O ano está quase no fim mas ainda dá tempo de anunciar os indicados em quatro categorias relacionadas à música brasileira em 2022 segundo o júri de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), do qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e colunista do Terra), José Norberto Flesch (que tem seu canal no YouTube), Marcelo Costa (do site Scream & Yell), Pedro Antunes (do vlog Tem Um Gato na Minha Vitrola) e Roberta Martinelli (dos programas Sol a Pino e Cultura Livre). Milton Nascimento, Juçara Marçal, Anelis Assumpção, Josyara, Don L, Gloria Groove, Rachel Reis, Maglore, Curumin, Zé Nigro e Lucas Martins, Bruno Morais, Urias, Ana Canas, Bala Desejo, Liniker, Pelados, Planet Hemp, Ratos de Porão, Bebé e Letieres Leite dividem as indicações de artista do ano, revelação, produção musical e show do ano. O resultado final da premiação acontece no início de 2023 e abaixo seguem os cinco indicados em cada categoria.
Vamos começar mais uma viagem por universos diferentes da música brasileira, quando outubro chegar para dar início a uma nova fase de nossas vidas. A primeira segunda do mês (que tem cinco segundas-feiras) ainda faz parte da temporada do selo Matraca, quando Lau e Eu encerra a leva de apresentações Tempo Presente, e a partir da outra segunda, dia 10, começamos a temporada em que Fernando Catatau convida compadres e comadres para shows únicos a partir de encontros inéditos – sua temporada, batizada apenas de Frita, conta com quatro noites que prometem ser históricas: na primeira, dia 10, ele recebe Kiko Dinucci; na outra, dia 17, é a vez de Juçara Marçal; no dia 24, ele convidou Anna Vis para dividir o palco, e na última, dia 31, é vez de ele receber Yma e Edson Van Gogh, guitarrista dos Garotos Solventes que acompanham de Jonnata Doll. Como se isso fosse pouco, a primeira terça do mês, dia 4, é com a banda Corte, liderada por Alzira E, que fez uma apresentação especial para o teatro a partir do documentário Aquilo Que Nunca Perdi, que Marina Thomé fez sobre sua história – e quem for ao show na terça pode assistir ao documentário de graça na quarta-feira, dia 5, no próprio Centro da Terra. No dia 11 de outubro é a vez da baiana Paula Cavalcante mostrar seu projeto acústico Corpo Expandido pela primeira vez em São Paulo ao mesmo tempo em que prepara o lançamento de seu primeiro álbum. No dia 18 de outubro recebemos, diretamente de Portugal, o carioca Ricardo Dias Gomes, integrante da banda Do Amor, que chega à cidade para apresentar um espetáculo solo motivado pelo momento em que o Brasil está atravessando, e no final do mês, dia 25, é a vez da irresistível banda Eiras e Beiras mostrar todo seu encanto no pequeno palco do Sumaré. Noites mágicas para inaugurar uma nova fase – garanta seus ingressos antecipadamente neste link.
Outras dimensões foram visitadas a partir do encontro proposto pelo Bernardo Pacheco, no capítulo Reforma #4 de seu experimento sonoro Formação, quando reuniu Juçara Marçal, Raiany Sinara e Yusef Saif, sob as luzes de Mau Schramm. Os cinco conduziram o público em um transe coletivo que confrontava as linguagens orgânicas e eletrônicas, premissa da temporada Choque Térmico, que estamos realizando todas as segundas de julho no Centro da Terra.
O calor humano e a frieza das máquinas são criações culturais. Claro que a mudança de temperatura nestes dois corpos distintos podem por fim em suas atividades nativas, mas a frieza orgânica e o calor mecânico ou digital também são realidades possíveis e não significam que um meio deixa de existir a partir desta mudança de temperatura. Durante as segundas-feiras de julho reunimos artistas que transpõem estas duas linguagens em quatro apresentações distintas. A primeira delas acontece excepcionalmente numa terça-feira, quando o Taxidermia dos baianos Jadsa faz e João Millet Meirelles conta com a presença do músico Pedro Bienemann. As segundas seguintes recebem formações distintas. No dia 11 Bernardo Pacheco abre mais um capítulo de seu projeto de improviso livre Formação, quando realiza o Reforma #4 ao lado de nomes tão distintos quanto Juçara Marçal, Rayani Sinara, Yusef Saif e Mau Schramm. Na segunda seguinte, dia 18, é a vez da instrumentista Sue mostrar suas composições com dois convidados distintos, Eddu Ferreira e Paula Rebellato. E na última segunda-feira, Theo Charbel mostra suas canções misturando as diferentes linguagens ao lado dos músicos Guilherme D’Almeida e Vinícius Rodrigues. Os espetáculos no Centro da Terra começam sempre pontualmente às às 20h e quem quiser comprar os ingressos antes, é só acessar este link.
O mês de julho já começou mas a temporada deste mês no Centro da Terra começa só nesta terça-feira por motivos de logísticas. Propus uma temporada com vários artistas para as segundas-feiras, mas a Jadsa só conseguia chegar na terça, por isso a temporada Choque Térmico começa neste dia 5 de julho. A proposta é reunir artistas que misturem as linguagens eletrônica e analógica sem pensar nos limites entre ambas. A primeira noite acontece com o Taxidermia, que Jadsa faz com João Millet Meirelles, e a dupla recebe o músico Pedro Bienemann. Na próxima segunda, dia 11, é a vez de Bernardo Pacheco provocar mais uma apresentação de seu projeto Formação, quando chama Juçara Marçal, Rayani Sinara, Yusef Saif e Mau Schramm para uma noite de improviso livre. No dia 18, a guitarrista Sue, da banda Ozu, apresenta seu trabalho solo ao lado de Eddu Ferreira e Paula Rebellato. E fechando a temporada, dia 25, a multiinstrumentista Theo Charbel convida Guilherme D’Almeida e Vinícius Rodrigues para mostrar suas canções. E isso é só uma temporada. Na próxima terça, dia 12, é a vez de Experimentos n°1, projeto que a artista russa Lena Kilina apresenta com o artista multimídia Dudu Tsuda. Depois, na terça dia 19, Malu Maria, Tika e Laya apresentam o projeto Ondas Sísmicas, concebido pelo pesquisador Gabriel Bernini para celebrar a presença da mulher na música brasileira e o show terá apresentação da Laura Diaz, do grupo Teto Preto. Encerrando o mês a banda paulista Bike sobe pela primeira vez no palco do Centro da Terra para mostrar as músicas de seu próximo LP com a presença do produtor do disco, o guitarrista Guilherme Held. As apresentações começam sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados aqui.
Posso assistir mil vezes ao show que Juçara Marçal armou para transmutar para o palco seu projeto fonográfico Delta Estácio Blues que nunca vou cansar. A energia concentrada pelo quarteto formado por Juçara, Marcelo Cabral, Alana Ananias e Kiko Dinucci acerta o ouvinte sem dó numa convulsão meticulosa entre o samba, o pós-punk, o noise e a música eletrônica, neste que talvez seja o grande momento da música ao vivo no Brasil hoje. Quatro indivíduos que mal conversam com quem os assistem – só Juçara fala – mas que acertam todos os sentidos do público com a contundência que só a música pode fazer (aquele papo do Bob que dizia que “quando acerta não dói”). E não foi diferente neste sábado no Sesc Belenzinho – que bordoada boa!
Café, ópera de Felipe Senna inspirada em Mario de Andrade @ Theatro Municipal (6.5.2022)
“Nenhum artista pode, mesmo que queira, não participar. Ou você não conformisticamente se inclui na coletividade ou conformisticamente se vende aos seus chefes. E não se iluda: num desses vocês há de estar”. Bem forte a ópera Café, composta por Felipe Senna sobre um libreto escrito por Mario de Andrade em 1941 e encenada por Sérgio de Carvalho no Theatro Municipal durante esta semana. Cogitando a possibilidade de um levante dos trabalhadores da cultura cafeeira frente à gana da especulação de uma elite brasileira que só os parasita, as questões de 80 anos atrás infelizmente eram idênticas às de hoje: crise política e econômica, soluções de mentira para problemas reais, como o desemprego, a miséria e a fome. A ópera foi montada com a Orquestra Sinfônica Municipal, o Coral Paulistano, o Balé da Cidade de São Paulo e o Coletivo Nacional de Cultura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e teve as participações do ator Carlos Francisco e dos grandes Negro Leo e Juçara Marçal. Esta aparece ainda na primeira parte, imponente e na veia (como mostra o vídeo que consegui filmar na encolha, perdão pelo enquadramento cego), enquanto Leo surge gigante no ato final (esse não consegui filmar), atualizando as questões da era getulista para os dias de hoje com direito a fala de Marighella e protagonismo motoboy. Também filmei o encerramento da noite e bastava a presença das bandeiras do MST no Theatro Municipal para sintetizar o que foi aquela noite. E como disse a frase de Mario de Andrade que abre o texto e encerra a ópera: não se iluda. A ópera fica em cartaz até domingo mas os ingressos estão esgotados. Tem que ter mais.
(Foto: Victor Caldas)
Conhecidos na cena musical paulistana por integrar o grupo Música de Selvagem e trabalhos com outros artistas, o trompetista Amílcar Rodrigues e o baterista Guilherme Marques reuniram forças e a experiência de quinze anos trabalhando com improviso livre num duo que mostra a cara pela primeira vez aqui no Trabalho Sujo, onde eles lançam em primeira mão o primeiro single do projeto chamado (i)miscível, que conta com a participação de Juçara Marçal na faixa “Experimento_14_17.17”. Assista abaixo: