuras em ascensão como o Russo Passapusso e Edgar e outras duas, Juçara Marçal e o Siba, com legados e histórias importantes com as raízes da música brasileira.”

Ele lembra como conheceram e chamaram os convidados. “O Edgar tem uma história com a banda desde 2016, onde fazia as performances junto com o multiartista Renan Soares. O Russo foi uma conexão muito louca: uma vez ele viu um show nosso em São Paulo, ficamos em contato, até q em 2017 fizemos um show juntos e rolou a química. Já a conexão da Juçara e do Siba veio a partir do Vox Populi, fiz o convite aos dois que sem hesitar aceitaram entrar nessa viagem com a gente.”

Marcelo Cabral: Influxo Cabralha

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Quando Marcelo Cabral avisou que estava voltando da Alemanha para passar um tempo de volta no Brasil, cogitamos rapidammente uma temporada ao redor do universo musical do baixista e de sua recente experiência artística na Alemanha. Próximo à cena de improviso livre de Berlim, Cabral foi descobrindo um método de criação artística que permite fluir por outras linguagens, incluindo literatura, teatro e spoken word e entender como isso influencia diretamente o resultado musical. E assim ele pensou em Influxo Cabralha, uma reunião de amigos e magos da música instrumental que atravessa quatro segundas-feiras de abril no Centro da Terra. Na primeira, dia 8, ele toca ao lado de Mauricio Takara, Thomas Rohrer e Mariá Portugal. No dia 15 ele chama Guilherme Held, Thiago França, Juliana Perdigão e Angélica Freitas. Dia 22 é dia de Kiko Dinucci, Rodrigo Brandão e Juçara Marçal. E a temporada termina no dia 29, com as participações de Thomas Harres, Bella, Patrícia Bergantin, Maria Beraldo e Ná Ozzetti (mais informações aqui). Bati um papo com o Cabral sobre esta safra de shows e a influência de sua estada na Alemanha neste novo projeto.

Vida Fodona #580: Clima de retrospectiva

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A música mais uma vez como metáfora.

Lupe de Lupe – “Midas”
E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante – “Se Fosse Assim, Onde Iríamos Parar?”
Josyara – “Solidão Civilizada”
Gilberto Gil – “Sereno”
Edgar – “Adorno”
Teto Preto – “Pedra Preta”
Against All Logic – “Some Kind Of Game”
The Internet – “Roll (Burbank Funk)”
Kali Uchis – “Your Teeth in My Neck”
Karol Conká – “Vogue do Gueto”
Nill – “Bessie Coleman”
Bruno Bruni – “Linda”
Djonga – “Junho de 94”
Mestre Anderson Miguel + Juçara Marçal – “O Cirandeiro”
Stephen Malkmus + The Jicks – “Rattler”