Juçaral Marçal 2014: “Não diga que estamos morrendo, hoje não!”

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Juçara Marçal acaba de disponibilizar para download gratuito seu aguardado disco solo, batizado de Encarnado, em seu site oficial. Alicerçada pelas forças instrumentais (mínimas, há poucos instrumentos no disco) de Kiko Dinucci, Thiago França, Thomas Rohrer e Rodrigo Campos, ela lança seu primeiro disco solo depois de quase vinte anos de carreira, tocando em projetos como o conjunto vocal Vésper, o robusto Metá Metá composto ao lado de Kiko e Thiago e o grupo de pesquisa A Barca. Nestes trabalho pode construir uma personalidade ao mesmo tempo forte e delicada, uma persona comum às divas da música brasileira que tem se tornado artigo raro no último quarto de século. Em Encarnado ela desfila com leveza e graça sem perder o pulso firme e o sangue nos olhos – é um disco essencialmente guerreiro e por mais cru que possa parecer – tanto nas releituras de Tom Zé (“Não Tenha Ódio no Verão”) e Itamar Assumpção (“E o Quico?”), quanto na dolorida e gráfica “Ciranda do Aborto”, de Kiko Dinucci. O disco ainda conta com canções de Siba (“A Velha Capa Preta”), Douglas Germano, Rômulo Fróes, Gui Amabis (numa bela versão para “Pena Mais Que Perfeita”, composta com Régis Damasceno) e Rodrigo Campos, cuja faixa que abre o disco – a angular “Homem Amarelo” – escolhi como amostra deste trabalho. O disco inteiro pode ser baixado aqui.

Encarnado funciona tanto como a consagração de uma carreira em plena ascensão quanto como uma introdução a uma das melhores cantoras ainda desconhecida pelo resto do Brasil. Salve, Juçara!

Metá Metá + Tony Allen

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O mestre afro beat une-se com o núcleo-duro da afropsicodelia paulistana numa session daquelas… Saca só:

Vida Fodona #391: Vamos embarcar em mais uma viagem…

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Afaste os móveis da sala da sua cabeça.

Chris Isaak – “Wicked Game”
The Internet + Tay Walker – “Runnin'”
Mac Miller – “Objects in the Mirror”
Daft Punk + Todd Edwards – “Fragments of Time”
Chromeo – “Over Your Shoulder”
Marcelo Jeneci – “De Graça”
Bixiga 70 – “Ocupai”
A Espetacular Charanga do França – “Hasta La Cumbia”
Rodrigo Amarante – “Maná”
Bonifrate – “Horizonte Mudo”
Emicida + Fabiana Cozza + Juçara Marçal – “Samba do Fim do Mundo”
Nina Simone – “Sinnerman”
Kanye West – “Black Skinhead”
Blood Orange – “Chamakay”
Brandy + Monica – “The Boy is Mine”

Chegaê.

“Música é luz”: como foi o show de lançamento do disco novo do Emicida

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O jovem Emicida cada vez mais se consolida como um dos principais nomes da nova música brasileira. Já deixou a esfera do hip hop há algum tempo, mas em vez de simplesmente expandir seus horizontes para outros gêneros, prefere fazer que esses venham para a roda do rap, a rinha de rimas em que aprendeu a ser artista. Lançou seu novo disco O Glorioso Retorno De Quem Nunca Esteve Aqui em duas noites de gala no teatro do Sesc Pinheiros em São Paulo, na terça e quarta da semana passada, e pude assistir ao show da segunda noite (quarta, 18 de setembro) – apenas para atestar sua maturidade e compromisso com o espetáculo.

Pois por mais que Leandro cante a importância da música em sua obra (seja ao ironizar a relação entre música em dinheiro ou simplesmente ao celebrar que “música é luz” em “Hino Vira Lata”), é evidente que o MC ultrapassou a música e tornou-se um showman. Mais do que simplesmente ser um mestre de cerimônias das próprias qualidades e defeitos, Emicida transforma cada gesto num momento para ser eternizado, cada verso em frase de guerra ou oração, cada recepção de um novo colaborador (e foram tantos!) em uma cerimônia de reverências, sempre acompanhado da banda formada por Doni Jr. (violão, cavaco e guitarra), Anna Tréa (violão e guitarra), Carlos Café (percussão), Samuel Bueno (baixo) e seu fiel escudeiro, o DJ Nyack.

E isso não pára apenas no palco. É seu domínio da platéia que impressiona. Ele consegue suplantar aquela zona cinzenta entre o você e o vocês e conversa com as centenas de pessoas presentes como se encontrasse cada uma delas casualmente num elevador, numa fila, num ônibus. Emicida é aquele cara transforma o tédio em história, o mágico que sublinha nossa rotina para nos surpreender com uma beleza distante dos nossos olhos. E ao conversar com a multidão, ele não parece que está falando num púlpito nem num palanque – parece olhar nos olhos de cada um dos presentes (aí os óculos escuros são providenciais) e contar-lhes uma coisa que ninguém mais percebeu. Ele troca a sedução natural de qualquer artista por um carisma que é bruto em sua intensidade, mas refinadíssimo no detalhe. A beca que lhe acompanha ao subir ao palco tira o ar moleque do boné e camiseta mas não parece exigir um respeito falso. Ele é sincero.

E, no palco, recebeu cada um dos artistas que participam de seu novo disco para recriar aqueles momentos eternizados em disco que, aos poucos, transformam este Glorioso Retorno em um dos melhores discos desta década. Na parceria com Pitty, “Hoje Cedo”, ele reforça um refrão que tem a tristeza dos samples usados por Eminem em seus momentos menos cínicos e um ar emo/new metal que contamina toda canção, deixando-a livre para Emicida vociferar seus versos.


Emicida + Pitty – “Hoje Cedo”

Um dos principais momentos do disco e do show, a bela “Crisântemo” já tem sua importância ao transformar o drama violento da favela em dor universal, num grande momento da música brasileira. A presença da mãe de Leandro, Dona Jacira, que não subiu ao palco na noite anterior, é forte e solene, e deixa a teatralidade da segunda parte da canção – que em vários momentos nos faz engolir em seco – ainda mais intensa. Um momento mágico:


Emicida + Dona Jacira – “Crisântemo”

Tulipa não estava programada para tocar no segundo show, apenas no primeiro, mas apareceu com toda sua doçura para o momento bonitinho do show:


Emicida + Tulipa Ruiz – “Sol de Giz de Cera”

Com Wilson das Neves, Emicida prostra-se como criança que vê um ídolo pelo espelho, querendo parecer respeitável apenas por estar na presença de uma personalidade inspiradora (mais mérito do seu Wilson, é verdade). Mas antes de convidá-lo para sambar sua “Trepadeira”, repete o discurso que fez na noite anterior, em que respondeu aos que criticam sua canção por dito sexismo, em tom mais bem humorado, próprio para receber a lenda-viva do samba:


Emicida + Wilson das Neves – “Trepadeira”

Este magnetismo ganhou força com as cinco vozes do Quinteto em Branco e Preto entoando o ótimo refrão de “Hino Vira-Lata”, outro momento mágico do disco novo de Emicida:


Emicida + Quinteto em Branco e Preto – “Hino Vira-Lata”

Quase ao fim do show, convocou Juçara Marçal para mais um momento épico:


Emicida + Juçara Marçal – “Samba do Fim do Mundo”

E antes de encerrar a noite, emendou seu já clássico pout-porri com pedras fundamentais da história do hip hop brasileiro, especificamente inspirado naquela noite.


Emicida – “Tic Tac (Doctor’s MCs)” / “Verão na VR (Sistema Negro)” / “Fim de Semana no Parque (Racionais MCs)” / “Us Mano e as Mina (Xis)” / “Fogo na Bomba (De Menos Crime)” / “Quatro Nomes de Menina (Pepeu)” / “Rap é Compromisso (Sabotage)”

Afinal, tudo aqui é hip hop. Por mais que transite entre a MPB e o samba de raiz, o rock e o sambão-jóia, Emicida carrega todos estes gêneros musicais para sua arena, o palco erguido com beats e cercado de palavras de ordem que, vez ou outra, sublinha com um holofote, no cenário cheio de frases, seu maior bordão: “A rua é nóis”. Pois ele traz cada um de nós para esta mesma rua chamada Brasil, nos puxando para a realidade pela orelha mas sem que isso tenha um tom de humilhação ou recalque. Ele quer que saibamos que estamos todos num mesmo barco em que o individualismo não faz o menor sentido. Um dos grandes shows do ano, de um artista em plena ascensão.

Abaixo, todos os vídeos que fiz, na ordem em que as músicas apareceram no show (e a foto que ilustra o post é do Ênio César e foi concedida pela equipe do Emicida):

 

Metá Metá no Cocoricó

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Afropsicodelia para as crianças!

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A essa altura do campeonato você já deve ter baixado o disco novo do Metá Metá no site do Kiko Dinucci, não? Se não, tá perdendo um dos melhores discos do ano…

Vida Fodona #356: Grandes mudanças

Elas já começaram…

Feelies – “The Boy With The Perpetual Nervousness”
Talking Heads – “Life During Wartime”
XXYYXX – “DMT”
Lindstrøm – “Ęg-gęd-ōsis”
The Internet + Tay Walker – “They Say”
Sinkane – “Lovesick”
Metá Metá – “Oya”
Fernando Catatau e o Instrumental – “Poeira”
Rafael Castro – “Você Sabe Como É”
Pipo Pegoraro – “Radinho”
Kika – “Enxurrada”
Rodrigo Campos – “Bahia Fantástica”
Curumin – “Selvage”
Sexy Fi – “Brasília Grafitti”
Flying Lotus + Thom Yorke- “Electric Candyman”
Tim Maia – “É Preciso Ler e Reler”
How to Dress Well – “Running Back”

Vem aqui.

Juçara Marçal e o “Negro Drama” a capella

Juçara postou em seu Soundcloud a versão feita só no gogó pelas meninas do Vésper para o clássico dos Racionais – em que ela mesma segura a voz principal. Bem bom. Dica do Arthur – e a foto é que ilustra o post é da participação dela no show do Sambanzo no Prata da Casa, feita pelo Josué de Holanda.

Os 50 melhores discos de 2011

1) Girls – Father, Son, Holy Ghost

2) Metronomy – The English Riviera

3) Rapture – In The Grace of Your Love

4) Bonifrate – Um Futuro Inteiro

5) Memory Tapes – Player Piano

6) Washed Out – Within and Without

7) Karina Buhr – Longe de Onde

8) Kassin – Sonhando Devagar

9) Gui Amabis – Memórias Luso/Africanas

10) Weeknd – House of Balloons

11) Anelis Assumpção – Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não Sou Santa

12) Toro y Moi – Freaking Out

13) Criolo – Nó na Orelha

14) Thurston Moore – Demolished Thoughts

15) Danger Mouse e Daniele Luppi – Rome

16) Radiohead – The King Of Limbs

17) Destroyer – Kaputt

18) PJ Harvey – Let England Shake

19) Wild Flag

20) Neon Indian – Era Extraña

21) Tom Waits – Bad As Me

22) ruido/mm – Introdução à Cortina do Sótão

23) Holy Ghost!

24) Junio Barreto – Setembro

25) Marcelo Camelo – Toque Dela

26) Silva – Silva EP

27) Cícero – Canções de Apartamento

28) Mallu Magalhães – Pitanga

29) Wado – Samba 808

30) Bixiga 70

31) Burro Morto – Baptista Virou Máquina

32) Lykke Li – Wounded Rhymes

33) Literalmente Loucas

34) Kiko Dinucci + Juçara Marçal + Thiago França – Metá Metá

35) Mayer Hawthorne – How Do You Do

36) Stephen Malkmus & The Jicks – Mirror Traffic

37) Björk – Biophilia

38) Ogi – Crônicas da Cidade Cinza

39) Frank Ocean – Nostalgia, Ultra

40) Justice – Audio, Vídeo, Disco

41) Cut Copy – Zonoscope

42) M83 – Hurry Up, We’re Dreaming

43) Ema – Past Life Martyred Saints

44) Twin Sister – In Heaven

45) Red Hot + Rio 2

46) James Blake

47) Beastie Boys – Hot Sauce Committee Part Two

48) Wilco – The Whole Love

49) Mopho – Volume 3

50) Fleet Foxes – Helplessness Blues

Os 50 melhores discos de 2011: 34) Kiko Dinucci + Juçara Marçal + Thiago França – Metá Metá